Destaquemos agora, algumas características do perdão de Deus.
1.3.3. Características do Perdão de Deus
1.3.3.1. É gratuito
O perdão de Deus não exige méritos prévios. O arrependimento, como vimos, não obriga Deus a perdoar; antes, é fruto da graça que nos alcança. Morris (1914-2006), observa com precisão: “A fé e o arrependimento não devem ser reputados como méritos mediante os quais merecemos o perdão. Pelo contrário, são os meios pelos quais nos apropriamos da graça de Deus”.[1]
Zaqueu, a mulher samaritana, Paulo e o carcereiro de Filipos − entre outros − foram perdoados sem pré-requisitos. Arrependidos, creram em Cristo e receberam a salvação que lhes fora destinada. Todos estavam distantes de Deus, inimigos seus. Contudo, Deus em Cristo nos reconciliou consigo: “Porque se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).
Ao suplicarmos perdão, dizemos: “Senhor, por tua graça plenamente manifesta em Cristo, perdoa todas as minhas iniquidades e capacita-me a não mais pecar contra ti”.
1.3.3.2. É pleno
Deus perdoa completamente, sem considerar a gravidade ou a repetição do pecado. Em linguagem enfática, Ele declara: “Perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr 31.34).
Paulo afirma que Cristo nos libertou, “perdoando todos os nossos delitos” (Cl 2.13). Nenhum pecado, por maior que seja, escapa à purificação divina. Um único pecado nos condenaria à morte eterna (Rm 6.23), mas Deus nos purifica de todos.
O perdão é um milagre incompreensível: o Deus onisciente escolhe não considerar nossas transgressões.
O profeta Miquéias, estupefato com esse “esquecimento” voluntário de Deus, escreve:
Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade, e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. (Mq 7.18-19).
Fazendo eco a isso, Lloyd-Jones, amplia a metáfora: “De tal maneira Deus tratou dos nossos pecados que Ele os tomou e os lançou nas profundezas do mar do seu esquecimento eterno. Os nossos pecados, em Cristo, são perdoados absoluta, final e completamente; para que não se vejam nunca mais”.[2]
Deus mesmo afirma: Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro” (Is 43.25).[3] Mesmo que se procure o pecado perdoado, não será encontrado (Jr 50.20).
João reforça: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9).
E Jesus Cristo dá uma demonstração evidente da plenitude do perdão de Deus, quando diz a respeito da mulher pecadora que lhe ungira os pés: “Perdoados lhe são os seus muitos pecados” (Lc 7.47).
O perdão de Deus é integral; isto significa que o seu perdão equivale ao cancelamento definitivo de uma dívida; não há mais lembrança, ela foi totalmente quitada na cruz.
Na parábola do “credor incompassivo”, encontramos no senhor compassivo, que perdoou ao servo que pedia misericórdia, a ilustração desta afirmação: “E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida” (Mt 18.27).
Deus nos livra do domínio do pecado, embora algumas consequências permaneçam. Ele, porém, nos fortalece com sua graça para enfrentá-las, ensinando-nos humildade e perseverança. Por vezes, é justamente no meio desta batalha que amadurecemos em nossa fé e na capacidade de resistência às tentações.
1.3.3.3. É uma disposição renovada
Deus está sempre disposto a nos perdoar. Quando arrependidos, confessamos-lhe os nossos pecados, Ele nos perdoa.
Deus perdoa sempre que o buscamos com arrependimento sincero e desejo de mudança. Ele promete: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então Eu os ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr 7.14).
Nem sempre temos consciência de todas as nossas iniquidades. Por isso, o salmista clama: Quem há que possa discernir as próprias faltas (ha’ygIv.) (shegiy’ah) (= erros?)? Absolve-me das que me são ocultas” (Sl 19.12).
A palavra faltas (ha’ygIv.) (shegiy’ah) está geralmente associada aos pecados cometidos inconscientemente. Daí a dificuldade de discernir tais faltas. Entretanto, a suposta ignorância não inocenta o infrator. O não perceber a indicação de contramão em determinada rua não invalida a possibilidade de multa, caso seja flagrado ou, pior, de causar um grave acidente.
O perdão de Deus é ilimitado. Por isso, Ele com a sua misericórdia ilimitada providenciou o nosso perdão definitivo em Cristo Jesus.
1.3.3.4. É para sempre
O perdão de Deus não tem prazo de validade. Nem precisamos pagar por uma garantia estendida. O sangue de Cristo é suficiente. A sua eficácia é plena e o seu valor, eterno.
O sangue de Cristo é suficiente, eficaz e eterno. Deus não guarda mágoas: “Pois, perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr 31.34; Hb 8.12; 10.17).[4]
Essa promessa é absoluta. Deus não “esquece” como nós, mas decide não mais considerar nossas faltas. Ele nos declara justificados. Paulo exclama: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33).
Mas por que os crentes continuam pedindo perdão? Booth (1734-1806) responde: não é que não estejam perdoados, mas buscam a consciência do perdão.[5] Berkhof complementa: essa consciência pode ser obscurecida pelo pecado, mas é renovada pela confissão, oração e fé.[6]
Calvino observa que o perdão é pleno, mas nossa fé o absorve lentamente − gota a gota.[7] Portanto, ao suplicarmos o perdão de Deus, estamos dizendo: Senhor, dá-me consciência do teu perdão, garantido de forma definitiva por meio da Pessoa e Obra de Cristo Jesus.
O Catecismo de Heidelberg (1563), na questão 56, lemos:
Que é o que crês sobre “a remissão dos pecados”?
- Que, por causa da obra reconciliadora de Cristo, Deus não se lembrará mais dos meus pecados ou da maneira pecaminosa contra a qual tenho de lutar durante toda a minha vida; mas que ele graciosamente imputa a mim a justiça de Cristo, de modo que eu jamais virei a ser condenado.
Algumas aplicações: Qual deve ser a atitude do perdoado?
Diante da cruel concretude de nosso pecado; de sua gravidade afrontosa ao Deus santo e, ao mesmo tempo, tendo em vista a mesma realidade de nosso completo e abrangente perdão em Cristo inteiramente pela graça, como devemos responder ao nosso Deus perdoador?
A partir do que temos tratado, alinharemos algumas atitudes.
Gratidão
A certeza do perdão deve nos levar, como Davi, a bendizer ao Senhor: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades” (Sl 103.2-3).
Arrependimento sincero
O genuíno arrependimento produz forte tristeza pelo pecado, o santo desejo de não mais cometê-lo e, quando possível, corrigir seus efeitos.
Erickson define:
O arrependimento é a tristeza verdadeira de uma pessoa pelos seus pecados acompanhada da resolução de se afastar deles. Há outras formas de uma pessoa sentir pesar pelos seus erros, cujas motivações são diferentes. Se pecamos e as consequências são desagradáveis, pode ser que sintamos remorso pelo que fizemos, mas isso não é verdadeiro arrependimento. É mera penitência. O verdadeiro arrependimento é a tristeza da pessoa pelo que seu pecado fez contra Deus e pelo mal a ele infligido. Essa tristeza é acompanhada de um desejo genuíno de abandonar o pecado. Há pesar pelo pecado, mesmo que o pecador não tenha sofrido qualquer consequência pessoal por causa dele.[8]
Por conseguinte, esse arrependimento se manifesta em frutos visíveis:
Frutos do arrependimento
O arrependimento, portanto, envolve uma atitude de abandono do pecado e uma prática da Palavra de Deus. Esta prática consiste nos “frutos do arrependimento”.
Paulo, ao testemunhar diante do rei Agripa a respeito do seu ministério, diz:
19Pelo que ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, 20mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem (metanoe/w) e se convertessem a Deus praticando obras dignas (a)/cioj) de arrependimento (meta/noia). (At 26.19,20. Vejam-se também: At 20.21/Lc 3.8).
O arrependimento e a fé são passos iniciais, inseparáveis e complementares[9] da vida cristã como resposta ao chamado divino. Ambos devem acompanhar a nossa vida. Devemos continuar crendo em Deus em todas as circunstâncias e cultivar, pelo Espírito, uma atitude de arrependimento pelas nossas falhas.[10]
Arrependimento contínuo e operante
O arrependimento marca o início da vida cristã e também caracteriza sua totalidade. Packer resume esse aspecto: “A mudança é radical, tanto interior como exteriormente: ânimo e opinião, vontade e afetos, conduta e estilo de vida, motivos e propósitos são todos envolvidos. Arrependimento significa começo de uma nova vida”.[11]
Deus deseja que nos arrependamos de nossos pecados e, como evidência desta transformação, mudemos de comportamento.[12] O arrependimento não significa uma vitória definitiva contra o pecado, mas evidência da transformação. Ainda estamos nessa batalha. Se a condição de nossa salvação fosse essa vitória total, nenhum de nós seria salvo.[13]
Para ilustrar essa realidade de maneira prática como o arrependimento atua em nossa caminhada cristã, podemos recorrer a uma analogia cotidiana que revela nossa constante necessidade de purificação interior.
De quando em quando percebo que meu computador está ficando lento. O sistema de salvamento de um texto fica demorado, trava, etc. Creio que todos que mexem com esses programas já experimentaram algo assim. Na realidade, mexo quase que especificamente com editor de texto. Quando esses problemas vão se tornando insuportáveis, converso com um técnico, em geral um colega ou aluno meu que é entendido no assunto. O diagnóstico quase sempre é igual: acúmulo de sujeira deixada por arquivos e programas que, mesmo “deletados” se acumulam. Portanto, é preciso uma faxina. Por vezes, a simples limpeza por meio de algum programa específico alivia a máquina… Porém, há ocasiões que precisamos reformatar o computador. Este empreendimento é mais demorado.
A vida cristã, apresenta alguma similitude. Vamos caminhando em nossas lides com as questões rotineiras da vida enfrentando situações mais ou menos graves de forma mais ou menos paciente ou corajosa. Em tudo isso, por vezes, permanecem resíduos invisíveis e indesejáveis em nossa alma: amargura, ressentimento, arrogância, baixa ou alta autoestima, senso de pequena ou grande capacidade, etc. Esses sentimentos permanecendo tendem a se cristalizar em nossa alma virando uma espécie de tártaro que pode se fixar em nossos dentes que simples escovações não o retiraram de onde estão depositados. É necessário uma limpeza mais profunda. Mas, como fazê-lo?
Nesse ponto, reconhecemos na ação do Espírito Santo o “programa” eficaz instituído por Deus para nós: o arrependimento. O arrependimento sincero, acompanhado da confissão de nossos pecados, atua como uma verdadeira faxina da alma — profunda, restauradora e necessária. Por isso, o arrependimento é uma necessidade constante da vida cristã. Quando, arrependidos, confessamos sinceramente nossas faltas diante de Deus, Ele, por graça, no tempo oportuno, nos concede a consciência de seu perdão e restaura nossa visão espiritual, permitindo-nos enxergar todas as coisas sob a ótica das Escrituras.[14]
Como afirma o apóstolo Paulo, “a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação” (2Co 7.10). Essa tristeza não é mero remorso psicológico, mas fruto da ação do Espírito que nos convence do pecado (Jo 16.8) e nos conduz à cruz de Cristo, onde encontramos perdão e restauração.
Portanto, o arrependimento é mais do que uma faxina emocional: é um ato espiritual, operado pela graça, que nos reconduz à comunhão com Deus nos conforma à imagem de Cristo por meio da Palavra (Ef 5.26; Rm 8.29). Dessa forma, compreendemos que o arrependimento, por graça, nos acompanhará para sempre neste estágio de vida, no qual mudamos de rumo, entristecidos com o nosso pecado e, alegres em podermos seguir a Cristo.
Esta restauração, na verdade, não se consuma em um momento, ou em um dia, ou em um ano. Antes, por meio de avanços contínuos, ainda que amiúde, de fato, lentos, Deus destrói em seus eleitos as corrupções da carne, os limpa de sua imundície e a si os consagra por templos, renovando-lhes todos os sentimentos à verdadeira pureza, para que se exercitem no arrependimento toda sua vida e saibam que não há nenhum fim para esta luta senão na morte.[15]
Algumas considerações
O conforto é que Deus, em Cristo, nos perdoará sempre que, sinceramente arrependidos, suplicarmos com fé. Pela graça somos salvos, somente pela soberana graça!
Na parábola dos dois filhos (Mt 21.28-32), o segundo filho exemplifica o verdadeiro arrependimento: reconsidera sua atitude e obedece. Isso é arrependimento: não apenas tristeza, mas obediência ao chamado.
Na parábola dos dois filhos, contada por Jesus, temos exemplificado este princípio:
E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma cousa. Mas este respondeu: não quero, depois arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade (qe/lhma) do Pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele. (Mt 21.28-32).
O segundo filho, apresentado por Jesus na parábola, encarna o verdadeiro arrependimento. Embora inicialmente tenha recusado obedecer ao pai, mais tarde reconsiderou sua atitude − talvez ponderando sobre seus próprios planos para aquele dia − e, movido por uma consciência despertada, não apenas sentiu pesar por sua negativa, mas agiu: foi e fez o que lhe fora pedido. Esse movimento revela a essência do arrependimento bíblico, que não se limita à introspecção ou à tristeza, mas se consuma em obediência.
O arrependimento genuíno, portanto, é mais do que uma emoção ou reflexão; é uma resposta ativa à graça de Deus, que transforma o coração e conduz à prática da vontade divina. Ele une o reconhecimento da culpa à disposição de mudança, revelando-se não apenas no sentir, mas no fazer − não apenas no lamento, mas na submissão amorosa ao chamado do Pai.
A vontade de Deus é que os homens, confrontados com a mensagem salvífica de Deus, se arrependam de seus pecados, recebendo a Cristo como seu Salvador pessoal, iniciando uma nova fase em sua vida, tendo como princípio animador agradar a Deus, sendo-lhe obediente.
O arrependimento é parte integrante e essencial de nossa santificação. Deus deseja que procuremos agradá-lo em todas as coisas. No entanto, sabemos que pecamos, que falhamos, que não atingimos o alvo de santidade proposto por Deus, por isso, conscientes de nossos pecados, devemos nos arrepender, buscando o perdão de Deus e quando possível, reparar o nosso erro.
A Confissão de Westminster (1647) resume: “O pecador pelo arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados, que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com Ele em todos os caminhos dos seus mandamentos” (XV.2).
No arrependimento não há mérito nem arrogância, antes, vergonha e, em um segundo momento, atitude de gratidão a Deus por nos ter aceito, que se manifesta em frutos de obediência. Obediência é a graça material da gratidão. O pecador arrependido não se protege em supostos atenuantes,[16] antes, certo de seu pecado, culpa, e da gravidade de ter ofendido a Deus,[17] busca a consciência do misericordioso perdão[18] de seu Senhor. Continuaremos no próximo texto.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1] Leon Morris, Perdão: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 3, [p. 1266-1268], p. 1268.
[2] D.M. Lloyd-Jones, O Supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 162.
[3] Vejam-se também: Sl 25.7; 32.2; 51.1,9; 79.8; 85.3; 103.9, 12; 130.3; Is 38.17; Jr 3.12; 31.34.
[4]Como bem pondera Robertson em linguagem antropomórfica: “Deus, simplesmente, não guarda mágoas contra as pessoas que se humilham e lhe pedem perdão por intermédio de Jesus Cristo” (O. Palmer Robertson, Jonas – um estudo sobre compaixão, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 42).
[5] “O fato dos crentes orarem continuamente para que Deus lhes perdoe os pecados não significa que eles já não estejam perdoados. Eles buscam a consciência de que foram perdoados. Não vamos imaginar que toda vez que eles pecam, arrependem-se, confessam o seu pecado e pedem perdão, Deus realiza novos atos de perdão. Contudo, eles precisam conscientizar-se sempre de que o perdão já lhes pertence, por serem filhos de Deus”. (A. Booth, Somente pela graça, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 32).
[6]“Esta consciência do perdão e de um renovado relacionamento filial muitas vezes é perturbada e obscurecida pelo pecado, e de novo é despertada e fortalecida pela confissão e oração, e por um renovado exercício da fé.” (L. Berkhof, Teologia sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 519).
[7]“O perdão divino é pleno e completo; nossa fé, porém, não pode absorver sua superabundante bondade, e assim se faz necessário que a mesma se destile em nós gota após gota.” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 51.9), p. 438).
[8] Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 908.
[9]“O arrependimento é fruto da fé, que é, ela própria, fruto da regeneração. Contudo, na vida real, o arrependimento é inseparável da fé, sendo o aspecto negativo (a fé é o aspecto positivo) de voltar-se para Cristo como Senhor e Salvador. A ideia de que pode haver fé salvadora sem arrependimento, e que uma pessoa pode ser justificada por aceitar Jesus como Salvador, e ao mesmo rejeitá-lo como Senhor, é uma ilusão destrutiva” (J.I. Packer, Teologia Concisa, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 152-153). Vejam-se: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (II.5), p. 129ss.; A.A. Hoekema, Salvos pela graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 129.
[10] Ferguson argumenta de forma simples, porém, objetiva destacando o perigo de entendermos o “arrependimento” apenas como ato único (“emoção inicial”) na vida cristã (Veja-se: Sinclair Ferguson A Graça do Arrependimento. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2014, p. 46ss.).
[11]J.I. Packer, Teologia Concisa, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 152.
[12]Como contraponto ilustrativo, destaco que no início do século XIX (1816), o cronista e empresário protestante Henry Koster (c. 1784-1820), comentando a respeito da introdução do Cristianismo entre os escravos por parte do clero católico, destacando o batismo como “um grande elemento de poder que existe sobre a escravaria”, resume: “A introdução da religião cristã entre os escravos não prestou maior serviço do que modificar o homem relativamente ao tratamento da mulher e a conduta dessas últimas” (Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil, 2. ed. Recife, PE.: Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, Departamento de Cultura, (Coleção Pernambucana, v. 17), 1978, p. 393).
[13] Cf. R.C. Sproul, Somos todos teólogos: uma introdução à Teologia Sistemática, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2017, p. 347.
[14] Ainda que com figuras diferentes, inspirei-me lendo J.I. Packer, A Redescoberta da santidade, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 96-97.
[15]“Arrependimento, como descrito na Bíblia, é um ideal alto, temos que tentar revelá-lo continuamente, mas jamais o faremos completamente nesta vida. (…) Arrependimento é, na verdade, necessário para a salvação, mas não precisa ser um arrependimento perfeito. Se isso fosse necessário, quem seria salvo?” (Anthony A. Hoekema, Salvos Pela Graça, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, p. 137-138).
[16]“A autodefesa vai-se quando vemos que não merecemos nada senão castigo. Compreendemos que somos miseráveis, que somos vis. O homem muda, pois, o seu conceito sobre si próprio” (D.M Lloyd-Jones, Romanos: Exposição Sobre Capítulos 2:1 a 3:20: o justo juízo de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1999, p. 85). Veja-se: Allan Harman, Comentário do Antigo Testamento ‒ Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Sl 32-3-5), p. 157.
[17] “Jamais aplicaremos seriamente o perdão divino, enquanto não tivermos obtido uma visão tal de nossos pecados, que nos inspire terror” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 51.3), p. 424).
[18] “De fato o perdão de pecados é realizado definitiva e perfeitamente em Deus, mas nos é dado e apropriado por nós em nossas vidas através da fé e do arrependimento” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP. 2001, p. 462).
