O sermão puritano – pregação que transforma

Por Joseph Pipa

 

Nós aprendemos dos puritanos que é através do ensino e da pregação que a verdadeira reforma virá. Já vimos anteriormente alguma coisa dos métodos exegéticos e expositivos dos puritanos. Agora vamos nos concentrar na perspectiva que eles tinham sobre a aplicação do sermão. É exatamente nesta área da aplicação que o sermão tem mais a nos oferecer.

A igreja de hoje é em geral muito fraca na área da pregação aplicativa. Basicamente existem três extremos que podem ser percebidos:

1) Em primeiro lugar vemos os ortodoxos, particularmente os reformados, com certa freqüência dando uma palestra e, embora estejam dizendo a verdade e mesmo que seus sermões sejam bem verdadeiros, alguns deles não tratam muito com a questão da vida.

2) No evangelicalismo de hoje, geralmente dentro dos círculos carismáticos, existe o que eu chamo de um “blá-blá-blá” emocional que passa por cima das cabeças das pessoas, e a aplicação não brota da convicção que nasce da verdade, é mais emocional.

3) O que estamos vendo são sermões que apenas nos ensinam o que devemos fazer, são simplesmente guias do que devemos fazer: como ter um casamento bem-sucedido, como usar o seu dinheiro de forma correta… e coisas assim.

Nenhum destes sermões que eu mencionei são tipos verdadeiramente bíblicos de pregação. Então vamos olhar para os puritanos e ver o que é um verdadeiro sermão aplicativo.

 

A) Importância da aplicação.

A aplicação era a segunda parte mais importante da pregação puritana. Já vimos o que nós chamamos de esquema triplo do sermão. Todo sermão puritano tinha três partes: (1) a doutrina que é o resumo das verdades encontradas no texto; (2) a demonstração que era o desenvolvimento daquela doutrina através de argumentos da Escritura e da persuasão; (3) e finalmente os usos. Quando os puritanos falavam sobre usos eles queriam se referir à forma prática pela qual estas verdades se aplicam na vida pessoal do indivíduo. Vocês lembram que a quinta marca do sermão puritano que nós já falamos anteriormente é que ele era transformador. Os puritanos nunca ficavam satisfeitos apenas em ensinar aquela verdade ao povo e deixar que ela ficasse ali pairando no ar. A paixão deles era que as pessoas sentadas nos bancos da igreja fossem transformadas pela verdade do Evangelho. No seu livro “O Surgimento do Puritanismo”, o escritor Haller diz: “A tarefa do pastor puritano era examinar profundamente a consciência do pecador que estava abatido para sanar e curar os males da sua alma e enviá-lo, então, fortalecido e encorajado para que pudesse continuar sua batalha que dura toda a vida contra o pecado e Satanás”.

Os puritanos, com esta perspectiva de pregação, não estavam dizendo nada novo. Não somente na sua teologia, mas também na sua pregação, eles estavam apenas desenvolvendo a obra de João Calvino. Calvino foi um grande teólogo, mas ele também foi um mestre e expositor. Ele mesmo disse que o sermão não seria verdadeiro se não aplicasse a verdade ao povo de Deus. Em certo sentido, Calvino se antecipa aos puritanos utilizando a palavra usos para se referir à parte aplicativa do sermão.

Existem dois livros sobre pregação calvinista que eu gostaria de recomendar a vocês. Um já não está mais sendo publicado em inglês e foi escrito por um teólogo francês, Pierre Marcel: “A Relevância da Pregação”. É um livro pequeno, mas é o livro mais profundo que já li sobre pregação. O segundo é escrito por T.H.L. Packer e também fala sobre a pregação de Calvino.

A ênfase puritana na aplicação do sermão se encontra no Diretório de Culto de Westminster, quando fala sobre a obra do pregador. Ele não deve ficar apenas em expor doutrinas gerais, mesmo que o faça de forma clara e bem demonstrada, mas deve aplicá-las de forma especial aos seus ouvintes. Mesmo que isto seja um trabalho de muita dificuldade e que exija muita prudência, zelo e meditação; mesmo que esta obra seja muito desagradável para o homem natural e corrupto, mesmo assim ele deve desenvolvê-la de tal maneira que os seus ouvintes sintam que a Palavra de Deus é viva e poderosa e pode discernir as intenções e os desejos do coração.

 

B) Tipos de aplicação.

Partindo da Escritura, os puritanos cuidadosamente distinguiam entre os tipos de aplicação a serem feitas. William Perkins desenvolveu algo importante partindo de 2 Tm 3:16-17: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para repreensão, para correção, para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra”. Baseado nesta passagem William Perkins ensinava que havia dois tipos básicos de aplicação: a aplicação intelectual e a aplicação prática. A aplicação intelectual tinha dois aspectos: positivo e negativo. O lado positivo seria informar às pessoas acerca das verdades que elas deveriam crer. A isto ele chamava de doutrina, apesar de estar usando doutrina aqui de uma forma diferente. E em segundo lugar, o negativo, seria a refutação do erro. A aplicação prática também tinha dois aspectos: o positivo e o negativo. Instrução (positivo), que consistia em conforto e encorajamento e correção (negativo), que consistia na admoestação. De acordo com Perkins, de cada passagem da Escritura poderíamos derivar estes tipos de aplicação, e que era o objetivo do pregador aplicar o texto destas diversas formas e de acordo com a intenção do Espírito Santo naquela passagem.

Os autores da Confissão de Fé de Westminster desenvolveram estes tipos de aplicações de forma mais detalhada, e no Diretório de Culto eles desenvolvem seis tipos de aplicação. Quero me referir a cada um deles dando exemplos da Escritura, porque os pastores precisam estar fazendo tudo isso nos sermões que pregam.

1) O primeiro tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é informar. Ou seja, aplicar alguma verdade do texto para que seja entendida pelas pessoas. À medida que o pastor está pregando em uma determinada passagem ele vai chamar a atenção dos seus ouvintes para uma doutrina que deve ser aceita e crida baseada naquela passagem da Escritura. Por exemplo, em João 4, quando Jesus conversa com a mulher samaritana. Ela pergunta no verso 20 onde deveria adorar. E a resposta do Senhor, no verso 21 é: “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adoraram o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. Quando você prega nesta passagem, uma das aplicações que pode ser feita é aquilo que Deus revela a respeito do culto verdadeiro. E o que Deus deseja é que as pessoas creiam que o verdadeiro culto tem que ser simples, espiritual, e controlado pela Palavra de Deus. Então você aplica esta verdade à sua compreensão, à sua mente, ao seu intelecto. Esta é a aplicação da informação.

2) A segunda era a aplicação em termos de refutação. Que consistia em corrigir pensamentos errôneos, ou a maneira errada de pensar. Temos um exemplo em Dt 18. No fim deste capítulo Moisés dá as características do verdadeiro profeta, partindo do verso 19 de Deuteronômio 18: “De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe mandei falar, ou que falar em nome de outros deuses, este profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? sabe que quando este profeta falar, em nome do Senhor, e a palavra dele não se cumprir nem suceder, como profetizou, esta é a palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele”. Aqui Deus nos ensina que tudo o que o verdadeiro profeta fala, acontece. Portanto, aqui vemos que a maneira de julgar a profecia é que se ela não se cumpre, o profeta é falso. E como é que nós aplicamos esta verdade em termos de refutação? Existem muitos hoje nas igrejas que reivindicam ser profetas; eles reivindicam receber palavras especiais da parte de Deus, e predizem coisas, mas nenhum deles é infalível e nenhum deles teve tudo o que já falou cumprido. Portanto, a aplicação aqui em termo de refutação é que pessoas desta natureza são falsos profetas. E nós precisamos aplicar esta passagem para ajudar o nosso povo a compreender isto.

3) O terceiro tipo de aplicação é exortação, que consiste em exortar o povo a obedecer ou cumprir os deveres requeridos em uma passagem. Exemplo: Romanos 15:30-33: “Rogo-vos, pois irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria, e possa recrear-me convosco. E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!” A aplicação tipo exortação baseada nesta passagem seria desafiar os seus ouvintes a se dedicarem à oração particular e à oração corporativa. Eles estarão pecando se não o fizerem e devem servir a Deus fielmente desta forma, pela oração.

4) O quarto tipo de aplicação é admoestação ou repreensão pública. O propósito deste tipo de aplicação é sondar o coração dos ouvintes para trazê-los ao arrependimento e levá-los a se afastar do erro, do pecado. 1 Co 6:9-11 – “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”. Pregando nesta passagem você terá de advertir os seus ouvintes do perigo em viver neste tipo de vida, nestes pecados. Você deverá impressioná-los com esta verdade: que se eles vivem em pecados como estes, estarão caminhando para a condenação; que devem odiar o pecado e abandoná-lo. Esta é a aplicação em termos de reprovação, de censura e admoestação pública.

5) O quinto tipo de aplicação é conforto ou consolação. E o propósito dessa aplicação é reanimar aqueles que estão abatidos com tristeza através da verdade da Escritura. Pode haver pessoas na sua igreja que não têm certeza de salvação, eles acham que talvez pecaram demais, e que Deus não os salvará. Mas você pode mostrar-lhes partindo de 1 Co 6:11, que Paulo disse, “Tais fostes alguns de vós, mas vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados” e você então mostra ao seu povo que Deus salva todo tipo de pecador, que não existe ninguém que peque além da possibilidade de salvação. Mas talvez haja aqueles que estejam sofrendo debaixo de grande tristeza e angústia. Para estes você aplica por exemplo aquela promessa de 1 Ts 4:13: “Não queremos, porém, irmãos que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança.” E no verso 18: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” Pregue sobre a segunda vinda de Cristo e você aplica esta passagem àqueles que perderam os seus entes queridos para que possam desfrutar o conforto da esperança da ressurreição.

6) O sexto tipo de aplicação mencionado no manual de culto de Westminster é o exame. Os puritanos davam ao seu povo na igreja marcas e padrões concretos da Escritura pelos quais eles deveriam se medir e se analisar, se examinar. Eles então chamavam as pessoas para se examinarem a si mesmas para ver se estavam realmente em Cristo, e para isto eles lhes forneciam as marcas características daquelas pessoas que verdadeiramente estão em Cristo. Você tem prazer em Cristo? Você deseja ser salvo do pecado? Você ama a Palavra de Deus? Você ama os irmãos? Se a resposta é sim, então você está em Cristo, porque só um crente experimenta estas coisas. Ou talvez você esteja pregando sobre o quarto mandamento, sobre o santificar o Dia do Senhor, e então faz a pergunta: Você está santificando o Dia do Senhor? Você vai a Is 58:13, por exemplo, e lhes dá as marcas ou padrões pelos quais eles podem examinar o seu comportamento. Deve ler o versículo 13: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs”. Aqui o puritano colocaria diante da congregação, marcas ou um padrão objetivo pelo qual o crente poderia se auto-examinar se de fato está cumprindo o quarto mandamento. Se ele parou de trabalhar normalmente com exceção dos trabalhos de misericórdia. O puritano repetia aplicações em cada sermão que pregava.

O que devemos fazer é decidir o que nosso povo precisa e usar três ou quatro tipos de aplicações no sermão que confrontem e que supram as necessidades da nossa congregação, mas assegurando-nos de que através do período normal da pregação você esteja utilizando no sermão alguns destes seis tipos de aplicação.

 

C) Descrição analítica da congregação.

Finalmente nós chegamos à terceira parte. Já falamos sobre a importância da aplicação e falamos sobre os tipos de aplicação. A terceira coisa que os puritanos faziam era uma descrição analítica dos tipos de pessoas presentes na sua audiência. Geralmente a nossa aplicação é ineficaz porque nós não estamos conscientes das diversas categorias de pessoas que estão presentes na nossa audiência. E os puritanos eram mestres em usar aqueles tipos de aplicação que foram mencionados para determinadas categorias de pessoas presentes na audiência.

 

Categorias dos ouvintes.

William Perkins, por exemplo, classifica os ouvintes em sete categorias. As quatro primeiras categorias se referem a não convertidos. E na evangelização, quer seja no púlpito ou pessoalmente, você deve ter sempre em mente estes quatro tipos de pessoas não convertidas.

  1. O primeiro é aquele que é absolutamente ignorante e incapaz de ser ensinado. Dentro dessa categoria se encaixam aqueles que nada sabem ou sabem muito pouco a respeito de Deus e da Sua Palavra. Mas apesar disso ele é orgulhoso e está endurecido no seu pecado. Esta pessoa precisa passar por um período de preparação antes de poder receber a Palavra de Deus. Essa preparação se inicia quando o pregador faz com que a lei de Deus venha sobre a sua vida reprovando alguns dos pecados que possivelmente ele poderá estar cometendo. E, se então, começa a demonstrar que está agora numa posição que já pode ser ensinado, você começa de uma forma geral, a explicar a verdade da Escritura para ele. Se ele continua a demonstrar interesse, você então explica de forma bem clara e detalhada sobre Cristo e o Evangelho. Mas se permanece sem nenhuma vontade de aprender, “bata o pó dos pés”, não jogue as Suas pérolas aos porcos.
  2. O segundo tipo de descrente é aquele que é completamente ignorante, que não sabe de nada, mas pode ser instruído. Esta pessoa manifesta um certo quebrantamento, ela não está conscientemente e propositalmente se rebelando contra Deus, mas não conhece nada do cristianismo bíblico. Ela precisa ser instruída no ABC da Bíblia. Os puritanos acreditavam que o pecador tem que saber quem é Deus, quem Cristo é e o que Ele fez. É tolice chegar para uma pessoa, na nossa cultura, e dizer: “Deus lhe ama!” Ou perguntar: “Quem é Deus?” Ela irá dizer: “Eu não sei.” Você precisa explicar para esta pessoa quem é Deus, e que se ela persistir nos seus pecados não estará sob o amor de Deus, mas sob a ira de Deus. Assim, colocamos diante dela as verdades básicas da religião bíblica e mostramos o caminho do Evangelho.
  3. O terceiro tipo de descrente é aquele que teve algum conhecimento, mas não foi humilhado, quebrantado. Esse é um hipócrita que sabe tanto a respeito da Bíblia, mas o seu coração é altivo diante de Deus. A lei tem de ser trazida e aplicada sobre o coração desta pessoa. É necessário que se aplique a lei de Deus especificamente contra seus pecados para que ele venha a ficar entristecido pelo pecado. E em vez da tristeza geral do mundo ele deve ser levado àquela tristeza que vem de Deus em vista dos seus pecados. O que produz este tipo de sentimento é a lei de Deus quando nós a pregamos especificamente. Mas a pregação da cruz também pode quebrantar o coração de um pecador endurecido, pois fala do grande amor de Deus em dar o Seu único Filho para pagar os pecados do povo e mostra Cristo pendurado na cruz, condenado, julgado e sofrendo pelos pecados do Seu povo. E então você lhe pergunta: “Por que teve de ser assim? Por que Deus destruiria o seu próprio Filho? Por causa do horror do pecado!” Uma pessoa pode se quebrantar diante destas verdades. Nós devemos fazer a pessoa consciente da maldição da lei sobre o pecador: aquele que pecar certamente morrerá.

Jonathan Edwards era mestre em demonstrar às pessoas as realidades da ira de Deus e da condenação do inferno para que seus corações fossem quebrantados, para que eles pudessem correr e refugiar-se em Cristo. À medida que você percebe que o coração daquele que é endurecido, está começando a se quebrantar com profunda tristeza por causa do pecado, então, você traz para ele a consolação do Evangelho.

  1. Isso nos leva ao quarto tipo de ouvinte não convertido. Aquele que está quebrantado, o pecador no pó e na cinza. Primeiro o pregador deve se certificar que ali está uma pessoa que está quebrantada pelo motivo certo, ou seja, tristeza pelo pecado. Aplicar ou oferecer o

Evangelho a uma pessoa que não está quebrantada pelo motivo certo e só contribuir para que ela fique ainda mais endurecida. Mas quando eles demonstram possuir o verdadeiro quebrantamento, então eles podem e devem ser assegurados da verdade, do conforto e das promessas do Evangelho.

Nas nossas congregações, domingo após domingo, sempre teremos na nossa audiência pessoas que se enquadram nestes quatro tipos mencionados. E as flechas do Evangelho que nós desferimos nos nossos sermões não devem ser atiradas por cima das cabeças como os soldados sírios. Estejamos sempre conscientes destes tipos de ouvintes nas igrejas. E você dirija as suas palavras a cada um deles como classes definidas de pessoas.

  1. O quinto tipo de ouvinte é aquele que crê, é o crente novo, o novo convertido, que precisa ser instruído nas verdades básicas, fundamentais: justificação, santificação, perseverança, a lei de Deus como regra de conduta, e que periodicamente precisa também ser lembrado da ira de Deus contra o pecado. Porque em cada um de nós ainda permanece os resíduos do pecado. E é bom meditar sobre o ódio que Deus tem ao pecado, para que possamos fugir dele e procurar o Senhor Jesus para nossa santificação.
  2. O sexto tipo de ouvinte é aquele que havia apostatado, decaído. Perkins dizia que a pessoa pode decair não somente na fé, mas também na prática. Aqueles que decaíram nas questões de fé são os que se deixaram envolver por doutrinas erradas. E, então, fazemos aquele tipo de aplicação tipo refutação para corrigir a sua forma errônea de pensar. E um dos efeitos de decair da fé, da doutrina correta, é perder a certeza de salvação. E quando pregamos devemos sempre lembrar que há pessoas no nosso auditório que perderam a certeza. Então lhes dirigimos o conforto do Evangelho, e mencionamos as características daqueles que são verdadeiramente regenerados. A segunda categoria daqueles que decaíram na prática, ou seja, aquelas pessoas que incorreram na quebra de algum mandamento ou estão cometendo algum pecado. Eu hoje em dia não me escandalizo mais quando descubro o que alguém na minha congregação está fazendo. O diabo é um inimigo poderoso e inteligente e ele pode fazer com que o justo caia em pecados hediondos, horríveis. Os pastores não devem ficar pensando que estas pessoas queridas que você ama e que sabe que andam com Deus, são isentas do pecado. Nos meus vinte e sete anos de ministério eu já vi presbíteros caírem em adultério, crianças serem violentadas; pessoas com pecados na área dos negócios, outros envolvidos com pornografia, pecados terríveis. Mesmo um santo homem como Davi pôde cair em pecados terríveis, e devemos no púlpito avisar e exortar estas pessoas e chamá-las ao arrependimento.
  3. E a última categoria é a daqueles que Perkins chama de “misturados”. 1 Jo 2.12-14: “Filhinhos, eu vos escrevo porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevo porque tendes vencido o maligno. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens eu vos escrevi porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno.” Eu acredito que com esta classificação, “misturados”, Perkins queria dizer que na nossa congregação nós vamos ter pessoas que são desde crianças na fé até aqueles que são já adultos em Cristo, maduros. Há aqueles que são crianças, bebês espirituais e há aqueles que são como jovens, fortes e corajosos, e aqueles mais antigos, que já andaram com Deus por um longo período. Na nossa pregação devemos levar em conta este tipo de audiência diversificada.

Falando agora sobre os tipos de ouvintes, vejamos a abordagem dos puritanos sobre a análise que o pastor fazia desses tipos na sua audiência. No Diretório de Culto de Westminster vemos que o pastor não precisa, toda vez que está pregando, ir até o fim para achar cada doutrina que está no seu texto, mas ele deve selecionar aquelas aplicações que acha que são mais apropriadas (através do convívio) para o seu rebanho. Em outras palavras, a forma pela qual o pastor puritano conhece e analisa a sua congregação é através do ministério pastoral de visitação, através do qual ele vem a conhecer as diversas necessidades da sua congregação. Estou convencido que ninguém pode ser um pregador eficaz sem um trabalho regular de visitação e convívio com o seu rebanho.

Agora vamos concluir falando alguma coisa sobre método e ajudas para o processo de aplicação.

1) Em primeiro lugar a aplicação tem de ser direta. Lemos no Diretório de Culto que o pastor deve fazer a aplicação de tal maneira que os seus ouvintes percebam que a Palavra de Deus é viva e poderosa; que é capaz de descobrir os intentos e desejos do coração, e que se houver qualquer pessoa presente que seja descrente e sem conhecimento, os segredos do seu coração serão manifestos e aquela pessoa dará glória a Deus. Portanto, quando nós estamos pregando devemos fazer a aplicação de forma direta usando o pronome “você”. Você

não pode deixar a sua aplicação simplesmente em termos gerais, você tem que ser específico, direto. E você também pode ser direto chamando ou nomeando os diversos tipos de ouvintes. Por exemplo você pode dizer: “Alguns de vocês aqui nesta manhã estão endurecidos nos seus pecados, vocês são altivos e arrogantes, e a Palavra de Deus condena você. Talvez haja alguns que estão com o coração quebrantado; você que está com o seu coração quebrantado, que está vendo a luz da santidade de Deus. Meus queridos amigos, vejam como Cristo abre os seus braços; Ele diz: venha a mim.” É isso que eu quero dizer com aplicação direta.

2) Você precisa usar o contato com os olhos; você não pode ficar preso a um sermão escrito, ao seu esboço. Quando está pregando, você deve olhar a sua audiência nos olhos de tal forma que cada um pense que você está falando diretamente para ele. Você deve se esforçar para ser direto na sua aplicação e faça uso eficaz de perguntas retóricas. Entendem o que eu quero dizer por pergunta retórica? É uma pergunta que faz com que o ouvinte responda a si mesmo, na sua própria cabeça. E alguma vez você pode fazer esta pergunta tão bem feita que até alguém vai abrir a boca e falar na igreja, mas a pergunta retórica faz com que o coração se envolva diretamente com a aplicação. Por exemplo: “Será que alguém que ama a Cristo faria um negócio deste? Você pensa que pode amar a Cristo e ao mesmo tempo deixar de vir ao culto?” Veja, então, como estas perguntas retóricas se apoderam da mente e do coração dos ouvintes e extrai deles uma resposta, uma reação.

2) Em terceiro lugar, na sua aplicação seja bem específico, não fique apenas em argumentos ou aplicações gerais. Quando se está aplicando a Palavra contra pecados específicos você vai fazer com que cada ouvinte pense especificamente a respeito da sua própria vida. Pode ser que ele ainda não esteja praticando os pecados que você está censurando, mas você vai fazê-los pensar sobre as suas próprias vidas. Freqüentemente quando eu prego e a pessoas vêm e me dizem: “Pastor, de fato Deus me mostrou essa ou aquela coisa errada na minha vida.” E eu nem mencionei aquele tipo de coisa particular que o ouvinte citou, mas, porque eu fui específico na minha aplicação, eles foram específicos com o seu próprio coração.

3) Em quarto lugar a nossa aplicação deve fazer uso de argumentações com o propósito de dar às pessoas as razões pelas quais elas devem fazer aquilo que têm de fazer. Nós mencionamos as ameaças de Deus e as promessas de Deus para motivá-los. Jonathan Edwards era um mestre nesta área de dar às pessoas as motivações certas para levá-las à obediência. Relacionado com isto nós usamos argumentos, demonstrações que vêm reforçar o que estamos dizendo, e as razões pelas quais eles deviam cumprir seu dever ou abandonar determinado pecado. E, além disto, nós devíamos dedicar algum tempo para responder às possíveis objeções ou perguntas, antecipando assim as dúvidas que aqueles duvidosos teriam em seus corações. Use perguntas retóricas. Talvez alguns de vocês seja um exemplo. Poderia estar pensando alguma coisa, e o pregador continua e trata daquela possível pergunta ou objeção. Portanto, somos na aplicação, diretos; usamos perguntas retóricas, específicas; usamos argumentos; e finalmente em quinto lugar:

5) Devemos dar-lhes auxílio, ajuda. Não somente dizemos para eles que devem orar, mas dizemos como eles podem adquirir o hábito da oração. Não somente dizer que deixem de praticar tal pecado, mas devemos mostrar como fazê-lo.

6) Em sexto lugar, agora, devemos dar os padrões, marcas e sinais pelos quais os ouvintes podem se auto-analisar para que vejam se estão realmente em Cristo, se estão obedecendo a Deus como deveriam. Quando nós aplicamos a Palavra de Deus desta forma ela se torna poderosa e eficaz. É um trabalho difícil, vai exigir muito trabalho da parte do pastor, vai despertar muito ódio e oposição da parte da congregação, mas é o tipo de pregação determinado por Deus para transformar as pessoas. Eu quero exortar e encorajar a cada um dos pastores e pregadores. Que tomem o propósito que irão pregar a Palavra de Deus de tal maneira que venham a tratar diretamente com as pessoas da sua congregação.

Amém!

 

Revisado por Ewerton B. Tokashiki

Comments

  • João Vitor Costa Santos
    Responder

    É de grande valia esse assunto, sobre a pregação verdadeira. Sempre eu quis saber como era a pregacao dos puritanos. As vezes eu prego e vejo que a pessoas que levantam a sua mal para o alto e dão gloria Deus mas depois elas não lembram Maia do que foi pregado no culto. Eu sou um jovem que tenho uma chama no coração de pregar o evangelho, a palavra de Deus para transformar minha vida e a vida dos ouvintes, isso tem sido difícil mais com esse conhecimento que adquiri agora com esse conteúdo puritano vou ser transformado e os ouvintes na igreja e no Centro da cidade onde sempre prego.

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