Breve relato da vida e obra de Matthew Henry

por Allan M. Harman

 

Dificilmente há um homem tão conhecido entre os comentaristas bíblicos como Matthew Henry. Desde a publicação de seu primeiro volume (o Pentateuco) em 1706 até o presente, o comentário de Henry foi repetidamente reimpresso, traduzido a outros idiomas, combinado com o comentário de Thomas Scott para formar o comentário de Henry e Scott, ou impresso em formato resumido. Ele tem exercido uma grande influência na formação espiritual de uma multidão de leitores que dele utilizam para devocionais pessoais, ou para preparar-se para o ensino, ou pregação. Destacados líderes cristãos como George Whitefield e William Carey testemunharam da influência que receberam dele.

Para mencionar o caso de Whitefield, que pouco depois de sua conversão, adotou a prática de levantar às cinco da manhã. Ajoelhado ele lia a Bíblia, em seguida o seu Novo Testamento grego e finalmente consultava o comentário de Matthew Henry acerca daquela passagem. Posteriormente, a sua pregação esteve intensamente influenciada pela exposição de Henry. Arnold Dallimore chega ao ponto de dizer que “de tal modo bebeu dos mananciais da exposição bíblica de Matthew Henry que muita de sua expressão pública era pouco mais do que o pensamento do grande comentarista; pensamento que havia chegado a assimilar em sua própria mente e alma, e que se derramava espontaneamente tanto quanto preparava como quando pregava os seus sermões”.[1] Era capaz de recordar citações de Henry,[2] e sua lista de regras para o seu Instituto em Bethesda na Georgia incluía, entre os livros sobre teologia, o comentário de Matthew Henry.[3] Quando escreveu a sua famosa carta a João Wesley sobre o tema da redenção universal, não deu a sua própria explicação de algumas passagens bíblicas, mas remeteu Wesley que lesse aos comentaristas como Ridgely, Edwards e Henry. O seu desejo era que estes tratados pudessem levar Wesley a reconhecer o seu erro.[4]

Mas para a imensa maioria dos leitores a vida de Matthew Henry é algo desconhecido, e há uma falta de valorização crítica de sua obra e ministério. Ao apresentar alguns de seus sermões até agora inéditos, é necessário oferecer um breve relato de sua vida e ministério, junto com uma avaliação dele como pregador assim como comentarista.

 

  1. A VIDA DE MATTHEW HENRY

O ano em que nasceu Matthew Henry (1662) foi crucial para a história religiosa da Inglaterra. Naquele ano mais de 2000 pastores foram expulsos de suas paróquias na Igreja Anglicana porque se recusaram conformar-se aos requisitos que lhes exigia a Lei da Uniformidade. Isto significava que estes não-conformistas, que se tornaram pastores presbiterianos ou congregacionais, se viram privados de oportunidades para o ministério público, e que os estudantes não-conformistas foram excluídos das universidades de Oxford e Cambridge. O pai de Matthew Henry, Philip Henry, havia estudado na Faculdade de Westminster, em Londres, e logo empreendeu estudos superiores no Christ’s College, em Oxford. Este era o tempo em que os grandes líderes puritanos John Owen e Thomas Goodwin estavam exercendo ali a sua maior influência persuasiva. Philip Henry se instalou como pastor anglicano no pequeno povoado de Worthenbury em Flintshire próximo da fronteira de Gales, e foi desta paróquia que foi expulso em 1662.

Criado num lar de um pai e pastor tão piedoso significava que desde os seus primeiros anos Matthew Henry esteve exposto a um profundo compromisso religioso e instrução nas coisas de Deus. O seu pai, com o seu próprio excelente preparo acadêmico, pode dar-lhe uma ampla educação geral, e de forma específica lhe concedeu uma boa fundamentação nas línguas clássicas – grega e latina. O hebraico também figurava no programa e diariamente Matthew Henry tinha que traduzir uma passagem das Escrituras a partir das línguas originais. O ingresso em Oxford ou Cambridge estava impedido para ele, de modo que os seus pais lhe enviaram a Londres ao completar os vinte e três anos para que estudasse direito em Gray’s Inn. Nem ele ou os seus pais consideravam a possibilidade de que empreendesse a carreira como advogado, mas que esta era a oportunidade de continuar a sua educação formal. Também pode escutar a alguns dos melhores pregadores conformistas como Tillotson e Stillingfleet. Não se sabe quais pregadores não-conformistas ouviu nas proximidades de Londres, mas desde cedo se identificou com a causa não-conformista, como evidenciou visitando na prisão a Richard Baxter. O seu sentimento vocacional para o ministério cristão foi intensificando gradualmente, e parece que considerou entrar no ministério da Igreja Anglicana, até que em 1687 decidiu aceitar o convite de uma congregação não-conformista.

Henry escolheu ir a Chester, ao oeste da Inglaterra, e dedicou-se ao pastorado de uma congregação que não dispunha de prédio próprio. Esta carência foi suprida com a inauguração, em 1690, de sua própria capela. O seu ministério não se limitou a Chester, mas se estendia amplamente pela região circunvizinha pregando em muitas localidades. Fizeram varias tentativas para induzi-lo a abandonar Chester, mas não foi até que em 1712 ao aceitar o convite para a congregação de Hackney, em Londres. A sua crescente obra literária foi um fator para esta mudança, porque estava publicando muitas outras obras além de seu comentário.[5] Não foi possível exercer um ministério de longa duração neste lugar, pois morreu em 1714, aos cinquenta e dois anos.

 

  1. MATTHEW HENRY O COMENTARISTA

A Reforma introduziu uma mudança transcendental com respeito à exposição bíblica. A prática medieval de alegorizar o texto foi desprezada a favor da exegese gramático-histórica. Isto significava que um expositor se aproximava de uma passagem bíblica e trabalhava através dele na língua original. Discutiam-se as questões gramaticais e de filologia, e a passagem era situado em seu contexto histórico. Somente após se expunha o ensino da passagem e também se empregava as formulações teológicas posteriores. João Calvino introduziu nesta método os seus conhecimentos como erudito renascentista e seus comentários sobre o texto bíblico delinearam o modelo para comentários posteriores. Para a época de Matthew Henry além dos comentários da Reforma como modelos, também havia os dos períodos posteriores à Reforma e puritano.

O comentário de Matthew Henry se ajusta facilmente na categoria de exposição puritana das Escrituras. Muitos dos grandes puritanos haviam morrido quando ele nasceu, mas através de seu pai entrou em contato com as suas ideias e obras. Assim, o seu comentário é representativo do que estava na essência do estudo e a exposição puritana da Bíblia. Subjacente a todos os esforços dos puritanos estavam as pressuposições básicas da natureza divina da Bíblia e o fato de que a doutrina bíblica era o ensino acerca de Deus e do dever que ele exige do homem. Os puritanos ensinavam claramente que o homem, sem a ajuda do Espírito, era incapaz de compreender o ensino bíblico, porque era discernida espiritualmente.[6]

Matthew Henry ao empreender a sua imensa tarefa, acreditava ser necessário especificar seis grandes princípios que constituíam as suas pressuposições. Estes eram:

  1. Que a religião é a única coisa necessária.[7]
  2. Que a revelação divina é necessária para a verdadeira religião.
  3. Que a revelação divina não se pode experimentar agora, nem se deve esperar.
  4. Que as Escrituras do Antigo e Novo Testamento foram dadas de forma expressa para o nosso ensino.
  5. Que as Sagradas Escrituras não foram somente dadas para o nosso ensino, mas que são a regra estável e permanente para a nossa fé e prática.
  6. Que por esse motivo é dever de todos os cristãos examinar diligentemente as Escrituras e, que é o ofício dos ministros guiar e assisti-los nisto.[8]

 

Inclusive antes de iniciar a sua exposição, Matthew Henry tinha o hábito de escrever acerca das Escrituras. Também chamou a atenção para este fato em seu prefácio:

É meu costume, há muito tempo, no pouco tempo que posso dedicar-me em meu estudo de meus preparativos para o púlpito, dedica-lo a redigir exposições sobre algumas passagens do Novo Testamento, no entanto, simplesmente para o meu próprio uso como para o meu entretenimento, porque esta era a maneira em que mais me satisfazia empregar os meus pensamentos e meu tempo.[9]

 

Em dezembro de 1700 enviou algumas destas exposições a seu amigo, o Rev. Samuel Clark, com as seguintes considerações acerca das mesmas:

Deixo-a [a publicação] para você e decidi seguir a Providência, havendo de início refletido com a maior consolação acerca daquilo que é a menor de minhas próprias atuações. A obra em si foi, e continua sendo para mim, a sua própria paga, e o prazer uma recompensa suficiente para todos os esforços. Faça-me saber, por favor, segundo tenha ocasião, qual é a sua avaliação acerca deles [dos escritos]; se voltarem ao lugar donde saíram, serão recebidos com satisfação. Não me arrependerei de tê-los escrito, e espero que não se arrependerá de lê-los ainda que não excedam.

 

Não ficou claro por que não empreendeu a sua publicação durante outros quatro anos. Em 12 de novembro de 1704 começou escrever as suas notas sobre o Antigo Testamento, que finalizou em 18 de julho de 1712. Em seguida trabalhou com o Novo Testamento, chegando ao final de Atos, em 17 de abril de 1714. Não viveu para escrever mais, e outros empreenderam a tarefa. Basearam a sua obra nas notas que havia deixado, incluindo umas quase completas sobre a Epístola aos Romanos. Deixou alguns breves esboços acerca de outras epístolas e havia também algumas notas taquigrafadas de exposições entregues em público e particular.[10] Ao todo apareceram quatro volumes durante a sua vida, começando com o Pentateuco, em 1706, e acabava de completar o volume 5, pouco antes de sua morte em 22 de junho de 1714.

Há uma clara relação entre o comentário de Matthew Henry e seu ministério pastoral. Desde o começo teve o costume de dar pregar duas vezes a cada domingo em sua congregação, e o conteúdo de muitas passagens analisadas em sua exposição formaram a base de seus sermões. Se se fizer uma comparação entre os seus sermões e sua exposição de um texto particular, se poderá perceber a relação bem facilmente. Aqui temos apenas um exemplo, de seu comentário sobre João 14:27:

Quando Cristo estava a ponto de deixar o mundo, fez o seu testamento. A sua alma a encomendou ao seu Pai; o seu corpo legou a José, para que fosse enterrado de forma decente; suas vestes foram para os soldados; sua mãe deixou sob o cuidado de João, mas, o que deixaria aos seus pobres discípulos, que tudo deixaram por Ele? Prata e ouro não tinham; mas lhes deixou algo infinitamente melhor, a sua paz. “Deixo-vos, mas vos deixo a minha paz. Não somente lhes dou direito a ela, senão que vos deixo em possessão dela.”

 

Assim, ele tratou o mesmo versículo em seu primeiro sermão acerca “da paz”, pregado em 24 de janeiro de 1692:

Quando o nosso Senhor Jesus estava a ponto de deixar o mundo fez o seu testamento. A sua alma a encomendou às mãos de seu Pai (Lc 23:46). O seu corpo legou a José de Arimatéia para que fosse enterrado de forma descente, mas não de modo que visse a corrupção. As suas vestes foram para os soldados que lhe crucificaram (Lc 23:34). Sua mãe deixou sob o cuidado do discípulo amado (Jo 19:26). Mas, que deixaria para os seus pobres discípulos, que haviam deixado tudo para segui-lo? Prata e ouro não tinha; mas, lhes deixou algo infinitamente melhor que a milhares de ouro e prata.

 

Não é difícil encontrar a influência do comentário de Matthew Henry, mas, não há uma análise detalhado do impacto que teve sobre outros pregadores e escritores. O Dr Leslie Church, que resumiu o comentário para que se pudesse publicar num único volume,[11] sugere que os hinos de William Cooper “foram indubitavelmente inspirados pelo espírito e pela forma de expressar de Matthew Henry”.[12] Certamente que muitas das palavras de Charles Wesley em seu hino “Uma comissão tenho que cumprir” parecem ser tomadas do comentário de Matthew Henry acerca de Levítico 8:25, acerca de cujo texto diz:

Cada um de nós tem uma comissão que cumprir, um Deus eterno a quem glorificar, uma alma imortal que prover, um dever necessário que realizar, nossa geração que servir; e, há de ser o nosso esforço diário de cumprir esta comissão, porque é a comissão do Senhor nosso Amo, que nos chamará a prestar contas acerca dela, e seria um grande perigo descuida-la.

 

Outro testemunho acerca do valor de Matthew Henry como comentarista procede de William Jay. Em sua autobiografia, numa passagem no que se refere a comentaristas, disse isto:

Mas para o uso particular e piedoso, nunca encontrei nada comparável a Henry, que, como disse o velho John Ryland, “não se possa começar a ler sem deixar de estar isolado de todo o mundo, e poder lê-lo do início até o fim sem parar”.[13]

 

Escrevendo a Miss Harman, uma de suas correspondentes que havia lhe enviado uma cópia da vida de Richard Baxter, lhe agradece o presente, e logo prossegue: “Henry disse que é impossível ler o livro de Salmos e não ser inflamado, ou envergonhado após a sua leitura. Eu digo o mesmo acerca de sua obra.”[14]

 

  1. MATTHEW HENRY O PREGADOR

Desde muito cedo, o coração de Matthew Henry se inclinou para a obra do ministério. Sentiu-se tocado espiritualmente na tenra idade pela pregação de seu pai. Philip Henry alentava a seus filhos que se preparassem para o Dia do Senhor passando uma hora juntos a cada sábado, pela parte da tarde. Nestas ocasiões supervisionava Matthew Henry, e considerava que suas irmãs haviam abreviado as suas orações, e as reprendia com gentileza!

Depois de seu período de estudante em Londres retornou à casa de seus pais em Broad Oak (um sítio próximo de onde o seu pai exerceu o ministério antes de ser expulso) em junho de 1686 e imediatamente pregou em diversas ocasiões. O modo como a sua pregação foi recebida, e o efeito que teve sobre um casal notoriamente ímpio, parecem ter confirmado o seu sentimento do chamado para o ministério. Durante uma visita a Chester foi convidado para pregar, e o fez várias tardes seguidas. Os dissidentes que o ouviram lhe convidaram para ser o seu pastor. Após consultar o seu pai, aceitou o convite, mas pediu um prazo, desejando voltar a Londres por alguns meses. Foi ali que foi ordenado em privado por vários ministros presbiterianos reunidos para este fim, em 9 de maio de 1687. Começou o seu ministério em Chester, numa quinta-feira de 2 de junho de 1687, dando regularmente as conferências das quintas-feiras.

A partir daquele momento Henry esteve ocupado com as pregações e conferências em sua própria congregação e em muitos outros lugares próximos de Chester. Dentro de sua própria congregação, às nova da manhã do domingo, além dos cânticos de salmos e da oração, fazia palestras acerca duma porção do Antigo Testamento (ou seja, dava uma exposição) e também, pregava um sermão. Este mesmo padrão seguia pela tarde, ainda que neste culto palestrava acerca do Novo Testamento. Durante o curso de seu ministério em Chester estudou toda a Bíblia com sua congregação mais de duas vezes. As quintas-feiras pela noite também palestrava e, suas exposições sobre temas das Escrituras duraram vinte anos. Apesar de ser desconhecida a participação real a estas diversas reuniões, todavia, o fato de que sua congregação ter crescido chegando a ter 350 é testemunho do apreço que se tinha o seu ministério.

O seu diário revela também que esteve extremamente ativo na pregação em povoados próximos de Chester. Em Moldsworth, Grange, Bromborough, Elton e Saighton pregava a cada mês, mas com maior frequência ainda em Beeston, Wrexham, Stockbridge e Darnal. A cada ano fazia uma visita a Nantwich, Newcastle e Stone, e no final de seu ministério em Chester realizava anualmente uma sequência de pregações em Lancashire. Shrewsbury, Market Drayton e Stafford também estavam na lista das anotações de pregações. Em diversas ocasiões foi a Londres, pregando por diversos lugares no caminho, e na metrópole pregou praticamente todos os dias de sua visita.

No planejamento de suas pregações em Chester, Matthew Henry era muito sistemático.[15] A sua primeira série de sermões foi acerca do infortúnio de estar no estado pecaminoso. Logo continuou com sermões tratando da conversão, e isto abrangeu dois anos. Logo veio uma série de sermões nos quais estabeleceu o padrão da conduta cristã, expressou em vinte enunciados que expôs com um texto apropriado para cada título. Depois disto, quis consolar ao povo de Deus, em que tratou de forma ordenada acerca de Deus no pacto, Cristo no pacto e o Espírito Santo no pacto. Ao final desta série, como no caso das demais, pregou um sermão ou dois resumindo o conteúdo dos sermões precedentes e recapitulando os pontos principais.

De diversos modos, os sermões de Matthew Henry eram típicos do período puritano.[16] Os puritanos criam que a pregação é crucial pelo fato da exposição da Palavra de Deus de modo que seu ensino ficasse claro nas mentes dos ouvintes. É a principal maneira que Deus ordenou que a Palavra doadora de vida atinja o coração dos homens. Zwingli começou a prática de uma exposição regular e sequenciada das Escrituras, mas foram os puritanos de Cambridge os que desenvolveram de forma mais plena. Matthew Henry seguiu os passos deles ao abrir as Escrituras os seus ouvintes. O mesmo que outros puritanos, não sentia aversão pela pregação doutrinária, porque matinha a posição evangélica e reformada da Reforma Protestante, e cria de todo o coração que a teologia das Escrituras deve ser ensinada a pecadores e a santos.

Há outras três coisas que devemos pontuar acerca de seus sermões. Primeiro, era metódico, não somente no planejamento e preparação de seus sermões, como também em sua apresentação do conteúdo bíblico. Peter Ramus, um acadêmico huguenote, ensinou que que a análise é a chave para a compreensão, e os puritanos tomaram esta posição e a usaram em sua ordenada apresentação do material. Isto tinha a intenção de fazer que a mensagem fosse clara para os ouvintes e ajuda-los a recordar melhor. Segundo, Matthew Henry seguia aos puritanos em sempre aplicar o ensino da Escritura aos seus ouvintes. Os seus sermões nunca terminavam sem alguma aplicação prática. O ensino das Escrituras não era apenas uma questão teórica, mas algo que deveria mover os ouvintes à ação. Terceiro, há um modo em que Matthew Henry difere de seus predecessores puritanos. Enquanto eles escolhiam aos poucos tratar acerca de um determinado tema, e pregavam semana após semana a partir do mesmo texto, ele escolhia pregar a partir de diferentes textos inclusive se estava tratando acerca do mesmo tema. Isto dava uma maior variedade a sua pregação e oferecia uma perspectiva ainda mais ampla para o ensino bíblico acerca do tema tratado. Não é de se surpreender que a sua pregação atraísse a muitos em sua época, a qual, apresentada com simplicidade e com maravilhosa variedade de linguagem, ia ao encontro da consciência dos ouvintes.

 

  1. OS SERMÕES DE MATTHEW HENRY ACERCA DO PACTO DA GRAÇA

Qualquer um que esteja familiarizado com o comentário de Matthew Henry, ou com suas demais obras, encontrará aqui o mesmo agradável estilo. Ele conhecia a Bíblia excepcionalmente bem, e nestes sermões ele faz referência a todos os livros bíblicos com exceção de 1 Crônicas, Abdias, Ageu e Filemon. Estudava as Escrituras com dedicação e organizava o seu material de forma metódica. Apresentava constantemente ilustrações, não mediante longas histórias, mas mediante frases e referências que cristalizavam os seus argumentos. Mas, acima de tudo acentuava a verdade a seus ouvintes (ou leitores). Também conhecia e empregava os grandes escritos cristãos, desde os da igreja primitiva até os de seu tempo.

Há observações acerca de passagens bíblicas que muitos leitores reconheceram de seu comentário, porque, como se tem observado, é evidente que seus preparativos para os seus sermões dependem de seus outros escritos. Aparecem muitas notáveis expressões como estas:

Os amados de Deus são odiados pelo mundo, e não devemos nos escandalizar com isto.

Quando recorremos para o perdão dos pecados temos de recorrer com Cristo nos braços de nossa fé e amor.

A falta de fé da certeza, vive pela fé da adesão. Sente dúvida acerca de teu estado espiritual? Coloque a questão fora de toda dúvida por um consentimento presente – se nunca o fez, faça-o agora.[17]

Nenhuma de nossas transgressões no pacto nos exclui do pacto. Compreende especialmente que nossa salvação não está sob a nossa custódia, mas nas mãos do mediador.

Todos nós temos recebido o evangelho. A salvação é uma salvação comum (Judas 3). Todos têm necessidade de recebê-la, inclusive os mais dignos. Todos são chamados a recebê-la, inclusive os mais indignos, se a recebem e a buscam de maneira correta.

Tenha a certeza de que ninguém entrará no céu, a não ser aqueles a quem a graça faz aptos. São apenas os de puro coração os que verão a Deus (Mt 5:8; At 12:14).

Creia que tem um Deus santo acima de você, uma preciosa alma dentro de você e uma opressora eternidade diante de você, tanto de glória, como de infortúnio.

Crescentemente eleve na mentalidade celestial e diminua sob a humildade. Persista em avançar. A maneira de crescer na graça é usando a que temos. A Palavra é o meio de nosso crescimento. Faça uso dela diariamente (2 Tm 3:17).

 

Alguns dos sermões de Matthew Henry estão em circulação publicados em suas Complete Works.[18] A maior parte destes sermões são os pregados em ocasiões especiais, como funerais ou em ordenações de ministros. Todavia, neste livro temos uma série consecutiva de sermões sobre um determinado tema, acompanhados de um sermão final que recapitula o conteúdo de toda a série. São um testemunho acerca de um fiel pregador do evangelho que, com a mente e o coração postos nas coisas de Deus, tratou de expor as riquezas da Escritura. Não são meras relíquias do passado, mas que proclamaram a Palavra de Deus ao leitor atual, do mesmo modo que o Comentário de Matthew Henry continua fazendo.

 

Escrito originalmente em Julho de 2002 para o Instituto Superior Teológico Presbiteriano em Melbourne

Extraído de Allan M. Harman, ed., Sermones no publicados de Matthew Henry acerca de el pacto de gracia (Grand Rapids, Editorial Portavoz, 2005), pp. 12-22.

 

Traduzido por Ewerton B. Tokashiki

 

NOTAS:

[1] Arnald Dallimore, George Whitefield: The Life and Times of the Great Evangelist of the 18th Century Revival, vol. 1 (Edimburg: Banner of Truth Trust, 1970), p. 128.

[2] Ibid., vol 2, p. 128.

[3] Ibid, p. 492.

[4] Ibid., pp. 567-568.

[5] Ele expôs por escrito as suas onze razões para aceitar o convite para Hackney. Veja J.B. Williams, The Lives of Philip and Matthew Henry (Edimburg: Banner of Truth Trust, 1974), pp. 104-108.

[6] Para um excelente tratamento da exposição puritana das Escrituras veja J.I. Packer, “The Puritans as Interpreters of Scripture” em A Quest for Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life (Wheaton: Crossway Books, 1990), pp. 97-105. Também está disponível numa forma ligeramente diferente no Puritan Papers vol. 1 – 1956-1959, ed., D. Martin Lloyd-Jones (Phillipsburg P&R Publishing, 2000), pp. 191-201.

[7] O termo religião segundo o uso puritano indicava não os ritos, ou o mero credo, mas a verdadeira piedade a partir da conversão espiritual. Nota do tradutor.

[8] Matthew Henry, Exposition of the Old and New Testament (Londres: James Nisbet, 1880), vol. 1, pp. iii-v.

[9] Ibid., vol. 1, pp. v-vi.

[10] J.B. Williams, op.cit., p. 302.

[11] Matthew Henry’s Commentary in One Volume, ed., Leslie F. Church (Grand Rapids: Zondervan, 1961).

[12] Ibid., p. vii.

[13] The Autobiography of William Jay (Edimburg: Banner of Truth Trust, s.d.), pp. 124-125. A citação de John Ryland e da 3a.ed. de sua obra Contemplations publicada em 1777, p. 371.

[14] Ibid., p. 235-237. Para outros testemunhos acerca da influência da Exposition de Henry, veja J.B. Williams, op. cit., pp. 235-237.

[15] Para uma lista de seus sermões, veja J.B. Williams, op. cit., nota F, pp. 273-293.

[16] Para um tratamento da pregação puritana, veja Peter Lewis, “The Puritan in the Pulpit” em seu livro The Genius of Puritanism (Haywards Heath: Carey Publications, 1975), pp. 19-52. J.I. Packer, “Puritan Preaching” em A Quest for Godliness, pp. 277-289.

[17] Isto parece que era um de seus ditos favoritos, pois ele o usava ao descrever a sua própria situação espiritual quando tinha apenas dez anos. Veja J.B. Williams, op. cit., p. 5.

[18] The Complete Works of Matthew Henry: Treatises, Sermons, and Tracts (Grand Rapids: Baker Book House, 1997).

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