Graça sublime para debates no twitter – seis precauções de John Newton
por Alexander Strauch[1]
John Newton (1725–1807) foi um dos grandes líderes cristãos ingleses do século XVIII. Ele era um escravocrata que se tornou abolicionista; um marinheiro que virou pastor; e um blasfemo que se tornou hinodista (“Amazing Grace” sendo a sua composição mais famosa). Ele também foi um dos grandes escritores de cartas pastorais da história da igreja. E foi um dos grandes pacificadores de sua geração.
Curador de brechas
Newton era um destemido calvinista. Mas teve muitos cristãos arminianos como amigos pessoais, incluindo os fundadores metodistas, John e Charles Wesley. Acreditava que a verdade é preciosa e, portanto, os debates teológicos são necessários. Mas ele também cria que o pecado é a razão pela qual as controvérsias teológicas se tornam tóxicas. Então ele fez o seu objetivo de “lutar pela paz com todos” (Hb 12.14).
Tal era a reputação irênica de Newton que John Wesley uma vez escreveu para ele
Você parece que foi projetado pela Divina Providência para um curador de brechas, um reconciliador de homens honestos, mas preconceituosos, e um unificador (trabalho feliz!) dos filhos de Deus que estão desnecessariamente divididos um do outro.
Em uma carta a um amigo, Newton escreveu
Quanto mais eu vivo, mais vejo a vaidade e a pecaminosidade de nossas disputas não-cristãs: eles consomem os pontos vitais da religião. Lamento pensar quantas vezes perdi o meu tempo e equilíbrio dessa maneira, presumindo regular as opiniões dos outros, quando negligenciei as minhas; quando a trave no meu olho obscureceu tanto a minha visão que não consegui discernir nada além do cisco do meu vizinho. Agora desejo escolher uma parte melhor … .
Eu consinto que todos os ramos da verdade do evangelho sejam preciosos, que os erros sejam abundantes, e que é nosso dever prestar um testemunho honesto do que o Senhor nos capacitou a encontrar consolo, e instruir com mansidão aos que estão dispostos a serem instruídos; mas eu não posso ver como meu dever, eu creio que seria meu pecado, tentar bater minhas noções na cabeça de outras pessoas. Eu tentei muitas vezes isso em tempos passados; mas agora julgo que tanto meu zelo quanto minhas armas eram carnais.
Conselho crucial para controvérsia
Em outra famosa carta agora intitulada “Sobre a controvérsia”, Newton aconselhou um amigo que planejava publicar um artigo refutando a teologia arminiana de um colega ministro. É um conselho atemporal e de valor inestimável, e se formos sábios, receberemos como se fôssemos os destinatários dessa carta. O Twitter não é o único fórum para controvérsias hoje, mas tornou-se um solo excepcionalmente fértil para a discussão de argumentos ímpios.
Primeiro, Newton nos incita a orar por nosso oponente enquanto nos preparamos para envolvê-lo. “Esta prática terá uma tendência direta para conciliar seu coração ao amor e ter compaixão dele; e tal disposição terá uma boa influência em cada página que você escreve”.
Em segundo lugar, Newton nos aconselha a lidar gentilmente com o nosso oponente porque
o Senhor ama e o suporta; portanto, você não deve desprezar ou tratá-lo duramente … . Daqui a pouco você se encontrará no céu. . . e embora você possa achar necessário se opor a seus erros, considere-o pessoalmente como uma alma, com quem você deve ser feliz em Cristo para sempre.
Terceiro, Newton recomenda-nos a instruir o nosso oponente com mansidão, lembrando que Deus é quem finalmente muda a mente de uma pessoa que está em erro (2Tm 2.24-26; Fp 3.15). A teologia calvinista exige “o exercício da gentileza e moderação”, e a Bíblia nos diz “não se esforçar, mas na mansidão instruir aqueles que se opõem”. Portanto, não devemos usar “expressões que exasperem” nossos oponentes e se tornem em pedras de tropeço para a sua aceitação das verdades da Escritura.
Em quarto lugar, Newton salienta que o nosso tom e palavras públicas influenciam outros cristãos. Alguns, mesmo que não entendam os argumentos em si, “sabem que mansidão, humildade e amor são características de um temperamento cristão”, então, se nossa apresentação não tiver essas qualidades, eles se sentirão justificados em rejeitar a nossa teologia.
Você pode ser fundamental para edificação de seu oponente, se a lei da bondade, bem como da verdade, regula a sua caneta [ou teclado]; caso contrário, você pode prejudicá-los. Existe um princípio do ego que nos predispõe a desprezar aqueles que diferem de nós; e frequentemente estamos sob a sua influência, quando pensamos que estamos apenas mostrando um zelo crescente na causa de Deus.
Em quinto lugar, Newton nos adverte da sutil autojustiça que inevitavelmente infecta nossa atitude em relação àqueles com quem discordamos:
A justiça própria pode se alimentar de doutrinas, assim como de obras; e um homem pode ter o coração de um fariseu, enquanto a sua cabeça é guardada com noções ortodoxas da indignidade da criatura e das riquezas da livre graça. Sim, acrescentaria, os melhores homens não estão totalmente livres desse fermento e, portanto, são muito apegados a se contentar com tais representações, que detêm nossos adversários para ridicularizar e, consequentemente, bajular os nossos julgamentos como sendo superiores. As controvérsias, em sua maior parte, são conduzidas a ponto de induzir, ao invés de reprimir essa disposição errada; e, portanto, em geral, elas são produtivos de pouco benefício. Elas provocam aqueles a quem devemos convencer e incham aqueles a quem devemos edificar. Espero que seu desempenho possa saborear um espírito de verdadeira humildade e ser um meio de promovê-lo nos outros.
E em sexto lugar, Newton nos diz para termos cuidado com os efeitos negativos que a controvérsia poderia ter em nosso próprio caráter:
Encontramos poucos escritores de controvérsia que não se tornaram notoriamente magoados. Ou crescem no sentido de sua própria importância, ou absorvem um espírito irado e contencioso … O que beneficiará um homem se ele ganhar a sua causa e silenciar o seu adversário se, ao mesmo tempo, perder a humilde e terna estrutura de espírito na qual o Senhor se deleita … o seu objetivo, eu não duvido, é bom, mas você precisa vigiar e orar, pois encontrará Satanás à sua direita para resisti-lo.
Persiga a sabedoria pacífica do alto
Em todo debate ou controvérsia em que nos envolvemos, Newton quer que nos lembremos,
A sabedoria que vem do alto não é apenas pura, mas pacífica e gentil; e a falta dessas qualificações, como a mosca morta na panela de unguento, estragará o sabor e a eficácia dos nossos labores. Se agirmos com um espírito errado, traremos pouca glória a Deus, faremos pouco bem a nossos semelhantes e não obteremos honra nem conforto para nós mesmos.
Vamos prestar atenção ao conselho deste pastor experiente e gentil apologista, e garantir que ao tentar ganhar uma discussão, não acabemos perdendo a guerra do amor.
[1] Alexander Strauch ele serviu como pastor da Littleton Bible Chapel, perto de Denver, por quarenta anos. É marido, pai de quatro filhos e avô, e autor do livro Biblical Eldership.
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki
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