O que significa não ensinar ou exercer autoridade sobre os homens? Um estudo de 1 Tm 2:11-15

Por Douglas Moo

 

O Novo Testamento deixa claro que as mulheres cristãs, assim como os homens, receberam dons espirituais (1 Co 12:7-11).  As mulheres, assim como os homens, devem usar esses dons para servir o corpo de Cristo (1 Pe 4:10); seus ministérios são indispensáveis para a vida e o crescimento da Igreja (1 Co 12.12-26). Existem muitos exemplos no Novo Testamento exatamente sobre os ministérios de dotadas mulheres cristãs (ver capítulo 5 desse volume[1]). Para ser honesto com o Novo Testamento, a igreja contemporânea precisa honrar esses variados ministérios femininos e encorajar as mulheres a buscá-los.

Mas o Novo Testamento coloca alguma restrição sobre os ministérios das mulheres? Desde os primeiros dias da igreja apostólica, a maioria dos cristãos ortodoxos disseram que sim. Um motivo importante pelo qual pensaram assim é o ensino de 1 Tm 2:8-15:

Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.

A Igreja estava certa por pensar que essa passagem impõe certas restrições permanentes sobre o ministério das mulheres? Certamente isso é o que a passagem, como traduzida acima, parece dizer. Mulheres não devem ensinar ou exercer autoridade sobre homens. Elas não podem fazer isso por causa da ordem em que Deus criou o homem e a mulher, e por causa da forma como o homem e a mulher caíram em pecado. No entanto, muitos em nossos dias pensam que essa passagem não exige que a Igreja contemporânea limite o ministério das mulheres. Outros pensam que ela limita apenas certas mulheres, em certos ministérios, nalgumas circunstâncias.

Muitas pessoas recusam aplicar essa passagem para a Igreja hoje porque questionam sua autoridade sobre nós. Por exemplo, estudiosos não-cristãos do Novo Testamento, geralmente, creem que todas as três epístolas pastorais (1 Tm, 2 Tm e Tt) foram escritas por uma pessoa desconhecida em nome de Paulo muito depois de estar morto. Enquanto esse autor desconhecido admirava Paulo e queria usar sua autoridade, ele também contradisse Paulo. Em casos assim, se alguém é capaz de falar na Igreja hoje com autoridade, é o “verdadeiro Paulo”, não o “pseudo-Paulo” das epístolas pastorais. E o “verdadeiro Paulo” ensinou que em Cristo não existe nem homem nem mulher (Gl 3:28).

Entretanto, não estamos aqui preocupados com os que sustentam essa visão, ou outros como eles[2]. Pois, tal ponto de vista só pode ser refutado num nível básico de crítica e teologia. Queremos mostrar porque Paulo deve ser considerado o autor das epístolas pastorais; como o ensino dessas epístolas, apesar das diferenças de ênfase das outras cartas de Paulo, ainda assim, são compatíveis com os seus ensinos e, fundamentalmente, porque cristãos deveriam aceitar qualquer coisa que a Escritura afirma, bem como defender como atual a sua inquestionável autoridade para a Igreja.

Ainda existem muitos cristãos sinceros que concordam com tudo o que acabamos de dizer, mas ainda não pensam que 1 Tm 2:8-15 coloca qualquer restrição geral sobre o ministério de mulheres na igreja contemporânea. Eles estão certos? Será que a posição da igreja cristã nessa questão por vinte séculos foi o produto duma condição cultural da qual estamos finalmente capazes de nos libertar?

Não pensamos assim. Achamos que 1 Tm 2:8-15 impõe duas restrições sobre o ministério das mulheres: elas não devem ensinar doutrinas cristãs para homens e não devem exercer autoridade diretamente sobre homens na Igreja. Essas restrições são permanentes, autoritativas para a Igreja em todos os tempos, lugares e circunstâncias, enquanto homens e mulheres forem descendentes de Adão e Eva. Nesse texto, tentaremos justificar essas conclusões. Ao fazer isso, nos preocuparemos particularmente em mostrar porque os argumentos para interpretações alternativas não são convincentes.

 

O cenário

Paulo escreve essa primeira carta para o seu discípulo e cooperador Timóteo para lembrá-lo “como se deve proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo” (1 Tm 3:15). Paulo precisa enviar esse lembrete porque a igreja de Éfeso, onde Timóteo foi deixado para continuar o trabalho de ministro, foi assaltada por falso ensino (ver 1:3). Certas pessoas dentro da igreja deixaram o verdadeiro ensino do evangelho, se tornaram conflituosas e argumentativas, e estavam propagando doutrinas errôneas. Muitas interpretações de 1 Tm 2:11-15 usam muito da natureza desse falso ensino em Éfeso para explicar o que Paulo quer dizer nesses versos. Não tem nada de errado com esse princípio; uma boa exegese sempre leva em consideração o contexto mais amplo em que o texto aparece. No entanto, notavelmente Paulo nos diz pouco sobre as questões específicas desse falso ensino, presumivelmente, porque ele sabe que Timóteo está bem familiarizado com o problema. Isso significa que não podemos ter certeza sobre a natureza precisa desse falso ensino e, em particular, sobre seu impacto sobre as mulheres na igreja – verifique as muitas reconstruções acadêmicas, muitas vezes contraditórias, desse falso ensino.[3] Isso significa que devemos ser cautelosos em permitir qualquer reconstrução específica – tentadora e incerta que ela possa ser – de ter um papel de peso em nossa exegese.

Dessa forma, seremos cautelosos ao tratar desse assunto. Em nossa exegese, usaremos apenas aqueles aspectos dos falsos ensinos que podem claramente ser inferidos das epístolas pastorais e passagens do Novo Testamento que lancem luz sobre o texto. Alguns dos aspectos especificamente relevantes para 1 Tm 2:11-25 são:

  1. Os falsos mestres disseminaram dissensões e estão preocupados com trivialidades (1 Tm 1:4-6; 6:4-5; cf. 2 Tm 2:14, 16-17, 23-24; Tt 1:10; 3:9-11);
  2. Os falsos mestres enfatizaram o ascetismo como uma forma de espiritualidade. Eles ensinaram abstinência de certos alimentos, de casamento e provavelmente de sexo em geral (1 Tm 4:1-3). Mantendo-se com essas tendências ascéticas, eles podem também ter enfatizado treinamento físico como uma forma de espiritualidade (4:8);
  3. Os falsos mestres persuadiram muitas mulheres a segui-los em suas doutrinas (1 Tm 5:15; 2 Tm 3:6-7);
  4. Os falsos mestres estavam encorajando mulheres a descartar o que podemos chamar de papéis femininos tradicionais em troca de uma posição mais igualitária para os papéis nos relacionamentos dos homens e mulheres. Isso não é considerado explicitamente como base da plataforma dos falsos mestres em nenhum lugar das epístolas pastorais. Mesmo assim, essa é uma inferência com alto grau de probabilidade pelos seguintes motivos:

Primeiro, um encorajamento para se abster do casamento, que sabemos fazia parte da proposta dos falsos mestres, é provável que incluísse uma degeneração mais geral dos papéis femininos tradicionais. Segundo, o conselho em 1 Tm 5:14 para jovens viúvas que “se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa” – i.e., que se ocupassem nos papéis femininos tradicionais – é feito porque algumas “se desviaram, seguindo a Satanás” (verso 15). Já que Paulo rotula o falso ensino como demoníaco (1 Tm 4:1), é provável que esse desvio de seguir Satanás signifique seguir os falsos mestres e que eles estavam ensinando o oposto do que Paulo ordena em 5:14.

Terceiro, o falso ensino que envolve a igreja em Éfeso parece muito similar com o problema geral que parece se esconder por atrás de 1 Coríntios. Nas duas situações, o problema surgiu dentro da igreja, envolveu a negação de uma ressureição futura e física, em favor de uma ressureição presente e “espiritual” (veja 2 Tm 2:18; 1 Co 15, e também 4:8), e levou a atitudes incorretas em relação ao casamento e o sexo (1 Co 7; 1 Tm 4:3), em relação à comida (1 Co 8:1-13; 1 Tm 4:3, apesar das questões específicas serem um pouco diferentes), e, mais importante, em relação a uma tendência por parte das mulheres de desprezar seus papéis apropriados em relação aos seus maridos (veja 1 Co 11:2-18; 14:33b-36; 1 Tm 2:9-15; 5:13-14; Tt 2:3-5).

Enquanto não podemos ter certeza sobre isso, existe uma boa razão para pensarmos que o problema nas duas situações estava enraizado numa falsa crença de que cristãos já estavam na plena forma do reino de Deus, e que eles foram adequadamente retirados espiritualmente “para fora” do mundo de forma que os aspectos dessa criação, como sexo, comida, e distinções entre masculino/feminino, não eram mais relevantes para eles.[4] É possível que essas crenças surgiram de uma ênfase desequilibrada do próprio ensino de Paulo de que os cristãos “ressuscitaram com Cristo (Ef 2:6; Cl 2:12; 3:1) e que em Cristo não existe nem “homem nem mulher” (Gl 3:28). O que Paulo estaria fazendo, tanto em 1 Co como nas epístolas pastorais, é buscando o correto equilíbrio ao reafirmar a importância da ordem criacional e o contínuo significado dessas distinções de papéis entre homem e mulher, que ele viu enraizada na criação. Se essa interpretação específica dos dados de 1 Co e das pastorais está correta ou não, a similaridade entre a bateria de problemas nas duas situações sugerem fortemente que em Éfeso, como em Corinto, uma tendência de remover as distinções dos papéis entre homens e mulheres, fazia parte do falso ensino.[5] Então, muito provavelmente o ensino de Paulo sobre os papéis dos homens e mulheres no ministério da Igreja em 1 Tm 2:11-15 é ocasionado pela necessidade de contrariar os falsos mestres nesse ponto.

 

Comportamento apropriado para mulheres cristãs – versos 5-11

Para entender 1 Tm 2:11-15, precisamos retornar um pouco e começar ao verso 8, onde Paulo solicita que “varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade”.[6] Paulo está provavelmente se referindo a vários “lugares” (en panti topo). Paulo se refere, provavelmente, a locais (igrejas nas casas) em que os cristãos em Éfeso se encontravam para a adoração. Com as palavras ‘da mesma forma’ (hosautos, verso 9), Paulo liga esse verso com suas admoestações relacionadas ao comportamento das mulheres cristãs. Isso sugere que Paulo quer que o leitor carregue do verso 8 tanto o verbo querer (boulomai) e o verbo orar; “da mesma forma, [eu quero] que as mulheres [orem], em traje decente…”. Mas é ainda mais provável que devemos manter somente o verbo querer, tornando o verso 9 uma exortação independente direcionada às mulheres: “da mesma forma, quero que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia…”. Essa leitura deve ser preferida tanto por causa da sintaxe – já que tanto orar (verso 8) como adornar (verso 9) são infinitivos, é natural pensar que os dois são dependentes do verbo querer – e contexto – ao final do verso 8 o foco de Paulo saiu para o comportamento apropriado (“sem ira e sem animosidade”), e ele não volta mais para o tópico da oração.

Esse alerta em relação à ira e conflitos durante a oração é ocasionado quase que certamente pelo impacto do falso ensino na igreja, pois um dos resultados mais óbvios desse falso ensino era a divisão e a discórdia (veja 1 Tm 6:4-5). A exortação dos versos 9-10, em que Paulo encoraja as mulheres cristãs a “se ataviarem com modéstia e bom senso,” e com “boas obras” ao invés de elaborados estilos de cabelos e roupas ostensivas, pode também ser diretamente contra o impacto do falso ensino em Éfeso. O vestuário dispendioso, no mundo antigo, poderia algumas vezes sinalizar a falta de moral de uma mulher e sua independência do marido. Essas conexões são claras numa passagem de um livro judeu intertestamentário[7], O Testamento dos Doze Patriarcas, Rubem 5: “Mulheres são más, meus filhos, e por causa da falta que elas têm de autoridade ou poder sobre o homem, elas esquematizam traiçoeiramente como podem atrai-lo através de suas aparências… Elas maquinam contra os homens em seus corações, para que se ataviando possam desviar as mentes dos homens… Portanto, meus filhos, fujam da promiscuidade sexual, e ordenem suas mulheres e suas filhas a não adornarem suas cabeças com e seus corpos de forma a desviar as sãs mentes dos homens.”[8] O problema endereçado em 1 Co 11:2-16 é da mesma natureza geral, em que as mulheres cristãs estavam adotando um estilo de roupa (ou de penteados) que implicitamente proclamavam a independência dos seus maridos. E, como vimos, a situação em Éfeso é muito similar à de Corinto alguns anos antes.

Tendo lembrado Timóteo que as mulheres cristãs devem se adornar com “boas obras”, Paulo agora as adverte sobre certas funções que não caem nessa categoria. No verso 11, ele as ordena a aprender “em silêncio, com toda a submissão.” Esse ensino Paulo dá às mulheres cristãs é um ponto importante, pois tal prática não era geralmente encorajada pelos judeus. Mas isso não significa que o desejo de Paulo que as mulheres aprendam é o ponto principal aqui. Pois não é o fato que elas devem aprender, mas o modo pelo qual elas devem aprender que preocupa Paulo: “em silêncio” e “com toda a submissão”. A situação pode ser comparada quando digo à minha esposa: “Por favor, faça as crianças assistirem TV quietas e sem brigas.” Eu ou minha esposa podemos, ou não, ter concedido permissão para que as crianças assistam televisão, mas nessa sentença, a ênfase cai não no comando de assistir, mas na maneira como isso deve ser feito.

Como, então, devem as mulheres aprender? Primeiro, Paulo diz, “em silêncio.” A palavra que Paulo usa (he¯suchia) pode significar “silêncio”, num sentido absoluto, ou “quietude”, no sentido de “pacificação” (uma palavra cognata, he¯suchion, é usada em 1 Tm 2:2: “… para que vivamos vida tranquila e mansa…”).[9] Apesar do ponto ser basicamente o mesmo em cada caso, existe boa razão para pensarmos que a palavra deveria ser traduzida por “silêncio” nesse contexto, já que o oposto é “ensinando.” Claramente, Paulo está querendo que as mulheres aceitem o ensino da igreja “pacificamente” – sem criticismo e sem disputa. Certamente, como Ainda Besancon Spencer argumenta, Paulo está encorajando as mulheres em Éfeso a serem “sábias aprendizes.”[10] Mas o encorajamento não vem num vácuo – muito provavelmente é necessário, pois ao menos algumas mulheres não estavam aprendendo “em silêncio.” Essas mulheres possivelmente tinham absorvido os hábitos de disputa dos falsos mestres, e Paulo deve então, adverti-las a aceitarem, sem criticismo, o ensino dos líderes da Igreja adequadamente apontados. Mas é provável que exista mais no problema do que isso. Existe boa razão para pensar que a questão subjacente no verso 11 não seja a submissão ao ensino da Igreja, mas a submissão das mulheres aos seus maridos e, talvez, à liderança masculina da Igreja. Isso é sugerido pelo uso de Paulo da palavra submissão (hypotage¯). Submissão é a resposta apropriada dos cristãos aos que exercem autoridade sobre eles (por exemplo, ao governo [Tt 3:1] e, para aqueles que eram escravos, aos senhores [Tt 2:9; a intenção de Ef 5:21 é debatida – veja o capítulo 8 desse livro]). A palavra (ou o seu verbo relativo) é um aspecto consistente com a passagem tratando da resposta apropriada de esposas aos maridos (veja Ef 5:24; Cl 3:18; Tt 2:5; 1 Pe 3:1, 5; e, talvez, 1 Co 14:34). O fato de que esse verso é direcionado somente a mulheres e que os versos 12-14 (e talvez 9-10) focam no relacionamento dos homens com as mulheres, nos inclinam a pensar que a submissão em vista aqui também é a submissão das mulheres aos líderes masculinos. (Motivos para pensar que essa submissão nesse contexto não é apenas aos maridos, mas, também à liderança masculina da Igreja em geral, conforme verificado abaixo.) Em vista das nossas sugestões sobre a natureza do falso ensino em Éfeso, podemos supor que as mulheres em Éfeso estavam expressando sua “libertação” dos maridos, ou de outros homens da Igreja, por criticarem e falarem contra a liderança masculina. (A questão básica pode, então, ser grosseiramente a mesma de 1 Co 14:33b-36). Paulo encoraja a Timóteo a enfrentar essa tendência, reforçando o princípio da submissão das mulheres à correta liderança masculina.

Posteriormente, Spencer argumenta que o próprio fato de que as mulheres devem aprender, implica que elas eventualmente devem ensinar, já que muitos textos antigos enfatizam que o propósito do aprendizado é preparar a pessoa para ensinar.[11] Duas respostas podem ser dadas a esse raciocínio. Primeira, podemos aceitar esse ponto sem prejudicar a nossa interpretação do texto, pois pensamos que Paulo está apenas proibindo mulheres de ensinarem aos homens. Para que as mulheres estejam preparadas para o ensino de outras mulheres (veja Tt 2:3-4), elas precisariam, naturalmente, aprender e aprender bem. Segundo, podemos realmente concluir que o aprendizado deve levar ao ensino? Certamente se por ensinar, estamos falando de uma função oficialmente reconhecida de exposição e aplicação de uma seção da Escritura, esse não é o caso. Os textos citados por Spencer não provam isso. Todos os homens judeus eram encorajados a estudar a lei; será que todos se tornavam rabinos? De forma similar, todos os cristãos são encorajados a estudar as Escrituras; mas Paulo expressamente limita o “ensino” a um restrito grupo que possui o dom de ensino (cf. 1 Co 12:28-30). Claro que, se definirmos ensino num sentido mais amplo – a comunicação da verdade cristã através de conversas privadas, devoções familiares, etc. – devemos concluir que todos os cristãos de fato “ensinam”.

Mas esse não é o tipo de ensino acerca do qual Paulo está falando nesse contexto. Nem parece ser o que diz Spencer, pois o seu ponto é que esse verso valida mulheres como mestras até em posições de autoridade na Igreja. É manifesto, então, que o encorajamento para que mulheres aprendam não dá nenhuma razão para pensar que elas também devem ser engajadas na exposição e aplicação da verdade bíblica aos homens.

 

Proibições em relação ao ministério das mulheres – verso 12

A frase com toda submissão é a dobradiça entre a ordem no verso 11 – “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão” – e as proibições no verso 12 – “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre um homem”. A palavra que conecta esses versos é a partícula (de) que, usualmente, possui uma branda força adversativa (“mas”). Mas, como frequentemente acontece com essa palavra, a sua força adversativa branda surge da transição de um ponto para outro, não de um contraste no conteúdo.[12] Nesse caso, a transição é de uma função que as mulheres devem exercer em submissão (aprender) para duas outras que são proibidas a fim de manter a sua submissão (ensinar e exercer autoridade). Podemos, dessa forma, parafrasear a transição dessa maneira: “As mulheres aprendam em silêncio… com toda submissão; mas [de] ‘toda submissão’ também significa que eu não permito que uma mulher ensine ou exerça autoridade sobre um homem”.

O verso 12 é o foco da discussão nessa passagem, pois é aqui que Paulo proíbe as mulheres em Éfeso de se engajarem em certos ministérios em relação aos homens. Existem seis distintas questões que devem ser avaliadas no nível exegético: (1) o significado do verbo permitir (epitrepo¯), que está no tempo presente; (2) o significado de ensinar (didaskein); (3) se a palavra homem (andros) é o objeto do verbo ensinar; (4) o significado do verbo traduzido pela NIV “ter autoridade” (authentein); (5) o relacionamento sintático e lógico entre as duas palavras ensinar e ter autoridade (elas são conectadas por oude, “nem”); e, (6) se as palavras gregas gyne¯ e ane¯r significam, respectivamente, “mulher” e “homem” ou “esposa” e “marido”.

 

A palavra permitir

O uso de Paulo da palavra permitir – ao invés de, por exemplo, um imperativo – e o seu uso no tempo presente são frequentemente aceitos como indicações de que Paulo enxerga a prescrição que se segue como limitada e temporária.[13] No entanto, o fato é que nada definitivo pode ser concluído dessa palavra. Sem dúvidas, Paulo enxergava o seu próprio ensino como autoritativo para as igrejas a quem ele escreve. O “conselho” de Paulo a Timóteo é a palavra de um apóstolo, credenciada por Deus, e inclusa nas Escrituras inspiradas. O máximo que podemos concluir do tempo presente desse verbo é somente que Paulo estava, no tempo em que escrevia, insistindo nessas proibições. Se ele queria que essas proibições tivessem força somente na época em que escrevia, por causa de uma situação específica, – como em Rm 12:1: “Rogo-vos [tempo presente] pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo…” – ou, se quisesse que fossem aplicadas para qualquer igreja, em qualquer contexto, não pode ser compreendido pelo verbo permitir, mas, deve ser decidido pelo contexto em que ele aparece.[14] Certamente não é correto dizer que o tempo presente, por si só, demonstra que a ordenança é temporária. Não é possível provar isso.

 

O significado de ensinar

Ao proibir as mulheres de ensinar, o que exatamente Paulo está proibindo? Ele está restringindo-as de todo ensino ou somente de ensinarem aos homens? A palavra ensinar e os seus substantivos cognatos ensino (didaskalia) e mestre (didaskalos) são usados no Novo Testamento principalmente para denotar a cuidadosa transmissão da tradição referente a Jesus Cristo e à proclamação autoritativa da vontade de Deus aos crentes, à luz dessa tradição (ver especialmente 1 Tm 4:11: “Ordena e ensina essas coisas”; 2 Tm 2:2; At 2:42; Rm 12:7). Enquanto a palavra pode ser usada de forma mais abrangente para descrever o ministério geral de edificação que acontece de várias formas (ex: através do ensino, canto, oração, leitura da Escritura [Cl 3:16]), a função usualmente designada por ensinar é claramente estrita a certos indivíduos que possuem o dom de ensinar (veja 1 Co 12:29-30; Efésios 4:11). Isso deixa claro que nem todos os cristãos estão engajados no ensino.[15] Nas Epístolas Pastorais, o ensino sempre possui esse sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa. Enquanto a vida de Paulo se aproxima do fim, e em resposta ao falso ensino, Paulo está profundamente preocupado em garantir que ensinos corretos e saudáveis sejam preservados nas igrejas. Uma das principais tarefas de Timóteo é ensinar (1 Tm 4:11-16; 2 Tm 4:2) e preparar outros para continuar esse ministério vital (2 Tm 2:2). Enquanto, talvez, não fosse restrito aos bispos, o “ensino” nesse sentido era uma função importante dessas pessoas (veja 1 Tm 3:2; 5:17; Tt 1:9).

Nesse ponto a questão da aplicação não pode ser evitada. Quais funções na igreja moderna seriam consideradas ensino nesse sentido? Alguns sugeriram que nós não temos nenhum paralelo moderno já que, como argumentam, o cânon do Novo Testamento substitui o mestre do primeiro século como o locus de autoridade.[16] No entanto, não parece certo afirmar que não temos um ensino que é substancialmente o mesmo que Paulo tinha em mente aqui quando aconselhou a igreja do primeiro século. A adição de uma norma autoritativa e escrita é improvável de ter significativamente alterado a natureza do ensino Cristão. Certamente as funções de ensino Judeu, que provavelmente servem de modelo para o ensino Cristão primitivo, eram todas muito dependentes da transmissão e aplicação de um corpo de verdade, as Escrituras do Antigo Testamento, e o desenvolvimento da tradição Judaica.[17] Antes das Escrituras do Novo Testamento, os mestres cristãos primitivos também possuíam tradições cristãs autorizadas sobre as quais baseavam seus ministérios, e a implicação de passagens como 2 Timóteo 2:2 é que o ensino, no sentido retratado no Novo Testamento, continuaria a ser muito importante para a igreja. Além disso, as Escrituras deveriam ser consideradas como substitutas dos apóstolos, que escreveram a Escritura, não dos mestres que a expunham e a aplicavam.  Certamente, qualquer autoridade que possui um mestre é inerente e derivada da verdade Cristã sendo proclamada, não da pessoa do mestre. Mas a função de ensino, precisamente porque chega ao povo de Deus com a autoridade de Deus e Sua Palavra, é autoritativa.

À luz dessas considerações, nós argumentamos que o ensino proibido às mulheres aqui inclui o que chamaríamos de pregação (veja 2 Tm 4:2: “Pregue a palavra… com toda a doutrina” [ensino, didache¯), e o ensino da Bíblia e sua doutrina na igreja, em faculdades e em seminários. Outras atividades – dirigir estudos Bíblicos, por exemplo – podem ser incluídos, dependendo de como eles são feitos. Ainda outros – testemunho evangelístico, aconselhamento, ensino de outros assuntos que não bíblicos ou de doutrina – não são, em nossa opinião, ensino no sentido que Paulo fala aqui.

 

Todo tipo de ensino é proibido, ou apenas ensino aos homens?

Será que Paulo está proibindo as mulheres de todo tipo de ensino? Não pensamos assim. A palavra homem (andros) que é claramente o objeto do verbo ter autoridade (authentein), deve ser interpretada também como objeto do verbo ensinar. Essa construção é gramaticalmente inquestionável, e somente ela encaixa no contexto, em que Paulo baseia as proibições do verso 12 nas diferenças de criação entre homens e mulheres (verso 13).  De fato, como argumentamos, essa diferenciação homem/mulher permeia essa passagem e é diretamente expressa na palavra que imediatamente precede o verso 12, submissão. A posição de Paulo nas epístolas pastorais é, então, consistente: ele permite as mulheres ensinarem outras mulheres (Tt 2:3-4)[18], mas as proíbe de ensinarem aos homens.

 

O significado de ter autoridade

O verbo traduzido por “ter autoridade” (authentein) tem gerado uma grande discussão. Vamos nos limitar aos três pontos que pensamos serem os mais importantes. Primeiro, o apelo frequente à etimologia – as raízes que compõe a palavra – explicar essa palavra é compreensível, dado o número limitado de ocorrências relevantes, mas deve-se sempre ter em mente a base precária para conclusões. Não só a etimologia da palavra é debatida, como também o uso das palavras frequentemente se afasta, de formas imprevistas, de seus significados etimológicos (ex: a palavra borboleta).  Segundo, as ocorrências dessa palavra – o verbo – que são mais próximas em tempo e natureza de 1 Timóteo significam “ter autoridade sobre” ou “dominar” (no sentido neutro de “ter domínio sobre”, não no sentido negativo de abuso de autoridade).[19] Terceiro, a objeção que, se Paulo quisesse falar “exercer autoridade”, ele teria usado a palavra exousiazo¯[20] não resiste ao exame crítico. Os três outros usos de Paulo desse verbo dificilmente podem ser colocados na categoria de linguagem padrão, e o vocabulário das epístolas pastorais é bem conhecido por ser distinto do vocabulário de Paulo em outros lugares. Por essas razões, pensamos que a tradução “ter autoridade sobre” é a melhor representação em português[21] dessa palavra.

Novamente, devemos fazer a pergunta sobre aplicação. Que tipo de prática da igreja moderna estaria Paulo proibindo às mulheres ao dizer que elas não devem ter autoridade sobre o homem? Primeiro, precisamos, com certeza, reconhecer que não é o caso de uma mulher (no Novo Testamento ou em nossos dias) exercer autoridade última sobre um homem; Deus e as Escrituras estão acima de qualquer cristão de forma que nenhum ministro ou autoridade humana podem estar. Mesmo assim, dentro dessas esferas de autoridade, devemos falar legitimamente de uma função de governo exercida sob Deus por alguns cristãos sobre outros (ver 1 Ts 5:12; Hb 13:17). Nas epístolas pastorais, essa atividade de governo é atribuída aos presbíteros (ver 1 Tm 3:5; 5:17). Assim, a proibição de Paulo das mulheres possuírem autoridade sobre um homem, claramente excluiria uma mulher de se tornar uma presbítera no sentido em que esse ofício é descrito nas epístolas pastorais. Por extensão, então, as mulheres seriam privadas de ocupar qualquer posição em uma dada igreja local que seja equivalente aos presbíteros regentes das epístolas pastorais (muitas igrejas, por exemplo, chamam essas pessoas de diáconos). Esse seria o caso mesmo se o marido de uma mulher desse a ela permissão de ocupar tal posição, pois a preocupação de Paulo não é com a mulher agindo independente do seu marido ou usurpando sua autoridade, mas com a mulher exercendo autoridade na igreja sobre qualquer homem.

Por outro lado, não pensamos que a proibição de Paulo deve restringir as mulheres de votarem, com outros homens e mulheres, em uma reunião congregacional, pois, enquanto podemos dizer que congregação como um todo pode ser a autoridade final, isso não é o mesmo que o exercício de autoridade atribuída, i.e., aos presbíteros. Também não pensamos que Paulo pretendia proibir as mulheres da maioria das atividades administrativas da igreja. Mas e sobre as mulheres ensinarem ou terem autoridade sobre homens em outras atividades da sociedade em geral (por exemplo, no governo civil, atividades comerciais, ou educação)? Enquanto essa questão mais ampla é endereçada em outro artigo desse volume (veja páginas 50-52, 88-89, e 388-393),[22] é apropriado notar aqui que a preocupação de Paulo em 1 Timóteo 2:11-15 é especificamente o papel dos homens e das mulheres em atividades dentro da comunidade Cristã, e nós questionamos se as proibições desse texto devem ser corretamente aplicadas fora dessa estrutura.

 

Ensinar e ter autoridade são duas funções ou uma?

            Até agora falamos sobre Paulo proibindo as mulheres de duas funções específicas: “ensinar” homens e “ter autoridade sobre” homens. Foi argumentado, no entanto, que esses dois verbos devem ser entendidos juntos, em uma relação gramatical chamada hendíadis, de forma que apenas uma função é proibida: ensinar de forma autoritativa (authentein)[23]. Se o significado de authentein é “exercer autoridade”. Essa interpretação não iria mudar materialmente a primeira proibição identificada à cima – pois o ensino que Paulo tem em mente aqui possui, como argumentamos, certa autoridade em si mesmo – mas iria eliminar inteiramente a segunda proibição (contra ter autoridade sobre um homem). No entanto, não pensamos que essa interpretação é provável. Enquanto a palavra em questão, oude (“e não”, “nem”, “também não”), certamente liga de forma usual “dois itens intimamente relacionados”[24], ela não liga usualmente palavras que reafirmam a mesma coisa ou que estão mutualmente se interpretando, e algumas vezes ela liga opostos (ex: Gentios e Judeus, escravos e livre; Gálatas 3:28). Embora ensino no sentido de Paulo aqui é autoritativo em si mesmo, nem todo exercício de autoridade na igreja é através do ensino, e Paulo trata dessas duas funções como distintas em outro lugar em 1 Timóteo quando está discutindo o trabalho dos presbíteros na igreja (3.2; 4-5, 5:17). Que o ensino e o ter autoridade são “intimamente relacionados” é, com certeza, verdade, assim como é verdade que os dois ministérios são frequentemente exercidos pelos mesmos indivíduos, mas aqui e em outro lugar eles são, não obstante, distintos, e em 1 Timóteo 2:12, Paulo proíbe as mulheres de conduzir as duas funções sobre os homens, seja em conjunto ou em isolado.

 

Estão em vista apenas maridos e esposas?

            O último item em nossa lista de questões exegeticamente significantes no versículo 12 é a relação pretendida pelas palavras gyne¯ e aner. A dificuldade surge do fato que essas palavras são usadas tanto para descrever o relacionamento matrimonial (esposa/ marido) como o mais amplo relacionamento do gênero (mulher/ homem). Se, como muitos pensam[25], Paulo está aqui usando as palavras no primeiro sentido, então o que ele está proibindo não é o ensino ou o exercer autoridade de mulheres em geral sobre homens em geral, mas apenas sobre esposas sobre seus próprios maridos. No entanto, tanto o texto como o contexto favorece a referência mais ampla. Se Paulo quisesse confinar sua proibição no versículo 12 às esposas em relação aos seus maridos, deveríamos esperar que ele usasse um artigo definido ou um pronome possessivo com homem: “eu não permito que a mulher ensine ou exerça autoridade sobre seu homem.” (Paulo prontamente faz uma distinção similar em outro lugar ao escrever sobre o relacionamento homem/mulher. As mulheres, ele diz, devem se submeter aos seus próprios [idiois] maridos” [Ef 5:22; cf. Cl 3:18). E o contexto (versos 8-9) claramente endereça homens e mulheres de forma geral, como membros da igreja, não como maridos e esposas, como membros de unidades familiares (como em Ef 5:22-33; Cl 3:18-19); não são apenas os maridos que devem levantar mãos santas em oração, mas todos os homens, e não são apenas as esposas que devem se vestir modestamente, mas todas as mulheres (versos 9-10). Portanto, as proibições do verso 12 são aplicáveis a todas as mulheres na igreja em seus relacionamentos com todos os homens da igreja.

 

A base da instrução: Criação e Queda – versos 13-14

No verso 12 Paulo proíbe as mulheres na igreja de Éfeso de ensinarem homens e de terem autoridade sobre eles. Mas agora nós enfrentamos a questão crucial: essa proibição deve ser aplicada para a Igreja cristã hoje?

Não podemos simplesmente assumir que ela se aplica. O Novo Testamento contém muitas prescrições que são prescritas apenas para uma situação específica, e quando a situação muda, a prescrição pode mudar de forma ou perder sua validade. Por exemplo, a maioria dos cristãos concorda que não é mais requerido de nós saudar “uns aos outros com ósculo santo” (1 Co 16:20); as formas de saudação mudaram, e em nossos dias, para obedecer essa prescrição, nós podemos, como J.B. Phillips coloca, “apertar as mãos em todo lugar como um sinal do amor cristão”.

Por outro lado, não é o caso de simplesmente identificar um local ou uma circunstância temporária em que um texto é direcionado e concluir então que o texto é limitado em sua aplicação. Quase todo o Novo Testamento é escrito para circunstâncias específicas – corrigir certos falsos ensinos, responder questões específicas, procurar unir certas facções da igreja, etc. – mas isso não necessariamente significa que o que está escrito aplica apenas àquelas circunstâncias. Por exemplo, Paulo desenvolve sua doutrina de justificação pela fé em Gálatas em resposta específica aos mestres Judaizantes e para um grupo particular de Cristãos do primeiro século. Mas a natureza específica dessas circunstâncias de nenhuma forma limita a aplicabilidade do seu ensino. Podemos dizer que as circunstâncias deram origem ao seu ensinamento, mas não o limitam. Esse ponto é particularmente importante, porque alguns estudos de 1 Tm 2:12 implicam que se alguém consegue identificar circunstâncias locais ou temporárias em que a carta é escrita então ele pode concluir que o texto possui apenas uma aplicação limitada. Isso certamente não é verdade. Assim sendo, a pergunta a ser feita em 1 Tm 2:12 é, podemos identificar circunstâncias que limitam sua aplicação a certos tempos e lugares?

Muitos pensam que sim, e as sugestões sobre as circunstâncias locais que tem sido propostas são muitas. Por falta de espaço para tratar de todas, vamos focar em duas que são as mais populares na literatura recente e que pensamos serem as que possuem as melhores reivindicações: que Paulo está endereçando apenas mulheres que tinham se sucumbido aos falsos ensinos em Éfeso, e que ele apenas está exigindo conformidade com as concepções culturais do papel da mulher existentes na época.

A primeira sugestão enfatiza que 1 Timóteo é toda dirigida contra o falso ensino em Éfeso e que 1 Tm 2:9-15 deve, portanto, ser interpretada dentro desse pano de fundo. Enquanto nós pensamos que a afirmação “Toda carta de 1 Timóteo… é dominada por essa singular preocupação [isso é, o falso ensino]”[26] é exagerada, podemos conceder o ponto sem nos afastar da questão em vista. De fato, é provável que o falso ensino tenha dado surgimento à instrução de Paulo em 2:9-15; 25, mas a pergunta crucial é, como isso afeta suas instruções? Como já sugerimos à cima, cremos que Paulo está corrigindo entendimentos errôneos em relação ao lugar das mulheres em relação aos homens, ensinados pelos falsos mestres (apesar de nossas conclusões não dependerem disso) e que o verso 12 reafirma a posição costumeira de Paulo sobre a questão do falso ensino. Em outras palavras, era a posição de Paulo que em todas as igrejas as mulheres não deveriam ensinar ou ter autoridade sobre os homens. Ele precisa ensinar sobre o assunto explicitamente aqui simplesmente porque isso surgiu como um problema na igreja. Mas essa seria sua posição para qualquer igreja, independente de algum falso ensino que o exigisse a escrever sobre o assunto. Nós achamos que essa leitura da situação é bem fundamenta nas reais evidências de 1 Timóteo e que qualquer outra leitura precisa de importar ideias que não estão claramente presentes.

Mas os defensores dessa visão que estamos agora examinando vão além, insistindo que o verso 12 é direcionado apenas contra mulheres que caíram nas presas do falso ensino. Assim, o propósito de Paulo não é excluir todas as mulheres em todos os tempos de ensinarem ou de dominarem sobre os homens, mas de proibir as mulheres que sucumbiram ao falso ensino de ensinarem e propagarem essas doutrinas. Em nossos dias, obedecemos a prescrição de Paulo ao prevenir mulheres que são mal treinadas e sob a influência de falso ensino de ensinarem tal doutrina[27].

Quais são as razões para aceitar essa interpretação específica da situação endereçada por Paulo? Os defensores dessa visão, que se tornou de longe a abordagem mais popular dentre aqueles que não pensam que 1 Tm 2:12 possui uma aplicação geral, apontam particularmente para o verso 14. Aqui, eles argumentam, Paulo cita Eva como um caso típico do que as mulheres em Éfeso estavam fazendo: ensinando falsa doutrina e o fazendo sem adequada preparação. Eva ensinou ao homem a comer da árvore, trazendo a ruína da queda e transgressão; assim, as mulheres em Éfeso não devem repetir seu erro propagando falso ensino e levando a igreja para a ruína.

Mas esse argumento está longe de ser convincente. A referência de Paulo a Eva no verso 14 é difícil, mas existem duas ênfases no versículo que devem ser levadas em consideração em qualquer interpretação adequada: o foco no relacionamento entre o homem e a mulher (“Adão não foi iludido, mas a mulher…”) e o foco no engano. Esse último ponto sugere que Eva não é como um “tipo” da mulher de Éfeso que estava ensinando uma falsa doutrina, mas um tipo da mulher de Éfeso que estava sendo enganada por uma falsa doutrina – por isso a necessidade de adverti-las sobre aprender “em silêncio, com toda submissão” (verso 11). Paulo nada diz sobre o que Eva ensinou a Adão, o que, se fosse o seu ponto, ele facilmente poderia ter notado. Além disso, não existe nenhuma evidência nas epístolas pastorais que as mulheres estavam ensinando essas falsas doutrinas. Se a questão, então, é o engano, pode ser que Paulo quer indicar que todas as mulheres são, como Eva, mais suscetíveis a serem enganadas do que os homens, e esse é o motivo pelo qual elas não devem ensinar os homens! Enquanto essa interpretação não é impossível, nós achamos que é improvável. Por um motivo, não há nada nos relatos de Gênesis ou em qualquer outro lugar da Escritura que sugere que o engano de Eva representa as mulheres em geral. Mas segundo, e mais importante, essa interpretação não encaixa no contexto. Paulo, como já vimos, está preocupado em proibir as mulheres de ensinarem os homens; o foco está no papel do relacionamento dos homens e mulheres. Uma declaração sobre a natureza das mulheres per se levaria a discussão para fora do ponto central, e teria uma séria e estranha implicação. Afinal de contas, será que Paulo está apenas preocupado com que essas mulheres não ensinem falsas doutrinas aos homens? Será que ele não se preocupa com elas ensinando outras mulheres? É mais provável, então, que o verso 14, junto com o verso 13, tenha como objetivo lembrar as mulheres de Éfeso que Eva foi enganada pela serpente no Jardim (Gênesis 3:13) precisamente por ter tomado a iniciativa em relação ao homem, ao qual tinha sido dado por Deus o dever de estar com ela e de cuidar dela. Da mesma forma, se as mulheres na igreja de Éfeso declararem sua independência dos homens da igreja, se recusando a aprender “em silêncio e toda submissão” (verso 11), buscando funções que foram dadas aos homens da igreja (verso 12), elas irão cometer o mesmo erro que Eva cometeu e trazer um desastre similar sobre elas e sobre a igreja[28]. Essa explanação da função do verso 14 no parágrafo encaixa no que sabemos ser a insubordinação geral de algumas mulheres em Éfeso e explica a ênfase de Paulo no verso melhor do que qualquer outra alternativa.

Existe um problema mais sério com o ponto de vista de que o verso 12 deve ser aplicado apenas a mulheres que estão procurando ensinar falsas doutrinas: o verso 13. É muito comum a maioria dos que advogam essa abordagem passarem sobre o verso 13 muito rapidamente, o explicando apenas como uma “introdução” ao verso 14, ou então, ignorando inteiramente. Mas esse verso provê a primeira razão (“porque” [gar][29]) para as proibições no verso 12. Paulo enfatiza que o homem foi criado “primeiro, e depois” Eva foi criada; a sequência temporal é fortemente enfatizada (protos, “primeiro”, e eita, “depois”). Qual é o ponto dessa declaração? Tanto a lógica da passagem como o paralelo em 1 Co 11:3-10 deixam claro: para Paulo, a prioridade do homem na ordem da criação é um indicativo da liderança que o homem deve ter sobre a mulher. A mulher foi criada após o homem, como sua auxiliadora, e isso demonstra a sua posição de submissão que Deus queria como inerente na relação da mulher com o homem, uma submissão que é violada se a mulher ensina doutrina ou exerce autoridade sobre ele. Alguns acusam Paulo, ou o “autor desconhecido” das pastorais, de usar os relatos da criação de Gênesis injustamente para esses propósitos. Mas a interpretação de Paulo pode ser demonstrada como uma justa extrapolação de Gênesis 2 (veja o capítulo 3 desse volume)[30]. Esse é um indicador extremamente importante de como Paulo entendia as proibições no verso 12. Ao fundamentar essas proibições nas circunstâncias da criação ao invés das circunstâncias da queda, Paulo mostra que ele não considera essas restrições como um produto da queda e presumivelmente, eliminadas pela redenção. E ao citar a criação ao invés de uma situação local ou uma circunstância cultural como base para suas proibições, Paulo deixa claro que, enquanto essas questões locais e culturais podem ter promovido o contexto da questão, elas não dão o fundamento do seu conselho. O fundamento para as proibições do verso 12 é o papel dado na criação para cada um no relacionamento entre homem e mulher, e devemos justamente concluir que essas proibições são aplicáveis enquanto esse fundamento permanecer verdadeiro.

Algumas vezes é dito em oposição a essa linha de raciocínio que até um apelo à criação não exige que a proibição envolvida seja permanente[31]. Isso pode ser concedido, no sentido em que os autores do Novo Testamento algumas vezes vão apelar à criação, ou ao Antigo Testamento em geral, para estabelecer um princípio em que uma forma específica de comportamento é exigida. Nesses casos, enquanto o princípio sempre permanece, a forma específica de comportamento não. Essa parece ser a situação, por exemplo, em 1 Co 11:2-16, onde o apelo da criação fundamenta a liderança do homem, como um princípio teológico, que por sua vez é aplicado à questão específica da mulher cobrir sua cabeça. Mas a diferença entre isso e 1 Tm 2:12-13 é simplesmente essa: em 1 Tm 2:12-18, o princípio não pode ser separado do comportamento. Em outras palavras, uma mulher ensinar ou ter autoridade sobre um homem é, por definição, anular o princípio pelo qual Paulo cita o relato da criação. Dado isso, e dado a completa ausência de explícitas referências temporais ou culturais em todo o parágrafo, as proibições do verso 12 podem ser ignoradas apenas ao recusar o próprio princípio teológico.

Esse último ponto também traz em consideração a outra principal tentativa de confinar o ensino do verso 12 a uma situação local ou limitada. Segundo essa perspectiva, Paulo quer que as mulheres deixem de ensinar ou exercer autoridade sobre os homens, pois tais funções seriam consideradas ofensivas para a grande maioria das pessoas em Éfeso. Agora, a preocupação em relação aos cristãos evitarem comportamentos que trariam má reputação para o evangelho é mencionado nas epístolas pastorais (ver 1 Timóteo 6:1; Tito 2:5), e, como vimos, os falsos mestres estavam propagando uma visão antitradicional do papel das mulheres. Mas, ao reagir contra tal falso ensino em 2:9-18, devemos fazer uma pergunta crucial: Paulo restringe as funções das mulheres apenas porque tais funções seriam ofensivas naquela cultura? É evidente que Paulo requer muitas formas de comportamento nas epístolas pastorais que são tanto para se adequar à cultura do dia como são parte da vontade eterna de Deus para o seu povo. Que o comportamento exigido em 1 Tm 2:11-12 cai nessa categoria é claro por causa (1) da falta de qualquer referência nesse contexto a uma preocupação como uma acomodação cultural, e (2) o apelo à ordem da criação – uma manifesta consideração transcultural – como a base explícita para o comportamento.

Uma variante adicional dessa última interpretação sustenta que Paulo requer submissão das mulheres aos homens como algo permanente da vida Cristã e que as referências do Antigo Testamento nos versos 12-14 sustentam apenas essa exigência geral. O princípio da submissão seria violado no primeiro século se as mulheres ensinassem ou exercessem autoridade sobre os homens, mas não seria violado em nossos dias por causa das concepções diferentes sobre o que constitui submissão[32]. No entanto, não só a exigência de submissão está um pouco mais distante (verso 11) do que poderíamos esperar caso os versos 13-14 dessem base para isso, mas nós devemos questionar se a mudança de concepção dos papéis dos homens e das mulheres afeta a natureza das funções que Paulo proíbe aqui. De qualquer forma que a sociedade possa enxergar essas questões, a pessoa que ensina no sentido que Paulo tem em mente aqui e, obviamente, a pessoa que exerce autoridade sobre outra está, por definição, em uma posição de autoridade em relação a essa outra pessoa. Para que qualquer mulher em qualquer cultura engaje nessas funções sobre os homens é necessário que ela viole o princípio Bíblico de submissão.

 

O papel das mulheres em um sentido positivo – verso 15

            Antes de concluir, precisamos falar algo sobre a notória dificuldade do verso 15. Enquanto nós não pensamos que a interpretação desse verso é decisiva para o significado dos versos que o precedem, o verso conclui o parágrafo e pode lançar alguma luz sobre o todo.

Uma perspectiva do verso 15 sustenta que Paulo está prometendo que as mulheres estarão fisicamente seguras durante o parto, e essa interpretação parece ser refletida na tradução[33]: “as mulheres serão mantidas em segurança durante o parto…” No entanto, esse é um significado não usual para preservar (so¯zo¯), que em outros lugares em Paulo, no sentido teológico, sempre se refere à salvação, e não se encaixa bem com as qualificações que seguem: “se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.” Uma segunda interpretação liga o verso intimamente com o material sobre Eva que imediatamente o precede. Assim como a maldição que veio sobre Eva é mencionada no verso 14, o verso 15 faz alusão à salvação que Eva (e outras mulheres) experimenta “através do parto”, isso é, o nascimento da “semente” prometida à mulher em Gênesis 3.[34] Essa interpretação faz mais justiça ao linguajar de Paulo e ao contexto, mas devemos questionar se a referência ao nascimento de Cristo é naturalmente entendida pela palavra parto, ou ter filhos (teknogonia), mesmo quando esta é precedida pelo artigo. A forma verbal dessa palavra (infinitivo) é usada em 1 Tm 5:14 (albeit sem o artigo) para denotar ter ou criar filhos em geral, e esse é o significado que esperaríamos também em 2:1.5

Outra interpretação do verso 15 depende se a referência a Eva no verso 14 é que o terem filhos é a prova ou o obstáculo pelo qual (dia) as mulheres experimentarão a salvação.[35] De qualquer maneira, devemos questionar se ter filhos pode ser considerado um obstáculo para a salvação das mulheres. Pensamos que é preferível enxergar o verso 15 como designando as circunstâncias[36] em que as mulheres cristãs experimentarão (desenvolver; cf. Fp 2:12) a sua salvação – mantendo como prioridades os papéis-chave que Paulo, em consonância com a Escritura em outros lugares, ressalta: serem fiéis, esposas auxiliadoras, criando filhos para amarem e reverenciarem a Deus, sendo boas donas de casa (cf. 1 Tm 5:14; Tt 2:3-5).[37] Isso não significa dizer, com certeza, que as mulheres não podem ser salvas a não ser que tenham filhos. As mulheres que Paulo está preocupado nesse parágrafo são todas, quase com certeza, casadas, de forma que ele pode mencionar um papel central – ter e criar filhos – como uma forma de designar de forma geral os papéis apropriados das mulheres. Provavelmente Paulo faz esse apontamento visto que os falsos mestres estavam alegando que as mulheres poderiam realmente experimentar o que Deus tinha para elas apenas se elas abandonassem suas casas e se tornassem ativamente envolvidas nos papéis de ensino e liderança da igreja. Se essa interpretação é correta, então o verso 15 encaixa perfeitamente com a ênfase que destacamos em todo esse texto. Contra a tentativa dos falsos mestres de fazer com que as mulheres em Éfeso adotassem atitudes e comportamentos libertinos e antibíblicos, Paulo reafirma o modelo bíblico para as mulheres cristãs adornadas com boas obras ao invés de ornamentos externos e sedutores, aprendendo em silêncio e submissão, se abstendo de tomar posições de autoridade sobre homens, e dando atenção para cumprir aqueles papéis que Deus especialmente chamou as mulheres.

 

Conclusão

            Queremos destacar um ponto final e muito importante sobre todas as tentativas de limitar a aplicação de 1 Tm 2:12. O intérprete da Escritura pode, de forma válida, questionar se uma ordenança ou ensinamento deve ser aplicado além da situação em que foi primariamente dado. Mas o critério utilizado para responder essa pergunta foi cuidadosamente formulado. Certamente não é suficiente simplesmente sugerir fatores locais ou culturais que podem restringir a aplicação do texto, pois com tal metodologia qualquer ensino da Escritura poderia ser descartado. No caso de 1 Tm 2:12, nenhum dos fatores que consideramos acima, nem qualquer um dos vários outros que foram propostos (mulheres não eram educadas o suficiente para ensinar; judeus seriam ofendidos; etc) é indicado, ou até insinuado no texto. Não seria um procedimento perigoso importar tais fatores sem uma clara justificativa no texto? Para deixar claro, existem ordenanças na Escritura que não consideramos aplicáveis hoje sem que haja alguma restrição explícita no contexto; 1 Co 16:20 (“saudai uns aos outros com ósculo santo”) citado anteriormente, é um exemplo. E hoje nós obedecemos a Tt 2:9-10 mais em princípio do que literalmente. Mas a diferença entre tais textos e 1 Tm 2:12 é dupla. As funções envolvidas em 1 Tm 2:12 são, por definição, transculturais no sentido em que elas são ministérios permanentes da igreja Cristã, e as proibições de 1 Tm 2:12 são baseadas na teologia. Quando acrescentamos a esses fatores o fato de que o ensino do Novo Testamento sobre esses assuntos é consistente (veja outros ensaios desse volume),[38] somos justificados em exigir ótimas razões do próprio texto para limitar a sua aplicação em qualquer sentido. Não encontramos nenhuma razão assim. Portanto, devemos concluir que as restrições impostas por Paulo em 1 Tm 2:12 são válidas para os cristãos em todos os lugares e em todos os tempos.

 

NOTAS: 

[1] Chapter 5: Head Coverings, Prophecies, and the Trinity. N.T.

[2] Alguns exemplos de representantes recentes dessa perspectiva são Mary Hayter, The New Eve in Christ (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987), pp. 132-133, 142-143; Francis X. Cleary, “Women in the New Testament: St. Paul and the Early Pauline Churches,” Biblical Theological Bulletin 10 (1980), 78-82. O extremo como isso pode ser aceito é ilustrado por William O. Walker, que acredita que todos os textos sobre subordinação feminina no Novo Testamento são pós-Paulinos, passagens como 1 Co 11:2-16 são inserções no texto da própria carta de Paulo. “The ‘Theology of Woman’s Place’ and the ‘Paulinist’ Tradition,” Semeia 28 (1988), 101-112.

[3] Veja as pesquisas em Donald Guthrie, The Pastoral Epistles (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1957), pp. 32-38, e J. N. D. Kelly, A Commentary on the Pastoral Epistles (London: Black, 1963), pp. 10-18. Kelly nota que a figura do falso ensino é “incompleta e tentadoramente vaga” (p. 11).

[4] Sobre a situação de 1 Coríntios, especialmente, veja Anthony C. Thiselton, “Realized Eschatology at Corinth,” New Testament Studies 24 (1977): 510-528. P.H. Towner faz um claro e convincente caso para a similaridade geral entre os problemas por trás de 1 Coríntios e as epístolas pastorais: “Gnosis and Realized Eschatology in Ephesus (of the Pastoral Epistles) and the Corinthian Enthusiasm,” Journal for the Study of the New Testament 31 (1987): 95-124. O parágrafo acima está profundamente em débito com a obra de Towner.

[5] Aqui o autor afirma: “The word everywhere would be translated better “in every place” (en panti topõ).”, o que não faz sentido traduzir para o português. N.T.

[6] Veja também David M. Scholer, “1 Timothy 2:9-15 and the place of Women in the Church’s Ministry,” Women, Authority and the Bible, ed., Alvera Mickelsen (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1985), p. 198.

[7] Enquanto alguns creem que esse livro é uma produção cristã, nós acreditamos que é uma obra judaica, pré-cristã, com mínimas interpolações cristãs. Veja os comentários de H.C. Kee em The Old Testament Pseudepigrapha, 2 vols., ed. J. H. Charlesworth (Garden City, NY: Doubleday, 1983, 1985), 1:775-780 (a tradução no texto também é deste volume).

[8] Para exemplos de escritores antigos, veja David Balch, Let Wives be Submissive: The Domestic Code in 1 Peter (Chico, CA: Scholars Press, 1981), pp. 101-102. E sobre 1 Tm 2:9-10, veja Scholer, “1 Timothy 2:9-15,” p. 201; Samuele Bacchiocchi, Women in the Church: A Biblical Study on the Role of Women in the Church (Biblical Perspectives 7; Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1987), p. 149.

[9] O significado dessa palavra é muito discutida no debate entre Moo e Philip Payne; Moo, “1 Timothy 2:11-15,” p. 64; Payne, “Libertarian Women at Ephesus: A Response to Douglas J. Moo’s Article ‘1 Timothy 2:11-15: Meaning and Significance,’” Trinity Journal (1981): 169-170; Moo, “The Interpretation of 1 Timothy 2:11-15: A Rejoinder,” Trinity Journal 2 (1981): 198-199; Payne, “The Interpretation of I Timothy 2:11-15: A Surrejoinder” (unpublished paper that is included in “What Does the Scripture Teach About the Ordination of Women?” produzida pela The Committee on Ministerial Standing of the Evangelical Free Church of America), pp. 99-100. Essa série de artigos se refere a partir desse ponto apenas pelos nomes dos autores, na ordem acima.

[10] Aida Besançon Spencer, Beyond the Curse: Women called to Ministry (Nashville: Thomas Nelson, 1985), pp. 75-79.

[11] Spencer, Beyond the Curse, pp. 74-80.

[12] Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 2a ed., trans. William F. Arndt and F. Wilbur Gingrich, rev. F. Wilbur Gingrich and Frederick W. Danker (Chicago: University of Chicago Press, 1979), p. 171.

[13] Esse argumento é muito difundido. Ver, por exemplo, Don Williams, The Apostle Paul and Women in the Church (Van Nuys, CA: BIM, 1977), p. 112.

[14] Para maior discussão sobre esse ponto, veja Moo, p. 65: Payne, pp. 170-173: Moo, pp. 199- 200: Payne, pp. 100-101.

[15] Contra, por exemplo, Payne, “Surrejoinder,” pp. 101-104.

[16] Ver Walter Liefeld, “Women and the Nature of Ministry,” Journal of the Evangelical Theological Society 30 (1987): 51.

[17] Veja a discussão de K. H. Rengstorf, “Didasko¯,” Theological Dictionary of the New Testament, 10 vols., ed., O. Kittel and O. Friedrich (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1964- 1976), vol. 2, p. 157.

[18] A cláusula de propósito em Tito 2:4, “a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem seus maridos…,” mostra que o “ensino” do verso 3 é restrito ao ensino de jovens mulheres.

[19] Ver particularmente George W. Knight III, “Authenteoeo¯ in Reference to Women in 1 Timothy 2:12,” New Testament Studies 30 (1984): 143-157, and Leland Edward Wilshire, “The TLG Computer and Further Reference to Authenteo¯ in 1 Timothy 2:12,” New Testament Studies 34 (1988): 120-134.

[20] Para essa objeção, ver Liefeld, “Women and the Nature of Ministry,” p. 52

[21] O artigo foi escrito em inglês, a construção usada é “have authority over”. N.T.

[22] Moo se refere ao livro John Piper & Wayne Grudem, eds., Recovering Biblical Manhood & Womanhood – A Response to Evangelical Feminism (Wheaton, CrossWay, 2006). Nota do revisor.

[23] Payne, “Surrejoinder,” pp. 104-107; ver também seu paper, ler no 1988 Evangelical Theological Society Meeting, “Oude in 1 Timothy 2:12.”

[24] Payne, “Surrejoinder,” p. 104 (itálico dele).

[25] Russell C. Prohl, Woman in the Church (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1957), pp. 31-32; Joyce Baldwin, Women Likewise (London: Falcon, 1973), pp. 21-22; N. J. Hommes, “Let Women Be Silent in the Church: A Message Concerning the Worship Service and the Decorum to be Observed by Women,” Calvin Theological Journal 4 (1969): 13.

[26] Gordon Fee, “Reflections on Church Order in the Pastoral Epistles, with Further Reflections on the Hermeneutics of Ad Hoc Documents,” Journal of the Evangelical Theological Society 28 (1985): 142-148. Essa afirmação, também encontrada no comentário de Fee nas pastorais, é frequentemente citada.

[27] Isso representa uma mudança da minha visão anterior (ver “Rejoinder,” pp. 203-204).

[28] Ver Towner, “Gnosis and Realized Eschatology,” p. 110.

[29] Ver Spencer, Beyond the Curse, pp. 89-91; Evans, p. 104.

[30] Paul King Jewett, Man as Male and Female (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1975), pp. 119-126; Karen W. Hoover, “Creative Tension in 1 Timothy 2:11-15” Brethren Life and Thought 22 (1977): 163-165; Catholic Biblical Association of America’s Task Force on the Role of Women in Early Christianity, “Women and Priestly Ministry: The New Testament Evidence,” Catholic Biblical Quarterly 41 (1979): 612.

[31] Veja, por exemplo, Scholer, “1 Timothy 2:9-15,” pp. 208-211.

[32] Grant R. Osborne, “Hermeneutics and Women in the Church,” Journal of the Evangelical Theological Society 20 (1977): 348.

[33] No original: “…the niv rendering: ‘women will be kept safe through childbirth. . . .’”. N.T.

[34] Ver, por exemplo, H. P. Liddon, Explanatory Notes on St. Paul’s First Epistle to Timothy (London: Longmans, Green, 1897), p. 20; Williams, Apostle Paul, p. 113; Payne, “Libertarian Women,” pp. 177-179.

[35] Henry Alford, The Greek Testament, 4 vols. (London: Rivingstons, 1865-1876), vol. 3, p. 820.

[36] A preposição dia (“através”) designaria “atendente das circunstâncias.”

[37] Ver, em mais detalhes, minha “Interpretation,” pp. 70-72; Robert Falconer, “1 Timothy 2:14, 15: Interpretative Notes,” Journal of Biblical Literature 88 (1941): 376-378; Scholer, “1 Timothy 2:9-15,” pp. 195-202.

[38] Moo se refere ao livro John Piper & Wayne Grudem, eds., Recovering Biblical Manhood & Womanhood – A Response to Evangelical Feminism (Wheaton, CrossWay, 2006). Nota do revisor.

 

Capítulo 9 do livro: PIPER, John; Grudem Wayne, eds., Recovering Biblical Manhood and Womanhood. Illinois: Crossway, 1991.

E-book gratuito disponível em <https://document.desiringgod.org/recovering-biblical-manhood-and-womanhood-en.pdf?ts=1471470614> data: 30.01.2018.

Traduzido por Bruno Vasconcellos de Castro Melo

Revisado por Ewerton B. Tokashiki

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