Como uma igreja deve lidar com as acusações contra um presbítero?

 

 

Por Phil A. Newton

 

 

A igreja local é uma maravilha. Membros e presbíteros servem ao lado uns dos outros, aprendem uns com os outros e permanecem juntos pelo evangelho.

Mas todos nós já estivemos em igrejas onde alguns membros estavam descontentes com um dos presbíteros. Podem ser questões relacionadas às suas habilidades interpessoais – ele é indiferente ou casual demais. Podem ser questões relacionadas com o tom de seus ensinos – ele é intelectual ou árido demais. Podem ser questões sobre sua família – seus filhos são barulhentos ou sua esposa não participa nos eventos da igreja. Esses tipos de objeções não o desqualificam do ministério, mas dificultam a sua habilidade de ministrar bem e poderá dar ocasião de discórdia – e fofoca – na igreja.

Paulo instrui à igreja de Éfeso através de Timóteo: “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17). Mas Paulo não pensa na compensação generosa como única forma de respeitar os presbíteros. Seguindo Dt 17.6, ele acrescenta: “não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (1Tm 5.19)

Por que ele acrescenta esta admoestação? Porque ele sabe que, como pecadores salvos, acusações contra presbíteros surgirão dos membros da congregação. Como deveríamos lidar com elas?

 

Os líderes são visíveis e a visibilidade atrai difamação

Os líderes são visíveis e visibilidade atrai difamação. “Aceite” em 1Tm 5.19 significa “reconhecer algo ser correto”. Devemos nos recusar em tolerar falsas acusações que se espalham pela igreja – contra qualquer um, especialmente aos pastores auxiliares do rebanho de Deus.

 

Como lidar com acusações legítimas

O que acontece quando as acusações contra um presbítero são legítimas? As acusações que tenho em mente aqui não são sobre assuntos ilegais, tais como abuso sexual ou físico. Aqueles estão além do escopo deste artigo.

Talvez um presbítero que fale com constância ou use uma linguagem questionável. Talvez ele reaja com raiva, ou procure vingança contra aqueles que discordam dele, ou sustenta um padrão de comportamento pecaminoso. No entanto, devido as responsabilidades singulares que lhes são confiadas, eles devem se guardar vigilantes para não permitir que o pecado ludibrie e manche seu caráter. Eles devem ser exemplo de um estilo de vida de arrependimento. Eles precisam ser “irrepreensíveis” (1Tm 3:2; Tt 1:6).

No entanto, se um presbítero persiste em uma prática pecaminosa, os membros da igreja têm a responsabilidade de guardar a unidade e testemunho da igreja, seguindo a prática tríplice que Paulo descreve em 1Tm 5.19-21.

 

  1. Verifique a acusação

Se a acusação provar ser falsa, outros membros – não apenas outros presbíteros – devem reprovar aquele que fez a acusação sem mérito. Geralmente não entendemos uns aos outros. As coisas que dizemos confundem-se, assim como um olhar, um aceno, um gesto ou o tom de voz. Não devemos ser tão rápidos em nos ofender ou criar uma crise que não existe.

Dito isto, às vezes, os presbíteros caem em padrões de pecado que precisam de correção. Paulo toma emprestado o modelo sóbrio de Dt 17.6, quando Moisés deu instruções sobre as evidências necessárias para aplicar a pena de morte em Israel. Então, Paulo ecoa Moisés: “Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (1Tm 5.19).

Por que Paulo requer mais de uma testemunha? Suponha que alguém guarde rancor contra um presbítero em particular. Ou, talvez, alguém que não foi ordenado como presbítero fique com ciúmes e decida se vingar de um dos presbíteros. Em um julgamento capital em Israel uma testemunha não era suficiente, então Paulo toma o princípio para a igreja. Duas ou mais devem confirmam o padrão pecaminoso antes disto ser abordado. Uma vez confirmado, deve ser tratado com o objetivo de correção. Embora cada igreja provavelmente terá sua abordagem específica, parece que duas ou três testemunhas juntamente com alguns presbíteros, confrontarão o presbítero errante.

Assumindo que o pecado não o desqualifique imediatamente para o ofício (e.g., estelionato, imoralidade sexual, ou um que demande intervenção por meio das autoridades, como o abuso físico ou sexual), os planos para a restauração devem ser estabelecidos. A confrontação pode ser uma simples questão de correção. Ou isto pode ser mais detalhado, com a suspensão de suas responsabilidades como presbítero enquanto se realiza um processo de reparação.

Mas e se o presbítero se recusar a responder a esse pequeno grupo – semelhante ao padrão em Mt 18.15-20? Então, vá ao passo dois.

 

  1. Reprove publicamente o presbítero impenitente

A linguagem de Paulo é inflexível: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (1Tm 5.20). “Vivem no pecado” enfatiza uma continuidade intencional. A repreensão pública vem somente quando o presbítero em pecado se recusa a arrepender-se depois da confrontação privada. “Na presença de todos” implica em que a igreja ouve a censura, “para que também os demais temam”. O último pode apontar principalmente para os demais presbíteros, mas certamente afeta a consciência acerca do pecado de toda a congregação.

Paulo não especifica a remoção do presbítero após a repreensão pública. Bill Mounce sugere que “repreender” ou “reprovar” implica num confronto corretivo. Certamente, o objetivo seria a sua restauração à plena comunhão com Cristo e a igreja. Mas pressupondo que o seu espírito impenitente mancha os limites de ser “irrepreensível” (1Tm 3.2) e, quando este for o caso, desqualificando-o. Então, o presbítero deve ser removido do ofício.

É claro que sentimentos e amizades podem atrapalhar o adequado tratamento de um presbítero que se recusa a se arrepender. Assim, o terceiro insight é de vital importância.

 

  1. Não tenha favoritos

“Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade” (1Tm 5.21). Eis aqui duas aplicações: Não dê um curto-circuito no processo “escolhendo antecipadamente um lado”, e não faça nada por partidarismo.

Quando uma igreja ignora a tríplice prática de Paulo – verificar a acusação, reprovar publicamente se ele for impenitente, e não ter favoritos – isto revela suavidade com o pecado e preferência por facilidade pessoal à custa da reputação e glória de Cristo.

 

O verdadeiro amor corrige

Cada presbítero é um pecador que precisa da graça divina e da aplicação do evangelho. Às vezes, suas palavras e ações podem ofender – talvez sem intenção maliciosa, mas ofendem. No entanto, se o padrão persistir, ele pode ter um ponto cego.

Ele pode precisar do corpo para amá-lo suficientemente para lidar diretamente com seu pecado – e, assim, estabelecer um exemplo piedoso para a igreja reunida e para o mundo que os assiste. De outra maneira, a congregação fica descuidada e um padrão pecaminoso ganha apoio. Esse é um preço muito alto a pagar às custas dos redimidos pelo sangue de Cristo.

O ofício do presbítero não o coloca acima da correção. Embora a congregação deva mostrar tal respeito com aqueles que foram constituídos para liderar, de modo que apenas com muita humildade, verificação e cuidado, eles reprovarão um presbítero. Membros e presbíteros servirão fielmente uns aos outros com este tipo de responsabilidade.

 

Phil A. Newton (PhD, Southeastern Baptist Theological Seminary) plantou e serviu como pastor titular a South Woods Baptist Church em Memphis, Tennessee, desde 1987. Phil e sua esposa Karen têm cinco filhos e seis netos. Ele é o autor de vários livros, incluindo How Pastors and Congregations Cultivate Leaders, Conduct Gospel-Centered Funerals (with Brian Croft), Elders in the Life of the Church (with Matt Schmucker), and Venture All for God: Piety in the Writings of John Bunyan (with Roger Duke and Drew Harris). Ele é professor adjunto do Southeastern Seminary’s Equip Center.

 

Disponível em: https://www.thegospelcoalition.org/article/church-handle-accusations-elder/

Acesso em 23/11/2018 às 15.32.

Traduzido por Gustavo Rodrigo Fengler

Revisado por Ewerton B. Tokashiki

 

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