O Seminário e a formação de Pastores – Parte 16

Empenho por evangelizar a França

A Companhia dos Pastores de Genebra liderada por Calvino esforçou-se intensamente pela evangelização da França, chegando, em alguns casos, até mesmo cidades suíças ficarem desguarnecidas de pastores devido também, ao entusiasmo e voluntariado destes em difundir o Evangelho naquele país. Calvino que lutava em diversas frentes, tendo também como objetivo consolidar a reforma em Genebra, onde enfrentou forte oposição – especialmente dos Libertinos, liderados pelo poderoso Ami Perrin (c.1500-1561), até 1555 –, quando teve alguma paz com a vitória, passando a ser a sua autoridade incontestável.[1]

A fina percepção de Calvino fora demonstrada décadas antes, estando em Genebra há poucos meses, já lamentava a falta de pastores comprometidos mais intensamente com o ministério. Escreve, então, ao seu amigo Francis Daniel no dia 13 de outubro de 1536. Na ocasião ele estava em  Lausanne em companhia de Viret e Farel, tendo participado do Debate de Lausanne, iniciado no dia 2 de outubro.

Se os ventres preguiçosos que estão com você, que gorjeiam juntos tão docemente à sombra, fossem tão dispostos quanto são faladores, correriam juntamente para cá para tomarem parte do labor para si mesmos, visto que há tão poucos de nós. Quase não dá para acreditar no número tão pequeno de ministros, comparado ao tão grande número de igrejas que carecem de pastores. Como desejo, ao ver a extrema necessidade da igreja, que, embora sejam poucos em número, houvesse ao menos entre vocês alguns homens de coração reto que pudessem ser induzidos a ajudar! Que o Senhor o guarde.[2]

Mesmo confiante na soberania de Deus que operava poderosamente por meio do Evangelho valendo-se dos meios propostos por Ele mesmo, Calvino entendia que “certamente nada retarda tanto o progresso  do reino de Cristo como a escassez de ministros”.[3] “Um pregador do Evangelho, portanto, deve ter como sua meta, na realização de seu ofício, oferecer a Deus as almas purificadas pela fé”.[4] Por outro lado, “a infidelidade ou negligência de um pastor é fatal à Igreja”.[5]

Medeiros, tratando sobre o grande interesse missional dos pastores da Suíça, escreve, possivelmente com um tom melancólico: “Ao que parece, era mais fácil e mais rápido encontrar tais obreiros na Genebra do século 16 e enviá-los para a América do Sul do que para uma agência missionária contemporânea recrutar um pastor hoje para o trabalho missionário”.[6]

 

Perseguição e crescimento

A despeito de intensas perseguições na França e a possibilidade bastante concreta da morte em seu campo de trabalho, o número de missionários voluntários não diminuía. Calvino ensinava, “A Igreja de Deus jamais subsiste sem inimigos”.[7]

Muitos dos alunos de Genebra quando voltavam para seus países, com o coração em chamas, levavam consigo a Palavra, esforçando-se por difundir o Evangelho consistentemente visto em Genebra.

A perseguição e o martírio faziam parte involuntários deste nobre ideário. Contudo, vezes sem conta, este era o preço. Lawson diz que devido a isso, a Academia de Genebra ficou conhecida como a “Escola da Morte, de Calvino”.[8]

Assim, o trabalho se desenvolveu rapidamente. Como escreveu o respeitado historiador católico francês, Delumeau (1923-2020) a respeito desses calvinistas: “Convertiam mais pelo exemplo que pela propaganda”.[9] De fato, especialmente se considerarmos que no período de 1555-1562, ao que parece  não regressaram de Genebra a França mais do que algumas dezenas de refugiados, já que os 88 descritos se dirigiam também a outros países. O segredo estava na realidade, em sua intensa dedicação ao seu chamado.[10]

Em 03.09.1554, Calvino escreveu à igreja de Poitou, que experimentava ótimo crescimento e, ao mesmo tempo, pressões externas:

Que cada um de vocês procure atrair e ganhar para Jesus Cristo aqueles que puder e, em seguida, aqueles que considerarem capazes, depois de acurado exame, sejam recebidos (na igreja) mediante o consentimento de todos. (…) Mostrem que o Evangelho de nosso Senhor Jesus é uma luz para o seu caminho,  a fim de que não errem  como os filhos das trevas.[11]

Em 1555 havia 5 igrejas reformadas em território francês (Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun).[12]  Sobre isso, escreve Walker (1860-1922), aludindo aos frutos dos esforços de Calvino: “Uma grande Igreja nacional, pela primeira vez na história da Reforma, foi criada independente de um Estado hostil; e a obra foi a que Calvino deu o modelo, a inspiração e o treinamento”.[13]

A despeito de Calvino não conseguir atender à demanda da França, no envio de tantos pastores, a obra crescia de forma admirável. Entre 1555 e 1566, cento e vinte pastores foram enviados pela Companhia de Pastores para França.[14]

Contudo, não eram suficientes.

Em  1558, surgiram não menos do que vinte igrejas. No início de 1559, mais setenta e duas e, em 1561, não menos de 90 igrejas na França.[15]

Calvino (1509-1564) e seu discípulo Antoine de la Roche Chandieu (De Chandieu) (1534-1591), provavelmente com a ajuda de T. Beza (1519-1605) e Pierre Viret (1511-1571),  elaboraram A Confissão Francesa ou Gaulesa, constituída de 35 capítulos.

 

Primeira Reunião do Sínodo Reformado em Paris

Como indicativo do crescimento do Calvinismo na França e, ao mesmo tempo, de sua situação de insegurança, o Sínodo Geral de Paris (25-29/05/1559), que congregou representantes de mais de 60 igrejas, das mais de 100 que existiam na França, reuniu-se secretamente, tendo como moderador François de Morel, que foi pastor em Paris e em Genebra. Na ocasião, a Confissão Gaulesa foi revista, aprovada e ampliada em mais cinco capítulos, tendo um prefácio dedicado ao rei Francisco II (1560) e posteriormente, também foi apresentada por Beza a Carlos IX (1561).[16]

Estima-se que, em fins de 1561 já houvesse mais de 670 igrejas calvinistas erigidas em território francês.[17] Calcula-se que até 1562, ano do início da guerra civil na França, mais de 1 milhão de franceses tinham se convertido ao Protestantismo. Sugere-se que na época,  a França com uma população de 20 milhões de habitantes, tivesse cerca de 3 milhões de Huguenotes (Calvinistas) e, talvez, em dados otimistas, 2.150 comunidades, conforme informou Coligny em março de 1562. Em dados mais pessimistas, pelo menos 1.250 igrejas.[18]

Algumas dessas congregações se tornaram muito grandes. Pierre Viret (1511-1571), grande amigo de Calvino, mesmo sendo de origem suíça, pastoreou uma igreja de oito mil membros comungantes de Nîmes.[19]

Creio não ser exagerada a afirmação do então Curador do Museu Jean-Calvin em Noyon, Mours (1892-1975):

Não há dúvida de que se o flagelo das guerras religiosas não tivesse atingido o país, a França teria se tornado  em grande parte protestante. O cardeal de Sainte Croix não falou, em uma carta enviada da França a Roma em 1565, de um “reino metade-huguenote”?[20]

Calvino enquanto pôde, além de cuidar espiritualmente dos habitantes de Genebra,[21] continuou pastoreando essas igrejas à distância, atento aos acontecimentos, escrevendo e aconselhando os missionários, orando e preparando de forma intensa mais e mais candidatos ao ministério.

Mas, as perseguições e execuções acompanhavam proporcionalmente o crescimento da igreja.

 

Calvino: Não revidem

Calvino escrevia e implorava para que os huguenotes não revidassem. Em 16 de setembro de 1557, escreveu à Igreja de Paris demonstrando a sua sensibilidade para com a aflição daqueles irmãos:

Suplicamos-vos a colocardes em prática a lição que o Grande Mestre nos ensinou, isto é, a vivermos nossas vidas em paciência. Sabemos quão difícil é isto para a nossa carne, mas lembrai-vos também de que este é o tempo de lutar contra nós mesmos e nossas paixões, quando somos assaltados por nossos inimigos. (…) Somente estejais certos de que não estais realizando nada que não seja permitido por sua Palavra (…) Seria melhor que todos nós fossemos arruinados do que o evangelho de Deus ser exposto à acusação de que faz os homens pegarem em armas para sedição e tumultos; porque Deus sempre fará que as cinzas de seus servos deem fruto.[22]

Em junho de 1559, escreve a irmãos franceses, sob severa perseguição, estimulando-os a perseverarem firmes no Senhor:

Se vós tendes de ser sacrificados para selar e ratificar vosso testemunho, que possais ter coragem para vencer todas as tentações que podem desviar-nos deste sacrifício.  (…) Como foi bem dito sobre a morte de Pedro, que ele seria conduzido por um caminho que não escolheu. (…) Assim, segundo seu exemplo, lutai valentemente contra vossas fraquezas, a fim de permanecerdes vitoriosos contra Satanás e todos os vossos inimigos. (…) Quanto mais o maligno tentar apagar a memória de seu nome da terra, mais Ele fará nosso sangue florescer pela força que Ele nos dá. (…) Guardai-vos para que não abandoneis o rebanho de Nosso Senhor Jesus assim como para não fugirdes da cruz.[23]

O fato triste, diria, quase inevitável, que permeou a resistência à presença huguenote na França, é que muito sangue foi derramado. Sem dúvida, isso foi um ônus extremamente pesado e doloroso para aqueles que desejavam liberdade para anunciar o Evangelho da paz e libertação.

Foi preciso haver o Massacre em Vassy (1562),[24] seguido de vários embates, para que fosse acordada a paz de Amboise em 1563.[25] Calvino considerando os fatos, em uma carta dirigida à Eléanor de Roye (1535-1564), quem não poupou esforços para que houvesse a paz, disse (08.04.1563?): “Eu sempre aconselharia que as armas sejam postas de lado, e que todos nós pereçamos ao invés de entrar novamente nas confusões que temos testemunhado”.[26]

Genebra se tornou um grande centro missionário, irradiando pelo mundo a sua teologia e o seu ardor evangélico.[27] O espírito pastoral e missional de Calvino acompanhou os missionários de Genebra.

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1] Ver: Robert M. Kingdon, Calvinist Religious Agression: In: J.H.M. Salmon, The French wars of religion: How important were religious factors?  Massachusetts: D.C. Heath and Company, 1967, [p. 6-11], p. 6.; Émile G. Léonard, Histoire Générale du Protestantisme – I. La Réformation, Paris: Presses Universitaires de France, 1961, v. 1, p. 298-304. No entanto, antes de ter algum alívio quanto  a esses adversários, teve que tratar de mais uma questão.  Os Libertinos  tentando gerar uma animosidade contra Genebra, difundiram várias calúnias em outros cantões Suíços  contra Calvino e as pessoas que o apoiavam.  A pedido de seu colega e amigo Bullinger, pastor em Zurique,  que lhe informou das narrativas difundidas que seduzia a alguns, Calvino teve que explicar detalhadamente o que havia acontencido em Genebra (Veja-se a Carta de Calvino (15.06.1555) apresentando a sua versão dos fatos  («descrição total e exata desse caso»), que poderia ser aclarada, corrigida e explicada por um tal Otham, amigo de ambos, que coincidentemente estava de partida para Zurique. (In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 127-134).

[2]In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 30.

[3] Carta de Calvino a Bullinger, escrita em 12.03.1562. In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 7 (Letters, Part 4), 1983,  p. 263.

[4]João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Edições Parakletos, 2001, (Rm 15.16), p. 507.

[5] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.16), p. 126.

[6] Elias Medeiros, O compromisso dos reformadores calvinistas com a propagação do evangelho a todas as nações. (https://www.martureo.com.br/wp-content/uploads/2017/10/o-compromisso-dos-reformadores_elias-medeiros.pdf) (Consultado em 26.03.2021).

[7] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 46.6), p. 334.

[8]Steven J. Lawson, A Arte Expositiva de João Calvino,  São José dos Campos, SP.: Fiel,  © 2008, 2010, p. 26.

[9] Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 149. Calvino comenta: “A primeira preocupação é sem dúvida a de ser uma boa pessoa, e isto é verificado não só pelos feitos externos, mas também por uma consciência íntegra; porém, a segunda preocupação consiste no fato de que as pessoas no meio das quais você vive devem reconhecer que de fato você é uma boa pessoa. (…) O cristão deve sempre ter o cuidado de viver uma vida que produza a edificação de seu próximo e tomar cuidadosas precauções para que os ministros de Satanás não encontrem desculpas para caluniá-los, trazendo com isso a desonra de Deus e a ofensa dos homens de bem” (João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 8.21), p. 181,182). “A doutrina será de pouca autoridade, a menos que sua força e majestade resplandeçam na vida do bispo como o reflexo de um espelho. Por isso ele diz que o mestre seja um padrão ao qual os discípulos possam seguir” (J. Calvino, As Pastorais, São Paulo:  Paracletos, 1998, (Tt 2.7), p. 331).

[10] Richard Stauffer,  L Réforme (1517-1564),  Paris: Presses Universitaires de France, 1970, p. 98-99.

[11] To The Brethren of Poitou. In:  Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 6 (Letters, Part 3), 1983, p. 70.

[12]Cf. Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França: (1533-1633): In: W.S. Reid, ed. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, [p. 87-109],  p. 89; Richard Stauffer,  L Réforme (1517-1564),  Paris: Presses Universitaires de France, 1970, p. 99; Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 149.

[13]Williston Walker, John Calvin: The Organiser of Reformed Protestantism 1509-1564, New York: Schocken Books, © 1906, 1969, p. 385.

[14] Williston Walker, John Calvin: The Organiser of Reformed Protestantism 1509-1564, New York: Schocken Books, © 1906, 1969, p. 384-385; Carl Lindberg,  As Reformas na Europa,  São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 337. Cairns, diz que “mais de 150 pastores, treinados em Genebra, foram mandados à França, entre 1555 e 1556”   (E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 257).

[15] Corpus Reformatorum (v. 57). Ioannis Calvini Opera Quae Supersunt Omnia, Guilielmüs Baum; Edüardüs Cünitz; Edüardüs Reüss, eds., Brunsvigae:  Apud C.A. Sohwetschke et Filium, 1885, v. 21, col. 710-771); Williston Walker, John Calvin: The Organiser of Reformed Protestantism 1509-1564, New York: Schocken Books, © 1906,1969, p. 384-385.

[16] Em 1571, tendo como moderador T. Beza (1519-1605), realizou-se o Sétimo Sínodo Nacional de La Rochelle. À ocasião, estavam presentes: a Rainha de Navarra, seu filho Henrique IV (1553-1610) e o Almirante Coligny (1519-1572). Nesse Sínodo, a Confissão foi revisada, reafirmada e solenemente sancionada por Henrique IV, passando, desde então a ser também chamada de “Confissão de Rochelle”.  A Confissão Gaulesa influenciou profundamente a Confissão Belga (1561) e a Confissão dos Valdenses (1655). (Vejam-se: Philip Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 494-495; v. 3, p. 356. K. S. Latourette, Historia del Cristianismo, 4. ed. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1978, v. 2, p. 117; Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, Uma história da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 257; W. Walker, História da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE, 1967, v. 2, p. 111; Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França: (1533-1633): In: W.S. Reid, ed. Calvino e sua influência no Mundo Ocidental, p. 97). Depois da chacina dos protestantes em Provence, em 1545, organiza pessoalmente uma coleta geral, subindo as escadarias dos edifícios repletos de refugiados para recolher a esmola de todos (Vejam-se: André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 216ss.; André Biéler, O Humanismo Social de Calvino, São Paulo: Edições Oikoumene, 1970, p. 45).

[17]Cf. Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 149-150; Richard Stauffer,  L Réforme (1517-1564),  Paris: Presses Universitaires de France, 1970, p. 99.

[18]Sobre essa temática,  vejam-se: Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 221-222; Scott J. Simmons, João Calvino e Missões: Um Estudo Histórico (http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.htm).(Consultado em 27.03.2021); Joel Beeke, Calvino e a Evangelização: In: Joel R. Beeke, org.,  Vivendo para Glória de Deus: uma introdução à Fé Reformada, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2010, 2012, [293-306], p. 302; Thomas Schirrmacher (Ed.) Calvin and World Mission (http://www.worldevangelicals.org/resources/rfiles/res3_388_link_1338069512.pdf) (Consulta feita em 28.03.2021). Medeiros fornece-nos documentos importantes. (Veja-se: Elias Medeiros, O compromisso dos reformadores calvinistas com a propagação do evangelho a todas as nações. (https://www.martureo.com.br/wp-content/uploads/2017/10/o-compromisso-dos-reformadores_elias-medeiros.pdf) (Consultado em 26.03.2021); Michael A.G. Haykin, Calvino e o esforço missionário da Igreja. In: Joel R. Beeke, org., Calvino para hoje, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 179-189].  Walker, talvez partindo de informes populares, sugere que a França à época, a França já possuía 400 mil protestantes (Cf. W. Walker, História da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE, 1967, v. 2, p. 111) ou, um sexto da população, conforme estimativa seguida por Cairns (Cf. E.E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, p. 257)  A grande obra de referência quanto a essas questões é: R.M. Kingdon, Geneva and the Coming of the Wars of Religion in France (1555-1563), Genève: Librairie E. Droz,  © 1956, 2007.

[19] Joel Beeke, Calvino e a Evangelização: In: Joel R. Beeke, org.,  Vivendo para Glória de Deus: uma introdução à Fé Reformada, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2010, 2012, [293-306], p. 302.

[20] Samuel Mours, Le Protestantismo em France au seizième siècle, Paris: Librairie Protestante, 1959, p. 183.

[21]Na manhã do dia 22 de janeiro de 1545, Calvino foi chamado às pressas para atender a um tal John Vachat, habitante de Genebra que sofrendo com asma e tuberculose, em desespero, tentara o suicídio com duas facadas no estômago. Concomitantemente, foi chamado também cirurgiões-barbeiros que praticamente nada puderam fazer. Vachat devido às suas enfermidades já se encontrava bastante fragilizado. A autópsia viria revelar que, se não fosse isso, poderia ter sobrevivido. Calvino o encontrou ainda com vida. Lamenta por Satanás tê-lo seduzido a isso, o exorta, consola e aconselha. Ora com ele. O homem em meio a dores repete com Calvino as orações evidenciando possível arrependimento, vindo à óbito por volta das 12h. Este fato é conhecido por se encontrar nos Registros de Genebra, onde consta os depoimentos dos barbeiros e de outras pessoas que acompanharam o ocorrido. Porém, o documento original de Calvino relatando o fato, não. Uma pasta com vários documentos fora roubada  por  James Galiffe no século XIX e devolvida em 1905 por seus descendentes. No entanto, a carta-relatório autografada (23.01.1545) se extraviara. Depois de passar por várias mãos, o documento foi comprado por 70 mil libras e doado para o Museu Internacional da Reforma. No texto manuscrito, constatamos a sensibilidade cristã e pastoral de Calvino, especialmente se considerarmos a gravidade penal do suicídio. A despeito da solicitação de Calvino, o Tenente da Justiça por considerar o “caso escandaloso”, recusou como era habitual que John Vachat fosse sepultado segundo os ritos cristãos. Assim, Vachat foi enterrado sob o cadafalso, sem sepultura cristã.    (Vejam-se: https://www.musee-reforme.ch/en/tresors/rapport-de-jean-calvin-aux-autorites-sur-le-suicide-de-jean-vachat/  (Consultada em 02.04.2021). https://ge.ch/archives/media/site_archives/files/imce/photos_expos/Crises_et_revolutions/17_affaire_vachat.pdf (Consultada em 02.04.2021). http://dx.doi.org/10.24220/2447-6803v43n1a3695 (Consultado em 04.04.2021).  (A prática do suicida ser enterrado em lugar separado, era comum em Atenas conforme atesta Platão. Veja-se: Margaret Battin, Suicídio: In: Monique Canto-Sperber, org. Dicionário de Ética e Filosofia Moral, São Leopoldo, RS.: Editora Unisinos, 2003, v. 2, [p. 652-656]. p. 653a).

[22] In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 6 (Letters, Part 3), 1983,  [p. 359-363], p. 360-361.

[23]In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 7 (Letters, Part 4), 1983, [p. 49-54], p. 50,52,53.

[24] Massacre de Vassy,  em Champagne, foi o assassinato em massa dos huguenotes promovido pelas tropas de Francisco, Duque de Guise, em Vassy, em 01.03.1562, quebrando brutalmente édito de tolerância, atacando uma comunidade huguenote legalmente reunida em um celeiro.(Cf. Patrick Collinson, A Reforma, Rio de Janeiro: Objetiva, 2006, p. 119).  Este vento deu início a uma série de batalhas religiosas, terminadas com a assinatura do Édito Amboise no ano seguinte, em 19 de março de 1563.

[25]Edito de Amboise, ou Edito de Pacificação, foi assinado no Castelo de Amboise em 19.03.1563 por Catarina de Médici, pacificando num primeiro momento a França, restaurando aos Huguenotes, alguns privilégios religiosos e a garantia de certas liberdades políticas.

[26]Corpus Reformatorum (v. 47). Ioannis Calvini Opera Quae Supersunt Omnia, Guilielmüs Baum; Edüardüs Cünitz; Edüardüs Reüss, eds., Brunsvigae:  Apud C.A. Sohwetschke et Filium, 1879, v. 19, col. 688.  (Tradução inglesa: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 7 (Letters, Part 4), 1983, p. 302). “Há dois fundamentos para uma guerra justa entre os humanos, que são: para a honra e adoração a Deus e para a segurança de todo o povo. Aqui estão as duas considerações que todos aqueles que governam e a quem Deus escolheu para portar sua espada devem ter: primeira, que a honra de Deus seja preservada e a religião seja mantida em sua pureza; e, segundo, que o povo seja mantido em paz. Aqueles que estão sentados no tribunal de justiça e têm superioridade são ordenados como oficiais de Deus para a proteção de seus súditos. Contudo, não devem se esquecer da coisa principal, a saber, que Deus quer manter seu império soberano e todo o povo deve prestar honra a ele. É assim que as guerras podem ser legítimas, a saber, se a honra de Deus for buscada e se os governantes tiverem em vista a paz e o bem-estar do povo. (João Calvino “Sermons on Second Samuel, v. 1, p. 267: In: Timothy George, org. Reformation Commentary on Scripture. Old Testament V: 1-2 Samuel, 1-2 Kings, 1-2 Chronicles. InterVarsity Press: Downers Grove, IL.: 2016, p. 187-188  (Sermons on Second Samuel, v. 1. p. 451). (Devo esta referência ao Rev. Mauro Filgueiras Filho em correspondência particular).

[27]Veja-se: Philip E. Hughes, John Calvin: Director of Missions: In: John H. Bratt., org.  The Heritage of John Calvin, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1973, p. 44-45.

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