Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas – 4

Ateísmo crente e confessante

Será evidente em que sentido é verdade que podem existir muitos ateus e, contudo, não existe nenhum. (…) Ninguém pode expelir completamente de seu coração todo senso da Deidade, precisamente como nunca pode despir-se da consciência. −  François Turretini (1623-1687).[1]  

Obviamente, o Deus das Escrituras não é um deus criado pela imaginação do homem que projeta em sua criação seus desejos e vícios,[2] o que facilmente conduziria da idolatria ao ateísmo.[3] Aliás, o ateísmo não deixa de ser uma forma de idolatria, visto que o homem passa a adorar a criatura; no caso, a sua suposta poderosa mente, em lugar do Criador (Rm 1.25).[4]

Substituir o Deus das Escrituras pela nossa imaginação é uma forma, por vezes, bem elaborada, porém ilusória. Temos aqui a essência do humanismo, que considera de forma teórica e prática o homem como e medida de toda a realidade.[5] Por isso é que todo humanismo autônomo não passa de um ato idólatra onde Deus é subjetivamente destronado e o homem colocado como centro da realidade, perdendo assim todas as referências metafísicas.

A idolatria, permeia o coração humano sedento por sua autonomia. Exilando Deus, tirando de cena ou “matando-o”,[6] o ser humano passa viver exclusivamente de estatísticas. Somente o homem é a minha referência; não há valores acima deste.[7]

O antropocentrismo em seus devaneios centrífugos e centrípetos, é idolatria, carregando em seu ventre o feto do ateísmo. Nesse sentido, há muitos “teólogos ateus”, que transformaram a teologia em antropologia.[8]

Frame comenta:

O argumento bíblico a ser mencionado aqui é que ninguém é realmente ateu, no sentido mais sério desse termo. Quando as pessoas se afastam da adoração ao Deus verdadeiro, elas não rejeitam o absoluto em geral. Antes, em vez do verdadeiro Deus, eles adoram ídolos, como Paulo ensina em Romanos 1:18–32. A grande divisão na humanidade não é que alguns adorem um deus e outros não. Pelo contrário, é entre aqueles que adoram o Deus verdadeiro e aqueles que adoram falsos deuses, ídolos. A adoração falsa pode não envolver ritos ou cerimônias, mas sempre envolve o reconhecimento da asseidade, honrando alguns que não dependem de mais nada.[9]

Deus não se deixa invadir pela razão humana, ou mesmo pela fé. Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e explicitamente. Deus se revela a si mesmo como Senhor.[10] E “Senhorio significa liberdade”, pontua Barth (1886-1968).[11]

Portanto, tentar “editar” Deus ao nosso gosto, aos “cânones” contemporâneos apelidados de “politicamente corretos” ou, ao que é entendido como “pensamento atual”, ou mesmo  à nossa “teologia pessoal”,  sempre redundará em idolatria, visto que o nosso ídolo, perfeitamente manipulável, se constituirá em medida e padrão avaliativo de Deus e de sua revelação.

O naturalismo, deísmo ou panteísmo não deixa de ser uma declaração teológica. Portanto, a pertinente questão, é se a nossa teologia é verdadeira ou falsa.[12] O fato é que sem Deus, a vida carece de sentido porque, na realidade, não teria sentido.

Recorro a Nash (1936-2006)

Os seres humanos nunca são neutros em relação a Deus. Ou adoramos a Deus como Criador e Senhor ou nos afastamos de Deus. Como o coração é direcionado ou para Deus ou contra ele, o pensamento teórico nunca é tão puro ou autônomo como muitos gostariam de pensar que fosse.[13]

 

Graça, conhecimento e mistério

Conhecer a Deus é um privilégio da graça que tem o seu início sempre no Deus Trino (Mt 11.27;1Co 12.3). Deus sabe tudo a nosso respeito, nos conhece mais do que nós mesmos. Nada que lhe digamos é inusitado. Nós, só o conhecemos à medida que se revela, fala de si mesmo (Sl 139.1-4; 33.13-15; Jo 1.47-48; 2.25).

“Quanto mais conhecemos Deus, mais compreendemos, e sentimos que seu mistério é inescrutável”, comenta Brunner (1889-1966).[14] De fato, o maravilhoso mistério a respeito de Deus aumenta em nossa compreensão à medida que mais O conhecemos.[15]

A douta ignorância faz parte essencial da fé genuína e sincera.[16] O conhecimento de nossa limitação não é inato, antes é precedido pela revelação. Em síntese: A consciência do mistério inescrutável de Deus a temos pela revelação.

 

Ateísmo como declaração da revelação

O insensato diz em seu coração Deus não existe.

Ele falou, e ninguém deu crédito a esse ateu.

O insensato nega que Deus existe, seja este quem for.

Quem, pois, é ateu? Alguém que não quer que Deus exista. – Joannes Owen (c.1564-1622).[17]

Sem o desvelar-se de Deus não há teísmo, ateísmo nem agnosticismo. É no encontro significativamente pessoal com Deus que tomamos conhecimento de nossas limitações.[18]

Por isso, é que todo agnosticismo, a despeito de sua arrogante indiferença,[19] é uma forma de suicídio intelectual.[20] E no campo teológico, o agnosticismo não difere essencialmente do ateísmo.[21]  O agnosticismo não deixa de ser uma atitude confortável de indiferença e desprezo mas, que na realidade, é uma expressão de desespero racionalizado. Por isso mesmo, tal atitude nada tem a ver com a fé cristã que nos fala de revelação, conhecimento e relacionamento pessoal.[22]

Sem revelação nada sei a respeito de Deus. Com a graça objetiva da revelação e o guiar interior gracioso do Espírito (Iluminação), é que passo a saber e a descobrir que não sei. É no conhecimento intensivo e experimental de Deus que vamos ampliando reverentemente o nosso conhecimento e descobrindo o quanto ignoramos.

Desse modo, sem revelação, o homem passaria toda a sua vida e estaria na eternidade sem o menor conhecimento de Deus por mais engenhosos que fossem os seus métodos, por mais sistemáticas que fossem as suas pesquisas, por mais que evoluísse a ciência e refinasse a sua lógica.

O homem nunca conseguiria chegar a Deus, ou mesmo à sua ideia: ignoraria eternamente a própria ignorância! Entretanto, Deus continuaria sendo o que sempre foi: o Senhor![23]

Todavia, graças a Deus, porque Ele soberana e graciosamente se revelou a si mesmo, para que possamos conhecê-lo e render-lhe toda a glória que somente a Ele é devida. Em Cristo, nós somos confrontados com o clímax e plenitude da revelação de Deus (Jo 14.9-11; 10.30; Cl 1.19; 2.9; Hb 1.1-4). “Tudo quanto diz respeito ao genuíno conhecimento de Deus constitui um dom do Espírito Santo”, declara Calvino.[24] A Trindade deu-nos a Trindade. O Deus Tripessoal se revelou a nós.

Lewis (1898-1963) escreve de forma perspicaz:

O ateísmo (…) é uma coisa por demais simplista. Se todo o universo não tem sentido, nunca descobriríamos que ele não tem sentido, do mesmo modo que, se não houvesse luz no universo, nem, consequentemente, criaturas com olhos, nunca saberíamos que era escuro. A palavra escuro seria uma palavra sem sentido.[25]

 

Deus, Senhor do real que se revela fidedignamente

No entanto, Deus se revelou fidedigna e acessivelmente. “No Filho temos a revelação última de Deus. Da mesma forma como é verdade que quem viu o Filho viu o Pai, também é verdade que quem não viu o Filho, não viu o Pai”, escreve Hendriksen (1900-1982).[26] Jesus Cristo, a plenitude da graça encarnada, é a medida da revelação; o seu padrão e apelo final!

Bavinck (1854-1921) exulta:

A plenitude do ser de Deus é revelada nele. Ele não apenas nos apresenta o Pai e nos revela Seu nome, mas Ele nos mostra o Pai em Si mesmo e nos dá o Pai. Cristo é a expressão de Deus e a dádiva de Deus. Ele é Deus revelado a Si mesmo e Deus compartilhado a Si mesmo, e, portanto, Ele é cheio de verdade e também cheio de Graça.[27]

Deus também não é uma mera força impessoal sem nenhum sentido de racionalidade, antes, é o Deus transcendente e pessoal que se revela genuinamente, com quem podemos nos relacionar: ouvir, amar, temer, confiar e orar.[28]

A despeito das limitações de nossa linguagem, o termo pessoal, como contrastante com o impessoal, creio fazer jus ao que as Escrituras nos revelam sobre Deus, enfatizando também, que as forças impessoais são dirigidas por um Deus pessoal.[29]

Devido à própria revelação, a linguagem usada para Deus tem um caráter relacional, mostrando um Deus que se relaciona com o seu povo na história.[30] Deus não é apenas um princípio absoluto; uma categoria totalmente distante e inacessível. Antes, é uma Pessoa Absoluta que se revela. Aliás, é a partir do relacionamento de Deus com a Criação em geral e com o homem em especial, que torna possível a teologia.

A revelação é justamente isso, a passagem do Deus consigo para o Deus conosco. Do Deus absconditus  para o  Deus  revelatus. Aspectos do caráter de Deus se revelam em suas relações com suas criaturas.[31]

Como temos insistido, o nosso conhecimento pode ser real e genuíno, porém é fragmentado e limitado.[32] Contudo, devemos nos alegrar em poder conhecer. O Senhor não exigirá mais do que nos foi dado. Mas, o Senhor exige a nossa fidelidade no muito e no pouco.[33]

Apesar de nossas limitações, da loucura de nossa tentativa de pensar autonomamente, Deus, o Senhor glorioso e majestoso, torna-se conhecido por nós, paradoxalmente não pelos nossos esforços, mas, porque Ele graciosamente se dá a conhecer de forma acessível à nossa capacidade. As nossas especulações e induções são incapazes de nos conduzir ao conhecimento salvador de Deus.

Qualquer tentativa de analogia que pensemos em fazer para aplicar a Deus, é sempre tacanha, pobre e temerária. Por isso mesmo, a revelação de Deus sempre é uma autorrevelação consciente, majestosa e objetiva. Deus na expressão de sua natureza gloriosa, traz beleza variada e harmoniosa à Criação.

A nossa fé sempre encontrará seu fundamento na autorrevelação de Deus; a realidade absoluta de Deus com a qual Ele vem ao nosso encontro e nos confronta.[34] É pela revelação que conhecemos a incompreensibilidade de Deus. Ou seja: Por Deus sabemos da sua inesgotabilidade.

As Escrituras não tratam a Deus como um ser que se confunde com a matéria (panteísmo)[35] nem como uma divindade ausente, distante do mundo (deísmo),[36] como normalmente ocorre com o pensamento pagão ao longo da história. Antes, nos mostram tal qual Ele se revela.

O Deus das Escrituras é o Deus em quem podemos confiar, orar e nos conduzir por sua Palavra. Ele é fiel. Ele é o Senhor; é o nosso Pastor.

 

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

_______________________________________________

[1]François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 246, 249.

[2]Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Princípios bíblicos de adoração cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

[3]“A perda total de significado implícita no ateísmo é de mais para que muitos suportem. As pessoas precisam de alguns valores, alguns padrões, algumas maneiras para orientar suas vidas. Entre essas pessoas, aqueles que continuam a resistir à crença no verdadeiro Deus tornam-se inconsistentes quanto ao seu ateísmo, ou tornam-se idólatras. Se não querem o verdadeiro Deus, terão de procurar outro” (John Frame, Apologética para a Glória de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 150).

[4] “Qualquer que seja esse nosso objeto de preocupação fundamental, isso será o nosso deus. Por esta razão, não existem ateus genuínos. Encontramos, em vez disso, pessoas que veneram ou adoram coisas ou ideias em lugar do único Deus verdadeiro” (Ronald H.  Nash, Cosmovisões em Conflito: escolhendo o Cristianismo em um mundo de ideias, Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 39).

[5]“A forma extrema da idolatria é o humanismo, que vê o homem como a medida de todas as coisas” (R.C. Sproul, O que é a teologia reformada: seus fundamentos e pontos principais de sua soteriologia, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 33). Veja-se também: R.C. Sproul, A santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 205. Na provável primeira carta que Calvino escreveu depois de ter se fixado em Genebra (1536), alegra-se com o avanço da Reforma e a consequente diminuição da superstição e idolatria. Então diz: “Deus permita que os ídolos sejam erradicados também do coração” (Carta escrita ao seu amigo Francis Daniel no dia 13 de outubro de 1536. In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 30). Veja-se também: João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, Cap. 8, p. 22.

[6]Nietzsche (1844-1900), quase 100 anos depois, saudou jubilosamente a “maioridade” proposta por Kant (E. Kant, Que es la Ilustracion? In: E. Kant, Filosofía de la Historia, 3ª reimpresión, México: Fondo de Cultura Económica, 1987, p. 25. O mesmo texto encontra-se também: In: I. Kant, A paz perfeita e outros opúsculos, Lisboa: Edições 70, (1988), p. 11-19), quando escreve em 1882:

“O maior dos acontecimentos recentes – que ‘Deus está morto’, que a crença no Deus cristão caiu em descrédito – já começa a lançar suas primeiras sombras sobre a Europa. Para os poucos, pelo menos, cujos olhos, cuja suspeita nos olhos é forte e refinada o bastante para esse espetáculo, parece justamente que algum sol se pôs, que alguma velha, profunda confiança virou dúvida: para eles, nosso velho mundo há de aparecer certo dia a dia mais poente, mais desconfiado, mais alheio, mais ‘velho’. (…) De fato, nós filósofos e ‘espíritos livres’ sentimo-nos, à notícia de que ‘o velho Deus está morto’, como que iluminados pelos raios de uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão, assombro, pressentimento, expectativa – eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, posto mesmo que não esteja claro, enfim podemos lançar outra vez ao largo nossos navios, navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecer é outra vez permitida. O mar, nosso mar, está outra vez aberto, talvez nunca dantes houve tanto ‘mar aberto’.” (F. Nietzsche, Gaia Ciência, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 32), 1974, § 343, p. 219-220. Vejam-se: F. Nietzsche, O Anticristo: Ensaio de uma Crítica do Cristianismo, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 32), 1974, § 16, p. 357-358; F. Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, São Paulo: Hemus, 1977, p. 238-239, 264-265).

Rushdoony (1916-2001), interpretou corretamente o espírito iluminista: “O Iluminismo veio como contramovimento à Reforma e um avivamento do humanismo greco-romano” (Rousas J. Rushdoony, A Filosofia do Currículo Cristão,  Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 27).

[7] “Para o humanismo, o homem é sua lei e o próprio legislador, de forma que a aprovação social é o melhor teste da lei.” (Rousas J. Rushdoony, A Filosofia do Currículo Cristão,  Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 25).

[8] Sem dúvida, esse tipo de construção corresponderia  à interpretação  de Feuerbach (1804-1872) sobre teologia. De fato, se a teologia se limitar a ser um reflexo daquilo que o homem pensa de si mesmo, poderíamos reduzir “a teologia à antropologia” (Veja-se: L. Feuerbach, A Essência do Cristianismo, Campinas, SP.: Papirus, 1988, Prefácio à 2. edição, p. 35 e p. 55). Para Feuerbach a religião era apenas uma projeção da razão humana, a objetivação da sua essência. “Pelo Deus conheces o homem e vice-versa pelo homem conheces o seu Deus; ambos são a mesma coisa. O que é Deus para o homem é o seu espírito, a sua alma e o que é para o homem seu espírito, sua alma, seu coração, isto é também o seu Deus: Deus é a intimidade revelada, o pronunciamento do Eu do homem; a religião é uma revelação solene das preciosidades ocultas do homem, a confissão dos seus mais íntimos pensamentos, a manifestação pública dos seus segredos de amor.” (Ibidem.,   p. 55-56. Veja-se também, p. 57 e 77). A razão é o critério último de toda a realidade (Ibidem.,  p. 81); “é a medida de todas as medidas” (Ibidem.,  p. 84). Deus é uma entidade criada pelo homem à imagem de sua razão: “Como tu pensas Deus, pensas a ti mesmo a medida do teu Deus é a medida da tua razão. Se pensas Deus limitado, então é a tua razão limitada; se pensas Deus ilimitado, então a tua razão não é também limitada (…). No ser ilimitado simbolizas apenas a tua razão ilimitada” (Ibidem.,  p. 82). Karl Marx (1818-1883), interpretando a concepção de Feuerbach, diz que este “resolve o mundo religioso na essência humana” (Karl Marx, Teses Contra Feuerbach, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 35), 1974,  § 6, p. 58). Acrescenta: “Feuerbach não vê, pois, que o próprio ‘ânimo religioso’ é um produto social e que o indivíduo abstrato, analisado por ele, pertence a uma esfera social determinada” (Ibidem.,   § 7, p. 58).

[9]John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2015, p. 7. Veja-se:  François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 245-249; Herman Bavinck, A Certeza da fé, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 32-33.

[10]“Quanto mais conhecemos Deus, mais compreendemos e sentimos que seu ministério é inescrutável” (Emil Brunner, Dogmática, , São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 156) Ver: Emil Brunner, Dogmática, v. 1, p. 181,186ss.

[11] K. Barth, Church Dogmatics, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2010, I/1, p. 306.

[12]“Até mesmo a robusta rejeição que o ateu faz de Deus é uma declaração teológica. A pergunta é se a nossa teologia é verdadeira ou falsa” (Joel R. Beeke; Paul M. Smalley,  Teologia Sistemática Reformada,  São Paulo: Cultura Cristã, 2020, v. 1, p. 37).

[13]Ronald H. Nash, Cosmovisões em Conflito: escolhendo o Cristianismo em um mundo de ideias,  Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 35. “O secularismo nega, exclui e suprime os ideais e valores morais dos outros enquanto mantém o mito da própria neutralidade” (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 166).

[14] Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 156. “O mistério é a força vital da dogmática” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 29).  “A teologia cristã sempre tem a ver com mistérios que ela conhece e com os quais fica maravilhada, mas não compreende, nem sonda” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 619).“Quanto mais compreendemos a verdade de Deus, mais somos chocados pelo mistério” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 32). Dentro de outro tema, escreveu Packer: “Seja como for, não devemos ficar surpresos ao encontrar mistérios dessa espécie na Palavra de Deus. Pois o Criador é incompreensível para as suas criaturas. Um Deus que pudesse ser exaustivamente compreendido por nós, cuja revelação sobre Si mesmo não nos apresentasse  qualquer mistério, seria um Deus segundo a imagem do homem e, portanto, um Deus imaginário, e nunca o Deus da Bíblia” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 20). (Veja-se: Morton H. Smith,  Systematic Theology, South Carolina: Greenville Seminary Press, 1994, p. 100ss.).

[15] “O verdadeiro mistério só pode ser entendido como  um mistério genuíno mediante a revelação” (Emil Brunner,  Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157).

[16] Ver: João Calvino, As Institutas, III.21.2; III.23.8.   Na edição de 1541, escrevera: “E que não achemos ruim submeter neste ponto o nosso entendimento à sabedoria de Deus, aos cuidados da qual Ele deixa muitos segredos. Porque é douta ignorância ignorar as coisas que não é lícito nem possível saber; o desejo de sabê-las revela uma espécie de raiva canina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3 (III.8), p. 53-54). Semelhantemente, François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 647-648.

[17]Joannes Owen, Epigrammatum, Amsterdã: Janssonius van Waesberge editor, 1657,  3.16, p. 50. (Há várias edições desta obra).

[18] Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157, 159ss.

[19] “O Agnosticismo não é uma atitude de reverência, mas de indiferença” (Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157).

[20] Cf. Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 7, E-book.  Posição 99 de 715.

[21] Cf. Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 23.

[22]Vejam-se: Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 7; Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157.

[23] “Ainda que o mundo inteiro fosse incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.2), p. 48-49). Posteriormente, li em Piper: “Nem fúria nem violência, nem dúvidas sofisticadas ou ceticismo, tem qualquer efeito sobre a existência de Deus” (John Piper, O Legado da Alegria Soberana: a graça triunfante de Deus na vida de Agostinho, Lutero e Calvino,  São Paulo: Shedd, 2005, p. 125).

[24] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.3), p. 373.

[25]C.S. Lewis, A essência do Cristianismo autêntico, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, (1979), p. 21.

[26] William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 14.9) p. 657.

[27]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP.  2001, p. 25-26. “Deus se revelou mais abundantemente no nome ‘Pai, Filho e Espírito Santo’. A plenitude que, desde o princípio, estava no nome Elohim, foi gradualmente desenvolvida e tornou-se mais plena e manifestamente expressa no nome trinitário de Deus” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 150).

[28] “A principal ênfase do cristianismo bíblico consiste na doutrina de que um Deus infinito e pessoal é a realidade final, o Criador de todas as outras coisas, e de que um indivíduo pode se aproximar do Deus santo com base na obra consumada de Cristo, e somente desse modo” (Francis A. Schaeffer, O Grande Desastre Evangélico. In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Século 21, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 272).

[29] Veja-se: John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 1, p. 90-91.

[30] Cf. Terence Fretheim, Javé: In: Willem A. VanGemeren, org.  Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 4, p. 740-741; Gottfried Quell, ku/rioj, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co.  (reprinted) 1982, v. 3, p. 1062-1063.

[31]Cf. A.H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, v. 1, p. 21.

[32] Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 98, 110.

[33] Veja-se: Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 10.

[34] Veja-se: Carl F.H. Henry, Deus, Revelação e Autoridade v. 2: Deus que fala e age – 15 teses – parte um, São Paulo: Hagnos, 2017, p. 232ss.

[35]Panteísmo [“Pan” (pa=n = tudo, todas as coisas) & “Theós” (qeo/j = Deus)], é a doutrina que ensina que não há nenhuma realidade transcendente e que tudo é imanente; por isso, Deus e o mundo formam uma unidade essencial, sendo, portanto, a mesma coisa, constituindo um todo indivisível; por isso a negação da transcendência de Deus visto que Ele se confunde com a própria matéria, sendo esta a própria manifestação de Deus.

A Bíblia não confunde Deus com a matéria; antes, afirma que Deus criou a matéria (Gn 1.1) e a sustenta com o seu poder (Cl 1.17; Hb 1.3). Esta distinção entre o Deus Criador e a criação é um ensinamento fundamental das Escrituras.

[36]Deísmo é uma denominação genérica das doutrinas filosófico-religiosas que surgiram em meados do século XVII, as quais, contrapondo-se ao “ateísmo”, afirmavam a existência de Deus; entretanto, negavam a Revelação Especial, os milagres e a Providência. Esse Deus é concebido preliminarmente como a causa motora do universo. Uma das ideias predominantes, era a de que um Deus transcendente criou o mundo dotando-o de leis próprias e retirou-se para o seu ócio celestial, deixando o mundo trabalhar conforme as leis predeterminadas. Uma figura comum ao deísmo do século XVIII era a do relógio de precisão que seria o equivalente ao universo que trabalha sozinho depois de se lhe dar corda. Neste caso, Deus seria uma espécie de relojoeiro distante, apenas observando a sua criação sem “intervir” em suas questões cotidianas. A conclusão chegada pelos deístas é a que as leis que regem o universo são imutáveis. O deísmo consequentemente atribui à Criação a capacidade de se sustentar e se governar por si mesma. Temos aqui um naturalismo autônomo.

Desta forma, Deus é um proprietário ausente, que não age diretamente sobre a Criação; a única relação existente entre o Criador e a Criação, dá-se por meio de suas leis deixadas, as quais regem o universo de forma determinista. Deus seria regente do universo “apenas de nome”. O deísmo não deixa de ser um ateísmo prático visto que Deus não é considerado de forma concreta na vida de seus adeptos. Deus sai do cenário real e concreto, mas, o destino e o acaso terminam por ser entronizados. (Para maiores detalhes sobre o panteísmo e o deísmo, vejam-se: Hermisten M.P. Costa, O Homem no teatro de Deus: providência, tempo, história e circunstância, Eusébio, CE.: Peregrino, 2019, p. 96-101).