Embaixadores de Deus: conselhos aos pregadores

por Chad Van Dixhoorn

 

Se uma centena de pregadores concordasse sobre quais conselhos pudessem ser dados a outros ministros, provavelmente, estes seriam o digno peso de sua sabedoria sobre o assunto. É exatamente isto que a Assembleia de Westminster oferece em um “subdiretório” sobre pregação dentro de uma obra maior: O Diretório sobre Adoração Pública.[1] Nela está uma compilação expondo o que se espera de alguém que é um pregador, e que precisa ser um erudito, adorador, orador, apologista, pastor e servo.

 

  1. Um erudito

O pregador, mesmo antes que chegue ao púlpito, é chamado para que seja um erudito. Leitores de referência se voltam ao Diretório sobre Ordenação,[2] a Assembleia afirma que “de acordo com as Regras da Ordenação” um ministro deve, em grande medida, ser “capacitado para um serviço pesado”.  Ele deve ter conhecimento nas línguas originais, em algumas artes e ciências entendendo como feitas à mão por Deus. Ele deve “ter habilidade nas línguas originais, em artes e ciências para produzir teologia. Ele deve “ter conhecimento em todas as áreas da teologia, mas, acima de tudo da Escritura Sagrada”. Ele deve ser habilitado a entender e resumir a Escritura, analisar e dividir textos, garantir que a verdade que ele expor estará contida e/ou fundamentada no texto que prega, e principalmente perseverará nas doutrinas, as quais estão fundamentalmente pretendidas na passagem que ele discursa. Não obstante, ele deve ser o tipo de erudito que ensinando, expressa-se em linguagem simples, pois ele é um erudito que trabalha para o benefício de outros e não apenas para si, ou para os seus iguais.

 

  1. Um adorador

Nos parágrafos enfatizando mais claramente as habilidades eruditas dos pregadores, a Assembleia também enfatiza que o pregador deve ser um estudante da verdade e um conhecedor da Bíblia, o Diretório afirma que o pregador deve ter seus sentidos e coração voltados para os diferentes tipos de crentes. Ele deve crer na iluminação do Espírito de Deus, e ter um coração humilde, o pregador deve estar sempre resolvido a admitir e aceitar qualquer verdade que ainda não foi entendida, assim que Deus lhe fizer conhecida. Os membros da Assembleia consideraram o preparo para a pregação como um ato de piedade, uma experiência de santificação da adoração pessoal. E também “ele deve fazer uso” do aperfeiçoamento da preparação pessoal, antes de torna-lo público” o que ele estudou. Além disso, deve ser persuadido em seu próprio coração que tudo o que ensina é a verdade de Cristo e “fervorosamente, e tanto em particular como em publicamente, recomendar o seu esforço sob a bênção de Deus, e olhar atentamente para si e para o rebanho, o qual o Senhor o colocou à frente”.

 

  1. Um orador

Pregadores não são meros profissionais pagos para estudar assuntos e preparar sermões. Além disso, eles devem ser oradores, homens habilitados a construir e entregar mensagens bem ordenadas e persuasivas. A Assembleia aconselha que os sermões tenham introduções, argumentos bem estruturados, e ilustrações que produzam “deleite espiritual”. O Diretório direciona-o a exortar e orientar, bem como a explicar e insistir. A responsabilidade do chamado “orador” poderia sugerir que a pregação é apenas um tipo de retórica. Porém, a Assembleia rejeitaria isso. O subdiretório insiste que os pregadores comuniquem, de tal maneira, “que mesmo quem tivesse a maior dificuldade entendesse, entregando a verdade não com palavras que seduzem a sabedoria do homem, mas na demonstração do espírito e do poder, a cruz de Cristo deveria ser pregada sem nenhum acréscimo”. Os gestos, a voz e as expressões do pregador devem ser apropriados ao seu ministério. O pregador precisa se abster do “uso inútil de línguas desconhecidas, frases estranhas e uma cadência de som e palavras, com poucas palavras eclesiásticas ou de outros escritores, quer sejam antigos ou modernos, eles nunca são tão elegantes.” Não foi à elegância que a Assembleia usou depois. Enquanto eles sabiam que pregar seria um trabalho de grande dificuldade … requerendo muita prudência, zelo e meditação, o que a Assembleia queria era que os homens que pregassem, o fizessem de tal forma que o auditório sentisse a Palavra de Deus de forma direta e poderosa, para “discernir os pensamentos e intenções do coração” e “se algum não crente ou pessoa ignorante estiver presente, ela manifestará os segredos do seu coração, e glorificar à Deus”.

 

  1. Um apologista

O Diretório também insiste que o pregador deve estar consciente e responder aos erros, pois há uma dimensão apologética no seu trabalho. Não há suposição por parte do Diretório que as pessoas que vêm à adoração, acreditarão em qualquer coisa que o pregador diz. É por isso que o sermão deve empregar “textos da Escritura, confirmar a doutrina”, e por que esses “lugares devem ser simples e pertinentes”. O pregador deve oferecer argumentos ou razões sólidas e, tanto quanto possível, convincentes. Além do mais, se houver qualquer dúvida óbvia da Escritura, da razão, ou do preconceito dos ouvintes, que seja levantada, é muito necessário removê-la, reconciliando as aparentes diferenças, respondendo às objeções, descobrindo e tirando as causas do preconceito e do erro. É claro que há pregadores que fizeram de seu passatempo a refutação da heresia, e assim, a Assembleia também acrescentou, sensatamente, que não é adequado deter os ouvintes com propostas ou responder vaidades, pois isto seria interminável, quanto mais a proposição e a resposta deles se torna mais difícil, assim também, se torna complicado par promover a edificação. Ou, dito de outra forma, “na confusão de falsas doutrinas, o pregador não deve reviver uma velha heresia do túmulo, nem expressar uma opinião blasfema desnecessariamente. Mas se o povo estiver em erro, ele deve confrontá-lo profundamente e esforçar-se para satisfazer os seus julgamentos e consciências contra todas as objeções.”

 

  1. Um pastor

Sem nenhuma surpresa, a Assembleia fala aos pregadores de maneira a lembrá-los de que tanto em suas motivações, quanto em suas preocupações, o pregador é um pastor. O pregador deve se dirigir às pessoas de tal forma quanto aos sentimentos delas, que elas sintam seu “carinho afetuoso”, além de seu zelo piedoso e desejo sincero de lhes fazer o bem. Ele deve andar diante do seu rebanho como um exemplo para eles, observando atentamente a si mesmo e que o Senhor o fez superintendente. Ele deve ainda estar atento à sua fraqueza, tal como também à sua pecaminosidade. Os seus sermões não devem ser muito complicados. Nem deve sobrecarregar a memória dos ouvintes no início com muitas partes da divisão, nem incomodar as suas mentes com termos obscuros da arte. A sua preocupação é pelas suas almas. Em sua pregação ele priorizará a edificação dos ouvintes. Um bom pregador não só os chama aos seus deveres, mas os ajuda a enxergar a forma de cumpri-los. Ele deve apontar a miséria e o perigo do pecado, e oferecer conforto contra as tentações, problemas e terrores. Ele deve responder às objeções que os corações perturbados provavelmente levantarão contra a sua pregação. Através de suas visitações e diálogos com seu rebanho, ele selecionará os melhores usos e aplicações de textos e doutrinas, levando em consideração como isso pode atrair as suas almas para Cristo, a fonte de luz e conforto.

 

  1. Um servo

Acima de tudo, o pregador é um servo, ou “ministro”. E a pregação sendo uma das maiores e mais excelentes obras, ainda assim, continua sendo um trabalho. O pregador é um “trabalhador”, alguém que espera não se envergonhar da avaliação do seu Mestre sobre suas realizações. Ele é ministro de Cristo, mas também é servo do povo de Deus. Ele deve trabalhar duro para ter certeza de que o seu sermão não é um “fardo” para a memória dos ouvintes, ou problemas para suas mentes, e deve ter em vista a sua edificação e benefício. Ele deve oferecer um serviço de remoção de dúvidas, “tirar as causas do preconceito e do erro”, ou qualquer outra coisa que possa impedir o progresso de sua congregação. Como um servo, ele não deve se contentar com aplicações fáceis, mas sim, dar algo que será realmente útil, mesmo que isto se prove uma grande dificuldade para ele. A característica de servo do pregador, é enaltecida como principal pelo subdiretório, e termina com um chamado para o fiel trabalho: “O Servo de Cristo, independente do seu método, deve realizar o seu ministério de forma completa… dolorosamente, não fazendo a obra do Senhor de forma negligente”. Ele deve servir em favor do “pior” de seus ouvintes. Ecoando as parábolas de Jesus acerca dos trabalhadores, o pregador é aconselhado pela Assembleia que esteja sempre olhando para a honra de Cristo e para conversão, edificação e salvação do povo, não para seu próprio sucesso ou glória, mantendo-se sobre fundamento que promova esses fins sagrados. Como servo, ele deve ser sábio, solene e amoroso, para que as pessoas vejam tudo vindo de seu zelo piedoso e desejo caloroso, para fazer o bem. No final, ele sujeitar o seu trabalho para que seja abençoado por Deus. Então a doutrina da verdade será preservada incorrupta, e muitas almas convertidas e edificadas, e ele receberá o conforto dos seus labores ainda nesta vida, bem como também a coroa de glória no mundo vindouro.

 

NOTAS:

[1] Publicado em português: O Diretório de Culto de Westminster (São Paulo, Editora Os Puritanos, 2000). Em breve será publicado Ewerton B. Tokashiki, Documentos da Assembleia de Westminster (CLIRE) contendo e outros textos produzidos antes e durante a Assembleia.

[2] Em breve será publicado Ewerton B. Tokashiki, Documentos da Assembleia de Westminster (CLIRE).

 

Artigo de www.reformation21.org/articles/gods-ambassadors-advice-for-preachers.php acessado em 4 de março de 2018.

Este artigo é um resumo adaptado de Chad Van Dixhoorn, God’s Ambassadors: The Westminster Assembly and the reform of the English pulpit, 1643-1653. (Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2017).

 

Traduzido por Victor Thiago A. Souza e revisado por Ewerton B. Tokashiki.

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