Justo é o Senhor
Você não é avaliado por Deus de acordo com o que é, mas você é o que Deus diz que você é. – Abraham Kuyper (1837-1920).[1]
Deus é essencial, absoluto e perfeitamente justo em si mesmo e em todas as suas relações. O seu padrão é a justiça. O seu juízo é justo (Sl 45.7/Hb 1.8-9).[2] Ele não é indiferente ao mal, antes, conforme nos ensinam as Escrituras, Ele se revela como justo juiz.[3]
Há um hino composto no século XIX, baseado no Salmo 145.17-18,[4] que diz assim:
Justo é o Senhor em seus santos caminhos,
Benigno em todas as suas obras. (bis)
Perto está o Senhor, perto está dos que o invocam,
De todos os que o invocam
Em verdade. Aleluia! Aleluia![5]
Na justiça de Deus vemos estampada a sua glória. A justiça de Deus é a Glória de Deus oculta. Deste modo, voltamos à questão inicial: Quem poderia se considerar justo por si mesmo diante de Deus? “14 Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? 15 Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos, 16 quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe a iniquidade como a água!” (Jó 15.14-16).[6]
A natureza santa de Deus é a lei a partir da qual todas as demais leis devem ser avaliadas. O padrão da justiça de Deus é-nos revelado nas Escrituras.[7]
Conforme vimos, a retidão de Deus é consoante à sua justiça. A justiça é a manifestação do caráter essencialmente santo de Deus. Deus é justo em todos os seus atos, não se desviando de seu próprio padrão que é decorrente de sua santidade.
A prática da justiça que pode ser chamada de retidão significa agir conforme o caráter de Deus, aquele que é justo absolutamente. Deus é o próprio padrão: “….Deus é fidelidade, e não há nele injustiça: é reto e justo (qyDIc;)(tsadiyq)” (Dt 32.4). “Justo (qyDIc;) (tsadiyq) é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Sl 145.17).
A prática da justiça, também denominada retidão, consiste em agir conforme o caráter de Deus − o único absolutamente justo. Deus não apenas realiza justiça: Ele é o próprio padrão de justiça. Como afirma Moisés: “….Deus é fidelidade, e não há nele injustiça: é reto e justo (qyDIc;)(tsadiyq)” (Dt 32.4). O salmista reforça essa verdade ao declarar: “Justo (qyDIc;) (tsadiyq) é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Sl 145.17).
O trono do Senhor está fundamentado em sua própria natureza santa, verdadeira e justa. É deste modo que ele governa: “Justiça (qd,c) (tsedeq) e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem” (Sl 89.14).
Justamente por este fato, devemos confiantemente nos aquietar e nos alegrar no conforto de suas promessas e louvá-lo. Afinal, o fundamento do seu trono permanece inabalável. “Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça (qd,c) (tsedeq) e juízo são a base do seu trono” (Sl 97.1-2).
Jesus Cristo, o Justo justificador dos humanamente injustificáveis
Qual é o seu único conforto na vida e na morte?
R.: O meu único conforto é que – corpo e alma, tanto na vida como na morte – não pertenço a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que, com o seu próprio sangue, pagou totalmente por todos os meus pecados e me libertou completamente do poder do diabo. – Catecismo de Heidelberg (1563), Perg. 1.
É necessário que entendamos que a doutrina da justificação não é uma fraude, como se Deus considerasse justo o que não é justo, fazendo vista grossa à condição humana de pecado e depravação. Segundo a própria instrução divina, o juiz não pode justificar o culpado e punir o inocente (Dt 25.1).[8]
Contudo, se não somos justos, como Deus, então, nos declara justos? Nesta doutrina nos deparamos com o absoluto padrão de Deus e a realidade da aplicação de sua justiça. Prossigamos.
O Antigo Testamento refere-se ao Messias que viria como aquele que agiria com justiça. O Novo Testamento atesta a realidade do cumprimento histórico do que fora dito. No Antigo Testamento lemos as profecias messiânicas:
Para que se aumente o seu governo e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça (hq’d’c.) (tsedaqah) desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos exércitos fará isto. (Is 9.7).
Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo (qyDIc;)(tsadiyq) e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. (Zc 9.9).
No Novo Testamento, na iminência da condenação de Jesus, a mulher de Pilatos, Cláudia Prócula, manda um recado ao seu marido: “…. Não te envolvas com esse justo (di/kaioj); porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito” (Mt 27.19). Ao presenciar o modo como morreu nosso Senhor, um centurião, glorificando a Deus, exclamou: “Verdadeiramente, este homem era justo (di/kaioj)” (Lc 23.47).
Após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, Pedro, no seu discurso diante dos judeus, demonstra que eles escolheram libertar um criminoso (Barrabás) ao invés de Jesus Cristo, contra quem não havia acusação real passível de qualquer condenação judicial: “Vós, porém, negastes o Santo e o Justo (di/kaioj), e pedistes que vos concedessem um homicida” (At 3.14).
Anos mais tarde, na sua primeira Epistola, Pedro escreveria: “…. Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo (di/kaioj) pelos injustos (a)/dikoj = “ímpio”, “desonesto”[9])….” (1Pe 3.18).
As Escrituras nos ensinam que Jesus Cristo, a nossa justiça, é a própria justiça de Deus, e que o seu ministério consistiu em cumprir a obra que o Pai lhe confiara, em favor de todo o seu povo (Jo 17.4). A sua obra foi realizada retamente, em harmonia com o “Conselho da Trindade” (Ef 1.11). Por isso, o escritor da Carta aos Hebreus pôde dizer: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).
A essência da justificação é que Cristo suportou a justa condenação de Deus para que o seu povo fosse declarado justo em sua obra de justiça.[10]
Murray (1898-1974) diz corretamente que:
A única justiça concebível que satisfará as necessidades da nossa situação como pecadores e que satisfará as exigências de uma plena e irrevogável justificação é a justiça de Cristo. Esta afirmação implica a sua obediência e, portanto, a sua encarnação, morte e ressurreição. Em uma palavra, a necessidade da expiação é inerente e essencial à justificação. Uma salvação do pecado que é divorciada da justificação é uma impossibilidade, e a justificação de pecadores sem a justiça divina do Redentor é inconcebível.[11]
A santidade absoluta de Deus manifesta-se de forma eloquente e perfeita na cruz, onde seu amor e sua justiça convergem em plena harmonia.[12] A cruz exalta o Deus santo e majestoso, zeloso por sua própria glória. [13] Importa destacar que a cruz não fez Deus nos amar; antes, foi o seu eterno amor que a produziu e nela se revelou.[14] A graça, portanto, não é originada na cruz, mas é expressa por meio dela − e é por essa graça que somos salvos.
Enquanto para nós as circunstâncias frequentemente servem de pretexto para atos pecaminosos − e posteriormente como atenuantes −, para Deus, que tem pleno domínio sobre todas elas, tais circunstâncias tornam-se ocasiões para a manifestação de sua essência. Ele é, de fato, o Senhor das circunstâncias.
O pecado não tornou Deus misericordioso, santo ou justo; Ele é eternamente misericordioso, santo e justo. Contudo, foi por meio do pecado que, em sua livre e soberana graça, Deus escolheu revelar-se a nós nessas perfeições.[15] Assim, a revelação da justiça, santidade e misericórdia divinas não é reativa, mas expressiva daquilo que Deus é em sua natureza eterna.
Na cruz vemos a manifestação gloriosa dos atributos de Deus. “A justiça e o amor se encontraram e se abraçaram. Os santos atributos de Deus são glorificados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz”, comenta Lloyd-Jones (1899-1981).[16] Deus é o Deus da paz, em quem não há contradição nem confusão. Por isso, “A justiça, acima de tudo, é a forma pela qual a graça e o amor de Deus são mantidos e destinados a triunfar”, conclui Bavinck (1854-1921).[17]
Na mesma linha, interpretou Stott:
Jamais devemos pensar que essa dualidade do ser divino seja irreconciliável. Pois Deus não está dividido, por mais que se nos pareça que sim. Ele é “Deus de paz”, de tranquilidade interior, não de agitação. É verdade que achamos difícil conter em nossa mente, simultaneamente, as imagens de Deus com Juiz que deve punir os malfeitores e como Amante que deve encontrar um modo de perdoá-los. Contudo, ele é ambos, ao mesmo tempo.[18]
Não haveria para nenhum de nós salvação de nossos pecados sem a justificação. Da mesma forma, existe a justificação porque Jesus Cristo é a nossa justiça; é Ele mesmo quem nos redime (1Co 1.30).[19]
Como escreveu Lloyd-Jones (1899-1981) em outro lugar:
Se lhes fosse solicitado responder onde a Bíblia ensina a santidade de Deus mais poderosamente teriam de ir ao Calvário. Deus é tão santo, tão plenamente santo, que nada senão aquela morte terrível poderia tornar possível que Ele nos perdoasse. A cruz é a suprema e a mais sublime declaração e revelação da santidade de Deus.[20]
Na cruz, realiza-se a reconciliação entre o santo e o pecador, entre o perfeitamente justo e o totalmente injusto, entre o infinito e o finito − entre o Deus eterno e o homem temporal. Como bem observa Bavinck, “a cruz é o centro da história e a reconciliação de todas as antíteses”.[21]
Essa verdade é profundamente expressa pelo profeta Isaías: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele [Jesus Cristo] a iniquidade de nós todos” (Is 53.6).
A ironia redentora do texto bíblico reside na afirmação de que o culpado saiu ileso − totalmente absolvido. O Servo do Senhor assumiu sobre si a culpa de muitos, declarando, por meio de seu próprio sofrimento, que os ofensores já não são mais legalmente responsáveis por suas transgressões passadas. Como observa Bonhoeffer (1906-1945): “O misericordioso empresta a honra própria ao decaído e toma sobre si a sua vergonha.” [22]
Nosso Senhor e Pastor é santo. Ele não tolera o pecado. No entanto, de forma insondável, ama-nos com amor eterno e, por sua misericórdia, proveu de maneira santa e perfeita o perdão e a reconciliação completa com Ele. Sendo essencialmente santo, Deus reivindica e estabelece o padrão de santidade para o seu povo (Lv 19.2; 1Pe 1.15).
A fé cristã tem como padrão supremo o próprio Jesus Cristo − o Santo, o Deus encarnado (Rm 8.29). Conforme as Escrituras, ou somos justificados por Cristo mediante a fé, ou permanecemos sob condenação. A ilusão humana, fruto do pecado, consiste em crer que não há pecado, ou que é possível apresentar-se diante de Deus amparado em méritos próprios.[23]
Não há meio-termo. Não existe síntese entre nossas supostas obras e a fé em Cristo. Não há “meia-justiça”: ou é tudo, ou é nada. Para a Teologia Reformada, a justificação é inteiramente pela graça, mediante a fé − isto é, por Cristo Jesus. [24]
Jesus Cristo é o único que cumpriu perfeitamente a justiça divina. Somente nele podemos ser declarados justos. A graça nos justifica na justiça de Cristo. Assim, não é a fé que nos justifica em si mesma, mas é Deus quem nos justifica em Cristo, comunicando-nos essa bênção por meio da fé. Sem a graça, não haveria fé. A fé é, portanto, obra do Espírito Santo em nós.
Crer em Cristo é esvaziar-se de toda confiança em nossa capacidade e merecimento. A eficácia da fé não reside em sua suposta perfeição − nossa fé é sempre limitada e imperfeita. Sua efetividade está no repouso humilde e total na justiça perfeita de Cristo. [25] Como resume Bavinck: “A justiça de Deus não nos condena, mas nos justifica. Somos revestidos da justiça de Cristo.” [26]
Não há justificação sem a pessoa e obra de Cristo (Rm 3.24; Tt 3.7[27]).[28] Como afirma o apóstolo Paulo: “… mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). Cristo cumpriu a Lei. Ele é a nossa justiça: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1.30).
O Espírito aplica em nós a justiça de Cristo, e por isso somos declarados justos diante de Deus. A Confissão de Fé de Westminster professa:
A Confissão de Westminster professa:
Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e Cristo, no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não são justificados até que o Espírito Santo, no tempo próprio e de fato, comunica-lhes Cristo. (Rm 3.4; 4.25; Tt 3.6-7/1Co 6.11).[29]
Desse modo, vemos que Deus eternamente decretou justificar os seus. Contudo, essa justificação se realiza no tempo, também por graça, mediante a fé.
Nossa dívida foi paga. Nada ficou pendente. Cristo satisfez plenamente as santas e justas exigências do Pai. Tudo foi pago − com graça e justiça. A Trindade nos justifica (At 13.39; Rm 8.30, 33; 1Co 6.11).
Um perdão legal: um novo status
A justificação é o fundamento judicial ou forense da santificação.[30] Na justificação pressupomos uma relação entre duas partes considerando o seu direito. Nesta doutrina, temos a regulamentação das relações entre as partes.[31] Há uma mudança na nossa condição legal: Deus declara ao homem culpado que já não há mais culpa em nós. Aqui de fato passamos a ter vida.[32] Mudamos da situação de um condenado que aguardava tristemente a terrível sentença condenatória para a condição de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herança (Rm 8.14-18)[33].[34]
É importante enfatizar que na justificação “Deus não declara que o ímpio é santo; ele declara que, não obstante sua pecaminosidade e indignidade pessoal, ele é aceito como justo com base no que Cristo fez por ele”, destaca Hodge.[35]
Segundo escreveu Calvino: “Quando Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, ele nos absolve não pela prova de justiça pessoal, mas pela imputação de justiça, de sorte que somos tidos por justos em Cristo, nós que inerentemente não o somos”.[36]
A justificação – que ocorre fora de nós – não produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser. Contudo, significa que Deus já a fez pela regeneração e continuará fazendo pela santificação.[37] Na regeneração fomos recriados em Cristo. Na justificação, Deus, Senhor e Rei, nos declara justos, e perdoa todos os nossos pecados os quais foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós. Estamos em paz com Deus resultante da justiça de Cristo imputada a nós (Rm 5.1; 8.1,31-33).[38]
Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos de Cristo que são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor, no legítimo uso de seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados justos.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 380. Do mesmo modo, página 385.
[2]“Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros” (Sl 45.7). “8….acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino. 9 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros” (Hb 1.8-9).
[3] Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 129-137. “Não obstante a confusão reinante no mundo, é certo que Ele jamais cessa de exercer a função de Juiz. Todos quanto se derem ao trabalho de abrir seus olhos para contemplarem o governo do mundo, verão distintamente que a paciência de Deus é muito diferente de aprovação ou conivência. Seguramente, pois, seu próprio povo, confiadamente, a Ele recorrerá a cada dia” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 7.11), p. 149).
[4]“17Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras. 18Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade” (Sl 145.17-18).
[5]Composição coral originalmente criada por Lowell Mason (1792–1872), destacado músico presbiteriano, organista e mestre de coro da Igreja Presbiteriana de Savannah, Geórgia. Reconhecido por sua atuação pioneira na educação musical nos Estados Unidos, Mason exerceu significativa influência na música sacra protestante do século XIX. Em 1974, sua obra foi adaptada pela professora e soprano Atenilde Cunha (1931–2009), referência na música litúrgica brasileira e colaboradora ativa na sistematização do repertório presbiteriano nacional. A adaptação integra o Hinário Presbiteriano Novo Cântico, nº 1, sob o título “Doxologia”, consolidando-se como peça inaugural e emblemática da coletânea. Esse hino é tradicionalmente usado como abertura de cultos, marcando um momento de reverência e louvor à santidade e fidelidade de Deus.
[6]“Não há ninguém que com maior descaro se atreva a falar da justiça das obras do que quem publicamente não passa de perdido e está carregado de pecados de todos conhecidos, ou, melhor, por dentro estão cheios de vícios e maus intentos. Isso acontece porque não cogitam da justiça de Deus, pela qual se fossem afetados sequer de um mínimo sentimento, nunca a teriam em tão grande desconsideração. De fato, na verdade ela é desmedidamente desvalorizada, se não é de tal forma reconhecida que nada dela seja aceito, se nada é íntegro e absolutamente isento de toda mancha, o que jamais se encontrará nem poderá ser encontrado em homem algum” (João Calvino, As Institutas, III.12.1).
[7] Veja-se: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 77-78.
[8]“Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado” (Dt 25.1).
[9] a)dikoj * Mt 5.45; Lc 16.10,11; 18.11; At 24.15; Rm 3.5; 1Co 6.1,9; Hb 6.10; 1Pe 3.18; 2Pe 2.9.
[10] Veja-se: John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 2, p. 318.
[11] John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.
[12] “A cruz e a coroa revelam não apenas as virtudes do Filho, mas também do Pai. Todos os atributos divinos alcançam plena expressão aqui. Dentre todas elas, uma sobressai: a justiça do Pai. Se Ele não tivesse sido justo, certamente não teria entregue seu Filho Unigênito. E também, se não fosse justo, Ele não teria recompensado o Filho por Seu sofrimento. Mais, por meio dos louvores da multidão salva, o Pai (bem como o Filho) é glorificado” (William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004 (Jo 17.1), p. 754). Veja-se: John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 31.
[13] “A justiça de Deus é o zelo resoluto pela exaltação de Sua glória” (John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 27).
[14]Vejam-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, v. 1), p. 426; John Stott, A Cruz de Cristo, Miami, Florida: Editora Vida, 1991, p. 155.
[15] Watson (c. 1620-1686) disse que “A justificação é uma misericórdia provinda das entranhas da livre graça” (Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 264).
[16] David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2. ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004, p. 222.
[17] Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 3, p. 234.
[18] John Stott, A Cruz de Cristo, Miami, Florida: Editora Vida, 1991, p. 118.
[19]Ver: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.
[20] D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997, p. 97. “A santidade e a retidão do Seu ser eterno e do Seu caráter significam que Ele não pode ignorar o pecado. O pecado é uma realidade, um problema (…) até para Deus. É uma coisa que Ele vê e da qual tem que tratar, e assim manifesta a glória do Seu ser em Sua santidade e justiça” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 51).
[21]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48.
[22] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 61.
[23] “A ilusão mais perigosa de todas é o farisaísmo. Essa é a verdadeira barreira a Jesus Cristo. Toda a rejeição da graça de Deus toma essa forma. Aqueles que recusam o perdão gratuito de Deus por meio de Cristo fazem assim porque acham que não precisam desse perdão. Eles não admitem que são pecadores. Eles negam que estejam desesperadamente perdidos” (Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 79).
[24]Veja-se: João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.15-16), p. 68-71.
[25]Ver: Joel R. Beeke, Justificação pela Fé Somente (A Relação da Fé com a Justificação): In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 54.
[26]Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 179.
[27]“Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). “A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt 3.7).
[28] Vejam-se: Michael Horton, União com Cristo. In: Michael Horton, org., Cristo o Senhor: A Reforma e o Senhorio da Salvação, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000, [105-112], p. 105-106; Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 1115.
[29] Confissão de Westminster, XI.4.
[30] Vejam-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 209; L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 540.
[31] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 371-372.
[32]“Justificação forense significa que somos declarados justos por Deus em um sentido legal. A base dessa declaração legal é a imputação da justiça de Cristo a nosso favor” (R.C. Sproul, O que é teologia reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 51. Do mesmo modo: R.C. Sproul, A natureza forense da justificação: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 27ss. Vejam-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 2, p. 759-76-; George Whitefield, Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 8.
[33] “14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. 16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. 18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.14-18).
[34]Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 121.
[35]Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 1115. “A justificação é um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 517).
[36] João Calvino, As Institutas, III.11.3.
[37] “Não há justificação sem regeneração, assim como não há regeneração sem justificação” (James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 369).
[38]“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). “31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8. 31-33).
