Simonton, a “Imprensa Evangélica” e seus nobres ideais – Parte 5
O Estandarte
Seis meses depois da extinção da Imprensa, surgiu em São Paulo, o semanário presbiteriano, O Estandarte o qual publicou o seu primeiro número em 07/01/1893, tendo como redatores, os Revs. Eduardo Carlos Pereira (1855-1923), Bento Ferraz (1865-1944) e, o presbítero João Alves Correia.[1] O escritório da redação era na Rua 24 de maio, 48, custando a sua assinatura anual 8 mil réis. Na edição de 04/03/1893, p. 4, sabemos que a sua tiragem era de 2.000 exemplares, tendo 1.200 assinantes.[2]
O Estandarte veio à lume com o claro propósito de substituir a Imprensa,[3] tendo um programa mais “compreensivo”. No editorial do primeiro número, lemos: “Vimos ocupar, na Imprensa de nosso país, o lugar que, por largos anos, ocupou a Imprensa Evangélica, há pouco extinta. Nosso programa, porém, é mais compreensivo de acordo com os novos tempos”.[4]
Na sequência, o editorial fala do que se propõe o novo jornal:
Sob as amplas dobras de nossa bandeira, abrigam-se todos os interesses legítimos da sociedade, principalmente os interesses morais e religiosos. Procuraremos entrar na corrente do pensamento nacional e influenciar em sua direção.
Colocar-nos-emos em um ponto de vista liberal, a fim de interessar na leitura de nosso periódico aqueles mesmos que são alheios a interesses puramente religiosos.
A literatura amena, e instrutiva, a ciência e a arte, o movimento político, SEM TOCAR EM INTERESSES DE PARTIDOS, o noticiário largo e copioso, terão franca entrada nas colunas de nossa folha.
Sem perder de vista nossa missão, sem trair a lealdade de nossas convicções, procuraremos imitar a caridade do grande Apóstolo do gentilismo, fazendo-nos judeus para com os judeus, e gentios para com os gentios, para beneficiar a ambos.[5]
Confesso, que até onde pude ler, não percebi n’ O Estandarte a concretização desses nobres propósitos; acho, pelo contrário, que ele gastou ao longo dos anos, muito espaço com as polêmicas internas da Igreja.
No Estandarte, há de se refletir o distanciamento gradativo entre os Missionários e os Pastores brasileiros. Como exemplo (não isolado), encontramos no segundo artigo, de uma série de quatro, escritos por Remigio de Cerqueira Leite (1836-1894),[6] publicado no Estandarte de 21/01/1893, p. 2, a seguinte declaração:
Demais, a Igreja Brasileira não mereceria este nome, se não tivesse autonomia e iniciativa própria.
Entre o indivíduo e a coletividade há perfeita analogia de vida. Ambos têm infância, e idade madura; em ambos, constitui ela o ponto culminante de suas primeiras aspirações.
Não é homem o homem que não vive sobre si, que não pensa, que não se orienta, que não decide, que não atua por sua conta e risco: vive numa infância perene, não passa de uma criança crônica.
A família evangélica no Brasil já vai ultrapassando a sua juventude: ou ela agora se equilibra, para caminhar sozinha, ou atrofia-se.
O autor conclui este segundo artigo, dizendo: “Precisamos de um ministério nacional, numeroso, escolhido, valente, preparado”.
No terceiro artigo, publicado em 28/01/1983, o autor diz:
A necessidade mais urgente, que ora mais palpita no seio da Igreja Nacional é, por certo, o estabelecimento de um seminário entre nós.
Medida de suprema importância, que as apreensões do presente lamentam não ter sido realizada há dez anos, pelo menos, urge seja posta em prática, sem perda de tempo. (pág.1)
O articulista defende que este seminário seja estabelecido na capital paulista (pág. 2)
Creio que, sintomaticamente, o nº 6 d’O Estandarte de 12/02/1893, p. 3, publicou a carta de um leitor que apreciando o jornal, chamou-o de “folha nacional”. De fato era!
O Estandarte ainda hoje é publicado, sendo órgão Oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1]Durante a publicação da Imprensa, surgiram no Brasil outros jornais Protestantes. Destaco um. Em 22 de fevereiro de 1877, o missionário presbiteriano, Rev. A.L. Blackford (1829-1890), residindo no Brasil desde 1860, escreve ao seu colega metodista, Rev. John James Ransom (1853-1934) que aqui chegara em 02/02/1876 (Cf. H.C. Tucker, “Centenário Metodista Sul-Americano (1836-1936). In: Expositor Cristão, 03/3/1936, p. 89): “Você já conhece o português suficientemente bem para poder fazer-se compreender e já poderia pregar nesse idioma. Mas se começar agora, o trabalho que cair sobre você vai impedir o seu regular e cuidadoso estudo da língua…
“Você deve preparar-se não apenas para pregar mas também para escrever – e escrever bem (em português)!” (Carta de Blackford a Ransom, 22/02/1877. In: Annual Report, 1871. Apud Duncan A. Reily, “Methodista Catholico – Genitor do Expositor Cristão”. In: Expositor Cristão, 1ª e 2ª Quinzena de Janeiro de 1985, p. 4).
Reily em seu artigo, diz que Ransom levou a sério o conselho de seu amigo, empreendendo uma série de trabalhos em nossa língua, entre eles, traduziu em 1877, o Catecismo Bíblico do Bispo McTyeire e a Disciplina Metodista (então, os Cânones da Igreja) e, em 1878, publicou a adaptação que João Wesley fizera do Livro do Oração, intitulado, Compêndio de Oração (Duncan A. Reily, “Methodista Catholico – Genitor do Expositor Cristão”. In: Expositor Cristão, 1ª e 2ª Quinzena de Janeiro de 1985, p. 4).
Posteriormente, em 01 de janeiro de 1886, sairia o primeiro jornal metodista publicado no Brasil, de edição quinzenal, intitulado: Methodista Catholico. O Redator? Rev. J.J. Ransom.
Na primeira página há o “Programa do Metodista Católico”, assinado pelo “Editor Responsável”, no qual é explicado que esta “folha” é “órgão da Igreja Metodista Episcopal no Brasil”, acrescentando: “Nosso programa é simplicíssimo. Todos os números terão as competentes Lições Internacionais para as Escolas Dominicais; um ou mais artigos doutrinários; e o melhor que pudermos colher dos jornais brasileiros sobre as grandes questões do dia, tanto religiosas como morais e sociológicas. Pedimos de todas as Igrejas Evangélicas notícias suas para que o público fique ciente do progresso do Evangelho….” (Methodista Catholico, Rio de Janeiro, 01/01/1886, p. 1). (grifos meus).
Esse jornal, cujo nome não agradava a todos os metodistas, teria o seu nome mudado em 15/08/1887 para Expositor Christão, tendo como redator responsável, J.L. Kennedy. Na primeira página do jornal, lemos: “O Methodista Catholico acabou-se. Em seu lugar surge o Expositor Christão, que será agora o órgão da Egreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil. A Conferência Anual da dita igreja reuniu-se nos dias 14 a 18 do mês passado e resolveu: 1º – reduzir um pouco o tamanho da sua folha; 2º – fazê-la mensal em lugar de quinzenal” (Expositor Cristão, 1887, p. 1).
O editor, Rev. Kennedy, mais tarde escreveria a obra fundamental para o estudo do Metodismo no Brasil (J.L. Kennedy, Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil, São Paulo: Imprensa Metodista, 1928).
Em 1986, saiu uma série de artigos no Expositor Cristão alusivos ao centenário do jornal metodista, Veja-se In loc.
[2]Primariamente o jornal usou do seguinte método para conseguir assinantes: os primeiros números do jornal foram enviados para diversas pessoas, indicando que, se elas não devolvessem o exemplar à redação até o final do mês, seriam consideradas assinantes. Isto foi feito durante todo o mês de janeiro de 1893 (Vejam-se: O Estandarte, 07/01; 14/01; 21/01 e 28/01/1893, todos à primeira página.
[3]“A Junta de Novo Iorque havia resolvido encerrar a Publicação da Imprensa, ao mesmo tempo em que negava ao Sínodo Brasileiro o uso do título” (Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, p. 308).
[4]O Estandarte, 07/01/1893, p. 1. O Estandarte fazia parte do plano de ação assinado em dezembro de 1892, por 9 pastores brasileiros e 25 presbíteros. No item IV, lemos: “Estes nossos irmãos [Revs. Eduardo Carlos Pereira, Bento Ferraz e, o presbítero Remígio de Cerqueira Leite], com o concurso dos estudantes, publicarão, em São Paulo, um órgão de propaganda” (Revista de Missões Nacionais, 30/12/1892. (Vejam-se: Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, p. 308,309 e Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1959, v. 1, p. 374-375).
[5]O Estandarte, 07/01/1893, p. 1.
[6]O Major Remígio, pelo seu testemunho cristão e correto idealismo civil, foi brutalmente assassinado. Veja-se: https://oestandarteonline.com.br/2020/11/08/uma-longa-caminhada-comunicando-ao-coracao-do-povo-brasileiro/ (Consultado em 20.08.2024).
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