6.1.8. Senhor justo
O nome Yehovah denota o poder livre e soberano e a auto-existência de Deus: Deus existe por si só, não dependendo de ninguém, em toda e qualquer circunstância. O seu poder eterno emana de si mesmo, que é a sua fonte inesgotável. Deus mesmo disse a Moisés: “Eu Sou o que Sou” (Ex 3.14).
A justiça é um atributo essencial de Deus no Antigo Testamento, revelando-se como fundamento de seu caráter e de sua atuação no mundo. Ela não apenas permeia a relação de Deus com a humanidade, mas também deve ser o alicerce de todas as relações humanas. O padrão que deve orientar nossas ações e decisões é o princípio de justiça estabelecido na Lei divina, que reflete a santidade, a equidade e o amor do próprio Deus. [1]
Sobre isso escreveu Von Rad (1901-1971):
Dentre os conceitos que designam as relações vitais do homem, o conceito de tzedâkâh [justiça] é o mais importante e o mais central de todo o Antigo Testamento. Constitui o critério das relações entre o homem e Deus, dos homens entre si, até nas disputas mais insignificantes, do homem com os animais e do homem com o ambiente natural em que ele se move. O tzedâkâh pode, simplesmente, ser apontada como o valor supremo da vida e o fundamento em que repousa toda a existência ordenada.[2]
Justo em si mesmo
Deus é justo em sua própria essência, e essa justiça se manifesta como oposição absoluta a qualquer transgressão contra sua santidade. A ira divina não é um impulso arbitrário, mas sim a expressão legítima de sua santidade e justiça diante do pecado − que é, em sua natureza, a violação da Lei revelada por Deus.[3] Assim, a ira de Deus confirma seu compromisso com a santidade e a retidão, revelando que Ele não pode ser indiferente ao mal.
Como temos dito, a Escritura nos ensina que Deus é justo em si mesmo. Sua justiça é absoluta, e por isso mesmo, perfeita em todas as suas relações. A natureza santa de Deus é, em si, a Lei − e é a partir dela que todas as demais leis devem ser avaliadas. O padrão da justiça divina não é construído por convenções humanas, mas revelado nas Escrituras, como expressão da santidade e da verdade de Deus.[4]
O salmista, ao exaltar o Deus que se revela tanto na criação quanto na Palavra, declara com reverência: “Os juízos do SENHOR (hw”hoy>) (Yehovah) são verdadeiros e todos igualmente, justos (qd;c’) (tsadaq)” (Sl 19.9). Essa afirmação não apenas celebra a retidão dos decretos divinos, mas também estabelece que a justiça de Deus é o critério último para discernir o que é justo.
Juízo discernidor
O Senhor é justo em todas as suas expressões. Em seu juízo tem diante de si um conhecimento imediato, abrangente, exaustivo e criterioso de todas as coisas. Ele tem um conhecimento claro e distinto de toda a realidade porque, toda a realidade, em última instância, existe sob o seu poder criador e preservador:
4O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam (!x;B’)(bahan) (= examinar, testar provar) os filhos dos homens. 5O SENHOR põe à prova (!x;B’)(bahan) ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina. (Sl 11.4-5/Sl 7.10; 17.3; 66.10; 139.23; Pv 17.3).
Deus conhece as coisas como são
Deus conhece as coisas como elas de fato são, porque é Ele quem as preserva. O seu critério de “avaliação” é minucioso, completo e verdadeiro.[5]
A verdade revelada nas Escrituras é a realidade como Deus a percebe. Deus percebe as coisas como são.
Somente Deus possui um conhecimento absoluto, objetivo e sempre presente da realidade. Seu saber não é limitado pelo tempo, pela perspectiva ou pela contingência. Ele conhece todas as coisas como de fato são − em sua essência, propósito e destino. Nada escapa ao seu olhar, e nada existe fora do alcance de sua soberania.
As coisas são como são porque, de forma contínua e intencional, Deus as sustenta pelo poder de sua Palavra (cf. Hb 1.3). A realidade não possui autonomia; ela existe, subsiste e se ordena inteiramente em dependência do Deus que a criou, governa e preserva.
Essa sustentação divina é o fundamento último da ordem, da existência e da verdade. Sem Deus, não há coerência ontológica nem estabilidade moral. Tudo o que é, é porque Ele o mantém − e tudo o que permanece, permanece porque Ele o quer.
MacArthur (1939-2025) comenta: “A verdade é aquilo que é consistente com a mente, a vontade, o caráter, a glória e o ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a autoexpressão de Deus”.[6]
Antes mesmo de atribuirmos valor à verdade, ela já o possui − pois foi Deus quem a criou e lhe conferiu significado. A verdade é expressão do próprio Deus: manifesta-se em sua essência e na obra da Criação. Deus é a verdade, age por meio dela e nos conduz à verdade. Sua graça opera por meio da verdade, e é nessa verdade − ouvida, compreendida e acolhida − que frutificamos, como afirma o apóstolo: “…desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Cl 1.6).
Com essa convicção, o salmista ora:
8O SENHOR julga os povos; julga-me, SENHOR, segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim. 9 Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas (!x;B’) (bahan) (examinar, testar provar) a mente e o coração, ó justo Deus. (Sl 7.8-9).
É importante afirmar desde o início que Davi não reivindicava impecabilidade. Ele não se via como isento de pecado, mas como alguém inocente diante das acusações específicas que lhe eram dirigidas (Sl 7.8). Sua súplica por justiça não se baseava em perfeição moral, mas na consciência de sua integridade diante daquela situação.
Ainda assim, à luz da revelação bíblica, sabemos que nenhum ser humano encarna perfeitamente a justiça de Deus (Rm 3.9-12/Sl 14.1-3).[7] A justiça humana é sempre relativa e falível, enquanto a justiça divina é absoluta, santa e penetrante − capaz de sondar mente e coração.
Dificuldade humana em julgar
Julgar é uma das tarefas mais difíceis que enfrentamos. E, curiosamente, fazemos isso todos os dias − muitas vezes sem perceber. Exercemos nossa capacidade de julgamento ao escolher a roupa para trabalhar, decidir se levamos ou não um agasalho, se é melhor realizar certas tarefas pela manhã ou deixá-las para mais tarde, se lemos estas notas agora ou depois, ou mesmo se trocamos essa leitura por outra atividade.
Lembro-me de uma ocasião em que precisei ajudar meu filho a instalar alguns armários em sua loja. Vesti-me de forma mais descontraída e fui à padaria tomar meu café matinal − antes disso, apenas minha devocional. No caminho, começou a chuviscar. Um chuvisco indeciso, é verdade. Após caminhar cerca de 150 metros, não hesitei: voltei ao Seminário, peguei no guarda-chuva, calcei uma bota própria até para neve e fui feliz tomar meu café. Fui e voltei sem abrir o guarda-chuva. Julguei mal. A única neve que vi foi a espuma do “lava a jato” perto do Seminário.
Embora esse erro de julgamento tenha sido inofensivo, sabemos que nem sempre é assim. As consequências de um juízo equivocado podem ser muito mais sérias − e, por vezes, irreversíveis.
Paixões interferem em nossos juízos
Como é óbvio, nem todas as nossas escolhas são tão rotineiras quanto as mencionadas anteriormente. Além das paixões que frequentemente obscurecem nossa percepção objetiva da realidade − e, por consequência, comprometem nossos juízos − enfrentamos um agravante: mesmo quando nutrimos o desejo sincero e honesto de agir com justiça, carecemos de elementos essenciais. Não dispomos de todas as informações; somos enganados por impressões sutis e, paradoxalmente, intensas; e não conseguimos alcançar uma visão mais ampla da realidade − ou, por vezes, sequer uma compreensão clara do que já temos diante de nós.
Ilustro: Em certa ocasião, em janeiro de 2010, assisti a uma reportagem na qual a Polícia Civil de São Paulo prendeu uma gangue que iludia pessoas com a promessa de ganho fácil: bastava localizar a bolinha escondida sob uma das três forminhas manipuladas por um “jogador” em um tabuleiro improvisado. Na verdade, vi essa prática “desportiva” pela primeira vez no centro de São Paulo, ainda em 1985.
Em determinado momento da reportagem, um senhor que havia sido preso foi entrevistado. Ele afirmou ser aposentado, que estava apenas de passagem e que havia saído para comprar remédio − tudo aquilo, segundo ele, era um grande engano. Por alguns segundos, confesso que fiquei solidário com aquele senhor. No entanto, logo em seguida, a reportagem exibiu uma gravação que o mostrava, por vários dias consecutivos, atuando como um dos agentes da própria gangue.
Percebi, então, o meu equívoco − e como meu sentimento havia me enganado. (E veja só: eu nem era aposentado ainda!)
Deus nos conhece de forma perfeita e completa. Em seu juízo, Ele discerne até os aspectos mais ocultos do nosso coração. Retornando ao Salmo 7, observamos que Davi não se considerava isento de pecado, mas sabia estar inocente das acusações que lhe foram feitas. Por isso, clama ao Senhor: “Julga-me, SENHOR, segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim” (Sl 7.8).
Os atributos de Deus se manifestam em perfeita harmonia e completude. Ilustremos: se o Senhor fosse apenas soberano, ou apenas misericordioso, ou apenas amoroso, poderia − em tese − tornar-se injusto, por não discernir com precisão as particularidades e os princípios envolvidos em cada situação. No entanto, Deus é justo, santo, sábio e imutável. sua justiça não é comprometida por sua misericórdia, nem sua soberania obscurece seu amor. Ele perfeito e a sua perfeição permeia todos seus atributos.
Em contraste, nós, mesmo desejando sinceramente agir com justiça, frequentemente falhamos. Falta-nos discernimento, somos influenciados por emoções, e não conseguimos abarcar toda a complexidade da realidade.
Algumas vezes cometemos injustiças por precipitação, por falta de informações ou − mesmo quando não nos faltam tais elementos − somos conduzidos, e como somos, pela nossa passionalidade. É difícil reconhecer nossa condição de suspeição ao decidir certas questões. E quão árduo é ser justo quando nossos próprios interesses, ainda que não necessariamente escusos, estão em jogo.[8]
Por outro lado, é surpreendentemente fácil atribuir motivações nobres e santas aos nossos próprios interesses e preocupações, enquanto enxergamos − com olhos que julgamos perspicazes − as intenções dos outros como sempre mescladas, manchadas, contaminadas por desejos ocultos. Tendemos a condenar nos outros os mesmos anseios que, com frequência, habitam em nós, mas que não ousamos admitir. Nossos juízos sobre os outros podem, com facilidade, ser projeções de nossas próprias falhas, valores distorcidos e intenções disfarçadas.
No entanto, quando falamos do juízo de Deus, podemos afirmar com Davi: “Deus é justo juiz” (Sl 7.11). Nele não há sombra de parcialidade, nem erro de avaliação. Seu julgamento é perfeito, porque Ele vê o que está oculto, discerne com precisão e julga com justiça.
Como conhecemos a realidade?
Sem pretender ser enfadonho, avancemos um pouco mais em nossa digressão: O modo como conhecemos a realidade.
Tendemos a imaginar que o conhecimento que possuímos é algo natural − como se todos percebessem o mundo exatamente como nós. Daí nasce uma impressão equivocada, quase um senso comum, de que nossa maneira de ver, interpretar e compreender a realidade é a mais óbvia e, portanto, universal.
Essa ilusão começa a se desfazer quando conversamos com outras pessoas sobre temas que, para nós, parecem evidentes. E nem é preciso ir longe: basta um diálogo com nossos próprios filhos. Logo de início, para nossa surpresa, percebemos que aquela suposta visão compartilhada… não era tão compartilhada assim.
A verdade é que nossa forma de conhecer o mundo é sempre mediada. Não acessamos a realidade de forma direta e pura − conhecemos por meio de filtros, interpretações, experiências e linguagens. Vejamos um exemplo:
O nosso paladar apresenta gostos diferentes conforme o que ingerimos antes. ***O nosso paladar apresenta gostos diferentes conforme o que ingerimos antes. E mais. Quando estou em São Paulo, diariamente pela manhã tomo uma média acompanhada de pão com manteiga (frios, não na chapa). Depois de alguns meses, não me é estranho mudar de padaria (tenho duas preferidas), ainda que não o cardápio. A explicação com um ar de racionalidade, é que enjoei da combinação… No entanto, continuo pedindo o mesmo, só que em outro lugar. Depois de alguns meses, volto ao anterior….Faço isso há alguns anos.
O aroma dos pratos amplamente apreciados pode nos causar enjoo se estivermos com problema de fígado.
Percepção e limites dos sentidos
Nossa miopia nos oferece uma imagem embaçada da realidade; a surdez, que tende a se intensificar com o passar dos anos, limita nossa capacidade de identificar certos sons − daí a necessidade de exames como a audiometria para aferir essa perda.
O paladar também é volátil: ele muda conforme o que ingerimos anteriormente. Aliás, tenho um hábito curioso quando estou em São Paulo. Todas as manhãs, tomo uma média acompanhada de pão com manteiga − frios, não na chapa. Após alguns meses, costumo trocar de padaria (tenho duas preferidas), embora mantenha o mesmo pedido. A justificativa racional seria o “enjoar da combinação”. No entanto, continuo pedindo exatamente o mesmo, apenas em outro lugar. E, depois de um tempo, volto à padaria anterior. Repeti esse ciclo durante vários anos.
O aroma de pratos que costumamos apreciar pode se tornar repulsivo se estivermos com problemas hepáticos. Já o tato, por sua vez, perde precisão quando há dormência nas mãos − dificultando a percepção de texturas e asperezas.
Conjugação dos sentidos
É justamente pela conjugação dos nossos sentidos que conseguimos ampliar nossa compreensão do mundo − ainda que de forma limitada. Cada sentido, com suas virtudes e fragilidades, contribui para formar uma percepção mais rica e multifacetada da realidade.
A presença e os sentidos na comunicação
É mais fácil compreender alguém quando estamos frente a frente, do que por telefone ou aplicativos de mensagem. A comunicação presencial permite que nossos sentidos atuem em conjunto − visão, audição, tato − oferecendo uma leitura mais rica da realidade. Gestos, expressões faciais, entonações e até silêncios ganham significado quando vistos e ouvidos diretamente.
A percepção sensorial é multifacetada
Nossa visão pode ser confirmada − ou contrariada − pelo tato. A aparência pode ser desmentida pelo aroma. Por isso, expressões como “meu filho come com os olhos” ou “a comida está feia, mas está gostosa” revelam essa tensão entre os sentidos. Às vezes, o cheiro não agrada, mas o sabor surpreende. Cada sentido contribui com uma leitura parcial, e é na conjugação deles que formamos uma percepção mais completa.
Dirigir como metáfora da leitura sensorial
Ao dirigir, usamos mãos e pés para controlar o veículo, mas é com os olhos e ouvidos que lemos o ambiente. A visão é o principal canal, porém a audição nos alerta para o que está fora do campo visual − como uma buzina, o som de um motor se aproximando ou o aviso de sensores. Muitos carros modernos contam com sistemas que acendem luzes para indicar objetos no “ponto cego” e sensores auditivos que reforçam essa percepção. A tecnologia, nesse caso, simula e potencializa nossos sentidos.
Compreensão e mediação
Nossa compreensão do mundo passa por inúmeras variáveis − aqui destaquei apenas as sensoriais. Mas há outras mediações igualmente importantes: culturais, sociais, históricas. O modo como vemos o mundo é moldado pelo meio em que vivemos, pelas narrativas que nos cercam e pelas experiências que acumulamos. Não seguirei por essa linha agora, mas vale lembrar a pertinente observação de Sowell, que nos convida a refletir sobre como ideias e visões são formadas e transmitidas socialmente.
Seria bom poder dizer que poderíamos prescindir completamente de visões e lidar somente com a realidade. Porém essa pode ser a visão mais utópica entre todas. A realidade é muito complexa para ser compreendida por qualquer mente. Visões são como mapas que nos guiam através de um emaranhado de complexidades desconcertantes.[9]
Algumas vezes cometemos injustiças por pura precipitação, por falta de informações ou, mesmo quando não nos faltam dados, somos facilmente conduzidos − e como somos − pela força da nossa passionalidade. É difícil reconhecer que estamos em condição de suspeição ao julgar certas questões. Mais difícil ainda é ser justo quando nossos próprios interesses − ainda que não necessariamente escusos − estão em jogo.[10]
Por outro lado, é surpreendentemente fácil atribuir motivações nobres às nossas preocupações, enquanto enxergamos nos outros intenções mescladas, suspeitas, e até maliciosas. O curioso é que, muitas vezes, essas motivações que condenamos nos outros são, na verdade, reflexos dos nossos próprios desejos − aqueles que não ousamos admitir nem diante de nós mesmos.
Nossos juízos sobre os outros podem ser, com assustadora facilidade, projeções disfarçadas de nossas falhas, valores distorcidos e inclinações ocultas.
Considere, por exemplo, o juiz: sua cidade, estado civil, idade, se tem filhos ou não, se é religioso praticante, homem ou mulher, se considera o tema relevante ou trivial − tudo isso pode influenciar sua sentença. E se não fosse assim, como explicar decisões tão divergentes sobre a mesma matéria, sob as mesmas leis, por juízes de diferentes instâncias − inclusive no Supremo Tribunal Federal?
Por mais que se busque objetividade, os padrões de julgamento carregam inevitavelmente traços da formação, da vivência e da cosmovisão de quem julga. Não estamos imunes a influências antropológicas, sociais, culturais, educacionais, geográficas e ideológicas.
Mesmo quando temos conhecimento adequado sobre o assunto, nossos critérios podem se mostrar flexíveis − ou frágeis − conforme nossa personalidade, interesses e circunstâncias.
Mas quando falamos do juízo de Deus, podemos afirmar com Davi: “Deus é justo juiz” (Salmo 7.11).
Isso significa, entre muitas outras coisas, que Deus não pode ser manipulado, subornado ou influenciado por orações interesseiras ou oferendas vazias. Ele é santo, soberano e justo.
Nada está oculto diante dele: “O além e o abismo estão descobertos perante o SENHOR; quanto mais o coração (bl) (lebh) dos filhos dos homens!” (Pv 15.11).
Algumas considerações
Ao contemplarmos a justiça de Deus revelada nas Escrituras, somos confrontados com a profundidade da sua santidade e a perfeição do seu juízo. Deus não apenas conhece todas as coisas como elas são − Ele as sustenta, governa e julga com retidão absoluta. Seu juízo não é influenciado por aparências, emoções ou interesses; é puro, penetrante e verdadeiro.
Essa realidade nos chama a duas respostas fundamentais:
- Humildade diante de Deus: Reconhecer que nossos juízos são limitados, falíveis e frequentemente contaminados por paixões e preconceitos. Devemos nos submeter ao padrão divino de justiça, buscando discernimento na Palavra e dependência do Espírito.
- Compromisso com a integridade: Se Deus sonda mente e coração, então nossa vida deve ser vivida com transparência e reverência. A justiça divina não é apenas um conceito teológico − é um chamado ético para que nossas relações reflitam a equidade, a verdade e o amor que emanam do caráter de Deus, o nosso Pastor.
Por fim, ao sabermos que Deus é o justo juiz, encontramos consolo: Ele vê o que está oculto, julga com precisão e não se deixa enganar. Em um mundo marcado por injustiças e distorções, podemos descansar na certeza de que o Senhor reina com justiça − e que, em Cristo, somos chamados a viver como reflexos dessa justiça no mundo.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
_____________________________________________________________
[1]“Na Lei de Deus nos é apresentado um padrão perfeito de toda a justiça que pode, com razão, ser chamada de vontade eterna do Senhor. Deus condensou completa e claramente nas duas tábuas tudo o que Ele requer de nós. Na primeira tábua, com uns poucos mandamentos, Ele prescreve qual é o culto agradável à Sua majestade. Na segunda tábua, Ele nos diz quais são os ofícios de caridade devidos ao nosso próximo. Ouçamos a Lei, portanto, e veremos que ensinamentos devemos tirar dele e, similarmente, que frutos devemos colher dela” (João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, Cap. 8, p. 21).
[2]Gerhard Von Rad, Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: ASTE, 1986 (Reedição), v. 1, p. 353. Veja-se: A.H. Leitch, Justiça: In: M.C. Tenney, org. ger. Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 3, [p. 807-823], p. 807.
[3]“Intimamente relacionada com a santidade de Deus está a sua ira, a qual é, de fato, a sua reação santa ao mal” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami: Vida, 1991, p. 93). “Ira e furor do Senhor não são perturbação da mente e sim força vindicativa, inteiramente justa, pois serve-o submissa toda a criação. (…) A ira de Deus, portanto, é a comoção da alma, conhecedora da lei de Deus, ao ver o pecador transgredir a mesma lei” (Sto. Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulinas, 1997, (Patrística, 9/1), v. 1, (Sl 2.4), p. 26).
[4]Veja-se Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 77-78.
[5] Do mesmo modo: Jr 11.20; 12.3; 20.12.
[6]John F. MacArthur, Jr. A guerra pela verdade: lutando por certeza numa época de engano, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2008, p. 30.*
[7]“9Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.9-12).
[8] “Não há nada mais difícil do que pronunciar juízo com total imparcialidade, de modo a evitar a demonstração de favoritismo injusto, ou dar margem a suspeitas, ou deixar-se influenciar por notícias desfavoráveis, ou ser excessivamente radical, e em toda causa nada considerar senão a matéria em mãos. Só quando fechamos nossos olhos a considerações pessoais é que podemos pronunciar um juízo equitativo” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 5.21), p. 153).
[9]Thomas Sowell, Conflito de visões: origens ideológicas das lutas políticas, São Paulo, É Realizações, 2012, p. 17.
[10] “Não há nada mais difícil do que pronunciar juízo com total imparcialidade, de modo a evitar a demonstração de favoritismo injusto, ou dar margem a suspeitas, ou deixar-se influenciar por notícias desfavoráveis, ou ser excessivamente radical, e em toda causa nada considerar senão a matéria em mãos. Só quando fechamos nossos olhos a considerações pessoais é que podemos pronunciar um juízo equitativo” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 5.21), p. 153).