Por que, na minha opinião, o “culto infantil” é um equívoco

Por Ageu Magalhães

 

  1. Porque não há base bíblica para retirada das crianças para um culto em separado. E, considerando o Princípio Regulador do Culto, a falta de determinação sobre esta prática já deveria ser motivo para não criarmos um princípio novo. Se não há base bíblica, não cabe no culto.
  2. Porque nas Escrituras as crianças recebem a Palavra de Deus junto aos pais. Senão vejamos:

– “Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembleia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos, e os que mamam, saia o noivo da sua recâmara, e a noiva, do seu aposento.” Joel 2.15-16

– “Então, Moisés e Arão foram conduzidos à presença de Faraó; e este lhes disse: Ide, servi ao Senhor vosso Deus; porém quais são os que hão de ir? Respondeu-lhe Moisés: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, e com os filhos, e com as filhas, e com os nossos rebanhos, e com os nossos gados; havemos de ir, porque temos de celebrar festa ao Senhor.” Êxodo 10.8-9.

– “Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais te dar, terra que mana leite e mel, guardarás este rito neste mês. Sete dias comerás pães asmos; e, ao sétimo dia, haverá solenidade ao Senhor. Sete dias se comerão pães asmos, e o levedado não se encontrará contigo, nem ainda fermento será encontrado em todo o teu território. Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que o Senhor me fez, quando saí do Egito.” Êxodo 13.5-8

– “Todo o Judá estava em pé diante do Senhor, como também suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos.” 2 Crônicas 20.13

– “Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse para toda a congregação de Israel, e para as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles.” Josué 8.35

O próximo argumento, que diz respeito à linguagem compreensível às crianças, não vou enumerá-lo porque é mais fraco. Na minha visão, os dois argumentos acima são conclusivos. Todavia, para dar algumas sugestões a pregadores, eu diria o seguinte:

  1. A criança com menos de dois ou três anos de idade compreenderá muito pouco, tanto no culto normal quanto no culto infantil.
  2. Crianças maiores que isso já entendem muita coisa. Certa vez, em um culto solene, domingo à noite, minha filha, com 3 anos de idade, virou-se para minha esposa e perguntou: – Mãe, como é o nome desse homem que queria matar Jesus? – É Herodes, minha filha. – Mas o Faraó também não quis matar? – Não. O Faraó quis matar Moisés… Em outra ocasião, meu filho, com 4 anos, um dia depois do culto, me disse: “Pai, eu já sabia daquela história do sangue nas portas que você contou ontem”. Ele prestou atenção nas palavras ditas na Ceia. Dois anos depois, meu filho, agora com 6 anos, depois do culto me disse: “Pai eu ouvi a história que o Marcos contou. Primeiro foi da ovelha perdida, depois foi da moeda e depois foi do filho pródigo.” O curioso é que isso aconteceu em uma leitura responsiva no culto. Via de regra, subestimamos a atenção e a compreensão das crianças.
  3. Pregadores devem se acostumar a usar linguagem simples no púlpito. Devem pregar em um nível que até as crianças entendam. E, se elas entenderem, saiba que a maioria da congregação entenderá.
  4. Nossos pais puritanos eram especialistas em aplicação. Aplicavam a todos os grupos presentes no culto. Se há crianças no momento do sermão, aplique o sermão a elas também.
  5. Pais cristãos devem se acostumar a conversar sobre o sermão que foi pregado no domingo. Essa prática é boa para avaliar se os filhos entenderam o sermão, reforçar o ensino e esclarecer eventuais dúvidas.

Termino citando Van Groningen: “Quando Deus fez um pacto com o Seu povo, eles todos tiveram que estar presentes, até mesmo as crianças de peito; e não havia um culto especial para as crianças lá (estou pisando em terreno perigoso?) Talvez possamos falar um pouco sobre isso. No Antigo Testamento, as crianças tinham que ser trazidas ao templo já no oitavo dia para circuncisão, e na idade de 12 anos já deviam ser consideradas adultas, no que diz respeito ao culto; as crianças eram os futuros servos do rei. Deixem-me lembrar também que as crianças deviam participar da páscoa, e elas tinham inclusive o privilégio de perguntar: ‘O que significa isso’? E os pais tinham que responder. Isso certamente foi na época em que o culto estava centralizado na família, mas o mesmo é verdadeiro quando o culto foi transferido e centralizado no templo. Eu sou pai de oito filhos, e eu e minha esposa temos experimentado o que é educar, em termos de culto, a essas crianças. Eu sei o que estou falando; nós somos avós de vinte e nove meninos e meninas, então podemos falar a partir de uma situação concreta. Estou pronto para falar sobre isso. Eu acredito em culto familiar, em casa e na Igreja.’ (Leia também o artigo de Gerard Van Groningen, As Influências do Culto do Antigo Testamento na Liturgia.)

 

Comments

  • Lucas
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    Reverendo, muito interessante o ponto de vista do senhor. Discordo, mas não deixa de ser interessante. A minha discordância está no fato de que como bem citado, nos atemos, como normativa para o culto, às diretrizes da Palavra de Deus, que neste caso, não estimula e nem proíbe o culto infantil. Não pude deixar de notar que todas as citações usadas para embasar biblicamente são vétero-testamentárias, ou seja, referentes a antiga aliança.
    Observo que este mesmo tipo de argumento foi combatido por Jesus quando questionado pelos Fariseus quanto ao sábado, por exemplo. Na ocasião Jesus ensina de modo diferente os princípios por trás da lei, e mostra como os princípios e não a lei em si, são atemporais e completa: “…Não vim para revogar, mas para cumprir” Mt 5.17
    Seguir a linha usada no argumento nos levaria aos incensos, sacrifícios de animais, estolas, ritos de purificação etc. (além de inúmeros problemas com coisas que existem hoje mas que não existiam na época bíblica e portanto, não são diretamente abordados por ela). O grande problema é que nada disso se mantém na Nova Aliança, exceto, os princípios. Lá, a mensagem era ensinada a todos, com ou sem o culto infantil, hoje, também.
    Sou contra embasar biblicamente a opinião de não fazer culto infantil, pois não há; a bíblia não fala nada sobre isso, é só uma opinião. Biblicamente falando, o que podemos afirmar é que a Palavra deve ser pregada também às crianças, este é o princípio presente nos textos citados e tantos outros.
    Eu por exemplo, acho muito mais proveitoso que a criança, saindo para o culto infantil, aprenda uma liação inteira da bíblia no momento da edificação, do que se lembrar de um nome que ouviu num lapso de atenção durante uma exposição da bíblia.

    Enfim, esta é minha opinião, com todo o respeito.

    • Leonardo Pimentel

      Se atente ao primeiro ponto.
      Na nossa doutrina, se não há ordenança, não fazemos.
      Não é Princípio Normativo de Culto e sim Principio Regulador do Culto…

  • Leonardo Pimentel
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    Boa tarde, Rev. Tenho uma dúvida sobre o princípio regulador do culto por vir vendo muitos cultos temáticos na IPB: Cultos com temas também feririam o princípio regulador do culto? Porque isso não foi prescrito para a Igreja. nas Escrituras.

  • GECY SOARES DE MACEDO
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    Concordo totalmente com o colega, culto infantil para mim serve apenas de desculpas para os pais impotentes quanto à disciplina dos filhos pequenos, principalmente na hora do culto, falo por mim, meus filhos, quando pequenos ficavam assentados quietinhos, e às vezes sozinhos no banco, minha esposa ficava com o menor no berçário, os dois outros ficavam sozinhos no banco enquanto eu pregava. Meu filho mais velho aceitou Jesus como seu Salvador com quatro anos de idade, entendeu o que era pecado, Salvação. Outro problema que vejo na prática do culto infantil é que na grande parte das igrejas, o chamado culto é nada mais nada menos do que uma escola dominical mal programada, as crianças passam a maior parte do tempo brincando, e as responsáveis batendo papo. Pronto, falei.

  • Flavia Dutra Rodrigues
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    Caro Pastor, sou mãe de dois meninos e professora em EBD e dirigente de culto infantil. Entendo a sua colocação, mas não encontrei nada na Bíblia que condene essa prática. Vejo o culto infantil como uma excelente oportunidade de levar a Palavra e o evangelho paras crianças e ainda mais, mostrar a eles a alegria de louvar a Deus.
    Lembrando que culto infantil não é momento de brincadeira, é culto. Tem louvor, leitura da Bíblia, mensagem, oração… Sou grata a Deus por me proporcionar esse momento com as crianças pra compartilhar do Seu Amor! A maioria delas não tem culto doméstico em casa, muitas não frequentam a escola dominical assiduamente e ainda tem aquelas cujo os pais vivem o jugo desigual ou simplesmente não pertencem a uma família cristã.
    Sempre me senti impulsionada, juntamente com toda a equipe, a manter os cultos, jamais incomodada a parar!
    Fique na paz!

    “mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
    João 14:26 ARA
    https://bible.com/bible/1608/jhn.14.26.ARA

    • Rev. Ageu Magalhães

      Prezada irmã, em assuntos de culto, o princípio não é o que Deus proíbe, mas o que que prescreve. Procure artigos sobre O Princípio Regulador do Culto para se aprofundar nisso. Que Deus te abençoe.

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