Não desperdice a sua culpa

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

O arrependimento e a fé são passos iniciais, inseparáveis e complementares[1] da vida cristã como resposta ao chamado divino. No entanto, ambos devem acompanhar a nossa vida. Devemos continuar crendo em Deus em todas as circunstâncias e cultivar, pelo Espírito, uma atitude de arrependimento pelas nossas falhas.[2] “O espírito quebrantado e o coração contrito são as marcas permanentes da alma crente”, resume Murray (1898-1974).[3]

 

Crentes & pecados prazerosos

Isso indica o fato de que somos pecadores e, ainda que não mais dominados pelo pecado, continuamos mantendo esta luta em nosso coração. As nossas quedas seguidas de um arrependimento sincero, nos envergonham porque percebemos o quão distantes estamos do alvo proposto por Deus para nós. O arrependimento pleno é um ideal da vida cristã que jamais será concretizado neste estado de existência.

O pecado residual continuará em nós e, por vezes, se manifestará com grande força, evidenciando o quão incrustrado está em nós e, para tristeza nossa, por vezes, como o apreciamos com satisfação. Você acha que estou exagerando. É possível. Mas, responda para você mesmo: Quem de nós já não narrou uma atitude pecaminosa com certa satisfação?

Olyott escreve sobre o arrependimento com a sua costumeira sensibilidade:

Arrependimento é ter vergonha de quem você é. Você faz o que você faz porque você é quem você é. E o que você é, é o que Deus diz que você é: um pecador! O evangelho é que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores! E sem esse sentido claro de pecado, você não pode ser salvo.[4]

O famoso pregador londrino, Lloyd-Jones (1899-1981), na sua juventude tinha como pastor um homem que, conforme nos conta o seu principal biógrafo, Iain Murray, enchia os seus sermões “com muitas anedotas e ilustrações. Sensação e emoção eram o que ele visava alcançar”.

Mais tarde, Lloyd-Jones rememorando esse período, testificou com certa tristeza:

O que eu precisava era de pregação que me convencesse de pecado e me fizesse enxergar a minha necessidade, que me levasse ao arrependimento e me dissesse algo sobre regeneração. Mas eu nunca ouvi isso. A pregação que tínhamos era sempre baseada na suposição de que todos nós éramos cristãos, que não estaríamos ali na congregação a não ser que fôssemos cristãos.[5]

            Lloyd-Jones está correto.

 

Pecado, disciplina amorosa e arrependimento

O pecado sempre traz tristeza a todos, cedo ou tarde. A justiça de Deus quando aplicada em nosso coração, produz tristeza. Mas, não termina dessa forma, antes produz arrependimento.

Destaquemos alguns pontos sobre a necessidade de arrependimento por parte dos crentes quando pecam.

Davi sofreu amargamente as consequências de seu adultério com Bate-Seba e o planejamento da morte de seu marido Urias. Embora ele não tivesse matado com suas próprias mãos o seu leal soldado, as suas mãos estavam manchadas do sangue de Urias.

No salmo 32 escreve: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram (hl’B’) (balah)[6] os meus ossos pelos meus constantes gemidos (hg”a’v.) (sheagah)[7] todo o dia” (Sl 32.3).

Davi só encontrou alívio quando declarou diante de Deus o seu pecado. Ele não mais tentou escondê-lo ou amenizá-lo. Não há eufemismos em nossa confissão sincera. Davi pinta com cores reais as suas faltas:

Confessei-te ([d;y”) (yada) o meu pecado (hf)f+Ah) (hatã’â)[8] e a minha iniquidade (}oWf() (‘ãwõn)[9] não mais ocultei (כּסה) (kâsâh).[10] Disse: confessarei (hd’y)(yadah) ao SENHOR as minhas transgressões ((a$ep) (pesha’);[11] e tu perdoaste a iniquidade (}oWf() (‘ãwõn) do meu pecado (hf)f+Ah) (hatã’â). (Sl 32.5).

No salmo 51, no mesmo contexto, escrevera anteriormente: “Pois eu conheço ([d;y”) (yada) as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3).

Da mesma forma no salmo 38:    “Confesso (נגד) (nâgad)[12] a minha iniquidade (}oWf() (‘ãwõn); suporto tristeza por causa do meu pecado” (Sl 38.18).

É muito comum o homem buscar justificativa para os seus atos iníquos. Há um processo de racionalização malévolo por meio do qual elaboramos teorias por vezes sofisticadas que pelo menos para nós justificam os nossos atos.

Como isso nem sempre é suficiente, procuramos também persuadir os outros da integridade e necessidade de nossos atos pecaminosos que, nesse caso, não são apresentados como tais, antes, como necessários, ousados, modernos e inteligentes.

Normalmente esse processo visa acalmar a sua consciência e, por vezes, difundir uma teoria com ar de sapiência, pelos resultados proclamados como bem-sucedidos. Os ímpios, por vezes, dão-nos a impressão de obterem sucesso em sua prática iníqua. A superficialidade, o marketing intenso e o nosso desejo apressado por novidades, tornam-nos receptores e difusores de tais teorias e comportamentos.

A aparente tranquilidade de Davi durante os doze meses que o separam de seus atos pecaminosos e a advertência do profeta Natã soa-me como algo estranho. De alguma forma ele conseguiu equacionar a culpa de seu pecado em sua mente e coração durante aquele período, entregando-se, como diz Calvino, a uma profunda letargia espiritual.[13] Todavia, a Palavra de Deus é eficaz no seu propósito de mostrar a nossa infração, tirar a nossa consciência de sua letargia pecaminosa e, nos restaurar à comunhão com Deus.

As nossas racionalizações complementadas por alguns comprimidos podem servir como paliativos durante algum tempo, contudo, não atingem o cerne do problema. Logo, nem de longe têm poder para resolver a questão do pecado e consequentemente da culpa.

Aliás, o sentimento de culpa pode ser uma das bênçãos de Deus para que não nos entreguemos totalmente ao pecado. A culpa, nestes casos, é graça! Deus opera desta forma conduzindo-nos, pelo Espírito Santo, de volta a Ele mesmo. “A  ‘verdadeira culpa’ é a que resulta do julgamento divino”, acentua Tournier (1898-1986).[14]

O Senhor usou o profeta Natã como seu instrumento para proferir a Palavra de Deus, não as suas opiniões ou teorias. Somente a Palavra  pode curar nossas feridas restaurando a nossa alma. E, não há restauração espiritual sem o retorno a Deus; à nossa restauração primeira à comunhão com Deus.

 

O painel da culpa ou o indicativo de uma necessidade?

Se você estiver conduzindo o seu automóvel em uma estrada e a luz do painel indicativo do óleo começa a piscar, o que você faria para resolver aquele incômodo? Pararia o carro com a firme possibilidade em mente de acionar o seguro? Ou, procuraria localizar a fim de retirar o fusível do painel que permite aquela luz que tanto lhe incomoda se acenda?

 

Psicologia e Pregação

Culpa é um conceito legal e objetivo, resultante de uma condenação pelo fato de ter-se quebrado uma lei ou ordem objetiva.[15] Quem quebra a lei é culpado. Não há genuína culpa sem um padrão, e a sua transgressão. As Escrituras nos ensinam que todos nós como seres responsáveis que somos, tornamo-nos culpados por transgredir  a perfeita lei de Deus (Jo 8.34; Rm 5.12; 6.23; Ef 2.1).[16]

As psicologias,  que obviamente, não são más em si, que invadiram os nossos púlpitos – isso sim é mal em si –,  em parte pela ausência de pessoas habilitadas para expor as Escrituras com autoridade e integridade, se misturaram com a teologia de tal forma, que conceitos, por vezes, totalmente estranhos à Palavra são difundidos com naturalidade sem que nem ao menos percebamos.

Lamento o que vou dizer. Mas, o que tenho observado ao longo dos anos, é que ministros inseguros teologicamente – por fazerem um curso malfeito, desinteresse teológico, mentes equívocas, gosto por surfar nas ondas dos modismos ou, por pura inabilidade teológica  –, quando se enveredam por outras áreas de estudo, o que poderia ser de grande utilidade para o seu pastorado, tende a se constituir no assunto recorrente de seus sermões, em geral, vazios de conceitos bíblicos.

Quando muito, as Escrituras servem apenas para convalidar temas requentados de suas áreas de maior atuação. O púlpito, nesses casos, virou um mero biscate (bico) “gambiárrico” de sobrevivência. A Igreja, então, sofre de inanição, buscando subterfúgios para complementar a sua carência. Nesses casos, o “Centrum” pode ser um bom complemento. Contudo, quando os fiéis não são bem instruídos na Palavra e nos seus Símbolos de Fé, quase nunca conseguem discernir o “Centrum Select” proveniente da Palavra,  do “Dramin” que tira o enjoo e proporciona um sono quase irresistível. Além do que, aquele se torna cada vez mais raro.

Um dos conceitos propalados nesta psicologização tão popular e, ao mesmo tempo, maléfica, é de que devemos eliminar o sentimento de culpa. Outro ensinamento associado a esse, é o da importância de cultivarmos uma elevada autoestima. Por isso, o ensino que ameace ainda que tenuemente o seu superlativo autoconceito, é rejeitado como não edificante. Afinal, participo do culto para sair mais leve e solto, não com tristeza ou pesar, queixa-se de modo frustrante.

Sem dúvida, prover recursos que aliviem o sentimento de culpa parecerá sempre bem-vindo, visto que tal sentimento é um incrementador de nossa ansiedade (Pv 28.1).[17]

Calvino denominou esta atitude de orgulho:

Desejosos de manter nossa autoestima, levamos muito a sério quando somos desprezados. Essa doença da natureza humana é tão generalizada que cada pessoa deseja que seus vícios agradem a outros. Se alguém nos desaprova por alguma coisa que fazemos ou dizemos, nos sentimos imediatamente ofendidos sem qualquer razão plausível. Que cada um de nós examine a si mesmo, e encontrará essa semente do orgulho em sua mente, até que a mesma seja erradicada pelo Espírito de Deus.[18]

Em síntese, devemos mimar a criança que há dentro de nós – o Peter Pan que se nega a amadurecer preferindo cultivar a sua alegria descompromissada[19] –, dizem. Como se a sensação de não termos culpa ou promover um alto conceito de nós mesmos mudasse a realidade do que somos.

 

Culpa e sentimento de culpa

Enquanto a culpa é objetiva, o sentimento de culpa é subjetivo. É nesta subjetividade que encontramos uma nuance de grande importância. Todos somos culpados mas, nem todos tem o sentimento de culpa. O não sentimento de culpa não nos inocenta.[20] Por sua vez, nem todo sentimento de culpa é resultado de uma real culpa. Ele pode ser derivado de uma interpretação errada associada, por exemplo, a usos e costumes aprendidos que não são em si mesmos atos pecaminosos mas, foi assim que você foi educado.[21] Deste modo, quando quebra algum princípio de sua educação, sente-se culpado por um “constrangimento social” (Freud).

Neste caso, o princípio que deve ser aplicado, é examinar biblicamente se  o que aprendemos como sendo pecado é de fato pecado. Outro ponto, que Sproul analisa, é a questão da fé e da consciência. Quando agimos sem fé, cometemos pecado porque pecamos contra nossa consciência.[22]

Sproul é bastante contundente:

A presença de sentimentos de culpa não indica automaticamente a presença de culpa objetiva com respeito a uma ação específica, mas pode representar a presença da culpa de agir contra a própria consciência. A conclusão é que, toda vez que experimentamos sentimentos de culpa, precisamos parar e perguntar a nós mesmos tão honestamente quanto possível: “Eu transgredi a lei de Deus?”.[23]

A culpa psicológica, que pode perdurar pela falsa ideia de pecado ou, pela compreensão equivocada da obra expiatória de Cristo e do completo perdão de Deus, deve ser superada biblicamente.[24]

No entanto, a autoestima não irá vencer o genuíno sentimento de culpa resultante de um pecado real. Somente o Evangelho pode nos mostrar o que realmente somos e como podemos nos tornar em Cristo.

Buber (1878-1965), tem um insight muito perspicaz:

Se Deus faz essa pergunta [“Onde você está?”], Ele não quer saber algo que ainda não saiba sobre a pessoa; Ele quer provocar alguma coisa nessa pessoa, algo que só pode ser provocado dessa maneira – com a condição de que a pergunta atinja o coração da pessoa, de que a pessoa se permita ser atingida no coração.

Adão se esconde para não ter de dar satisfações, para escapar da responsabilidade em relação à própria vida. Dessa maneira, todos os homens se escondem, pois todos são Adão e estão na situação de Adão. Para escapar da responsabilidade por sua vida, a existência é transformada num sistema de esconderijos.[25]

 

Sentimento de culpa como bênção

É necessário que se diga que o problema humano não é a culpa mas, sim, o pecado. Tendemos a criticar as consequências de nossos atos ignorando que a sequência é decorrente de escolhas nossas. Devemos considerar também, que o sentimento de culpa não é necessariamente resultante do pecado mas, da graça restauradora de Deus que deseja nos conduzir ao arrependimento de nossos pecados.

Por isso, uma das consequências do pecado é a culpa. “Quando Adão e Eva cometeram sua primeira transgressão, a vergonha e a culpa foram sentidas pela primeira vez na história humana”, escreve Sproul.[26] Ele está correto à luz do que escreve Paulo:  “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável  (*u(po/dikoj)[27] perante Deus” (Rm 3.19).

O pecado não é uma invenção cristã, antes é a realidade do homem após a Queda, quando nossos primeiros Pais desobedeceram a Deus resultando tal ato em vergonha e culpa.

 

Culpa e autoestima

MacArthur é cirúrgico:

Culpa não conduz à dignidade e nem à autoestima. A sociedade encoraja o pecado, mas não tolera a culpa produzida por ele.[28]

A verdadeira culpa tem somente uma causa: o pecado. Até que o pecado seja tratado, a consciência lutará para acusar. E o pecado – e não a baixa estima – é o que o Evangelho veio derrotar.[29]

As pessoas querem pecar, mas sem culpa….[30]

O Cristianismo não é uma religião de doença e enfermidade com ênfase mórbida e patológica no pecado. Mesmo sabendo que o Cristianismo não é triste nem melancólico, devemos pontuar que as Escrituras evidenciam de forma franca os nossos pecados para que, buscando o perdão, nos alegremos no Senhor da Glória, rico em misericórdia[31] (Sl 16.11; Gl 5.22; Fp 3.1; 4.4; 1Ts 5.16). A alegria do Espírito é resultado de um coração guiado por Ele.

O Cristianismo trata essencialmente com doentes e, sincera e misericordiosamente apresenta com clareza, sinceridade e compaixão o seu diagnóstico terminal se permanecer distante de Deus. Porém, ao mesmo tempo, apresenta a cura definitiva na expiação de Cristo Jesus.

A cura em Cristo tem sido intensamente demonstrada ao longo da história. A sua verificação está diante de todos por meio da vida da igreja constituída de pecadores enfermos em seus pecados, mas, que foram curados, restabelecidos em Cristo e caminham, por graça, em direção a Deus.

Portanto, não podemos falar de perdão sem considerarmos o pecado. Aliás, sem consciência de pecado não podemos sequer ter uma dimensão clara do que seja o perdão bíblico.

Mohler Jr., coloca bem a questão:

Onde o pecado não é encarado como pecado, a graça não pode ser graça. Que necessidade de expiação poderiam ter homens e mulheres quando lhes é dito que o seu problema mais profundo é algo menos do que aquilo que a Bíblia ensina explicitamente? O ensino fraco sobre o pecado leva à graça barata e não conduz ao evangelho.[32]

Jesus Cristo veio salvar os enfermos, não os supostamente sãos: 31 Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.  32 Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lc 5.31-32).

Considerar-nos sãos quando na realidade estamos em um estado terminal, é algo terrivelmente nocivo a todos nós.  O Cristianismo não provoca a doença, nem ensina o “desprezo pelo corpo”, tendo “rancor dos enfermos”, como propalava Nietzsche (1844-1900),[33] antes a diagnostica e apresenta o remédio.

Stott é preciso: “Uma consciência culpada será uma grande bênção somente se nos forçar a voltar para casa”.[34]

Por isso, o sentimento de culpa pode ser uma das bênçãos de Deus para que não nos entreguemos totalmente ao pecado e às suas resistentes amarras. “A culpa que sentimos como pecadores é legítima, natural e até mesmo apropriada”, conclui MacArthur.[35]

E quanto ao sentimento de culpa resultante de uma interpretação errada dos fatos e de nossa responsabilidade?

Sem dúvida, essa sensação é terrível porque nos culpamos por algo que, na realidade não praticamos, portanto,  não somos culpados. Isso, sem dúvida, nos neutraliza colocando um peso imenso sobre nossos ombros. À semelhança de Atlas, sentimo-nos condenados a carregar os céus sobre os nossos ombros, nos destruindo em nossa caminhada produtiva de obediência e louvor a Deus.

Para o sentimento de culpa decorrente de uma interpretação equivocada da realidade, da mesma forma, devemos suplicar a Deus que nos liberte desse sentimento e que nos dê uma compreensão adequada da realidade, amparados na obra de Cristo que nos perdoa de todos os nossos pecados, inclusive deste  que, por vezes é decorrente de um julgamento errado a respeito de nossos poderes e por isso, de nossa responsabilidade.

Portanto, esse sentimento pode se constituir no caminho para, por graça, compreendermos que a solução para o nosso problema não está em um simples autoexame, meditações ou técnicas respiratórias, mas no arrependimento sincero e confissão a Deus de nossa culpa.

Algo fundamental para a solução de um problema, é ter uma definição clara e correta sobre ele. Definição é delimitação. A definição, sendo apropriada, nos permite ver o objeto como ele de fato é.[36] A  conceituação de Espinosa (1632-1677) é-nos orientadora: “A verdadeira definição de cada coisa não envolve nem exprime senão a natureza da coisa definida”.[37]

Deus por meio de sua Palavra nos mostra com objetividade o que somos. Deus nos leva a sério bem como o problema do pecado, da culpa e da condenação humana. Ele não nos é indiferente a despeito de nosso sofrimento gerado como consequência de nossa desobediência.

Poythress está correto ao dizer que o “problema fundamental é o problema do pecado e da culpa (…) Somente quando começamos a ver a magnitude do problema é que desistimos de seguir nossos próprios caminhos, fazer nossas próprias regras e seguir nossos próprios desejos”.[38]

Por isso nós não tratamos primariamente da culpa mas, do que gerou a culpa. O sentimento de culpa sendo verdadeiro, no sentido de que de fato somos culpados, é um sintoma importante que indica a necessidade de sermos tratados espiritual e moralmente.

Além disso, a culpa é de certa forma um lembrança espiritual e nostálgica daquilo que fomos. Há uma sensibilidade inerente a nós que aponta para o fato de termos sido criados à imagem de Deus mas, que com a queda, essa imagem desfigurada e caricata, tenta com insistência, destruir esses resquícios do nosso Criador que estão impregnados em nossa memória ontológica.[39]

Com a nossa regeneração espiritual, nossa imagem é restaurada e, com ela recuperamos em Cristo aspectos fundamentais do homem criado. Em Cristo recuperamos as dores benditas de uma consciência iluminada pelo Espírito, mas, que ainda lida com o nosso pecado.

Deus não nos trata com paliativos. Por isso, Ele não simplesmente nos “des-culpa” de forma banal e corriqueira. Ele nos perdoa. No perdão de Deus e sua internalização em nossos corações encontramos a solução definitiva para nossa culpa que foi levada por Jesus Cristo sobre a cruz, nos perdoando de todos os pecados. Tudo foi feito pela graça; nada ficou para trás; Ele nos perdoou completa e totalmente.

Portanto, o caminho para a libertação da culpa real, é o arrependimento sincero e a confissão de nossos pecados, reconhecendo a graça de Deus em nossa vida.

 

Voltando ao painel do carro

 O sentimento de culpa, nestes casos, é graça! É o Espírito indicando de forma convincente que algo está errado; que transgredimos a Palavra de Deus.

Por exemplo, a sensação indesejada de dor, como quando tocamos distraidamente em um ferro quente, propicia um alerta para evitar um mal maior.[40] O painel do carro[41] que com tanta frequência em nosso país acende indicando problemas na “injeção”, é indesejado, porém, passa a ser um sinal importantíssimo até então imperceptível, de que algo está errado. Em geral, para nossa alegria (não é a “injeção”) e tristeza, é o combustível do posto “confiável” com “bandeira”, que não atende às especificações da mistura, já por si só, bastante generosa…. Portanto, a luz vermelha não é o problema. Ela apenas indica que algo está errado.

Mohler escreveu sobre essa questão:

O medo do pecado e de suas consequências leva todos à necessidade da graça de Deus por meio do evangelho de Jesus Cristo. Este é o grande paradoxo da vida cristã. O mundo deseja que fujamos de nossa culpa. A culpa é vista como um inimigo que deve ser morto. Os livros de autoajuda enchem as prateleiras das livrarias porque as pessoas tentam implacavelmente esmagar o sentimento interior de culpa. Para o cristão, porém, a culpa é um presente. Esse sentimento de culpa insaciável e incansável nos leva à única esperança que temos. Os pecadores devem abraçar a culpa infinita em que vivem se quiserem encontrar a graça infinita de Deus. Quando reconhecemos nossa culpa, então, e apenas então, podemos chegar àquela fonte carmesim de esperança, o sangue de Jesus que nos purifica.[42]

Portanto, o sentimento de culpa não é o fim, mas, por vezes, é o meio utilizado por Deus para restringir o mal e nos conduzir, no momento próprio, de volta a Ele pela Palavra.[43]

 

Consciência limpa, significa estar sem pecado?

A nossa consciência, não cauterizada, tem um papel importante nesse processo, de alguma forma nos deixando intranquilos com o nosso pecado (1Tm 4.2/1Co 4.3-5).[44]

Keller, faz uma útil aplicação:

O fato de Paulo ter a consciência limpa não faz diferença. Observe com atenção o que ele diz no versículo 4: “Minha consciência está limpa, mas isso não me torna inocente”. A consciência dele pode estar limpa — mas Paulo sabe que consciência limpa não faz dele um homem inocente. Hitler talvez tivesse a consciência limpa, mas isso não significa que ele era inocente.[45]

É importante que se diga, que a nossa consciência não é infalível nem é padrão de verdade. Ela pode refletir simplesmente aspectos de nossa educação e tradição. A Palavra de Deus também nos liberta de falsas tradições criadas à revelia e contrária à Palavra. Deste modo, a minha consciência pode estar simplesmente se manifestando por eu agir contra  tais tradições e não contra a Palavra. (Rm 14.14, 20-23; 1Co 10.25-29; 1Tm 4.4-5).

Devemos cultivar uma consciência santa – não legalistamente mórbida –, instruída pela  Palavra e, por isso mesmo, sensível aos preceitos de Deus. A purificação e lapidação de nossa consciência deve ser saturando com a Palavra a fim de que ela seja inundada pelos ensinos do Senhor.

Packer escreveu magistralmente sobre isso:

Uma consciência educada e sensível é um monitor de Deus. Ela atenta para as qualidades morais do que fazemos ou planejamos fazer, condena a ilegalidade e irresponsabilidade e faz com que nos sintamos culpados, envergonhados e temerosos da futura retribuição que, segundo ela, merecemos quando nos permitimos desafiar seus limites. A estratégia de Satanás é corromper, tornar insensível e, se possível, matar a nossa consciência. O relativismo, materialismo, narcisismo, secularismo e hedonismo do mundo ocidental contemporâneo lhe presta grande ajuda neste sentido. Sua tarefa é ainda mais facilitada pelo modo como as fraquezas morais do mundo foram aceitas na igreja contemporânea.[46]

Uma consciência assim educada e preservada, é nossa aliada na prevenção do mal e de suas tentações (Sl 119.11). A Palavra nos ensina que andar em justiça é uma forma preventiva de nos guardar da corrupção do pecado: “A justiça (hq’d’c..) (tsedaqah) guarda (rc;n”) (natsar)  (observar,[47] preservar,[48] seguir[49]) ao que anda em integridade  (~To) (tom),[50] mas a malícia subverte ao pecador” (Pv 13.6).[51]

Quando seguimos a justiça de Deus, estamos amparados nos seus ensinamentos que são perfeitos; não há contradição neles. A Palavra de Deus, dentro dos limites próprios do revelado, é uma expressão perfeita do que Deus é e do que Ele deseja de nós. Desse modo, podemos estar seguros em seus caminhos.

Certamente, uma das formas de nos preservar no caminho da justiça é educar-nos a contentar-nos com o que temos, sem nos deixar fascinar pelo caminho tortuoso, aparentemente fácil e promissor da injustiça: “Melhor é o pouco, havendo justiça (hq’d’c..) (tsedaqah), do que grandes rendimentos com injustiça” (Pv 16.8).

Por sua vez, quando a injustiça é institucionalizada, ela, aparentemente deixa de ser injustiça. Quando os interesses estão acima de princípios, podemos justificar todas as coisas ao nosso alvitre. Quando os fins justificam os meios, significa que os fins foram sacralizados e, por isso mesmo, os meios já estão santificados ou, digamos, perfeitamente racionalizados e legitimados.

Por isso, a Bíblia nos ensina enfaticamente que a justiça que devemos seguir é a de Deus, conforme é-nos ensinada por Jesus Cristo. Devemos saturar o nosso coração com a Palavra para que possamos ter uma consciência teocêntrica; um pensar bíblico.

Há cerca de 30 anos  (1993) o  premiado colunista  norte-americano Charles Krauthammer (1950-2018), comentou de forma tristemente perspicaz, o fato de Katherine Power – que em companhia de 3 outros criminosos, havia assaltado um banco em 1970, culminando com a morte de um policial  (Schroeder) alvejado com um tiro pelas costas, deixando órfãos seus 9 filhos pequenos –, depois de 23 anos foragida, vivendo com outro nome, se apresentou à polícia de Boston.[52] Ela declarou à imprensa que suas atitudes no passado foram “ingênuas e impensadas”. Disse também que sabia que deveria respoder a essas acusações do passado para poder viver com total autencidade no presente. Comenta Krauthammer: “Power veio do frio em busca de ‘autenticidade total’. Não por remorso ou resignação. Não buscando perdão ou arrependimeno”. Seu marido, de forma mais específica, disse que  “Ela não voltou por causa da culpa. Ele queria sua vida de volta. Ela quer ser íntegra”.[53]  Observem que os conceitos de pecado, arrependimento e culpa estão totalmente ausentes. Ela participou de um assalto, da morte de um policial com todos os outros elementos decorrentes e, agora, passados 23 anos, quer voltar à sua autenticidade, sem culpa nem arrependimento. Reassumindo o seu nome e sofrendo a penalidade, ela quer ser ela mesma e ponto. Deseja afirmar a sua autenticidade.  A grande questão é esta. Temos uma terapia sem pecado e sem sentimento de culpa. Nós nos perdoamos e está tudo acabado. Seguida essa linha de raciocínio ela estará curada; recuperou o seu senso do “Eu”.

É natural ao ser humano, quando não consegue eliminar os conceitos de pecado, culpa e arrependimento, tentar retardar o máximo possível a sua aceitação. Quando seus malabarismos terapêuticos se deparam com uma rua sem saída, apelam para, quem sabe, um último recurso: mudança de nomes.

Buscamos agora, não mais o arrependimento de nosso pecado, mas a restauração do nosso eu, a integridade de nosso “self”. Afinal, sentimento de culpa e pecado são expressões criadas pela religião e mais especificamente pelo Cristianismo para nos dominar (Nietzsche). Por isso, precisa ser eliminado.

Isso me faz lembrar a anedota (pelo menos espero que seja) de uma casa de pastel no Rio de Janeiro, propriedade de uma senhora asiática, que vendia pastel de “flango” bastante apreciado. Contudo, ninguém sabia bem a receita. Até que um dia, no horário de pico, a casa cheia de clientes com paladar mais apurado que corriam para usufruírem daquela iguaria – talvez até tentadora a Daniel e seus amigos –, presenciaram aquela talentosa senhora espantando os pombos que ingenuamente para ali tinham afluído, balançando os braços  de forma enérgica dizendo em tom grave e repetitivo, “sai flango”, “sai flango”.

Onde não há padrões, leis e normas, não há espaço para pecado, arrependimento e sentimento de culpa. Também, é necessário que se diga, que não haverá espaço para confissão, graça, expiação, perdão e reconciliação.

Desse modo, mudemos o nome das coisas e assim procedendo, mudaremos a sua essência, pensam. Assim, que venham os “flangos”: “Vem flango”!

 

Pecado como transgressão

Retornando à confissão de Davi, lemos: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade ((a$ep) (pesha’) (“transgressão”,[54] “violação”) é perdoada, cujo pecado é coberto” (Sl 32.1. Da mesma forma Sl 32.5).

A palavra traduzida por “iniquidade” (Sl 32.1) significa revolta ou recusa a se submeter a uma legítima autoridade (boa ou má), ultrapassando o limite estabelecido, cometer uma fraude. (Ex 22.9; 2Rs 3.7; 8.20; 2Cr 21.8)

Pela ótica do transgressor – que rompe com o poder legítimo –, o que houve foi libertação; uma rebelião que elege um novo senhor que nada mais é do que o nosso ego com as suas inclinações, interesses e desejo de egorreferência. Agora, segundo pensa, assumiu o real controle de sua vida elegendo o seu eu como prioritário em detrimento de qualquer outra relação

  • de autoridade (Deus),
  • de amizade e lealdade (Urias),
  • senso de dever e honradez (Reino e família) ou
  • de respeito e integridade de caráter (em relação à Bate-Seba).

Desse modo, a palavra tem o sentido de rompimento de relacionamento, envolvendo a ideia de abandono de compromissos assumidos; uma quebra intencional de uma norma ou padrão; uma rebelião. Quando se refere a Deus, é uma “afronta ostensiva dos homens à pessoa de Deus”, pontua Luc.[55]

Iniquidade, no Salmo 32, portanto, significa uma quebra proposital de um pacto e, consequentemente, de uma confiança depositada. É uma subversão intencional e consciente da Lei e do governo de Deus.[56] É como alguém que ergue o punho contra o padrão estabelecido por Deus.[57] É uma provocação aberta, explícita e descarada feita pelo homem a Deus.

A palavra tem um amplo emprego, sendo proveniente da esfera política (2Rs 1.1; 3.5,7; 8.20,22; 2Cr 21.10)[58] englobando o campo jurídico e familiar.

Davi quando poupou a vida de Saul pela primeira vez, mostrou-lhe a orla do seu manto que cortara, dizendo:

Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão. No fato de haver eu cortado a orla do teu manto sem te matar, reconhece e vê que não há em mim nem mal nem rebeldia ((a$ep) (pesha’), e não pequei contra ti, ainda que andas à caça da minha vida para ma tirares (1Sm 24.11).

 

Rebelião contra Deus

No entanto, a palavra se concentra de forma mais intensa na rebelião contra Deus.

Por meio de Isaías, Deus se refere deste modo ao povo de Israel: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados ((a$ep) (pesha’) contra mim” (Is 1.2).

“O sentido predominante de pesha’ é o de rebelião contra a Lei e a Aliança de Deus, e, por conseguinte, o termo é um substantivo coletivo que denota a totalidade de iniquidades e um relacionamento fraturado”, escreve Livingston (1916-2012).[59]

Esta atitude gera um rompimento entre Deus e o homem. Sem que muitas vezes nos demos conta, a transgressão se constitui em um peso sobre nós. Este é o juízo condenatório de Deus: “A terra cambaleará como um bêbado e balanceará como rede de dormir; a sua transgressão ((a$ep) (pesha’) pesa sobre ela, ela cairá e jamais se levantará” (Is 24.20).

Esta é a confissão do povo de Israel: “Porque as nossas transgressões ((a$ep) (pesha’) se multiplicam perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões ((a$ep) (pesha’) estão conosco, e conhecemos as nossas iniquidades” (Is 59.12).

Davi, carrega consigo a consciência de ter o seu pecado continuamente presente diante de seus olhos. O sentimento de culpa o corrói: “Pois eu conheço as minhas transgressões ((a$ep) (pesha’), e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3).

A transgressão não é simplesmente um ato isolado. O seu desejo está arraigado no coração. O pecado não está simplesmente aonde vamos – ainda que haja lugares que estimulem mais a combustão pecaminosa –, mas, levamos conosco, para aonde nos dirigimos e nos encontramos.

O próprio Davi reconhece que o desejo de transgredir está no coração do ímpio. Ele alimenta isso no seu coração, no centro vital de sua existência.

A transgressão reflete a falta do temor de Deus: “Há no coração (ble) (leb) do ímpio a voz da transgressão ((a$ep) (pesha’); não há temor de Deus diante de seus olhos” (Sl 36.1).

 

Soberba e transgressão

A soberba é uma fonte de transgressão. Notemos que Davi  inicialmente sentiu-se seguro, pensando ter o controle total da situação. Ele julga ter um plano perfeito e não precisa prestar contas a ninguém. Conforme as circunstâncias foram se apresentando, ele tem o plano “b”, o “c” e quantos outros fossem necessários. Ele de fato se rebelou contra Deus; a soberba o dominou.

Já que Urias não cedeu, o melhor era eliminá-lo. Melhor ainda, cogitou: Fazê-lo pelas mãos dos inimigos em um combate; nada mais natural. Afinal, quantos morrem em uma guerra? Talvez até pudesse condecorá-lo após a morte por ato de bravura, especulo. Davi racionalizou apoiado pelo seu desejo concupiscente.

No salmo 19, Davi suplica a Deus: “Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão ((a$ep) (pesha’) (Sl 19.13).

Há sempre o perigo de nos sentirmos seguros demais, quando nos julgamos autossuficientes; quando supomos poder decidir sozinhos o que vamos fazer sem a orientação de Deus. Obviamente aqui as armadilhas e quedas múltiplas já estão armadas.

A nossa queda se avizinha quando nos julgamos seguros para fazer o que queremos, dando rédeas soltas aos nossos desejos independentemente de Deus e de sua Palavra.

No salmo 51 Davi confessa que sabe, tem consciência de suas transgressões:

Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade (desex) (hesed); e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões ((a$ep) (pesha’). (…) Pois eu conheço as minhas transgressões ((a$ep) (pesha’), e o meu pecado está sempre diante de mim (Sl 51.1,3).

O caminho da transgressão é uma loucura que nos faz sofrer: “Os estultos, por causa do seu caminho de transgressão ((a$ep) (pesha’) e por causa das suas iniquidades, serão afligidos” (Sl 107.17).

Contudo, quando estamos dominados, enlaçados por um espírito transgressor, não percebemos; antes, vemos sempre além, um novo passo para a consecução de nossos planos. A transgressão nos enlaça. No exercício desta suposta liberdade prestamos um serviço escravo ao pecado que domina de forma cada vez mais intensa a nossa mente e se manifestará em nossos lábios, nos enlaçando:

Pela transgressão ((a$ep) (pesha’) dos lábios o mau se enlaça, mas o justo sairá da angústia. (Pv 12.13).

No muito falar não falta transgressão ((a$ep) (pesha’), mas o que modera os lábios é prudente. (Pv 10.19).

Na transgressão ((a$ep) (pesha’) do homem mau, há laço, mas o justo canta e se regozija. (Pv 29.6).

Quando a injustiça prevalece por meio dos atos iníquos dos transgressores, parecendo não haver justiça, precisamos ter paciência e, nos firmar na verdade para que não corramos o risco de sermos seduzidos. O fim deles é evidente. Deus tem o absoluto controle sobre todas as coisas: “Quando os perversos se multiplicam, multiplicam-se as transgressões ((a$ep) (pesha’), mas os justos verão a ruína deles” (Pv 29.16).

Pode parecer demorado, contudo, o caminho da transgressão é autodestruidor: “Quanto aos transgressores ((a$ep) (pesha’), serão, à uma, destruídos; a descendência dos ímpios será exterminada” (Sl 37.38). “Os estultos, por causa do seu caminho de transgressão ((a$ep) (pesha’) e por causa das suas iniquidades, serão afligidos” (Sl 107.17).

Por isso, o salmista roga a Deus que o livre de suas transgressões: “Livra-me de todas as minhas iniquidades ((a$ep) (pesha’); não me faças o opróbrio do insensato” (Sl 39.8).“Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões ((a$ep) (pesha’) (Sl 51.1).

O antídoto contra a transgressão é perseverar no reto caminho do Senhor. Por intermédio de Oséias Deus convoca o povo de Israel ao arrependimento, antes que seja tarde demais. Conclui então: “Quem é sábio, que entenda estas coisas; quem é prudente, que as saiba, porque os caminhos do SENHOR são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores ([v;P’) (pasha’) neles cairão” (Os 14.9).

O transgressor não sabe andar por caminhos retos; ele gosta da aventura da transgressão, da sinuosidade. O que é reto é uma tentação ao deslize. Como ele carrega dentro de si o desejo pela transgressão, nada que seja justo, reto e puro está imune ao seu desejo de transigir, se rebelar, torcer, contaminar.

 Davi suplica: “Livra-me de todas as minhas iniquidades ((a$ep) (pesha’); não me faças o opróbrio do insensato” (Sl 39.8).

Na velhice Davi clama pela misericórdia de Deus: “Não te lembres dos meus pecados (hf)f+Ah) (hatã’â) da mocidade, nem das minhas transgressões ((a$ep) (pesha’). Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia (desex) (hesed), por causa da tua bondade, ó SENHOR” (Sl 25.7).

Todas as vezes que conscientemente quebramos a Lei de Deus – desobedecemos a sua Palavra, desconsideramos o seu mandamento −, cometemos transgressão. A rebelião é contra o Senhor que nos instrui por meio de sua Palavra. Nestes casos, o sentimento de culpa é uma manifestação amorosa de Deus para com os seus filhos quando pecam.

Precisamos reconsiderar o nosso caminho, confessar o nosso pecado e suplicar pelo perdão de Deus. Sentimento de culpa, nesses casos, é o sinal da graça. O perdão é a graça plenificada.

Davi tinha plena compreensão de sua transgressão. Por isso mesmo, ele não se vale de expressões amenas para atenuar ou mascarar os seus pecados. Ele sabe que livre e conscientemente se revoltou contra Deus e contra a sua Palavra.

Resumindo: O pecado sempre envolve a transgressão de algum mandamento divino. É por isso que todo pecado é primeiramente contra Deus ainda que de forma secundária, envolva o outro. É impossível pecar contra nós mesmos, nosso próximo, a natureza e à sociedade em geral, sem pecarmos contra Deus. A nossa ofensa sempre envolve o mandamento de Deus.

O pecado consiste na falta de conformidade com a lei de Deus. Por isso a culpa do transgressor.[60] Independentemente das consequências diretas do pecado, ele sempre traz culpa, ainda que o homem dominado por suas paixões tente eliminar esse sintoma que lhe parece misterioso, mas, sabemos, que é resultante do fato de que Deus criou o homem para se relacionar com Ele em santidade.

Os mandamentos de Deus abrangem toda a realidade e relações. Justamente porque Ele é o Senhor de tudo e, cuida pessoalmente de sua criação, o seu propósito é que a sua imagem refletida no homem se concretize em todas as suas obras.

Pecado é uma falsidade ideológica de nossa natureza essencial, já que fomos criados para glorificar a Deus em nossa alegre e prazerosa obediência. Como imagem, deveríamos refletir em nossa vida e comportamento aspectos da gloriosa beleza de Deus. No entanto, o pecado só trouxe deformidade.

 

O método de Deus

Deus em sua Palavra utiliza-se de um triplo método para tratar conosco:

1) Realça o nosso pecado a partir da sua santidade, demonstrando que todo pecado é uma afronta a Ele.

2) Demonstra as consequências inerentes ao pecado como resultado do governo de um Deus justo que não é indiferente ao mal.

3) Nos convida ao arrependimento de nossos pecados, confissão e reestruturação do que quebramos, demonstrando o seu prazer em nos perdoar pela graça nos reeducando espiritualmente.

A misericórdia de Deus propicia o perdão. “Quando o pecador se apresenta perante o trono de misericórdia, com sincera confissão, ele encontra a reconciliação divina à sua espera”, exulta Calvino.[61]

A santidade proposta por Deus para seus filhos consiste na harmonia de sua vida e ação com a beleza da santidade eterna de Deus expressa na sua revelação e, perfeitamente, em Jesus Cristo. No entanto, o pecado nos descaracterizou.

 

Crentes mimados

O cristão de hoje, em especial, tende a gostar de ser mimado  pelos seus líderes. No culto ficam numa posição confortável e climatizada, analisando com certa indiferença o que é dito, percorrendo os olhos sobre os demais frequentadores buscando algo curioso, manuseando o celular, fazendo carinho em algum familiar próximo, chamando a atenção do seu familiar para alguma curiosa mensagem que chegou via zap, talvez comunicando o nascimento do filhotinho lindo do “Golden retriever” (“oh meu Deus que lindinho!”), partilhando o celular com alguém que insensivelmente quer participar do culto mas, já que não está conseguindo entender nada que não tenha muitas figuras e luzes, aproveita para perguntar quantos filhos nasceram porque tem interesse, etc.

O culto parece um exercício de relaxamento – onde não preciso pensar –, desfile de moda e amenidades. Desse modo, passamos o tempo brincando com as coisas de Deus sem nenhum tipo de escrúpulo, constrangimento ou sentimento de culpa. Afinal, a graça de Jesus é maravilhosa!, complacentemente diz para si mesmo.

Enquanto isso, nos levantamos para alguns cânticos/hinos, aproveitamos para olhar para trás ver se determinado irmão chegou… Cantamos com certa sensibilidade alguns cânticos, nos sentamos, dando uma última olhada para trás e continuamos em nossa jornada.

Somos hábeis em buscar justificativas para os nossos erros, colocando todo o ônus do mal uso de nossa liberdade, sobre os ombros dos outros, ficando assim, ilusoriamente leves. Se for caso, buscamos ainda o discurso genérico da vitimização: Deus sabe que somos pecadores… Deus é misericordioso, etc.

Todas essas atitudes são danosas, porque nos afastam ainda mais do real confronto com a Palavra, a única que pode apresentar uma ressonância de nossa alma e de sua necessidade.

Quando o diagnóstico for a própria dor, talvez percebamos quanto tempo perdemos em futilidades sem atentarmos realmente para a instrução de Deus.

Horton pontua:

A necessidade de misericórdia só é sentida depois que a realidade da culpa impressiona. (…) O grito pelo socorro da graça nunca cativará o ouvido enquanto não houver novamente um sentimento de culpa e desespero em nossas igrejas.[62]

Por isso, entendemos que somente pela graça, por meio da Palavra, podemos ter uma clara consciência de nossa pecaminosidade ativa e concreta e de sua afronta a Deus.[63] Só conseguimos mensurar a graça, ainda que limitadamente, quando somos confrontados com o nosso pecado e a possibilidade concreta de perdão e restauração.

Ter consciência do pecado significa reconhecer o quão urgentemente precisamos de perdão. O Evangelho só se torna subjetivamente necessário – enquanto na realidade ele é urgentemente necessário – quando as pessoas percebem, por Deus, a sua necessidade. Enquanto isso não acontecer, ele soará sempre como algo descartável, ultrapassado ou loucura.

Permanecemos, assim, mortos espiritualmente, tendo a liberdade de um morto em decomposição.

Por isso, entendemos que somente pela graça, por meio da Palavra, podemos ter uma clara consciência de nossa pecaminosidade ativa e concreta e de sua afronta a Deus.[64]

Ter consciência do pecado significa reconhecer o quão urgentemente precisamos de perdão. O Evangelho só se torna subjetivamente necessário – enquanto na realidade ele é urgentemente necessário – quando as pessoas percebem, por Deus, a sua necessidade. Enquanto isso não acontecer, ele soará sempre como algo descartável, ultrapassado ou loucura.

Reafirmamos que a questão primeira não é a quantidade ou intensidade de nossos pecados, mas, o fato de que pecamos – e, diferentemente da compreensão de determinados pensadores humanistas, inclusive cristãos[65] –; a gravidade do pecado está no ponto de que todo pecado é primeiramente contra Deus, o eternamente santo,[66] que não tolera o mal (Hc 2.13).

Uma compreensão atenuada e adocicada da gravidade e horror do pecado, esvazia o significado da graça manifesta na cruz de Cristo. O que intensifica ainda mais a complexidade de nossa rebelião é o mal uso que fazemos de seus esplêndidos dons que nos foram conferidos[67] e, o fato de rejeitarmos o seu infinito e santo amor plenificado em Jesus Cristo.[68]

Outro elemento agravante em nosso diagnóstico, é que o pecado não nos deixa perceber as suas consequências: estamos totalmente alienados de Deus. O pecado faz conosco o que determinados remédios fazem como efeito: mascaram os sintomas, tornando a possível enfermidade imperceptível. Lloyd-Jones está correto ao resumir: “Não podemos ser cristãos sem convicção do pecado. Ser cristão significa que compreendemos que somos culpados diante de Deus e que estamos sob a ira de Deus”.[69]

 

Rebelião contra Deus                                        

Portanto, o grande problema do homem é a sua permanente rebelião contra Deus.[70] Pecado consiste basicamente numa atitude errada para com Deus. “Pecado não é tanto uma expressão do que fazemos quanto uma expressão do nosso relacionamento com Deus”, interpreta Lloyd-Jones.[71]

A Palavra de Deus ao povo de Israel permanece como verdade para todos aqueles que ainda se encontram distantes dele: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim” (Is 1.2).

Todos, sem exceção, estão nesta situação, até que conheçam, pela fé, salvadoramente a Cristo.

 

Nem vitimização, nem arrogância

O caminho proposto por Deus é o arrependimento e a confissão. Deus não quer saber de nossas maquiagens e truques espirituais. Deus não é simplesmente de festas e aparências: decotes, brilhos, emoções perpetuadas em closes, e sorrisos fáceis.

Antes, trata com dignidade a nossa indignidade. Trata com santidade e misericórdia o nosso pecado. Deus vai ao cerne da questão, já quase inacessível a nós pelo monte de entulhos que, assimilados pela cultura e manipulados pelo nosso pecado conivente, a sobrepõem.

O fato, portanto, é este: Deus perdoa a todos aqueles que, arrependidos, tristes com o seu pecado, sinceramente o procuram de mãos vazias, sem arrogância ou vitimizações. Deus mesmo declara: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões ((a$ep) (pesha’) por amor de mim” (Is 43.25). “Desfaço as tuas transgressões ((a$ep) (pesha’) como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te para mim, porque eu te remi” (Is 44.22).

 

Esquecimento dos atos de Deus

No entanto, mesmo sendo evidente a misericórdia de Deus em sua relação com o seu povo, a desconsideração leviana da bondade de Deus caracterizou a vida de Israel em diversas e contínuas situações.

O esquecimento dos atos de Deus contribui para o nosso afastamento dele e de sua Palavra. Esse é o diagnóstico que faz o salmista ao considerar a rebeldia de Israel: “Nossos pais, no Egito, não atentaram (lk;f)(sakal) às tuas maravilhas (al’P’) (pala); não se lembraram (rk;z”) (zakar) da multidão das tuas misericórdias (ds,x,) (hesed) e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho” (Sl 106.7).

O povo se manteve indiferente a Deus. Não considerou a Palavra de Deus, seus atos e a aliança feita.

Creio que essa experiência não é estranha a muitos de nós. Em alguns momentos, sob o impacto de um grande livramento, a concretização de um desejo intensamente acalentado, o restabelecimento de uma enfermidade, a conquista de um emprego depois de meses sem sucesso…. Quem sabe, louvamos a Deus com sinceridade e integridade. Assumimos compromissos santos diante de Deus, e confessamos as nossas falhas… Mas, em seguida, passados os primeiros momentos de júbilo, gradativamente podemos incorrer no esquecimento de Deus, dos seus atos e de nossas promessas. Foi o que aconteceu com o povo de Israel:

11 As águas cobriram os seus opressores; nem um deles escapou.  12 Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor.  13 Cedo, porém, se esqueceram (xk;v’) (shakach)  das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios (…)   21 Esqueceram-se (xk;v’) (shakach)  de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas (lAdG”) (gadol). (Sl 106.11-13, 21).

As maravilhas de Deus envolvem a sua Palavra. Por isso, devemos considerá-la com sinceridade e louvor.

A Lei bendita e a nossa história

A Lei de Deus não é apenas uma proposição revelada e teológica, antes, é também contada na história.

A história nas Escrituras é uma demonstração prática dos princípios estabelecidos por Deus. A Lei de Deus é contada por meio da história do povo. A obediência traz a bem-aventurança da comunhão com Deus. A desobediência, as consequências da quebra da aliança feita por Deus com o seu povo.

De certa forma, a história de nossa vida não deixa de ser história de nosso coração – com suas escolhas tão contrastantes e contraditórias ao longo dos anos –, e dos mandamentos de Deus: uma demonstração existencial dos efeitos de nossa obediência e desobediência a Deus, sempre, é claro, envolvida pela misericórdia de Deus que nos capacita a obedecer, nos perdoa em nosso arrependimento e nos restaura à sua comunhão.

Na disciplina de Deus, além de revelar a sua justiça, Ele tem para seus filhos, este propósito primordial: conduzir-nos ao arrependimento.

Calvino escreveu sobre isso:

 

Porque a Deus não Lhe basta ferir-nos com sua mão, a menos que também nos toque interiormente com Seu Espírito Santo. (…) Até que Deus nos toque no mais profundo de nosso interior, é certo que não faremos nada senão dar coices contra Ele, cuspindo mais e mais veneno; e toda vez que nos punir rangeremos os dentes, e nada mais faremos senão atacá-Lo. (…) Então vocês veem como Deus mostra Sua justiça cada vez que pune os homens, ainda que tal punição não seja uma solução para sua emenda.[72]

Temos uma boa síntese do significado bíblico de arrependimento no Catecismo Menor de Westminster, em resposta à pergunta 87: “O que é arrependimento para a vida?”:

Arrependimento para a vida é uma graça salvadora, pela qual o pecador, tendo uma verdadeira consciência de seu pecado, e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e de aversão pelos seus pecados, os abandona e volta para Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe obediência (At 11.18; At 2.37; Jl 2.13; 2Co 7.11; Jr 31.18,19; At 26.18; Sl 119.59).

A boa nova exclusiva do Evangelho de Cristo, é que há salvação para todo aquele que se arrepender de seus pecados e confessar a Cristo como Senhor. Este é sentido da mensagem vivenciada e proclamada pela igreja, como comunidade de pecadores inteiramente perdoados pela graça.

 

Maringá, 20 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1] “O arrependimento é fruto da fé, que é, ela própria, fruto da regeneração. Contudo, na vida real, o arrependimento é inseparável da fé, sendo o aspecto negativo (a fé é o aspecto positivo) de voltar-se para Cristo como Senhor e Salvador. A ideia de que pode haver fé salvadora sem arrependimento, e que uma pessoa pode ser justificada por aceitar Jesus como Salvador, e ao mesmo rejeitá-lo como Senhor, é uma ilusão destrutiva” (J.I. Packer, Teologia Concisa, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 152-153). Vejam-se: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (II.5), p. 129ss.; A.A. Hoekema, Salvos pela graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 129.

[2] Ferguson argumenta de forma simples, porém, objetiva destacando o perigo de entendermos o “arrependimento” apenas como ato único (“emoção inicial”) na vida cristã (Veja-se: Sinclair Ferguson A Graça do Arrependimento. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2014, p. 46ss.).

[3]John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 130.

[4]Stuart Olyott, Jonas – O Missionário bem-sucedido que fracassou, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2012, p. 58.

[5] Apud Iain H. Murray, A Vida de Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 56.

[6] Aplica-se à roupa envelhecida (Dt 8.4; 29.5; Js 9.5; Sl 102.26), sandália gasta (Dt 29.5; Js 9.5,13).

[7]A palavra gemido se aplica também: a) ao rugido do leão feroz: “Cessa o bramido (hg”a’v.)(sheagah) do leão e a voz do leão feroz, e os dentes dos leõezinhos se quebram” (Jó 4.10). “O seu rugido (hg”a’v.)(sheagah) é como o do leão; rugem como filhos de leão, e, rosnando, arrebatam a presa, e a levam, e não há quem a livre” (Is 5.29); b) ao rugido dos leõezinhos: “Este, andando entre os leões, veio a ser um leãozinho, e aprendeu a apanhar a presa, e devorou homens. Aprendeu a fazer viúvas e a tornar desertas as cidades deles; ficaram estupefatos a terra e seus habitantes, ao ouvirem o seu rugido (hg”a’v.)(sheagah)(Ez 19.6-7). “Eis o uivo dos pastores, porque a sua glória é destruída! Eis o bramido (hg”a’v.) (sheagah) dos filhos de leões, porque foi destruída a soberba do Jordão!” (Zc 11.3); c) gemido humano, quando, por exemplo, Jó em desespero amaldiçoa o dia do seu nascimento: “Por que em vez do meu pão me vêm gemidos (hg”a’v.) (sheagah), e os meus lamentos se derramam como água?” (Jó 3.24); d) bramido do Messias: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido (hg”a’v.)(sheagah)?” (Sl 22.1).

[8](hf)f+Ah) (hatã’â). Pecado consiste no desvio daquilo que é agradável a Deus; errar o alvo, desviar-se da obediência devida a Deus. Esta é a principal palavra usada para descrever o sentido do pecado: errar o alvo ou o caminho. Um erro desqualificante. “A imagem é como saltar para alcançar uma barra e ser desqualificado ou fracassar em realizar isso” (Bruce K. Waltke, James M. Houston e Erika Moore, Os Salmos como adoração cristã: um comentário histórico, São Paulo: Shedd Publicações, 2015, p. 494).

[9] (}oWf()(‘ãwõn). O sentido da palavra é de perverter, distorcer, envergar algo que é reto.    A principal ideia está associada ao ato consciente, frequente e intencional de fazer o que é errado. Quando se aplica à lei significa “cometer uma perversão”, “infringir”. Distorcer o caminho certo. Ao que parece, a culpa é a principal consequência subjetiva deste pecado. (Veja-se: Carl Schultz; Bruce K. Waltke, ‘ãwâ: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1087). Davi (na sequência apresentada no Salmo 32) que primeiramente quebrou a aliança, desviando-se cada vez mais do propósito de Deus, agora ele avança em infringir a Lei, pervertendo-a.

[10] (כּסה) (kâsâh) tem o sentido de “envolver”, “encobrir”, “ocultar”, “submergir” (Sl 78.53); morar (Pv 10.6,11); reter (Pv 10.18). Davi, portanto, expôs a Deus o seu pecado, não mais o abrigou dentro de si.

[11]((a$ep) (pesha’). Significa, transgressão, violação. revolta ou recusa a se submeter a uma legítima autoridade. (Mais abaixo desenvolverei o sentido mais específico dessa palavra).

[12] O sentido básico é de “declarar”, “publicar”, “anunciar”, “manifestar, “expor”.

[13] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, p. 421. Embora, se sustentarmos que o Salmo 6 foi escrito durante este interregno, a questão ficaria mais simples, vendo os sinais do desagrado de Deus na vida do salmista durante esse aparente período de silêncio. (Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Homem no Teatro de Deus: Providência, Tempo, História e Circunstância, Eusébio, CE.: Peregrino, 2019, p. 367-370).

[14] Paul Tournier, Culpa e Graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino,  São Paulo: ABU., 1985, p. 75.

[15]Veja-se: Culpa: In: Carl F.H. Henry, org. Dicionário de Ética Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 152-153.

[16]“Culpa é aquilo em que uma pessoa incorre quando transgride uma lei” (R.C. Sproul, O que posso fazer com minha culpa? São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 6).

[17]“Fogem os perversos ([v’r’) (rasha) ( = ímpios), sem que ninguém os persiga; mas o justo é intrépido como o leão” (Pv 28.1/Lv 26.17,36; Sl 53.5). O caminho do ímpio ainda que por um momento pareça florescente, não prevalecerá; antes, perecerá (Sl 1.5-6). Ele se perde, sendo infrutífero (Sl 112.10; Pv 10.28; 11.7). Isto porque o juízo pertence a Deus (Dt 1.17). “Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado. Observa o homem íntegro, e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade”  (Sl 37.35-37). O cedro do Líbano é conhecido pela sua durabilidade e estatura (Ez 31.3; Am 2.9), podendo atingir 40 metros de altura.

[18]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 4.9), p. 157. “Tão tendenciosas são as sutilezas, nas quais os homens orgulhosos buscam glória para si próprios, que subvertem a genuína doutrina do Evangelho, a qual é simples e despretensiosa” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos,1998, (1Tm 6.20), p. 186).

[19] Veja-se:  J.I. Packer, A Redescoberta da santidade,  2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 157-158.

[20] Veja-se o pequeno e excelente livro de Sproul. R.C. Sproul, O que posso fazer com minha culpa?  São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 9-11.

[21] Veja-se: Paul Tournier, Culpa e Graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino,  São Paulo: ABU., 1985, p. 71ss.

[22] Veja-se alguns exemplos deste caso em R.C. Sproul, O que posso fazer com minha culpa?  São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 11ss.

[23]R.C. Sproul, O que posso fazer com minha culpa? São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 13-14.

[24] Sobre esses pontos, veja-se: Francis A. Schaeffer, Verdadeira espiritualidade, São Paulo: Editora Fiel, 1980, p. 144-156.

[25]Martin Buber, O caminho do homem segundo o ensinamento chassídico, São Paulo: É Realizações, 2011, p. 10.

[26]R.C. Sproul, Estudos bíblicos expositivos em Romanos,  São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 109.

[27] Termo jurídico que indica alguém evidentemente culpado, já não havendo possibilidade de defesa.

[28]John F. MacArthur, Jr.,  Sociedade Sem Pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 17.

[29]John F. MacArthur, O Aconselhamento e a pecaminosidade humana: In: John F. MacArthur, et. al., eds. Introdução ao aconselhamento bíblico: um guia básico dos princípios e prática do aconselhamento, São Paulo: Hagnos, 2004, p. 130.

[30] John F. MacArthur, Jr.,  Sociedade Sem Pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 25.

[31] “A verdadeira alegria da vida cristã também depende de um correto entendimento da doutrina”  (D. Martyn Lloyd-Jones, A Vida de Paz,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 26). “Uma das glórias da mensagem cristã é que ela oferece alegria e dá alegria real. O indivíduo tristonho, desanimado e de cara-amarrada não é bom representante do verdadeiro cristianismo” (David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2. ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004,  p. 62).

[32]Albert Mohler Jr., O Desaparecimento de Deus,  São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 32.

[33] Veja-se: F. Nietzsche, O Anticristo, 4. ed. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, © 1985, p. 99-101.

[34] John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami: Editora Vida, 1991, p. 88.

[35] John F. MacArthur, O aconselhamento e a pecaminosidade humana: In: John F. MacArthur, et. al., eds.  Introdução ao aconselhamento bíblico: um guia básico dos princípios e prática do aconselhamento, São Paulo: Hagnos, 2004, p. 138. Do mesmo modo, escreveu Stott: “Se os seres humanos pecaram (o que aconteceu), e se são responsáveis por seus pecados (o que são), então são culpados perante Deus. A culpa é dedução lógica das premissas do pecado e responsabilidade. Erramos por nossa própria falta, e, portanto, devemos arcar com a justa penalidade de nosso erro” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami: Editora Vida, 1991, p. 86).

[36]“Uma definição não arbitrária deve afirmar o conjunto de características singulares compartilhado por todas as coisas do tipo que está sendo definido” (Roy A. Clouser, O mito da neutralidade religiosa: Um ensaio sobre a crença religiosa e seu papel no pensamento teórico, Brasília, DF.: Editora Monergismo, 2020. Edição do Kindle. (Posição 287 de 11450).

[37]Baruch Espinosa, Ética, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 17), 1973, I.8. Escólio 2, p. 91.

[38] Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 16.

[39]  “Ele é a criatura que, inicialmente, foi criada à imagem e semelhança de Deus, e essa origem divina e essa marca divina nenhum erro pode destruir. Contudo, ele perdeu, por causa do pecado, os gloriosos atributos de conhecimento, justiça e santidade que estavam contidos na imagem de Deus. Todavia, esses atributos ainda estão presentes em ‘pequenas reservas’ remanescentes da sua criação; essas reservas são suficientes não somente para torná-lo culpado, mas também para dar testemunho de sua primeira grandeza e lembrá-lo continuamente de seu chamado divino e de seu destino celestial” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 17-18). “É verdade que ela não foi totalmente extinta; mas, infelizmente, quão ínfima é a porção dela que ainda permanece em meio à miserável subversão e ruínas da queda” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 8.5), p. 169).

[40] Veja-se: Jay E. Adams, Teologia do aconselhamento cristão, Eusébio, CE.: Editora Peregrino, 2016, p. 202-203.

[41]A figura do painel que emprego há algumas décadas, foi inspirada na aplicação feita por Adams (1929-2020) que li ainda no meu tempo de estudante. Veja-se: Jay E. Adams, Conselheiro Capaz,  São Paulo: Fiel, 1977, p. 101-102.

[42]Albert Mohler Jr., O Credo dos Apóstolos: Descobrindo o Cristianismo autêntico em uma era de falsificações, Rio de Janeiro:  Pro Nobis Editora, 2021, p. 200-201.

[43]“Estejamos seguros de que quando Deus nos faz sentir Sua mão, de modo a humilhar-nos sob ela, que Deus nos está fazendo um favor especial, e que se trata de um privilégio que Ele não concede a ninguém, senão a seus próprios filhos” (Juan Calvino, Bienaventurado el Hombre a Quem Dios Corrige: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 3), p. 49).

[44]“Pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1Tm 4.2). “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. 4Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.  5 Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações” (1Co 4.3-5).

[45]Timothy Keller, Ego transformado, São Paulo: Vida Nova,  Edição do Kindle, p. 18.

[46]J.I. Packer, A Redescoberta da santidade,  2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 120.

[47] Sl 119.145.

[48] Sl 31.23; 32.7; 61.7; 64.1.

[49] Sl 119.33.

[50] Integridade (1Rs 9.4; Sl 7.8; 26.1,11; 37.37); sinceridade (Gn 20.5,6; Sl 25.21); pacato (Gn 25.27); ajustar (Ex 26.24). A palavra (~To)(tom) é da mesma de raiz (~ymiT’) (tamiym), (~m;T’) (tamam): ser completo, estar terminado.

[51]“A consciência é de fato muitíssimo importante, mas ela tem de retornar constantemente à escola da Escritura a fim de receber a instrução  do Espírito Santo. É assim que os crentes se tornam e permanecem cônscios da vontade de Deus” (W. Hendriksen,  Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 12.2), p. 533).

[52] Para mais detalhes, veja-se: https://en.wikipedia.org/wiki/Katherine_Ann_Power  (Consulta feita em 18.03.2023).

[53] http://content.time.com/time/subscriber/article/0,33009,979318,00.html  (Quem me chamou a atenção para este fato foi John MacArthur Jr. (Sociedade Sem Pecado, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 16-17).

[54] Sl 5.10; 19.14; 25.7; 36.2.

[55]Alex Luc, Ps‘ In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 703.

[56]Veja-se: Jay E. Adams, Teologia do Aconselhamento Cristão, Eusébio, CE.: Editora Peregrino, 2016, p. 206-207.

[57]Cf. Bruce K. Waltke; James M. Houston; Erika Moore, Os Salmos como adoração cristã: um comentário histórico, São Paulo: Shedd Publicações, 2015, p. 493.

[58]“Depois da morte de Acabe, revoltou-se ((a$ep) (pesha’) Moabe contra Israel” (2Rs 1.1).

[59] G. Herbert Livingston, Pesha’: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1247.

[60] No Catecismo Maior de Westminster, Perguntas 24 e 25, lemos:.

  1. Que é pecado?

Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por Ele dada como regra, à criatura racional.

Rom. 3:23; 1 João 3:4; Gal. 3:10-12.

  1. Em que consiste o pecado desse estado em que o homem caiu?

O pecado desse estado em que o homem caiu consiste na culpa do primeiro pecado de Adão, na falta de retidão na qual este foi criado e na corrupção da sua natureza pela qual se tornou inteiramente indisposto, incapaz e oposto a todo o bem espiritual e inclinado a todo o mal, e isso continuamente: o que geralmente se chama pecado original, do qual precedem todas as transgressões atuais.

Rom. 5:12, 19 e 5:6, e 3:10-12; Ef. 2:3; Rom.8:7-8; Gen. 6:1; Tiago 1:14-15; Mat. 15:19.

[61]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 32.5), p. 48.

[62] Michael S. Horton, Os Sola’s de Reforma: In: J.M. Boice;  B. Sasse, Reforma Hoje,  São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 123.

[63] “É mister graça e iluminação espiritual para crermos que nossos pecados são um problema sério aos olhos de Deus, conforme a Bíblia nos diz. Precisamos orar para que Deus nos torne humildes e dispostos a aprender, quando estudamos esse tema” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 63. Ver também p. 70s.).

[64] “É mister graça e iluminação espiritual para crermos que nossos pecados são um problema sério aos olhos de Deus, conforme a Bíblia nos diz. Precisamos orar para que Deus nos torne humildes e dispostos a aprender, quando estudamos esse tema” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 63. Ver também p. 70s).

[65] Dentro desta perspectiva limitante do sentido do pecado, incluímos, entre outros, Cecil Osborne (1904-1999), que seguindo o pensamento de Erich Fromm (1900-1980), escreveu: “Pecado é essencialmente um erro contra si mesmo ou contra outro ser humano” (Cecil Osborne, A Arte de Compreender-se a Si Mesmo, Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 139). Fromm (1900-1980) escrevera: “Pecado não se dirige primariamente contra Deus, mas contra nós mesmos” (Erich Fromm, Psicanálise e religião, 2. ed. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, Ltda., 1962, p. 105). Veja-se também: E. Fromm, Análise do Homem, São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.], 218p. De modo semelhante, esse conceito tem sido amplamente difundido por um discípulo de Norman Vincent Peale (1898-1993), o Dr. Robert Schuller (1926-2015), que enfatiza: “o pecado é uma ofensa psicológica a si mesmo” (Vejam-se as pertinentes críticas a esta posição em: John MacArthur Jr., Sociedade sem Pecado, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 78ss.).

[66] “O pecado envolve uma certa responsabilidade, por um lado, responsabilidade esta surgida da santidade de Deus, e, por outro lado, da seriedade do pecado como oposição àquela santidade” (John Murray, Redenção: consumada e aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 29). “Jamais compreenderemos o que o pecado realmente é, enquanto não aprendermos a pensar nele em termos de nosso relacionamento com Deus” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 64).

[67]Veja-se: Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 101-102.

[68] “O incrédulo despreza o amor de Deus. Se este amor fosse pequeno, seria um pecado pequeno ignorá-lo. Se é grande, é grande pecado rejeitá-lo. Mas o fato é que este amor é infinito. Isso faz da rejeição deste amor um pecado de proporções infinitas” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 19). “Como o amor de Deus é infinito, desprezar esse amor é pecado de proporções infinitas No entanto, é o que fazem aqueles que, por sua descrença, rejeitam o Filho de Deus, dom do Seu amor. (…) Rejeitar este amor é incorrer no banimento eterno da presença de Deus. Responder com fé e amor é herdar a vida eterna. Nada pode ser mais urgente do que a escolha de uma destas atitudes” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 72).

[69]D.M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 227.

[70]“O pecado é antes um poder militante diametralmente oposto à vontade divina e seus propósitos” (Gustaf Aulén, A fé cristã, São Paulo: ASTE., 1965, p. 143).

[71]D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus, não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 25-26.

[72]Juan Calvino, Bienaventurado el Hombre a Quem Dios Corrige: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 3), p. 48.        Juan Calvino, Bienaventurado el Hombre a Quem Dios Corrige: In: Sermones Sobre Job, p. 49). (Vejam-se também: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17), p. 204; João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 79.1), p. 250.

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Comments

  • Marcelo Marcondes
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    Excelente artigo Rev Hermistem! Parabéns ao Seminário JMC pelo site e conteúdo. Deus os abencoe!

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