Presbiterianismo Puro e Simples – um caminho positivo para a PCA

Por Jon Payne

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, C.S. Lewis deu uma série de palestras para a rádio BBC que serviram como uma defesa básica da fé cristã. As falas do professor de Oxford foram posteriormente adaptadas num livro chamado Cristianismo Puro e Simples. Trata-se de um clássico moderno. O título cativante marca a tentativa de Lewis de prover uma argumentação em prol do Cristianismo que muitos crentes cristãos, embora de diversas tradições, poderiam concordar. Publicada durante um período turbulento da história, quando muitos lutavam com a dúvida e a desilusão, a edição oportuna beneficiou tanto o cético quanto o santo. O mundo, ao que parece, estava pronto para receber o Cristianismo Puro e Simples.

Recentemente, enquanto refletia sobre a clássica apologia de Lewis, perguntei-me se a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos poderia estar pronta para um apelo a um Presbiterianismo Puro e Simples; isto é, uma clara defesa para a recuperação de princípios básicos do presbiterianismo confessional. Até mesmo o observador mais casual reconhece que nossa denominação de quase-um-século está passando por alguma crise de identidade. De fato, uma série de pontos falhos têm se formado acerca da doutrina, adoração e missão. Talvez seja a hora de nossas igrejas reconsiderarem cuidadosamente as nossas raízes reformadas e confessionais. Talvez precisemos ser lembrados daquilo que deveria ser basilar e unificador a uma denominação que buscar ser “verdadeira à fé reformada” e publicamente subscreve aos Símbolos de Westminster como nosso sistema de doutrina. Uma ampla redescoberta do Presbiterianismo Puro e Simples poderia, eficazmente, servir para curar a divisão, cultivar a unidade, e restabelecer a confiança no futuro de nossa denominação.

Na Assembleia Geral da Presbyterian Church in America de 2010, que ocorreu em Nashville, Tim Keller e Lingon Duncan envolveram-se em uma discussão pública sobre o futuro da PCA. Eles procuraram responder à questão “poderia a PCA permanecer unida?”. Keller descreveu o DNA da denominação como sendo constituído de três principais manifestações ou “campos” do presbiterianismo americano – doutrinalistas, pietistas e culturalistas. Ele descreceu os doutrinalistas como sendo preocupados principalmente com a sã teologia e a integridade confessional, os pietistas focados primariamente no evangelismo pessoal, conversão e santidade, e os culturalistas caracterizados como aqueles que estão primordialmente atentos a uma transformação da cultura e sociedade. É claro, todos os três campos foram abordados como comprometidos ao Evangelho, aos Símbolos de Westminster, e à Grande Comissão.

Concordar ou não com as nomenclaturas denominacionais de Keller não é o ponto aqui. O seu apontamento é um lembrete de que a PCA não tem, nem mesmo nunca teve, uma comunhão homogênea. Desde nossa fundação em Dezembro de 1973 temos diferentes expressões do que é o presbiterianismo reformado em nossos arraiais. Alguns têm argumentado que é precisamente isso que faz a PCA tão interessante. As nossas diferenças nos ajudam a desafiar e encorajar-nos mutuamente de diversas maneiras sadias.

Por exemplo, os pastores mais evangelísticos desafiam aqueles mais focados na doutrina a serem mais fiéis e criativos ao alcançar os perdidos. Alternativamente, os pastores mais doutrinários desafiam os mais evangelísticos a prestarem mais atenção à doutrina. Aqueles que são especialmente atentos à piedade pessoal e corporativa encorajarão e desafiarão os mais apaixonados em impactar a cultura a não negligenciar suas próprias almas e as almas daqueles a quem Deus tem colocado sob seus cuidados. Por outro lado, aqueles que focam mais no impacto à cultura desafiarão e encorajarão aqueles focados na piedade a estarem alertas às muitas maneiras que a igreja pode e deve ser sal e luz em nossas comunidades. Você já entendeu o quadro geral. Precisamos uns dos outros. Somos o corpo de Cristo.

Se nós, enquanto presbíteros, possuímos uma profunda humildade e desejo de aprender uns com os outros, nossas diferentes ênfases – dentro dos limites confessionais – fortalecerão o todo, em vez de destruir todo o edifício. Posso nem sempre estar confortável com a maneira com que meus colegas presbíteros aplicam a fé reformada (e vice-e-versa). Ainda assim, com um espírito de caridade e afeição aos irmãos, posso alegremente servir o remanescente de meus dias numa denominação onde há um comprometimento comum, ardente e sincero ao Presbiterianismo Puro e Simples – um presbiterianismo que não é nem mais estreito nem largo do que nossos Padrões Confessionais permitem.

O problema surge, obviamente, quando os pastores, igrejas e redes de relacionamento da PCA não estão genuinamente comprometidos com o Presbiterianismo Puro e Simples. O problema se levanta quando presbíteros são mais dedicados ao progressismo, à heterodoxia (pense na Visão Federal), ou às formas superficiais de evangelicalismo do que à fé reformada e à Confissão de Fé. Movimentos como esses, especialmente, com tendência progressista em negociar a verdade bíblica por relevância (e aceitação) cultural, estão fora do escopo da ortodoxia reformada. Se indivíduos ou grupos como esses não exercem integridade e admitem um abandono de seus votos de ordenação, a divisão ocorrerá.

Sem enveredar pelos espinhos do debate de subscrição “integral versus boa fé”, desejo simplesmente encorajar meus colegas presbíteros docentes e regentes da PCA a priorizar em nossas igrejas aquilo que a nossa confissão reformada prioriza, especialmente, no que diz respeito ao evangelho, adoração, confessionalidade, piedade e missões. Para ser claro, esta chamada ao Presbiterianismo Puro e Simples não é um apelo ao reducionismo confessional ou teológico. Pelo contrário, é um apelo sincero pela integridade confessional.

No próximo artigo, mostrarei brevemente cada um desses aspectos fundamentais do presbiterianismo reformado e confessional, e tentarei explicar porque uma maior uniformidade nestas áreas é essencial a um futuro vívido e saudável da Igreja Presbiteriana na América.

 

Extraído de http://gospelreformation.net/mere-presbyterianism/

Traduzido por Renan Lima e revisado por Ewerton B. Tokashiki

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