O Seminário e a formação de Pastores – Parte 27

8. Formando pastores: mestres, evangelistas

Quando era estudante de teologia na década de 1970, havia por parte de alguns colegas uma certa preocupação com o seu dom. Seriam mestres ou evangelistas?

Por vezes ouvia a respeito de alguém − em tons elogiosos  ou nem tanto − a observação: “Ele tem o dom de mestre” ou, “ele tem o dom de evangelista”. O comentário que vinha depois é que iria qualificar a definição dada; o “por isso”…

O Seminário forma pastores para a Igreja. Os aspectos e ênfases que seu ministério assumirão estarão associados à soberania de Deus que age livremente  por meio da capacitação de seus servos, sua vontade (humana) e as circunstâncias da história da qual Ele é também o senhor.

 

Comunidade Carismática

A Igreja de Cristo é uma comunidade carismática porque todos os seus membros receberam dons (xa/risma) para o serviço de Deus na Igreja.

Os dons concedidos pelo Espírito, longe de servirem para confusão ou vanglória, devem ser utilizados com humildade (1Co 4.7/2Co 5.18),[1] para a edificação e aperfeiçoamento dos santos (1Co 12.1-31/Ef 4.11-14/Rm 12.3-8).[2]

Calvino (1509-1564) acertadamente diz que “se a igreja é edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve ser edificada é também prerrogativa dele”.[3]

Do mesmo modo acentua Kuyper (1837-1920): “Os carismata ou dons espirituais são os meios e o poder divinamente ordenados pelos quais o Rei habilita a sua Igreja a realizar sua tarefa na terra”. [4]

O Carisma tem sempre um fim social: a Igreja; a comunhão dos santos.[5] E também, como elemento de ajuda na proclamação do Evangelho (Hb 2.3-4).[6]

Calvino trabalha insistentemente com esse princípio:

As Escrituras exigem de nós e nos advertem a considerarmos que qualquer favor que obtenhamos do Senhor, o temos recebido com a condição de que o apliquemos em benefício comum da Igreja. Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do Senhor com os demais, pois isto é a única coisa que os legitima. Todas as bênçãos de que gozamos são depósitos divinos que temos recebido com a condição de distribuí-los aos demais.[7]

 

Soberania divina

O Espírito é soberano na distribuição dos dons. Eles não podem ser reivindicados (1Co 12.11,18), antes, devem ser recebidos como manifestação da graça de Deus e utilizados para a glória de Deus.

A Igreja é a comunidade formada pelo próprio Deus, sendo constituída por pessoas que tiveram e têm, pela graça de Deus, a fé salvadora depositada unicamente em Jesus Cristo.

“No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter diante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, acentua Karl Barth (1886-1968).[8]

De fato, todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja. Por sua vez, os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais nascemos, mas que na realidade, foram dadas também por Deus (graça comum). Os nossos dons não são motivo de vanglória, antes de responsabilidade diante de Deus e da Igreja de Cristo. “Sejam quais forem os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles nos põem sob as mais profundas obrigações para com Deus”, enfatiza Calvino.[9]

A raiz da palavra graça, é a mesma da palavra dom, no grego xa/rij, daí podermos falar da Igreja, como uma comunidade carismática, visto ser ela constituída daqueles que receberam a graça da fé e o dom para servir.

No capítulo 4 da Epístola aos Efésios, Paulo está tratando de modo especial da unidade da Igreja dentro da variedade de funções. Assim, está implícita a figura tão cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom funcionamento do corpo é a utilização de todas as suas partes.

Organicamente, cada membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante a desempenhar dentro do equilíbrio do todo. Certamente, existem diferenças de beleza e elegância entre nossos órgãos, todavia, todos são essenciais.

Do mesmo modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenças entre nós, e, por vezes, não sejamos considerados pelos homens como dignos de algum valor, todos igualmente fomos criados à Imagem de Deus e, o fato é que todos somos essenciais no serviço do Reino: Devemos frisar no entanto, que não somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graça nos tornou essenciais no seu Reino e, por isso, agora o somos. É Deus mesmo quem supre a Igreja. O poder não estar nela mesma, mas no Senhor e Rei que lhe concede dons para atender às suas necessidades.[10]

Assim, é Deus mesmo e não outro, quem nos concede talentos para servi-lo (Ef 4.7,11/1Co 12.11,18). Portanto a nossa atitude de consciente e real humildade (1Co 4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o serviço do Reino: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso” (1Co 12.7).

Paulo continua: “Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado (merimna/w = “preocupação”),[11] em favor uns dos outros” (1Co 12.25).

Calvino orienta-nos pastoralmente:

O Senhor nos colocou juntos na Igreja, e destinou cada um ao seu posto, de tal maneira que, sob a única Cabeça, venhamos a nos auxiliar uns aos outros. Lembremo-nos também de que tão diferentes dons nos têm sido concedidos para podermos servir ao Senhor, humilde e despretensiosamente, e aplicar-nos ao avanço da glória daquele que nos tem dado tudo quanto temos.[12]

Desse modo, os dons recebidos, foram-nos concedidos para que os usássemos para a edificação da Igreja, não para a disseminação de discórdias, ou para usar de nossa influência para dividir, denegrir, solapar ou mesmo para a nossa projeção pessoal: Deus não desperdiça os dons “por nada e nem os destina para que sirvam de espetáculo”, enfatiza Calvino.[13]

O objetivo é claro: “Com vistas ao aperfeiçoamento (katartismo/j[14] = “preparar”, “equipar para o serviço”) dos santos” (Ef 4.12).

Ainda que de passagem, deve ser acentuado que, “sempre que os homens são chamados por Deus, os dons são necessariamente conectados com os ofícios. Pois Deus não veste homens com máscara ao designá-los apóstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais não têm eles como desincumbir-se adequadamente de seu ofício”, comenta Calvino.[15] Estou plenamente convencido desta realidade na vida cristã. Deus nos capacita no cumprimento de nossos deveres de obediência.

Observemos que estes ofícios (Ef 4.11), foram instituídos para o aperfeiçoamento dos santos a fim de que estes cumpram o seu serviço na Igreja; ou seja: o trabalho não é apenas pastoral ou dos Presbíteros Regentes e Diáconos, é também e fundamentalmente comunitário. Toda a Igreja é responsável: Lutero falou do Sacerdócio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do ministério universal dos crentes.

Insisto: O carisma traz implicações de responsabilidade com a edificação de nossos irmãos. Uma igreja não pode prosperar espiritual e numericamente quando há uma rígida divisão ainda que não institucionalizada entre os poucos que trabalham e uma grande maioria que apenas assiste passivamente, com indolência e, por vezes, com um ar crítico supondo poder fazer melhor, ainda que para nada se disponha. Todos somos chamados e capacitados ao trabalho cristão.[16]

Notemos também, que Paulo diz que todos os membros da Igreja são santos. Isso aponta para o nosso privilégio (somos santificados em Cristo Jesus) e nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja sofre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de santidade (separação) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo: na sua forma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer.

           Ao invés desse comportamento aprendido por osmose sugerir maturidade, é, na verdade, um sintoma de infantilidade crônica: temos de modo demasiado, falado, sentido e pensado como meninos; enquanto o propósito de Deus para o seu povo é o inverso: que pensemos, sintamos e falemos como pessoas maduras na fé (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb 5.11-14; 2Pe 3.18).[17] Paulo contrasta aqui os “meninos” (nh/pioj = “bebê”, “imaturo”, “criança pequena”) (Ef 4.14) com a “perfeição” (te/leioj = “maduro”) (Ef 4.13).

             Calvino aplica: “Crianças são aqueles que ainda não deram um passo no caminho do Senhor, senão que hesitam, que não determinaram ainda que rumo devem tomar, mas que se movem às vezes numa direção e às vezes noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueando”.[18]

As crianças devido à sua ingenuidade, são mais influenciáveis, dadas à instabilidade. Os pagãos apresentam este comportamento, sendo conduzidos por qualquer nova doutrina. Em Listra, conduzidos por suas lendas,[19] pensaram que Paulo e Barnabé fossem Júpiter e Mercúrio, querendo a todo custo oferecer-lhes sacrifícios. Pouco depois, influenciados pelos judaizantes, apedrejaram a Paulo, deixando-o quase morto (At 14.8-20). Por sua vez, “o progresso da igreja é marcado por um crescimento da infância até a maturidade, na medida que ela assume o caráter de sua cabeça, Cristo”, pontua Martin (1925-2013).[20]

Paulo para descrever esta inconstância infantil, usa um termo náutico que se refere a uma pequena embarcação que, em mar aberto não consegue manter o curso certo (kludwni/zomai = “ser arrastado, levado pelas ondas”)(Ef 4.14). Metaforicamente tem o sentido de “ser agitado mentalmente”. A ideia é a de andar em círculos, diante da variedade de ensinamentos. “Ele os compara com as palhas ou outros elementos leves, os quais são rodopiados pela força do vento a soprar em círculo ou em direções opostas”, interpreta Calvino.[21]

Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a criança gosta de entretenimento, novidade e indisciplina; se não tivermos firmeza doutrinária, se não estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e sem direção.

Este exemplo negativo, temos nos gálatas, aos quais, Paulo escreve: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho” (Gl 1.6). “Vós corríeis bem; quem vos impediu (e)gko/ptw)[22] de continuardes a obedecer à verdade?” (Gl 5.7). Este impedimento pode ser proveniente do diabo por meio de seus agentes (1Ts 2.14-18) ou do próprio coração humano, onde reside a raiz de nossos pecados.[23]

Calvino descrevendo a facilidade com que quase todos se curvaram diante do decreto idólatra de Nabucodonosor (Dn 3.2-7), sustenta que a base de nossa firmeza doutrinária está no apego irrestrito à Palavra:

Nada é firme, nada é estável entre os gentios; indivíduos que não foram instruídos na escola de Deus o que significa a verdadeira religião. Pois oscilam a todo instante ao sabor de qualquer brisa. Assim como as folhas se movem quando o vento sopra por entre as árvores, assim também todos os que não estão enraizados na verdade de Deus oscilarão e serão lançados para frente e para trás quando algum vento começa a soprar. O decreto régio não constitui uma brisa leve, e, sim, uma violenta tempestade. Pois ninguém pode opor-se impunemente aos reis e a seus editos. Por isso, sucede que os que não se acham plantados na Palavra de Deus, e não entendem absolutamente nada do que é verdadeira piedade, são arrastados pela investida de tal pé-de-vento.[24]

 

Servindo a Deus aonde Ele nos mandar

E quanto aos dons espirituais? Creio os dons miraculosos serviram para autenticar a mensagem apostólica, ainda que não somente por intermédio dos apóstolos mas, provenientes deste fundamento amparado em Cristo.

Creio que a discussão infindável e quase indecifrável deste assunto nos desvia mais de nosso serviço do que edifica a Igreja.

Entende que o cristão deve procurar obedecer a Deus em todas as esferas sem maiores preocupações com seus “dons”. O fato de crermos ou não na contemporaneidade dos dons, não nos torna mais ou menos crentes. Devemos sim nos aperfeiçoar naquilo que Deus nos confere a fazer agora. No futuro, Deus em sua soberania poderia nos incumbir de uma tarefa bastante distinta para a qual, pensamos, não ter a mínima habilidade. No entanto, sem dúvida, ela proverá os meios para o desempenho de nosso ofício.

Deus pode ser valer de seus servos para realizar algo miraculoso? Não tenho a menor dúvida. Apenas não creio que haja pessoas específicas para serem instrumentos de Deus para tal missão. Por isso mesmo, devemos continuar orando pelos enfermos para que Deus os cure se for a sua vontade, pregando a Palavra, procurando exercer misericórdia, amando com conhecimento e percepção, socorrendo nossos irmãos, aconselhando-os, animando-os, etc. Bem. Creio que isso deve caracterizar a vida cristã.

Agora, Deus já atendeu a minha oração restabelecendo a saúde de um irmão? Não sei. Alguém pode ser convertido por meio da pregação de um pregador com motivações equivocadas? Não tenho dúvida.

O que quero dizer, é que devemos servir a Deus onde Ele nos colocar. Ele proverá os recursos. Durante este processo de consciência de incapacidade e recepção da graça, amaduremos e edificaremos a Igreja. A graça do crescimento é-nos concedida enquanto exercitamos nossos dons. Isso, longe de significar o desleixo para com que o Senhor nos tem dado, antes, o desejo de servi-lo onde Ele nos colocar, atentando para as necessidades prementes que se configurarem diante de nós.

O que me consola sempre, é saber que Deus usou a jumenta de Balaão. Desejando, Ele, em sua misericórdia, nos usará também.

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1] “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto, quem quer que se ponha num nível mais elevado não passa de imbecil e impertinente. A genuína base da humildade cristã consiste, de um lado, em não ser presumido, porque sabemos que nada possuímos de bom em nós mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em nós, que o mesmo seja, por esta razão, totalmente debitado à conta da divina graça” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134-135).

[2]Obviamente, não estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber (1864-1920), que define Carisma como             “… uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (…) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianos específicos ou então se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como ‘líder’”  (Max Weber, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1991, v. 1, p. 158-159). Como o próprio Weber explica, “O conceito de ‘carisma’ (‘graça’) foi tomado da terminologia do cristianismo primitivo” (Ibidem., p. 141). Weber tomou a palavra emprestada em Rudolph Sohm (1841-1917), da sua obra Direito Eclesiástico para a Antiga Comunidade Cristã (Cf. Ibidem., p. 141). A análise das questões relativas ao domínio carismático, “estão no centro das reflexões de Weber” (Julien Freund, A Sociologia de Max Weber, Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 184). Sobre o conceito de Sohm, veja-se: https://www.jstor.org/stable/1202395 (Consultado em 05.12.2024).

[3]João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125.

[4] Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chaattanooga: AMG. Publishers, 1995, p. 196.

[5] Veja-se: Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 229.

[6] Veja-se: João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 56.

[7]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, p. 36. “Qualquer habilidade que um fiel cristão tenha, deve dedicá-la ao serviço de seus companheiros crentes, como também submeter, com toda sinceridade, seus próprios interesses ao bem-estar comum da Igreja”  (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 36).

[8] Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.

[9] João Calvino, Efésios, (Ef 4.7), p. 113.

[10] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 210.

[11]A palavra tem o sentido de solicitude, preocupação e inquietação. Ela ocorre 18 vezes no NT. O seu uso no Novo Testamento não tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega positivamente, como por exemplo no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se refere a Timóteo: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide (Merimnh/sei) dos vossos interesses” (Fp 2.20) e, também quando descreve as suas lutas em favor da Igreja: “Além das cousas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação (Me/rimna) com todas as Igrejas” (2Co 11.28).

 O termo também é usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido: “Não andeis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida…” (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e diante da aparente inércia de Maria, diz: “Marta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com muitas coisas” (Lc 10.41).

Paulo, também trata dessa questão, dizendo aos filipenses: “Não andeis ansiosos (Merimna/w) de cousa alguma….” (Fp 4.6). No entanto, esta exortação pode parecer inócua sem a indicação de um caminho eficaz para a canalização de nossas ansiedades existentes… Paulo então, propõe a solução para o problema: “… Em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6). A oração oferece-nos um abrigo onde podemos nos ocultar das preocupações mundanas, um lugar onde ficamos a sós com Deus, um refúgio onde renovamos a esperança, onde nossos cuidados com as coisas deste século ficam amortecidas. A oração é o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro; é o meio fornecido por Deus para que possamos combater a ansiedade: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade (Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7). (Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, especialmente, p. 27-38).

Quando assim procedemos, experimentamos o resultado indicado por Paulo no texto de Filipenses: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus” (Fp 4.7). A paz é de Deus porque dele procede e, também, porque o modelo da paz temos em Deus, Aquele que não vive em ansiedade. (Veja-se: F.F. Bruce, Filipenses, Florida: Editora Vida, 1992, (Fp 4.7), p. 154).

Comentando o Salmo primeiro, Calvino ressalta: “Era um sinal de inusitada fé quando, golpeado por tão grande consternação, se aventura a fazer francamente sua queixa a Deus e, por assim dizer, derramar sua alma no seio divino. E certamente que este é o único remédio que pode aplacar nossos temores, a saber, lançar sobre ele todas as preocupações que nos atribulam….” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, (Sl 1.1-2), v. 1, p. 80).

[12] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134.

[13] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 12.7), p. 376.

[14]A ideia da palavra é de preparar de forma adequada e própria (espiritual, intelectual e moral) para a execução de determinada tarefa. O seu sentido é mais funcional do que qualitativo (Cf. R. Schippers, R. Retidão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 4, p. 215). O verbo katarti/zw tem um amplo sentido de restauração: consertar as redes (Mt 4.21; Mc 1.19); boa instrução (Lc 6.40); perfeita união (1Co 1.10); aperfeiçoar/equipar (2Co 13.11; Hb 13.21; 1Pe 5.10; 2Co 13.9 (kata/rtisij); correção (Gl 6.1); reparo (1Ts 3.10), formar (Hb 10.5; 11.3). O termo grego utilizado por Paulo, no campo cirúrgico, era usado para “consertar um osso quebrado”. “Ajustar em conjunto num só corpo” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 172). “A ideia fundamental do termo é de pôr nas condições em que devem estar já uma coisa ou uma pessoa” (William Barclay, Efésios, Buenos Aires: La Aurora, 1973, p.156). Calvino diz que o termo grego “significa literalmente a mútua adaptação (= coaptitionem) de coisas que devem ter simetria e proporção; assim como, no corpo humano, há uma combinação apropriada e regular dos membros; de modo que o termo é também usado para ‘perfeição’. Mas como a intenção de Paulo aqui é expressar um arranjo simétrico e metódico, prefiro o termo constituição (= constitutio). Pois, estritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou província, como constituída, quando a confusão dá lugar ao estado regular e legítimo” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 124).

[15] João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 119.

[16]“Não há crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais membros são espectadores. Sempre existe progresso e multiplicação em igrejas cujos membros são vibrantes e intentam servir a Cristo” (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 20).

[17] “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais” (1Co 3.1-2). “A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. 12 Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. 13 Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. 14 Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5.11-14/2Pe 3.18). (grifos meus).

[18] João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 127.

[19] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, São Paulo: Parakletos, 2002, p. 250-251.

[20]Ralph P. Martin, Efésios: In: Comentário Bíblico Broadman, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, v. 11, p. 190.

[21] João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 128.

[22] No seu emprego militar esta palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedimento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”, “cansar”, “sobrecarregar”.    (Vejam-se: G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 3, p. 855-860; C.H. Peisker, Impedir: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 417-418; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago, University Press, 1957, p. 215; F.F. Bruce, Hechos de los Apóstoles: Introducción, comentarios y notas, Michigan: Libros Desafío, 2007, (At 24.4), p. 513-514).

[23] Cf. G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 3, p. 856-857.

[24] João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 190.

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