Por que não ter pregadoras?

Por Thomas Schreiner[1]

 

A pergunta específica que está em questão é: 1 Tm 2:12 deixa em aberto a possibilidade de que seja permitido às mulheres pregar na reunião semanal de uma igreja local como uma extensão dos presbíteros da igreja, ou autorizadas sob a sua autoridade governamental?

John Piper diz não (em Ask Pastor John episódio 533)

Andrew Wilson diz sim (em resposta a Piper)

Então, quem está certo? E Isso importa?

Piper argumenta que mulheres não deveriam pregar na igreja local mesmo debaixo da autoridade dos presbíteros, nem deveriam ensinar regularmente na Escola Dominical para um auditório misto. Eu irei argumentar aqui contra Wilson, de que Piper está correto e sua resposta é bem fundamentada.

Permita-me deixar claro que eu me alegro que Wilson acredite como as Escrituras deixam claro de que mulheres não devem servir como pastoras, e tenho frequentemente me beneficiado dos escritos de Wilson em outras áreas. Ele é um amigo e colega na causa maior. Ainda que nesta questão eu acredite que ele esteja equivocado, como demonstrarei abaixo.

 

Os três argumentos de Wilson.

Wilson oferece três argumentos para dar base à noção de que mulheres podem pregar debaixo da autoridade e permissão dos presbíteros. Aliás, isso não é uma visão nova ou uma terceira via incomum sendo disseminada. Uma visão como esta já estava por aí quando eu era um seminarista nas décadas de 1970 e 1980. Somos relembrados de que não há nada de novo debaixo do Sol.

Quais são os três argumentos de Wilson?

Primeiro. Ele argumenta que nem toda pregação é ensino. Existem outras formas de discurso no Novo Testamento além do ensino, como palavras de exortação, profecia, ou pregação evangelística. Wilson afirma que nada proíbe as mulheres de fazerem esse tipo de discurso.

Segundo. O ensino provavelmente tem como referência específica, focando na “preservação e transmissão do testemunho autêntico dos apóstolos acerca de Jesus, na era anterior à que o Novo Testamento foi escrito”.

Terceiro. Wilson cita-me para dizer que existiam dois tipos diferentes de ensino. Ele aponta para passagens como 1 Co 14:26 e Cl 3:16, onde todos na igreja são encorajados a ensinar e instruir uns aos outros, e que as mulheres deveriam serem inclusas nesta admoestação. Wilson distingue entre Ensino com “E” maiúsculo e ensino com “e” minúsculo.

A propósito em nosso contexto, nós solucionamos isso ao pedir a todos os que não são presbíteros que pregam em nossa igreja que submetam seus sermões a um presbítero, recebam seus comentários sobre eles, e apenas após isso, que o entreguem publicamente; desta forma o pregador está fazendo o ensino com “e” minúsculo e o presbítero com o “E” maiúsculo.

 

Duas atividades proibidas

Antes de considerar o que Wilson diz, é necessária uma palavra sobre 1 Tm 2:12. Paulo diz que ele não “permite que a mulher ensine ou exerça autoridade sobre o homem”. Andreas Köstenberg apresentou em sua cuidadosa análise desta frase que duas atividades distintas são proibidas: tanto ensinar como exercer autoridade.

Ainda este ano[2] a editora Crossway publicará a terceira edição do livro que Köstenberg e eu editamos, chamado “Women in the Church: An Interpretation and Application of 1 Timothy 2:9-15”, [3] a terceira edição da dissertação de Köstenberg mostra que seu trabalho resistiu à prova do tempo. Note que Paulo não apenas proíbe a mulher de assumir o cargo de presbítero ou de bispo. Ele também se refere ao aspecto funcional: a mulher não deve ensinar o homem. É um erro limitar o que Paulo diz aqui para o cargo e então permitir a função.

Piper com razão diz que se um presbítero permite que uma mulher pregue, ele permite aquilo que Deus proíbe.  Entretanto, Piper é cauteloso. Ele diz que existem certos contextos onde a mulher pode se dirigir a um auditório misto, mas elas nunca deveriam pregar, nem ensinar regularmente em uma classe de Escola Dominical de adultos onde há um auditório misto.

Wilson acerta quando diz que existem outras formas de discurso além do ensino, como profecias ou palavras de encorajamento, mas estes tipos de discurso não representam a instrução regular, formal e contínua da Palavra de Deus. Na profecia, pessoas entregam palavras espontâneas da parte de Deus para situações particulares (cf. 1 Co 14:29-32). Sim, existe ensino informal que ocorre quando os cristãos estão juntos, quando crentes compartilham ideias e pensamentos a partir da Palavra de Deus (Cl 3:16; 1 Co 14:26). Priscila desempenhou um papel na instrução privada de Apolo (Atos 18:26).

Mas aqui está o problema: isto é diferente de pregar para a congregação reunida ou uma mulher ensinar as Escrituras de maneira regular a um homem. Este é o ponto central para distinguir ensino com “E” maiúsculo e com “e” minúsculo. Em outras palavras, creio que a distinção de Wilson testemunha contra a sua posição.

 

Diferentes tipos de discurso

Vamos pensar novamente sobre os diferentes tipos de discurso no Novo Testamento de outro ângulo, e novamente, proponho que o exemplo de Wilson contradiz o seu argumento.

Pregação, eu argumentaria, sempre contém ensino. De fato, a pregação provavelmente combina tanto os dons de ensino como de exortação. Por isso, não é plausível ou convincente dizer que a pregação sempre ocorre sem o ensino. Se não há ensino, então, não é uma autêntica pregação bíblica, pois a pregação explica e desvenda a Palavra de Deus. Como ela pode ser realizada sem o ensino?

O que é fascinante é que o exemplo de Wilson dos não são presbíteros fazem quando pregam dá base ao (meu) argumento. Eles não entregam palavras espontâneas como uma exortação ou profecia, ao contrário disso a Igreja de Wilson exige que o sermão seja preparado antecipadamente para ser examinado e avaliado antes de ser entregue. Isso não é ensino com “e” minúsculo! Isso é ensino com um grande “E” maiúsculo, e é bem diferente do tipo de instrução informal de que Paulo fala em Cl 3:16 e 1 Co 14:26.

 

O papel do ensino

Um dos argumentos mais curiosos de Wilson é sobre o próprio ensino. Se eu o entendi corretamente, ele sugere que ensino, se bem definido, é restrito ao período anterior à escrita do Novo testamento. Esta visão se engana quanto à natureza do ensino. O ensino explica a transmissão autorizada e pública da tradição acerca de Cristo e as Escrituras (1 Co 12:28-29; Ef 4:11; 1 Tm 2:7; 2 Tm 3:16; Tg 3:1)

Fica claro a partir do restante das Cartas Pastorais que o ensino em vista é a pública transmissão de material autoritativo (cf. 1 Tm 4:13, 16; 6:2; 2 Tm 4:2; Tt 2:7). Os presbíteros em particular são encarregados do ensino (1 Tm 5:17) para que possam refutar os falsos mestres que propagam a heresia (1 Tm 1:3; 10; 4:1; 6:3; 2 Tm 4:3; Tt 1:9, 11). É crucial que o ensino correto e a herança apostólica sejam repassados para a próxima geração (2 Tm 1:12, 14; 2:2) Tal ensino não está restrito ao período anterior à finalização do cânon. Ele é a alma e o coração do ministério da igreja até a segunda vinda de Cristo.

Eu sou grato pela oportunidade de dialogar com Wilson sobre este assunto. Ele articula sua visão com empenho, e tais discussões amigáveis são importantes, à medida que consideramos como devemos nos conduzir na igreja. Eu retorno aonde comecei: as palavras de John Piper neste assunto são sábias, maduras e representam o ensino das Escrituras.

Finalmente, eu não estou escrevendo isso porque o John Piper é um amigo que quero defender. Também é importante celebrar os muitos dons que Deus têm dado às mulheres e as incontáveis maneiras de ministrar na igreja. Precisamos nos lembrar com frequência que um papel diferente não diz nada sobre a significância e valor de alguém. Ainda assim a questão é importante, como igrejas nós devemos dirigir nossas práticas de acordo com a Palavra de Deus e não a nossa sabedoria. Quando nos desviamos do modelo bíblico sempre haverá consequências. Deus nos deu a sua instrução para nosso desenvolvimento e felicidade, e quando as seguimos, demonstramos que confiamos nele.

 

NOTAS:

[1] Professor no Southern Baptist Theological Seminary.

[2] O artigo foi publicado em 2015. Nota do revisor.

[3] “A mulher na Igreja: uma interpretação e aplicação de 1 Timóteo 2:9-15” tradução minha.

 

Extraído de https://www.desiringgod.org/articles/why-not-to-have-a-woman-preach

Traduzido por Günther Nagel

Revisado por Ewerton B. Tokashiki

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