A Gloriosa Pessoa de Cristo: O Rei e o Reino entre nós − Venha o Teu Reino −

Introdução

Uma das expressões mais completas das “insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8) é-nos manifestada no fato da encarnação do Verbo eterno de Deus. Por isso é que o Evangelho é a Boa nova da glória de Cristo e da glória de Deus: Jesus Cristo é Deus. Jesus Cristo é o cerne, a parte mais importante e definitiva da Boa nova.

Em Cristo resplandece a Majestade Divina: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Somente Deus é glorioso.[1]

 

1. O Senhor majestoso que se fez pobre

O Evangelho nos enriquece. Jesus Cristo, o Senhor da glória, rico em sua glória eterna (1Co 2.8; Tg 2.1/Jo 17.1-5)[2] fez-se pobre por amor do Seu povo a fim de que fôssemos enriquecidos na plenitude de Sua graça:[3] “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico (plou/sioj), se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos (ploute\w) (2Co 8.9).

Na realidade, a sua humilhação (encarnação e morte) e exaltação (ressurreição, glorificação e ascensão) não afetaram a essência da sua natureza Divina.

Owen (1616-1683) escreveu com discernimento bíblico e teológico:

Quando Ele tomou sobre Si a forma de um servo em nossa natureza, Ele se tornou aquilo que nunca havia sido antes, mas não deixou de ser aquilo que sempre tinha sido em Sua natureza divina. Ele, que é Deus, não pode deixar de ser Deus. A glória da Sua natureza divina estava velada, de forma que aqueles que O viram não acreditaram que Ele era Deus. Suas mentes não podiam entender algo que eles nunca haviam conhecido antes, que uma e a mesma pessoa pudesse ser Deus e homem ao mesmo tempo. Todavia, aqueles que creem sabem que Ele, que é Deus, humilhou-se ao assumir a nossa natureza, a fim de salvar a Igreja para a eterna glória de Deus.[4]

 

Anunciando o Evangelho da riqueza de Cristo

Na carta aos Efésios, à frente, Paulo se considera um agraciado em poder anunciar o evangelho aos gentios, levando a Boa nova de salvação a qual tem em seu conteúdo essencial a incompreensível, inexaurível e inenarrável riqueza de Cristo.[5] Diz então, de forma reverente e entusiasta: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis (a)necixni/astoj)[6] riquezas (plou=toj) de Cristo” (Ef 3.8).

Não podemos pensar nesta insondável riqueza sem termos nossos olhos voltados para a encarnação do Verbo; a perfeição única e inexplicável de Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus que se encarnou para morrer pelo seu povo, nos restaurando à comunhão com Deus.

Paulo fala de Cristo como o rico e glorioso mistério que agora foi revelado aos gentios pelo Evangelho:

O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza (plou=toj) da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória. (Cl 1.26-27).

Mistério da piedade

Em outro lugar diz de forma sublime: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade (eu)se/beia):[7] Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (1Tm 3.16).

A nossa relação correta com Deus e com o nosso próximo (este é o sentido bíblico da palavra piedade) começa pela compreensão correta da grandeza do mistério da encarnação.

Calvino (1509-1564) comentando essa passagem escreveu:

A descrição mais adequada da pessoa de Cristo está contida nas palavras “Deus se manifestou em carne”. Em primeiro lugar, temos aqui uma afirmação distinta de ambas as naturezas, pois o apóstolo declara que Cristo é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em segundo lugar, ele põe em evidência a distinção entre as duas naturezas, pois primeiramente o denomina de Deus, e em seguida declara sua manifestação em carne. E, em terceiro lugar, ele assevera a unidade de sua Pessoa, ao declarar que ela era uma e mesma Pessoa que era Deus e que se manifestou em carne. Nesta única frase, a fé genuína e ortodoxa é poderosamente armada contra Ário, Marcião, Nestório e Êutico. Há forte ênfase no contraste das duas palavras: Deus e carne. A diferença entre Deus e o homem é imensa, e todavia em Cristo vemos a glória infinita de Deus unida à nossa carne poluída, de tal sorte que ambas se tornaram uma só.[8]

O propósito não revelado de Deus e, da mesma forma, a sua vontade revelada no Evangelho, são por demais majestosos para poder ser plenamente compreendido e “rastreado” por nós em toda a sua complexidade. O contraste deste conhecimento em relação ao nosso é intensamente perceptível.

Paulo extasiado com isso, em forma de doxologia, resume: “Ó profundidade da riqueza (plou=toj), tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis (a)necixni/astoj), os seus caminhos!” (Rm 11.33).

O Evangelho revela esta sabedoria que, por não ser compreendida pelo homem natural em sua maneira limitada, finita e deturpada de pensar, soa como loucura (1Co 1.18-25). Mas para nós, que pela graça conhecemos, ainda que parcialmente, o Evangelho é o anúncio da sabedoria de Deus em sua riqueza insondável.

 

Riqueza da misericórdia de Deus em Cristo

Por meio do Evangelho Deus revela aspectos gloriosos da riqueza de sua misericórdia em determinar salvar os pecadores justamente condenados, atraindo-os para Si.

Paulo diz que Deus é rico em sua bondade, tolerância e longanimidade visando conduzir os homens ao arrependimento: “Ou desprezas a riqueza (plou=toj) da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” (Rm 2.4).

Na salvação do seu povo Deus demonstra a riqueza de sua glória em manifestação de misericórdia. A sua misericórdia revela também o seu amor eterno que envolve o decreto salvador materializando-se na encarnação de Cristo:

 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas (plou=toj) da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão. (Rm 9.22-23).

Em Cristo temos de forma plena a riqueza da graça de Deus manifestada sobre o povo de Deus:

5 Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza (plou=toj) da sua graça, 8 que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência. (Ef 1.5-8).

 

A ignomínia em lugar da Glória

A misericórdia de Deus consiste em que seu Filho nos imputou a sua glória, levando sobre si a nossa desonrosa vergonha. Ele efetuou uma troca magnífica para nós, jamais imaginada por homem algum: Ele assumiu a nossa humanidade pecaminosa, pagou as nossas dívidas, garantiu definitivamente o nosso perdão e nos comunicou a glória de sua herança.

Nas palavras de Bonhoeffer (1906-1945), “O misericordioso [Jesus Cristo] empresta a honra própria ao decaído e toma sobre si a sua vergonha”.[9]

 

2. Jesus Cristo: O Rei em pessoa

Venha o teu reino” (Mt 6.10), é uma das petições ensinadas por Jesus Cristo a seus discípulos.

O Reino de Deus é o coração da mensagem de Cristo bem como dos apóstolos. O crente no Antigo Testamento aguardava a chegada do Reino de Deus que estava associada à figura do Filho do Homem, descrita por Daniel (Dn 7.13-14/Mt 16.27,28; 17.12,22; Lc 9.58; Jo 3.13,14). Por isso, podemos dizer que a presença do Espírito no Ministério de Jesus Cristo é uma presença escatológica, que marca o cumprimento da promessa e, também, de forma similar, a chegada do Reino.

Jesus Cristo, o Filho do Homem, inaugurou o Reino de Deus (Lc 11.20);[10] por isso, o Reino está indissoluvelmente ligado à sua Pessoa. Jesus Cristo, a sua mensagem e atos incorporam a presença do Reino que chegara.

Orígenes (c. 185-254), corretamente, disse que Jesus Cristo era a “autobasileia” (au)tobasilei/a), o reino em pessoa.[11]  “A relação entre o Reino de Deus e a revelação messiânica passa a ser uma correlação de força tal que quase se poderia falar de identificação de Jesus Cristo com o Reino de Deus; Ele não apenas proclama, mas é, na Sua pessoa, o Reino que está entre nós”, escreve Blauw.[12] Por isso, é que o Novo Testamento nos ensina que pregar o Reino é o mesmo que pregar a Jesus Cristo:

Todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna. (Mt 19.29).

Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente. (Mc 10.29-30).

Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos por causa do reino de Deus. (Lc 18.29).

Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo. (At 8.12).

Pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor   Jesus Cristo. (At 28.31). (Grifos meus).

Retornando à petição da Oração do Senhor, devemos observar que a oração do cristão envolve sempre o desejo de que o Reino de Deus venha. Mas, o que é o Reino de Deus, o que significa a sua vinda? Ele já não está presente entre nós?

 

         2.1. O significado do Reino

O Reino de Deus é o Reinado de Deus. O governo triunfante de Cristo sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. “O Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na história para trazer a história a um alvo divinamente determinado”, comenta Ladd (1911-1982).[13] Como Rei, Deus dirige a história a conduzindo ao seu propósito eterno e glorioso.

Falar no Reino é apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens do poder de Satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor. Portanto, o Reino é um relacionamento pessoal com o Rei.[14]

 

         2.2. A experiência do Reino

A Igreja anela pela concretização plena das virtudes eternas, das quais ela já tem a amostra (Rm 14.17; 15.13; 1Ts 1.6/Gl 5.22,23). É neste espírito que a Igreja ora: “Venha o Teu Reino”. Quem ora pela vinda do Reino, é porque já o conhece, já usufrui das suas riquezas, já provou da sua bem-aventurança (Rm 14.17).[15]

A nossa experiência do Reino como experiência de nossa redenção, nos induz a orar pela sua manifestação plena, pela concretização perfeita do eterno propósito de Deus. Nós, somos filhos do Reino, por isso podemos orar pela sua manifestação, visto que o reino está entre nós os que cremos (Lc 17.21). Somente um cidadão do Reino pode dizer de forma consciente: “Venha o teu Reino”. Por isso, ele ora para que o Reino já presente venha em toda a sua plenitude sobre todos.

Jesus manifestou o fato de que os seus milagres, a expulsão dos demônios,[16] o perdão dos pecados e a pregação, se constituem em sinais da chegada do Reino. Ele mesmo declarou: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20). Os milagres não têm um fim em si mesmo, antes, visam selar e confirmar a Palavra.[17] Como já indicamos, a presença de Jesus é a manifestação do Reino.

A presença do Espírito em nós é real, ainda que em parte ou, como disse Calvino de forma figurada, afirmando que temos apenas umas poucas gotas do Espírito”.[18]

 O Espírito faz com que hoje desfrutemos das bênçãos da era futura, porém, não em toda sua plenitude. O Apóstolo Paulo escreve: “Nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). As “primícias do Espírito” trazem consigo a promessa da abundante colheita que teremos no futuro e, ao mesmo tempo, é o antegozo dela. Portanto, o Espírito é uma realidade presente que nos fala da nossa salvação passada (justificação) e presente (santificação), indicando também, a consumação futura da nossa salvação (glorificação) (Rm 8.23-24).

O Espírito comunica as “primícias” das bênçãos – sendo Ele próprio a principal –, concedidas por Deus, as quais serão plenamente manifestadas na eternidade. É Deus mesmo que por sua “primeira parcela” se compromete a comunicar-nos todas as bênçãos adquiridas para nós em Cristo Jesus.[19] O Espírito em nós revela-nos as venturas futuras que agora, apenas vislumbramos pela fé, e que já desfrutamos apenas embrionariamente.

A amostragem que temos hoje, pelo Espírito, indica a superioridade do que teremos no porvir: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18).[20]

A Igreja anela, portanto, pela “redenção do nosso corpo” (Rm 8.23), quando teremos um “corpo espiritual” (1Co 15.44), que deve ser entendido não como uma incorporeidade, mas, sim, “uma existência humana total, alma e corpo incluídos, que será criada, penetrada e controlada pelo Espírito de Cristo”.[21] Um corpo “totalmente pertencente à nova era, totalmente sob a direção do Espírito”;[22] glorioso, imperecível e totalmente consagrado a Deus, adequado, assim, à nova vida gerada e preservada pelo Espírito.[23] Ou, nas palavras de Calvino, um corpo no qual “O Espírito será muito mais predominante (…). Será muito mais pleno”.[24] A espiritualidade significa um total controle do Espírito Santo; esta é a perspectiva do Novo Testamento.[25]

Na eternidade já não haverá a luta contra o pecado e o mal; o Espírito será tudo em todos os salvos.  “A vitória total que Cristo imporá sobre seus inimigos será uma vitória do Espírito Santo”, enfatiza Bavinck (1854-1921).[26]

O Espírito faz com que hoje desfrutemos das bênçãos da era futura. Porém, não em toda sua plenitude. O Apóstolo Paulo escreveu: “Nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). O Espírito comunica as “primícias” das bênçãos – sendo Ele próprio a principal –, concedidas por Deus, as quais serão plenamente manifestadas na eternidade. O Espírito em nós revela-nos as venturas futuras que agora, apenas vislumbramos pela fé, e que já desfrutamos apenas embrionariamente.

Comentando a petição do “Pai Nosso”, Jeremias (1900-1979) escreveu: “O homem que reza assim leva a sério a promessa divina. Abandona-se totalmente, com uma confiança inabalável, entre as mãos de Deus. Não duvida: ‘Hás de consumar tua obra gloriosa’”.[27]

Aquele que crê salvadoramente em Jesus Cristo faz parte do Reino presente, desfruta de suas bênçãos e compartilha de suas responsabilidades. Estes têm uma compreensão exata dos valores e atendem à ordem de Cristo: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).

Quando oramos pela vinda do Reino, o que de fatos estamos pedindo?

 

         2.3. Venha o Teu Reino

Ao recitarmos sinceramente a oração ensinada por Cristo aos seus discípulos, certamente estamos orando em seu nome. O Senhor nos ensinou a suplicar pela vinda do Reino. Nessa súplica estão envolvidas algumas petições que devem ser consideradas ainda que brevemente.

                            A. Que o Reino de Deus se estabeleça no coração de todos os seus escolhidos

O estabelecimento do Reino significa a presença salvadora e soberana de Cristo no coração do homem. “O Reino de Deus é a vitória final sobre o pecado. É a reconciliação do mundo com Deus (2Co 5.19)”, interpreta Barth (1886-1968).[28]

O Reino inclui dois aspectos: um positivo e outro negativo. Ele significa a redenção, o perdão dos pecados para aqueles que se arrependerem, pela fé aceitam a sua mensagem e nele ingressam e, ao mesmo tempo, o Reino traz em seu bojo o juízo, a condenação para aqueles que o rejeitam.

O nome de Deus que deve ser santificado. Observamos que isto não ocorre de forma perfeita por causa do pecado. Os homens preferem adorar as criaturas em lugar de adorar o Criador. O pecado é que impede os homens de reconhecerem a glória de Deus, visto que Satanás, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo” (2Co 4.4).

Portanto, rogar “venha o teu Reino” significa dizer: “Senhor vem vencer o pecado e arrancar estes homens, como também fizeste conosco, do domínio da carne, do mundo e de Satanás”.

Oramos para que o mundo também veja o Reino presente que já é visto por nós, mas que permanece oculto aos seus olhos.

A Igreja ora para que Cristo reine no coração dos homens e, também, prega o Evangelho do Reino para que os homens, pela fé concedida por Deus, experimentem o governo redentivo de Cristo.

 

Reino e Missão

Comentando 1Tm 2.4, Calvino (1509-1564) expressa a sua visão missionária: “Nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o Evangelho a todos sem exceção”.[29] Por isso, “O Senhor ordena aos ministros do Evangelho (que preguem) em lugares distantes, com o propósito de espalhar a doutrina da salvação em cada parte do mundo”.[30]

Analisando uma das implicações da petição “venha o Teu Reino”, comenta:

Portanto, nós oramos pedindo que venha o reino de Deus; quer dizer, que todos os dias e cada vez mais o Senhor aumente o número dos Seus súditos e dos que nele creem; que seja neles e por eles glorificado em todos os aspectos, e aos que Ele já chamou e reuniu em Seu reino distribua e multiplique cada vez mais abundantemente as Suas graças; e que, mediante estas Suas graças, Ele viva e reine sempre e continuamente neles até que, tendo-os unido perfeitamente a Si, venha a cobri-los plena e completamente com Sua bênção.[31]

É nosso dever para proclamar a bondade de Deus a toda nação.[32]

Portanto, preguemos sinceramente, de forma inteligente, com amor e entusiasmo. Quanto aos resultados, estes pertencem a Deus, escapam da nossa esfera de ação.[33] Aproveitemos também as oportunidades concedidas por Deus: “Lembremo-nos, escreve Calvino, de que a porta se nos abriu pela mão de Deus a fim de que proclamemos Cristo naquele lugar, e não recusemos aceitar o generoso convite que Deus assim nos oferecer”.[34]

Deus chama os seus eleitos por meio da pregação da Palavra. Kuiper (1886-1966) comenta: “Deus quer que o Evangelho seja proclamado ao mundo todo e em todo o tempo para que seja congregada a soma total dos eleitos”.[35]

A Palavra de Deus é sempre um ato criador, por intermédio da qual Deus chama, convence, transforma e edifica os seus.

Cada um de nós que foi alcançado pela graça de Deus, tornou-se um instrumento de testemunho da bendita salvação, a fim de que o povo de Deus seja salvo (Rm 10.14-17/At 18.9-11).[36]

A Igreja é chamada para fora do mundo a fim de invadir o mundo com a pregação do Evangelho (Mt 5.14-16; Mc 16.15-16; At 1.8; 1Co 9.16).[37]  A eleição eterna de Deus, inclui os fins e os meios.[38] Os meios de Deus são infalíveis porque Deus também o é.[39] Nós somos o meio ordinário estabelecido por Deus para que o mundo ouça a mensagem do Evangelho. Jesus Cristo confiou à Igreja a tarefa evangelística.

A Igreja é “o agente por excelência para a evangelização”, interpreta Kuiper.[40] Nenhum homem será salvo fora de Cristo, mas para que isto aconteça ele tem que conhecer o Evangelho da Graça. Como crerão se não houver quem pregue? (Rm 10.13-15). “O evangelismo pelo qual Deus leva os seus eleitos à fé é um elo essencial na corrente dos propósitos divinos”, comenta Packer.[41]

Ridderbos (1909-2007), diz acertadamente que “A igreja é o povo que Deus separou para Si em sua atividade salvífica, para que mostrasse a imagem de Sua graça e Sua salvação”.[42]

Portanto, quando levamos o Evangelho a todos os homens, cumprindo prazerosamente parte de nossa missão, estamos de fato demonstrando o nosso amor pelo nosso próximo, desejando que ele conheça a Cristo e, segundo a misericórdia de Deus, se arrependa e creia.[43]

Calvino entendia que “a pregação é um instrumento para a consecução da salvação dos crentes” e, que “embora não possa realizar nada sem o Espírito de Deus, todavia, através da operação interior do mesmo Espírito, ela revela a ação divina muito mais poderosamente”.[44] “Deus, a Si prescrevendo a iluminação da mente e a renovação da mente e a renovação do coração, adverte ser sacrilégio, se o homem a si arroga alguma parte de uma e outra dessas duas operações”.[45]

Deste modo, a oração não exclui a nossa responsabilidade de pregar e viver o Evangelho do Reino, pelo contrário, ela indica o nosso compromisso com o anúncio do Evangelho. “‘Venha o teu reino’ é claramente uma oração para o progresso da atividade missionária”.[46] Portanto, a pregação da igreja é uma expressão de sua oração sincera e urgente: “Venha o Teu Reino”.

No livro de Atos encontramos registrados dois episódios que estabelecem, de forma clara, a relação entre a oração e o compromisso missionário.

Pedro e João foram presos após um testemunho eloquente a respeito do poder de Cristo, que por meio deles curara um coxo de nascença à porta do Templo. Foram ameaçados e soltos. Libertos, procuraram seus irmãos para relatar o que lhes acontecera… Quando ouviram o que contaram, todos, a uma só voz começaram a orar, glorificando a Deus… Lucas relata que “tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus” (At 4.31).

Lucas também registra que o envio de Barnabé e Saulo (Paulo), como missionários, foi precedido por jejuns e oração. “Então, jejuando e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (At 13.3).

Lloyd-Jones (1899-1981) observa com acerto que,

Quando oramos: ‘venha o teu reino’, estamos orando pelo sucesso do Evangelho, em sua amplitude e poder; estamos orando pela conversão de homens e mulheres; estamos orando para que o reino de Deus tome conta da Europa, das Américas, da Ásia, da África e da Oceania, ou seja, do mundo inteiro. “Venha o teu reino” é uma oração missionária toda-inclusiva.[47]

Jesus Cristo, apresentando alguns sinais que precederão a consumação deste século, diz: “E será pregado evangelho do reino por todo o mundo para testemunho a todas as nações. Então virá o fim” (Mt 24.14).

 

                            B. Que o Reino de Deus seja o reinado de Deus em nossos corações

Oramos para que o Deus que habita em nós seja intensamente o Senhor de nossa vida; para que a sua vontade seja feita completamente em nós. Colocarmo-nos como súditos do Reino equivale a reconhecer o senhorio de Cristo sobre nós. “Orar pelo Reino de Deus é orar pela submissão total de nossos desejos à vontade de Deus”, conclui Barclay (1907-1978).[48]

“Venha o teu Reino” implica no desejo intenso e ardente de total consagração e submissão a Deus e à sua autoritativa Palavra, tendo unicamente a vontade de Deus valor decisório para a nossa vida.

A Igreja que ora deste modo deseja, cada vez mais, ser a antecipação histórica do Reino; um sinal eloquente do “já” no “ainda não”. Portanto, nessa petição está embutida a busca sincera e consciente por vivenciar, dia após dia, a mesma experiência de vida descrita por Paulo: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

Obviamente, a Igreja não é o Reino. Porém, a visão mais próxima que um incrédulo pode ter do Reino, é por meio da Igreja em sua cotidianidade de testemunho e proclamação.

 

                            C. Que o Reino de Deus se estabeleça completa e definitivamente

Esta oração tem um sentido escatológico. Ela envolve a petição da Igreja para que Deus cumpra a sua promessa: a Igreja, quando suplica deste modo, está “esperando e apressando a vinda do dia de Deus” (2Pe 3.12).

A consumação do Reino se dará quando Cristo voltar. Nós que temos as primícias do Espírito, pelo Espírito, podemos dizer: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.17,20).

Barclay (1907-1978) aqui pode ser usado com proveito:

Também pedimos que cada vez mais queira Ele revestir de glória a sua luz e a sua verdade, para que, assim, as trevas e as mentiras do Diabo e seus agentes se desvaneçam e sejam desarraigadas, confundidas e aniquiladas. Orando, pois, no sentido de que o reino de Deus venha, paralelamente estamos rogando que ele seja finalmente consumado e concretize o seu cumprimento, o que se dará no dia do juízo final, quando todas as coisas serão reveladas. Nesse dia, somente Ele será exaltado, e será ‘tudo em todos’ (1Co 15.28), após haver recebido os Seus na glória e haver reprimido, subjugado e arruinado todo o reino do Diabo.[49]

Na realidade, não podemos fazer esta oração sem o desejo sincero de Santificação: O Reino de Cristo intensamente em nós; Evangelização: O Reino de Cristo sobre todos os eleitos; Volta de Cristo: O estabelecimento definitivo do Reino de Deus sobre todas as coisas.

Antes de encerrarmos este ponto, gostaria de dizer algumas palavras sobre o Reino e a concretude de nossa esperança. Em alguns momentos de nossa vida podemos ser tentados a desanimar, ser impacientes, tendo a impressão de que o mal vence o bem, que a honestidade e a dignidade estão descaracterizadas, sendo premiados a esperteza, a falsidade, o logro. Todavia, a Palavra de Deus nos mostra que a vitória de Deus e de seus ensinamentos é certa, por isso, somos mais do que vencedores em Cristo Jesus, ainda que esta vitória nem sempre seja perceptível aos nossos olhos.

Hoekema (1913-1988) comenta:

Quando o fermento (ou levedura) é colocado na farinha, nada parece acontecer por um momento, mas ao final toda a massa está fermentada. De maneira semelhante, o Reino de Deus está escondido agora, fazendo sua influência ser silenciosa, mas penetrante, até que um dia surgirá a céu aberto para ser visto por todos. Portanto, o Reino, em seu estado presente,  é objeto de fé, não de vista. Mas quando a fase final do Reino for instaurada pela segunda vinda de Jesus Cristo, “todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.11).[50]

Mais à frente Hoekema continua:

Nós estamos no Reino e, mesmo assim, aguardamos sua manifestação completa; nós compartilhamos de suas bênçãos, mas ainda aguardamos sua vitória total; nós agradecemos a Deus por ter-nos trazido para o Reino do Filho que Ele ama, e ainda assim continuamos a orar: “Venha o teu reino”.[51]

O Reino é uma realidade presente vivenciada por todos aqueles que creem em Cristo. Todavia, ele não é estabelecido por nós. O Reino pertence a Deus (Mt 6.13); e nele se origina e se desenvolve. “Sua vinda unicamente se compreende sobre a base de sua ação milagrosa e todo-poderosa”, afirma Ridderbos.[52]

Todavia, nem por isso deixamos de orar: “Venha o Teu Reino”. “A vinda do Reino é totalmente independente de nosso poder (…). Porém a vinda do Reino é objeto de nossa oração”, instrui-nos Barth (1886-1968).[53]

A Obra de Deus iniciada na eternidade será consumada na eternidade:

29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Rm 8.29-30).

O Reino de Deus envolve a redenção cósmica, a consumação definitiva do propósito de Deus na história. A vinda do Reino será o shalom da igreja.[54]

A nossa salvação se consumará totalmente no “Dia de Cristo” (Fp 1.6,10), quando os mortos ressuscitarão e os vivos serão transformados e, agora, com nossos corpos transformados, adequados à eternidade, estaremos para sempre com o Senhor (Rm 8.11; 1Co 15.20-23; 35-43; 50-58; Fp 3.21).

Esta alegre certeza me faz lembrar um hino escrito em 1873:

 

          Altos Louvores

 

            Vem, ó Jesus, majestoso reinar;

            Teu povo te espera, não queiras tardar!

            Vem em poder, apressando esse dia,

            Pois tua vontade será feita aqui.

            Oh! Volta na glória, trazendo alegria!

            A Igreja suspira, ansiosa, por ti!

            Vem, ó Jesus, majestoso reinar;

            Teu povo te espera, não queiras tardar![55]

 

Considerando que o Reino já se evidencia na igreja, nós que temos as primícias do Espírito – usufruímos, portanto, ainda que parcialmente, as delícias do Reino –, pelo Espírito, oramos de forma comprometida com o Reino e totalmente dependente do Rei soberano: “Venha o Teu Reino”. “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.17,20). Amém.

 

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1]Só há glória em Deus (Ver: João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.17), p. 46). “Os filósofos pagãos não condenam toda ambição por glória. Entre os cristãos, porém, quem quer que seja ávido por glória é com justa razão acusado de ser possuidor de fútil e louca ambição, porquanto se divorcia da genuína glória. Para nós só a glória de Deus é legítima. Fora de Deus só há mera vaidade” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 5.26), p. 173). “Todas as glórias dos homens e dos anjos, colocadas em seu devido lugar, abrem caminho à glória de Cristo, para que somente ela venha a brilhar acima de todos eles incomparavelmente e sem impedimento algum” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.21), p. 47).

[2]“Sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1Co 2.8). “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1). “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.1-5).

[3]“A encarnação – e o entendimento de seu propósito, a crucificação – é o clímax da graça condescendente de Deus” (William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 1.14), p. 117).

[4]John Owen, A Glória de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989, p. 30.

[5] Stott faz boas analogias com a palavra grega (Veja-se: John R.W. Stott, A Mensagem de Efésios, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, 1986, p. 84).

[6]*Rm 11.33; Ef 3.8. A palavra aparece em três textos da LXX (Jó 5.9; 9.10; 24.34): “Ele faz coisas grandes e inescrutáveis (a)necixni/astoj) e maravilhas que não se podem contar (Jó 5.9). “Quem faz grandes coisas, que se não podem esquadrinhar (a)necixni/astoj), e maravilhas tais, que se não podem contar(Jó 9.10).

[7]*At 3.12; 1Tm 2.2; 3.16; 4.7,8; 6.3,5,6,11; 2Tm 3.5; Tt 1.1; 2Pe 1.3,6,7; 3.11.

[8]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.16), p. 100.

[9]Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 61. “Misericórdia é o princípio eterno da natureza de Deus que o leva a buscar o bem temporal e a salvação eterna dos que se opuseram à vontade dele, mesmo a custo do sacrifício próprio” (Augustus H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, v. 1, p. 431).

[10]Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20).

[11]Orígenes, Comentário de Mateus, 14.7. Apud M. Green, Evangelização na Igreja Primitiva, São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 58. Ou, “o reinado de Deus em pessoal” (Walter Kasper, Jesus el Cristo. Obra completa de Walter Kasper- Volumen 3 (Presencia Teológica) (Spanish Edition) (Locais do Kindle 1749). (Edição do Kindle). Veja-se também: K.L. Schmidt, Basilei/a: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1983 (Reprinted), v. 1, p. 593.

[12] J. Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, São Paulo: ASTE., 1966, p. 72.

[13] George E. Ladd, The Presence of the Future: The Eschatology of Biblical Realism, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, Revised Edition, 1974, p. 331.

[14] Veja-se: J.I. Packer, A Oração do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 46.

[15]Esta é a experiência da Igreja: Ela é na presente era a manifestação do Reino: “A igreja é o centro vivo e ardente do reino, uma testemunha de sua presença e poder, e um precursor de sua vinda final” (Enrique Stob, Reflexiones Éticas: Ensayos sobre temas morales, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1982, p. 68).

[16]  “Cada expulsão, que Jesus opera, dum espírito mau significa uma antecipação da hora em que satã será visivelmente dominado” (Joaquim Jeremias, Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1977, p. 148). “A expulsão de demônios demonstra que o reino de Deus chegou aos homens. O expulsar demônios é em si uma obra do reino de Deus” (G.E. Ladd, El Evangelio del Reino, Miami: Editorial Vida, 1985, p. 59. Vejam-se, também: A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 67 e William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2000, v. 2 (Mt 12.29), p. 35-36).

[17]Vejam-se: João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 55; João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.2), p. 114.

[18]João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 8.23), p. 287. Estejamos atentos à figura de Calvino. Comentando Tt 3.6, diz: “Uma gota do Espírito, por assim dizer, por menor que seja, é como uma fonte a fluir tão abundantemente que jamais secará” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 3.6), p. 351).

[19] Cf. William Hendriksen, Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 1.14), p. 117.

[20]O Espírito Santo, pois, nos foi outorgado a fim de que pudéssemos nutrir algum tipo de ideia quanto ao que nos aguarda quando chegarmos na glória. Deus nos deu as primícias. (…) Por conseguinte, em certo sentido nossa salvação não é completada, mas será completada, e o Espírito nos é conferido a fim de que possamos, não só saber isso com toda certeza, mas também para podermos até começar a experimentá-lo. E tudo o que experimentamos nesta vida, num sentido espiritual, é simplesmente primícias, ou uma prelibação, algo posto por conta, uma espécie de prestação de Deus, a fim de que pudéssemos saber o que nos está por vir” (David M. Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 334, 325).

[21]Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 120.

[22]J.D.G. Dunn, Espírito: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 144. De igual forma interpretam: Eduard Schweizer, pneu=ma, etc: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 6, p. 421; A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Cultura Cristã, 1989, p. 88-90; Idem., Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 268; W. Hendriksen, A Vida Futura Segundo a Bíblia, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988, p. 193; Ray Summers, A Vida no Além, 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1979, p. 90-91; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 520; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000, p. 346-349; John Murray, Romanos, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2003, (Rm 8.23). p. 334-335. Charles Hodge, sem aludir ao texto, faz uma distinção entre o céu e o inferno, dizendo: “O céu é um lugar e estado em que o Espírito reina com absoluto controle. O inferno é um lugar ou estado em que o Espírito já não refreia nem controla. A presença ou ausência do Espírito estabelece toda a diferença entre céu e inferno” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 983-984).

[23] Ferguson escreve: “O corpo no qual a vida futura é vivida será tanto Espiritual quanto gloriosa em sua própria constituição” (Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 347).

[24]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 15.44), p. 483-484.

[25] Vejam-se: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Cultura Cristã, 1993, p. 184.

[26] Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 388.

[27] J. Jeremias, O Pai-Nosso: A Oração do Senhor, São Paulo: Paulinas, 1976, p. 41-42.

[28] K. Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 51.

[29]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 2.4), p. 60. Ver também: John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 12, (Ez 18.23), p. 246-249. Para um estudo sobre a visão missionária de Calvino, além do que já tratamos no capítulo sobre a doutrina da salvação, vejam-se: James MacKinnon, Calvin and the Reformation, London: Longmans, Green, and Co. 1936, p. 195-205; Philip E. Hughes, John Calvin: Director of Missions. In: John H. Bratt, ed. The Heritage of John Calvin, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1973, p. 40-54; R. Pierce Beaver, The Genevan Mission to Brazil. In: J. H. Bratt, ed. The Heritage of John Calvin, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1973, p. 55-73; W. Stanford Reid, Calvin’s Genebra: A Missionary Centre. In: Richard C. Gamble, ed. Calvin’s work in Geneva, New York: Garland Pub., 1992; J. Vanden Berg, Calvino y las Misiones. In: Jacob T. Hoogstra, org. Juan Calvino, Profeta Contemporáneo, Barcelona: CLIE., 1973, p. 169-185; S.L. Morris, The Relation of Calvin and Calvinism to Missions: In: R.E. Magill, ed. Calvin Memorial Addresses, Richimond VA.: Presbyterian Committee of Publication, 1909, p. 127-146; Antonio Carlos Barro, A Consciência Missionária de João Calvino. In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 3/1 (1998), 38-49; Ray Van Neste, John Calvin on Evangelism and Missions (freerepublic.com/focus/religion/1349519/posts) (Acessado em 16.12.2023). Frank A. James III, Calvin, the Evangelist.  (https://www.worldevangelicals.org/resources/rfiles/res3_388_link_1338069512.pdf)  (Acessado em 16.12.2023).

[30]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 17, (Mt 28.19), p. 384.

[31]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 124. “Como nós não sabemos quem são os que pertencem ou deixam de pertencer ao número e companhia dos predestinados, devemos ter tal afeto, que desejemos que todos se salvem; e assim, procuraremos fazer a todos aqueles que encontrarmos, sejam participantes de nossa paz (…). Quanto a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de um remédio, salutar e severa correção, para que não pereçam eles próprios, ou a outros não percam. A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz àqueles a Quem preconheceu e predestinou” (João Calvino, As Institutas, III.23.14).

[32]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 7, (Is 12.5), p. 403.

[33]Veja-se: João Calvino, As Institutas, II.5.5,7; III.24.2,15.

[34]João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Edições Paracletos, 1995, (2Co 2.12), p. 52.

[35]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 21. (Veja-se, também, p. 39).

[36]“Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.14-17). “Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade. E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.9-11).

[37]Vejam-se: Michael Green, Estratégia e Métodos Evangelísticos na Igreja Primitiva: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje,           São Paulo; Belo Horizonte, MG.: ABU; Visão Mundial, 1982, p. 67-68 e Bruce L. Shelley, A Igreja: O Povo de Deus, São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 127.

[38] Confissão de Westminster, (1647), III.6. Ver também: R.C. Sproul, Eleitos de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 190.

[39]“Os muitos meios para o fim de salvar cada um dos eleitos são tão eficazes que terminam sempre em resultados bem-sucedidos. Os meios são infalíveis porque Deus é infalível” (R.K. McGregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 143).

[40] R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 220. (Veja-se, todo o capítulo, p. 220-226).

[41] J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p.146.

[42]Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1987, v. 2, § 53, p. 9.

[43] John Stott observou bem este ponto ao declarar em 1974: “A Grande Comissão não explica ou esgota, nem supera o Grande Mandamento. O que ela faz, na verdade, é acrescentar ao mandamento do amor e serviço ao próximo uma nova e urgente dimensão cristã. Se de fato amamos o nosso próximo, não há dúvida de que lhe diremos as boas novas de Jesus” (John R.W. Stott, A Base Bíblica da Evangelização: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo; Belo Horizonte, MG.: ABU; Visão Mundial, 1982, p. 37). De igual modo: John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 34.

[44]João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 11.14), p. 407.

[45] João Calvino, As Institutas, IV.1.6.

[46]William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, v. 1, (Mt 6.10), p. 465.

[47] D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: FIEL., 1984, p. 349.

[48] William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, (Mateo I), v. 1, p. 225.

[49] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 124.

[50] A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 71.

[51] A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 72.

[52]H. Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1987, v. 1, p. 43.

[53] K. Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 52. “O reino é de todo obra de Deus, ainda quando opera em e através dos homens” (G.E. Ladd, Reino de Deus: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Michigan: TELL., 1985, p. 450b).

[54] Cf. Cornelius Plantinga Jr., O Crente no Mundo de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 107.

[55] Quarta estrofe do Hino Altos Louvores, nº 46 no Hinário Novo Cântico. Letra de Sarah Poulton Kalley (1825-1907) (1873) e música de compositor inglês Charles Avison (1709-1770), considerado “o mais importante compositor inglês de concertos do século XVIII” (Stanley Sadie, ed., Dicionário Grove de Música: edição concisa, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994, p. 50).

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