Cristo como Senhor e Cabeça da Igreja e a vocação de seus ministros: A propósito do Dia do Pastor Presbiteriano

Introdução

              No capítulo primeiro de Efésios, o apóstolo Paulo descreve de forma doxológica aspectos dos grandes feitos de Deus de eternidade a eternidade, tendo como ponto fundamental a sua graça abençoadora que nos elege, redime, adota e sela (Ef 1.3-14). A manifestação da soberania de Deus culmina na ressurreição de Cristo, tornando público o seu poder e a glória do Filho acima de todos os poderes.

Demonstra então, que todas as criaturas estão subordinadas ao Filho por meio de quem todas as coisas foram criadas e são preservadas:

19E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; 20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,  21acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. (Ef 1.19-21).

Neste contexto, de modo surpreendente, Paulo introduz a Igreja, dizendo: “22E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, 23a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.22-23).

Toda esta oração tem em vista a Igreja, o povo escolhido de Deus, o Corpo de Cristo. Ele deseja que a igreja tenha consciência dos altos privilégios dos quais ela é destinatária pela obra grandiosa de Cristo.

Esses versos aludem a algumas verdades que queremos destacar. Me concentrarei  em uma delas e algumas de suas decorrências.

 

1. Jesus Cristo é o Senhor e Cabeça da Igreja

Devemos estar sujeitos unicamente a Cristo. Ele deve ser nossa única Cabeça. Não devemos desviar-nos sequer um fio de cabelo da doutrina simples do evangelho; tão somente ele deve possuir a mais elevada glória, para que retenha o direito e a autoridade de ser nosso Noivo. (…)

Os que arrastam a Igreja após si, e não a Cristo, se fazem culpados de vilmente violar o matrimônio que deveriam ter honrado. E, quanto maior é honra que Cristo nos confere, fazendo-nos guardiãs de sua esposa, tão mais hedionda será nossa falta de fidelidade, se não nos esforçarmos em manter e defender seu direito. – João Calvino (1509-1564).[1]

  1. É-nos dito que Cristo é o Senhor de todas as coisas. Tudo está debaixo de seus pés. Toda a realidade está sob o seu domínio. Conforme já dissemos, Ele governa todas as coisas, conhecidas e ignoradas por nós, visíveis e invisíveis. O seu domínio não está limitado à nossa compreensão e abrangências do real: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés” (Ef 1.22). Deste modo, o universo, as incontáveis galáxias, a história, os governantes, os pássaros e os fios de cabelo que caem, aquilo que ocupa a sua mente neste momento e inquieta o seu coração, nada escapa ao seu poder e controle. Nada lhe é indiferente. Nada lhe é estranho.

A abrangência de seu domínio, não exclui a particularidade de seu poder e controle. Isso também envolve a Satanás e os seus anjos. Não há poderes neste mundo, nem no porvir que estejam fora da esfera de domínio do Senhor ressurreto.

  1. Ele é Senhor do universo. No entanto, a sua providência é especialíssima,[2] se manifestando no seu cuidado amoroso para com a Igreja, que é o seu corpo. A Igreja como Israel de Deus é a menina dos seus olhos (Zc 2.8/Dt 32.10). Esta certeza faz parte essencial da fé cristã. Deus preserva a Igreja em todas as circunstâncias. Mesmo nas noites mais trevosas de nossas angústias, podemos ter a certeza de que ninguém pode nos separar de Cristo (Rm 8.31-39). Estamos guardados e protegidos em suas poderosas mãos (Jo 10.28-30).[3] Esta convicção é um antídoto poderoso e eficaz contra a nossa angústia e depressão, nos capacitando resistir às tentações que procuram produzir em nós a sensação de solidão, fraqueza e desamparo. Isso é motivo de grande estímulo, conforto e alegria para todos nós.

Turretini (1623-1687) escreve de modo penetrante:

Da confiança na providência provém a mais profunda consolação e incrível tranquilidade mental para os santos. Ela os leva a repousar serenamente no seio de Deus e a encomendar-se inteiramente ao seu paternal cuidado, esperando sempre dele o bem no futuro, não duvidando de que Ele sempre cumprirá o ofício de um Pai para com eles, conferindo o bem e afastando os males; exemplos disso temos em Davi (1Sm 17.37; Sl 23.1,4,6) e em Paulo (2Tm 4.17,18). Sentem eles que sob a proteção de Deus (o qual tem todas as criaturas em seu poder), não negligenciando indolentemente os meios, nem preocupadamente pondo neles a confiança, usando-os, porém, prudentemente segundo o seu mandamento, lançam todos os seus cuidados sobre o Senhor (1Pe 5.7) e, em todas as suas perplexidades, sempre exclamam com o pai dos fiéis: “O Senhor proverá”.[4]

  1. A glória de Cristo se tornará plena e completa por meio da Igreja, quando Ele mesmo consumar a obra, enchendo a igreja e sendo cheio por ela em alegria e amor (Ef 1.23). A obra é dele mesmo, como fonte da graça, por meio da igreja.[5]

Paulo diz que Jesus Cristo ressurreto, evidencia a supremacia do poder do Pai e do Filho, sendo constituído o cabeça sobre todas as coisas e, como evidência disso, o Pai o deu à Igreja. Do mesmo modo, escrevendo aos Colossenses, afirmou: 9porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. 10Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade” (Cl 2.9-10).

A Igreja é comandada por Cristo como o cabeça e, ao mesmo tempo tem a sua vitalidade em Cristo como a cabeça. Ele é que é o cabeça, quem comanda e dirige a Igreja e, é a cabeça quem a completa em um único Corpo. Aqui temos um sentido escatológico visto que “Cristo não pode ser perfeito como um Cristo místico, a menos que seus membros sejam ressuscitados com ele”.[6]

Paulo quando usa a metáfora da Igreja como Corpo, aplica a singularidade do nome de Cristo: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo” (1Co 12.12). A força e vitalidade da Igreja estão na cabeça que é Cristo. Paulo não trata da glória da Igreja divorciada da glória de Cristo porque isso seria impossível. Por isso é que antes de falar da igreja ele já tratou da Pessoa de Cristo (Ef 1.3-13).

Sem esta compreensão, a Igreja se perderá em seus descaminhos fruto de uma compreensão errada de sua natureza e propósito. A Igreja está unida a Cristo em uma santa e perpétua união.[7] Por isso, “toda teologia, quando alienada de Cristo, é não só vã e confusa, mas também nociva, enganosa e espúria”, comenta Calvino.[8]

Com o pecado, a condição de Cabeça da Criação assume aspecto redentivo. O Senhor que comprou a Igreja com o seu próprio sangue, nos conduz de volta a Deus. Ele mesmo nos comunica as bênçãos adquiridas para nós por meio de sua morte e ressurreição.[9] Todos os servos de Deus, por mais proeminentes que sejam ou tenham sido, não têm vida em si mesmos.[10] Independência é morte (Jo 15.1-8).[11]

“Nossa verdadeira plenitude e perfeição consiste em estarmos unidos no Corpo de Cristo”, exulta Calvino (1509-1564).[12] Portanto, não podemos separar o que Deus prazerosamente uniu desde a eternidade.

Bavinck (1854-1921) acentua com precisão:

 A doutrina de Cristo não é o ponto de partida, mas certamente é o ponto central de todo o sistema dogmático. Todos os outros dogmas ou preparam para ela ou são inferidos dela. Nela, que é o coração da dogmática, pulsa toda a vida eticorreligiosa do Cristianismo.[13]

Ao longo da história, a igreja tem enfrentado os mais variados ataques, perseguições, heresias, tentações, esfriamento de sua fé. No entanto, Cristo supre a Igreja com tudo o que é necessário para a sua existência e crescimento. Ele a prepara para os momentos de paz, bonança e, também para as intempéries, guerras, perseguições e abatimentos. A igreja nunca viveu sem oposição e, paradoxalmente, essa costuma ser a sua melhor fase.[14]

A Confissão de Westminster retrata com propriedade:

As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo. (XXV.5).

No entanto, o Senhor, o único cabeça da igreja a tem preservado, mesmo quando, por vezes, tudo parece perdido, como foi no período que antecedeu à Reforma (1517), durante o Iluminismo na Europa (1650-1800) e mesmo, de forma muito mais sutil, com o ecumenismo nos anos de 1960 e na falta de sentido de verdade do homem contemporâneo e mesmo em determinados círculos evangélicos.[15] Deus, o Cabeça da Igreja evidencia de forma poderosa o seu governo por meio de uma volta às Escrituras.

O Senhor não abandona a sua Igreja a despeito dos mais violentos e sutis ataques de Satanás. Ele está no controle.           Portanto, a Igreja que pretende ter outro cabeça não pode ser a verdadeira Igreja de Cristo. Não temos outro chefe ou cabeça, senão a Cristo, o Senhor. Mais uma vez recorro à Confissão de Westminster:

Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus. (XXV.6).

Um dos pontos cruciais da Reforma, herdado dos pré-reformadores, foi a supremacia de Cristo sobre a Igreja. A Igreja não pertence a homens. Ela deve ser governada por Cristo que o faz por meio de sua Palavra. A igreja como Corpo de Cristo deve ser seu agente na história, evidenciando a supremacia dele em sua fé, ensinamentos e atitudes. O pré-reformador João Huss (c. 1369-1415)[16]morreu por esta verdade, sendo queimado vivo em 1415. Outros irmãos morreram por sustentarem essa verdade,  permanecendo firmes, amparados na autoridade das Escrituras.[17]

A igreja não tem outra cabeça além de Cristo. Portanto, o papado representa um ultraje ao governo de Cristo sobre a Igreja. Esse é, de fato, o espírito de um anticristo. Cristo comprou a igreja com o seu próprio sangue (At 20,28; 1Co 6.20; 1Pe 1.18-21). Ele, somente Ele é o Senhor que edificar, preserva e governa a sua igreja (Mt 16.18).[18]

A igreja como Corpo de Cristo tem sido fortalecida na força de seu poder e, é por isso que ela ultrapassa em muito a nossa capacidade de compreensão e explicação. Ela é o povo de Deus, os ramos da videira, o edifício fundamentado em Cristo, as ovelhas, sob a direção e cuidado do Sumo Pastor.[19] Somos o povo de Deus, propriedade exclusiva dele (1Pe 2.9-10). Ninguém poderá nos destruir. O Senhor reina sobre todas as coisas e a Igreja é o seu corpo presente na história que está sendo formado e aperfeiçoado até a consumação vitoriosa de sua obra.

Em Ef 1.16-23 o apóstolo ora para que a igreja, mesmo nos momentos de abatimento e fraqueza tenha os seus olhos iluminados para saber esta verdade revelada, compreendendo-a pelo Espírito de sabedoria que nos foi concedido.

A cosmovisão cristã obviamente não se aplica apenas a esta vida, antes, tem um sentido escatológico, aponta para o fim, quando Cristo será plenamente glorificado, consumando a sua obra na criação. A escatologia é a consumação natural do plano de Deus na sua historificação temporal. A Escatologia é precedida de uma história realizada – vivemos a agimos em correspondência à nossa fé e vocação. A história aponta para uma escatologia decisiva.

Dessa forma, olhando pelo prisma da escatologia, podemos dizer que a história é escatológica, visto que para lá ela caminha de forma progressiva e realizante: A história se consumará na não história, no atemporal e eterno. Por outro lado, a escatologia confere sentido à história. A fé da Igreja respalda-se em um fato histórico, e nutre-se da esperança que emana da promessa de Deus: “A esperança é o alimento e a força da fé”.[20] E, quanto ao tempo, devemos ter em mente esta certeza: “Os tempos estão nas mãos e à disposição de Deus, de modo que devemos crer que tudo é feito na ordem prefixada e no tempo predeterminado”.[21]

O Senhor Jesus também anela pela conclusão de sua obra quando ele estará completo como cabeça, tendo o seu corpo completado e perfeito, totalmente enchido por ele (Ef 1.23). Já nesse estado de existência, a Igreja pode declarar com fé em alto e bom som:

31Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. 35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. 37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.31-39).

  

2. O Senhor vocaciona e confere autoridade aos seus ministros

É somente pela vocação divina que os ministros da Igreja se tornam legalmente efetivados. Quem quer que se apresente sem ser convidado, seja qual for a erudição ou eloquência que o mesmo possua, esse não recebe autoridade alguma, porquanto não veio da parte de Deus. −João Calvino.[22]

Quando escolhemos os líderes de nossa igreja, estamos simplesmente reconhecendo o chamado e dos dons do Senhor. − Timothy Keller (1950-2023).[23]

Seja qual for a autoridade que eu possa ter como pregador, não é resultado de qualquer decisão da minha parte. Foi a mão de Deus que me tomou, me tirou e me separou para esta obra. Sou o que sou pela graça de Deus; e a Ele dou toda a glória − D.M. Lloyd-Jones (1899-1981).[24]

Uma das formas pelas quais Deus se vale para cuidar de sua Igreja, é vocacionando e habilitando seus servos para, por meio deles, alimentar e cuidar de seu rebanho.

Deus como Sumo Pastor de suas ovelhas (Hb 13.20; 1Pe 2.25; 5.4), vocaciona e prepara seus pastores auxiliares para a condução de seu povo. É o Espírito, em sua vocação,  quem legitima a existência da presbíteros no Novo Testamento (At 20.28).

Calvino comentando Is 48.16 − Chegai-vos a mim e ouvi isto: não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que isso vem acontecendo, tenho estado lá. Agora, o SENHOR Deus me enviou a mim e o seu Espírito” −, escreve:

À luz desta passagem, aprendemos também que os que não possuem esta diretriz do Espírito, muito embora se gabem de haver sido enviados por Deus, devem ser rejeitados; tais como aquelas catervas papais de lobos que se gloriam no título de pastores e professores, e impudentemente se gabam de sua missão, muito embora sejam totalmente opostos ao Espírito de Deus e à Sua doutrina. Em vão se gabam de haverem sido enviados ou autorizados por Deus, quando não se acham adornados com os dons do Espírito, os quais são necessários para a execução de tal ofício. Pretextar possuir a inspiração do Espírito, enquanto são inteiramente destituídos de fé, e não possuir sequer a mínima fagulha de doutrina é excessivamente nauseante. Suponhamos uma assembleia de bispos mitrados, cuja maioria seja notória por sua ignorância, e entre trezentos dos quais raramente se achará dez que possuam moderada participação nos rudimentos da piedade; que poderia ser mais néscio do que tal assembleia gabar-se de ser governada por “o Espírito”?[25]

Da mesma forma, estudando Is 61.1 − “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” −, comenta:

O Profeta não reivindica para si mesmo o direito e autoridade para ensinar, antes de mostrar que o Senhor “o enviou”. A autoridade se baseia em ele ter sido “ungido”, isto é, equipado por Deus com os dons necessários. Não devemos ouvi-lo, portanto, como um indivíduo particular, mas como um ministro público que veio do céu.[26]

Portanto, a vocação ministerial é para o serviço, não para o domínio (1Pe 5.1-2). E mais: o poder eficiente de toda vocação é de Deus, quem chama e preserva. Lucas descreve de forma sucinta e reverente a vocação do Apóstolo Paulo e a comissão de Ananias:

15 Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome. 17 Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. (At 9.15-17).

Mais tarde, Paulo pôde escrever a Timóteo: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1.12). Reconhecendo que a sua fidelidade era resultado direto da misericórdia de Deus que o capacitou (1Co 7.25).[27]

No seu chamado, Paulo reconhecia a autoridade apostólica conferida pelo Senhor para a edificação da Igreja: “Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa, não me envergonharei” (2Co 10.8/2Co 13.10;1Co 5.1-5).

Calvino acentuou a responsabilidade do presbítero. Entende que Deus se dignou em consagrar a si mesmo “as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar própria voz”.[28] Deste modo, os pastores não estão a seu próprio serviço, mas de Cristo; “são ministros de Cristo que servem à sua igreja”.[29] A igreja é a razão da existência desses ofícios (1Co 3.22; Ef 4.12). Eles buscam discípulos para Cristo, não seguidores para suas ideias e concepções pessoais.

Paulo, Pedro, João e Judas, como os demais apóstolos, em maior ou menor proporção, tiveram uma experiência profunda e inigualável com o Senhor Jesus. Foram chamados por Ele mesmo e, com exceção de Paulo, andaram com o Senhor em sua encarnação. No entanto, esses homens não alegavam terem superpoderes ou uma fé especial. Antes, reconheciam-se como alcançados pela mesma graça perdoadora. Por isso, dirigem-se aos demais cristãos como irmãos, reconhecendo a mesma fonte genética: o sangue de Cristo. (Rm 12.1; 1Tm 1.12-16; Tt 1.4; 1Pe 5-1.3; 2Pe 1.1; 1Jo 1.1-3; Jd 3).

É preciso que tenhamos esta consciência derivada do ensino bíblico. Deus é o Senhor da Igreja. É Ele quem constitui seus oficiais.

Deus manifesta a sua vontade por intermédio da eleição realizada pela assembleia da igreja conforme a sua forma de governo derivada das Escrituras. Deus sabe sempre o que é melhor para a sua Igreja ainda que nem sempre tenhamos a visão imediata do seu propósito, o que, diga-se de passagem, é mais do que natural.

É Deus mesmo quem na condução de sua Igreja utiliza-se de seus servos a quem   escolhe e chama, sendo a Igreja o instrumento de Deus para a execução de parte desse processo.

 

3. O Senhor guia a Igreja por meio de seus ministros

É verdade que todos os cristãos são sacerdotes, mas nem todos são pastores. Para ser pastor, não se deve ser apenas cristão e sacerdote, mas deve-se ter um ofício e um campo de trabalho a ele confiados. − Martinho Lutero (1483-1546).[30]

Toda a eminência que os mestres porventura possuam entre si não deve impedir a Cristo de ser o único a governar sua Igreja nem de governá-la exclusivamente por meio de sua palavra. − João Calvino.[31]

Quando Paulo se despede dos presbíteros de Éfeso lhes diz: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).

A Igreja é um organismo e uma organização. Como organismo enfatizamos a sua eternidade dentro do propósito de Deus. Essa é a igreja invisível, santa e pura que se concretiza na história por meio da igreja como organização, identificada pela fiel proclamação da Palavra, a administração correta dos sacramentos e o exercício fiel da disciplina.

Ambos os aspectos da mesma igreja são constituídos pelo Espírito. O organismo acentua além da eternidade, a sua espiritualidade e vitalidade. A organização demonstra a necessidade de esse organismo ser organizado materialmente por meio do seu modus operandi que envolve as suas estruturas, leis e ação na história. Por isso, a igreja precisará sempre ter uma estrutura administrativa, normas, liderança, etc. (Rm 12.8).

Bavinck escreve de forma esclarecedora:

O governo é indispensável para a igreja como ajuntamento dos crentes. Assim como um templo precisa de um arquiteto, o campo, de um semeador, uma vinha, de um tratador, uma rede, de um pescador, um rebanho de um pastor, um corpo, de uma cabeça, uma família, de um pai, um reino, de um rei, assim também a igreja é inconcebível sem uma autoridade que a sustente, oriente, cuide e proteja. Em certo sentido, ainda mais especial que no caso do campo político, essa autoridade se baseia em Deus. (…) Assim como no campo civil ele concedeu soberania ao governo, assim também na igreja ele designou Cristo para ser rei. (…) No entanto, (…) aprouve a ele, sem de forma nenhuma transferir sua soberania às pessoas, usar o serviço delas no exercício de sua soberania e pregar o evangelho por meio delas a todas as criaturas. Também nesse sentido, a igreja nunca ficou sem governo. Ela sempre foi organizada e institucionalizada de algum modo.[32]

Keller assim descreve a igreja mais propriamente como organização:

Para ser exercidos, esses dons têm de ser reconhecidos publicamente pela igreja, o que requer certa organização. Não há como exercitar o dom de liderança (Rm 12.8) sem que haja uma estrutura institucional: eleições, estatutos, ordenação e padrões de credenciamento. Ninguém consegue governar sem algum tipo de acordo feito pela igreja toda sobre os poderes conferidos aos governantes e como esses poderes serão exercitados legitimamente.[33]

O organismo vivencia a sua realidade por meio da igreja como instituição e como povo no exercício de sua vocação na sociedade. O problema é quando a sua estrutura organizacional nega em sua prática a espiritualidade de sua essência. Desse modo, um dos indícios dessa inversão é quando a estrutura eclesiástica passa a ser o grande e único foco da igreja à qual todas as demais coisas passam a estar subordinadas.

Assim, o grande elemento identificador do sucesso profético dessa igreja é a sua riqueza, templos requintados, reconhecimentos e membresia. Junto com isso vêm o desejo de perpetuação no poder, o fascínio por cargos e comissões, os quais devem ser bem distribuídos geograficamente, sem perder a dimensão de contemplar os grupos que fazem pressão, para acalmar os corações sedentos por servir a Deus com mais conforto e visibilidade. E tudo como uma linguagem em envolve termos “servir à Igreja”, para “glória de Deus”, etc.

A expressão material de nossa fé não pode ser dissociada da essência da fé que brota e fundamenta-se na Palavra, caso contrário, será uma expressão de algo falso, apenas para ser professada, não para ser vivenciada. A vida manifesta a nossa fé.[34] Não há alternativa: Ou a nossa vida expressa de forma coerente a fé professada ou a nossa vida nega a nossa fé, revelando uma outra fé. Sem fé não vivemos!

 

4. O Senhor cuida de seus ministros

No primeiro dia de 1553, período turbulento, Calvino, então com 43 anos,  escreve a sua carta dedicatória dos comentários do Evangelho de João aos síndicos de Genebra. A certa altura diz:

Espontaneamente reconheço diante do mundo que mui longe estou de possuir a cuidadosa diligência e outras virtudes que a grandeza e a excelência do ofício requer de um bom pastor, e como continuamente lamento diante de Deus os numerosos pecados que obstruem meu progresso, assim me aventuro declarar que não estou destituído de honestidade e sinceridade na realização de meu dever.[35]

De fato, o Senhor que vocaciona os seus ministros também os capacita concedendo graça para realizarem a sua obra. Aliás, Deus sempre age assim. Ele não chama pessoas supostamente capacitadas. E mesmo que fossem, quem as teria capacitado antes senão o próprio Deus?

Deus não nos veste com fantasias com faixas e títulos que para nada mais servem senão para exibir a nossa vaidosa fragilidade. Não. A nossa suficiência vem de Deus. Isso é graça abundante (2Co 3.5/1Co 3.5; 4.7). Em síntese, Deus torna os seus escolhidos, por sua constante assistência, pessoas competentes para realizarem a obra por Ele designada. Isso não significa, capacitação prévia, perfeição ou a impossibilidade de quedas e evidente fragilidade durante o processo.

Calvino sabia disso. Por volta de 1556, escreveria: “É Deus quem nos equipa com o Espírito de poder. Pois aqueles que, por outro lado, revelam grande força, caem quando não são sustentados pelo poder do Espírito de Deus”.[36]

Tornemos às Escrituras.

Paulo durante a sua Primeira Viagem Missionária já se ocupava em fortalecer as igrejas, inclusive, constituindo as lideranças, rogando a Deus o discernimento para isso. Assim, mesmo correndo risco de morte, corajosamente voltou à região onde sofrera grande perseguição,[37] para fortalecer os irmãos. Parece que em Atos a pregação do Evangelho e a difusão do Reino, envolviam ser alvo de perseguição e morte. Os “heróis” de Atos tinham a cruz como companheira constante. A glória pressupõe a cruz. Esta pavimenta por vezes o caminho do cristão (At 14.22; Rm 8.17/2Tm 2.10-12[38]).[39]

Dentro do propósito apostólico de fortalecer e consolidar as igrejas a fim de que o Evangelho não caísse no esquecimento e as igrejas seguissem estruturadas com seus ofícios ordinários,[40] a sua agenda envolvia a eleição de presbíteros para que continuassem o ensino na igreja.[41] A rapidez do processo descrito pode ser explicada pela conversão de muitos judeus que, certamente, estavam familiarizados com as Escrituras do Antigo Testamento e, também, pelo trabalho missionário judaico entre os pagãos.[42] Lucas narra:

 19 Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. 20 Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para Derbe. 21 E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, 22 fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. 23 E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição[43] de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram (parati/qhmi = confiar, entregar) ao Senhor (ku/rioj) em quem haviam crido. (At 14.19-23).

Notemos que os presbíteros que foram eleitos eram entre os crentes; os que criam no Senhor e, que mediante a votação popular, seus dons já demonstrados ao longo do tempo, seriam reconhecidos pela congregação local (At 14.23). Deste modo, a vocação divina é confirmada pela igreja. Essas duas facetas caminham juntas de modo inseparável.  Eles, como todos os demais crentes, foram confiados ao Senhor da Igreja. Os presbíteros terão responsabilidades espirituais maiores (At 20.28), contudo, por graça, não são autônomos; continuam sendo do Senhor.

Somente o Senhor pode nos confirmar em nosso trabalho e ofício. É Ele quem dirige e preserva a Igreja. A igreja deve orar por seus presbíteros, agradecendo e intercedendo.  Foi Deus mesmo quem os vocacionou para esse ofício específico.[44]

Os presbíteros devem orar pela igreja, reconhecendo a sua total incapacidade em conduzir o povo de Deus sem a bênção do Senhor. Orar é expressar a convicção de nossa total incapacidade e, ao mesmo tempo, total confiança no Senhor. Portanto, os presbíteros devem buscar instrução, discernimento e amparo no Senhor, à quem foram confiados.

Calvino comentando o texto, fala dos motivos da oração por parte de igreja:

O primeiro era que Deus os dirigisse com o Espírito de sabedoria e discrição a fim de que todos escolhessem os homens melhores e mais aptos. Pois bem sabiam que não eram dotados com tão grande sabedoria, que fossem isentos de engano, nem pusessem demasiada confiança em sua diligência pessoal, que não soubessem que a ênfase primordial é posta na bênção divina. Assim vemos diariamente que os critérios dos homens erram onde não se manifesta nenhuma diretriz celestial, e que em todos os labores nada resulta se a mão divina não estiver com eles. Estes são os genuínos auspícios dos santos: invocar o Espírito de Deus para que presida seus conselhos. E se esta é a regra a observar-se em todas as nossas atividades, então, no que diz respeito ao governo da Igreja, o qual depende inteiramente de sua vontade, devemos tomar todo cuidado para nada tentarmos senão tendo-o por Líder e Presidente.

Ora, seu segundo propósito em orar era para que Deus dotasse com os necessários dons àqueles que eram eleitos pastores. Pois o cumprimento deste ofício, tão fielmente quanto se deve, é uma atividade mais árdua do que a força humana é capaz de suportar. Portanto, imploram o auxílio divino também nesta conexão, com Paulo e Barnabé assumindo a liderança.[45]

Em outro lugar, acrescenta:

Como compreendessem estarem a fazer cousa de todas a mais séria, nada ousavam tentar senão com suma reverência e solicitude. Mais do que tudo, porém, aplicaram-se às preces, nas quais a Deus pedissem o Espírito de conselho e discernimento.[46]

 

Considerações finais

A Igreja é de Deus. Ele é o Senhor. É Ele quem nos chama e sustenta. Temos aqui  um grande conforto para a igreja e, em especial para os presbíteros e líderes em geral. Permaneçamos no âmbito de nossa vocação.

A nossa esfera é anunciar a Palavra, alimentar e cuidar do rebanho. No entanto, não temos autoridade para ultrapassar a Palavra, nem dispomos de poderes para converter ninguém. Não queiramos ir além do que nos foi proposto e confiado. Somos pregadores e testemunhas.

O sobrenatural desta missão pertence a Deus que revela já de início o seu misericordioso poder ao transformar pecadores em pregadores. Sem esta compreensão, corremos o sério risco de nos esgotarmos terrivelmente em nossas ansiedades criadas pela falta do entendimento adequado do Evangelho de Deus, do que somos e de nossa missão.[47]

A Grande Comissão não falhará; ela está totalmente sob a autoridade e poder do Deus Triúno.[48]

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1,  (Jo 3.29), p. 144).

[2]Veja-se: J. Calvino, As Institutas, I.17.6.

[3] É muito sugestiva a análise do uso bíblica da expressão “mão de Deus”, demonstrando como o Deus pessoal cuida de seu povo dentro das categorias tempo e espaço, bem como além e depois (Veja-se: Francis A. Schaeffer, Não Há Gente Sem Importância, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 31-41).

[4]François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 676.

[5]Veja-se: B.B. Warfield, O Plano da salvação,  Rio de Janeiro; São Paulo: Thomas Nelson Brasil; Pilgrim, 2021, p. 94-97.

[6]Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 351.

[7]“Pensar em Cristo sem a igreja é separar o que Deus uniu em santa união” (Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 33).

[8]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.6), p. 93.

[9]Veja-se: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 2, (Jo 17.21), p. 200-201.

[10]Veja-se: João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 182-183.

[11]Veja-se: D. M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 410-411.

[12]João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 124.

[13]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: O pecado e a salvação em Cristo, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 3, p. 279. Vejam-se: Wolfhart Pannenberg, Fundamentos de Cristologia, Barcelona: Ediciones Sígueme, 1973, p. 27-28; Donald M. Baillie, Deus Estava em Cristo, São Paulo: ASTE., 1964, p. 51; Carl E. Braaten, A Pessoa de Jesus Cristo: In: Carl E. Braaten; Robert W. Jenson, eds. Dogmática Cristã, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1990, v. 1, p. 459; Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 275.

[14] Veja-se: Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 93.

[15]“Hoje vivemos numa igreja que se incomoda menos com a verdade que com qualquer artigo. O amor à verdade não é nem mesmo uma virtude: é um defeito, porque a verdade divide as pessoas. A verdade causa controvérsia. A verdade causa debate. A verdade causa transtorno aos relacionamentos. A verdade crucifica pessoas. Jesus afirmou: ‘Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz’ (Jo 18.37)” (R.C. Sproul, Oh! Como amo a tua lei. In: Don Kistler, org. Crer e Observar: o cristão e a obediência, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 19).

[16]Huss, pregador da Capela de Belém e professor e Reitor da Universidade de Praga, fora excomungado em 1412 por ter aderido às ideias de Wycliff, tendo pregado contra as indulgências, desafiado a autoridade do papa e enfatizado a autoridade das Escrituras. Em 1415 compareceu no Concílio de Constança (1414-1418), na Alemanha, sendo supostamente protegido por um salvo-conduto do Imperador, que terminou por ser suspenso pelo papa, sob a alegação de “não era necessário manter a palavra dada a um herege” e de que “ele jamais concedera qualquer salvo-conduto, e que não estava obrigado a seguir aquele que fora emitido pelo imperador alemão”. Foi queimado vivo. Fox narra as suas palavras ditas ao carrasco: “Vais assar um ganso (pois o nome Huss significa ganso na língua Boêmia), porém dentro de um século surgirá um cisne que não poderão nem assar e nem ferver”. Fox interpreta: “Se Huss neste momento disse uma profecia, deve ter se referido a Martinho Lutero, que apareceu ao final de aproximadamente cem anos, e em cujo escudo de armas tinha a figura de um cisne” (John Fox, O Livro dos Mártires, 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD., 2002, p. 166). Antes de morrer, recitou diversos salmos, principalmente o 51 e 53 (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 54-55.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 16.12.2023). (Vejam-se: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000, p. 192; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 39; Robert G. Clouse, Richard V. Pierard e Edwin M. Yamauchi, Dois Reinos – A Igreja e a Cultura interagindo ao longo dos séculos, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 216; John Fox, O Livro dos Mártires, p. 162-166; John MacArthur, Por que ainda prego a Bíblia após quarenta anos de ministério: In: Mark Dever, ed., A Pregação da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 142-143; John MacArthur, Escravo: A verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2012, p. 65-75.

[17]Veja-se o excelente e ilustrativo capítulo sobre tais perseguições e o arrefecimento de muitas igrejas em relação à autoridade suficiente das Escrituras, in: Iain Murray, Como a Escócia perdeu sua firmeza na Palavra: In: John F. MacArthur, org.,  A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 149-171.

[18] Veja o excelente capítulo escrito por MacArthur. John F. MacArthur, Boas Novas: o Evangelho de Jesus Cristo, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2019, p. 133-155.

[19] “Ele não pode ser nossa Cabeça a não ser que também seja simultaneamente nosso Pastor, tendo sobre nós toda autoridade” (João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 183).

[20] J. Calvino, As Institutas, III.2.43.

[21]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.3), p. 303.

[22] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.31), p. 71.

[23]Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 409.

[24] D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 90.

[25] John Calvin, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, (Calvin’s Commentaries), 1996, v. 8/3, p. 484-485.

[26]John Calvin, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, (Calvin’s Commentaries), 1996, v. 8/4, p. 304.

[27]“Com respeito às virgens, não tenho mandamento do Senhor; porém dou minha opinião, como tendo recebido do Senhor a misericórdia de ser fiel” (1Co 7.25).

[28]João Calvino, As Institutas, IV.1.5.

[29] Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 332.

[30]M. Luther, Commentary on Psalm 82. (Disponível em: https://godrules.net/library/luther/NEW1 luther_d21.htm  (Consulta feita em 16.12.2023).

[31]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1,  (Jo 3.29), p. 144.

[32] Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 333. “A instituição do apostolado é uma evidência especialmente forte do caráter institucional que Cristo deu à sua igreja sobre a terra” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 337).

 

[33]Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 409.

[34] “A fé, sem a evidência de boas obras, é inutilmente pretendida, porque o fruto sempre provém da raiz viva de uma boa árvore” (John Calvin, Commentaries on the Epistle of James, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, (Calvin’s Commentaries, v. 22/2), (Tg 2.18), p. 312).

[35] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1,  p. 23.

[36] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 1.7), p. 204.

[37] “A popularidade universal está para os falsos profetas, assim como a perseguição para os verdadeiros” (John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, 3. ed. São Paulo: ABU, 1985, p. 44).

[38]“Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17). “10 Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória. 11 Fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; 12 se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará” (2Tm 2.10-12).

[39]“Sofrimento, aflição, tribulações e testes – estes são dons que Deus nos dá para nosso crescimento, as pedras de pavimentação necessárias no caminho que conduz à plenitude de caráter e de alegria” (Bruce Ware, Cristo Jesus homem: Reflexões teológicas sobre a humanidade de Jesus Cristo, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 108).

[40]“O programa missionário, para ser completo, há de visar à fundação de igrejas que a si mesmas governem, sustentem e promovam os meios de sua propagação. Foi sempre este o propósito e a prática do apóstolo Paulo”, escreveu em 1919 Erdman (1866-1960), antigo professor de Princeton (Charles R. Erdman, Atos dos Apóstolos, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960, p. 112).

[41]Veja-se: John Calvin, Commentary upon the Acts of the Apostles, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted), v. 19, (At 14.23), p. 27.

[42] “Duvido que, em poucos meses, Paulo pudesse indicar presbíteros numa congregação inteiramente composta de ex-pagãos e ex-idólatras. Nesse caso, é quase certo que teria havido um período de transição de missão para igreja, enquanto os presbíteros estariam sendo ensinados e treinados” (John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: Até os confins da terra, São Paulo: ABU, (A Bíblia Fala Hoje),1994, (At 14.21-28), p. 267).

[43] A eleição aqui descrita parece ter sido feita pelo levantar das mãos (Xeirotone/w = xei/r = “mão” & tei/nw = “estender”), ainda que não necessariamente (* At 14.23; 2Co 8.19). Aliás, este costume não era estranho na Antiguidade. A votação era normalmente feita pelo ato de levantar as mãos; em Atenas por aclamação, ou por folhas de votantes ou pedras; em caso de desterro, o voto era secreto. (Veja-se o enriquecedor artigo de Sir Ernest Barker, Eleições no Mundo Antigo. In: Diógenes (Antologia), Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1982, n° 2, p. 27-36). Vejam-se também: William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago: The University of Chicago Press, 1957, p. 889; E. Lohse, xeirotone/w: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 9, p. 437;   Henry Alford, Alford’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House,  1980, (Reprinted), v. 2 (At 14.23), p. 160-161; Horst Balz; G. Schneider, eds. Exegetical Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1999 (Reprinted), v. 3, p. 465; Simon J. Kistemaker, Comentário do Novo Testamento: Atos, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (At 14.23-24), p. 43-46; R.C.H. Lenski, The Interpretation of the Acts of the Apostles, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, (Commentary on the New Testament), 1998, (At 14.23), p. 585-588; G.H.C. Macgregor; Theodore P. Ferris, The Acts of the Apostles: In: George A. Buttrick, et. al., eds. The Interpreter’s Bible,  New York: Abingdon Cokesbury Press, 1952, v. 9, (At 14.23), p. 192-293; Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 20.  Quanto à disputa entre presbiterianos e episcopais concernente à interpretação do texto, veja-se o presbiteriano: J.A. Alexander, A Commentary on The Acts of the Apostles, Edinburgh: The Banner of Truth Trust, © 1857, 1991 (Reprinted), v. 2, (At 14.23), p. 65-66. Calvino tem uma palavra equilibrada sobre a “eleição” dos presbíteros: “Daí, ao ordenar pastores, o povo tinha uma eleição soberana; mas, no caso de haver alguma desordem, Paulo e Barnabé presidem como moderadores. Esta é a maneira como devemos entender a decisão do Concílio de Laodicéia, o qual proíbe que a eleição seja entregue ao povo comum” (John Calvin, Commentary upon the Acts of the Apostles, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted), v. 19, (At 14.23), p. 28).

[44]Cf. Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 18.

[45]John Calvin, Commentary upon the Acts of the Apostles, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted), v. 19, (At 14.23), p. 28.

[46]J. Calvino, As Institutas, IV.3.12.

[47]“As pessoas ansiosas são cativadas por toda e qualquer forma de certezas que se lhe ofereçam, não importando quão irracionais sejam elas. Tais pessoas tornam-se vulneráveis a influências estranhas, e fazem coisas tolas” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 102).

[48] Veja-se: Michael Horton, A Grande Comissão, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 27-39.

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