O Seminário e a formação de Pastores – Parte 19

Missão, louvor e martírio

Em 15 de maio de 1553, Calvino, depois de várias tentativas diplomáticas para libertá-los, escreve uma carta de consolo a cinco jovens missionários que, conforme as evidências pareciam apontar, estavam para serem martirizados em Lyon:

Para onde quer que olhemos daqui debaixo, Deus tem interrompido o caminho. Não obstante, nossa esperança nele, ou nas suas santas promessas não  pode ser frustrada. (…) Agora, no presente momento, a própria necessidade os exorta a elevarem a mente totalmente ao céu. Até agora, não sabemos como será o evento, mas, porquanto parece que Deus utilizará o sangue de vocês para subscrever sua verdade, o melhor é prepararem-se para esse objetivo, suplicando-lhe para submetê-los à sua boa vontade, de modo que nada os impeça de seguirem para onde quer que Ele lhes chame. (…) Uma vez que lhe  [Deus] aprouve consagrar vocês à morte na manutenção  da sua contenda, Ele lhes fortalecerá as mãos no combate e não deixará que nenhuma gota do sangue de vocês seja gasta em vão. E embora o fruto não apareça de imediato, no tempo apropriado produzirá com mais abundância do que podemos expressar. Mas assim como Ele lhes concedeu esse privilégio, para que os laços de vocês sejam renovados e o seu clamor se propague amplamente por toda a parte, é indispensável, a despeito de Satanás, que a morte de vocês ressoe muito mais poderosamente, para que o nome do nosso Senhor seja engrandecido por meio disso. Da minha parte, se foi grato a esse bondoso Pai tomá-los [para] si mesmo, não duvido que Ele lhes preservou até aqui para que o seu prolongado  e contínuo encarceramento  sirva de preparação para despertar melhor a quem Ele determinou edificar com o fim de vocês. Assim, por mais que os inimigos  se esforcem, jamais conseguirá esconder essa luz que Deus fez brilhar em vocês, para que fosse contemplada desde muito longe. (…) O fato de Deus lhes designar como mártires do seu Filho lhes serve de sinal de graça superabundante. (…) Enquanto aprouver a Deus dar o reino aos seus inimigos, nosso dever é ficarmos quietos, embora tarde o tempo da nossa redenção. (…) Há de vir o tempo em que a terra revelará o sangue que tem estado escondido, e nós, depois de nos desembaraçarmos desse corpo corruptível, seremos completamente restaurados. De qualquer modo, que o Filho de Deus seja glorificado na nossa vergonha e que nos contentemos com este fiel testemunho: que, embora sejamos perseguidos e condenados, confiamos no Deus vivo. Assim, temos com o que desprezar o mundo inteiro com a sua soberba, até que sejamos reunidos naquele reino eternal, onde gozaremos plenamente aquelas bênçãos de que agora só temos em esperança.[1]

Certamente esses missionários não receberam a carta de Calvino. No dia seguinte, 16 de maio de 1553, foram martirizados na fogueira. Seguiram tranquilamente para o lugar (Place Terreaux)[2] cantando salmos  e recitando passagens bíblicas. O mais velho, Marcial Alba, com permissão do comandante (tenente), beijou os outros quatro condenados que já estavam amarrados.[3] Sendo também preso, o fogo foi aceso. Assim foram martirizados.

Uma observação muito estimulante. O cantar salmos se constituiu em um ponto fundamental de identidade entre os Calvinistas na Europa e, posteriormente nos Estados Unidos.[4]  Os Salmos se tornaram em “verdadeiros hinos de batalha”;[5] um cântico de combate, mas, também de consolo diante das perseguições e iminente morte.[6] Cottret (1951-2020) resume: “O saltério foi a Reforma francesa”.[7]

Em 1545, com a determinação, devido à falsas informações, ou à revelia[8] de Francisco I (1494-1547), os Valdenses foram massacrados em suas aldeias. Esta perseguição ficou conhecida com o nome de Massacre de  Mérindol quando foram mortos centenas ou milhares de homens, mulheres: velhos, jovens, crianças e mulheres grávidas.[9] Os sobreviventes foram usados em trabalhos forçados.[10]

“Em  1546, a Igreja reformada de Meaux foi dizimada pela perseguição”.[11] Aqui, 14 mártires morreram cantando o Salmo 79.[12] Fazendo uma pequena digressão, menciono que o puritano John Owen (1616-1683), no leito de morte, teve como últimas palavras, o Salmo 79.8.[13]

Place Maubert nas proximidades da Sorbone em Paris, traz em suas silentes memórias os cânticos de muitos huguenotes ali torturados e martirizados.[14]

Leith (1919-2002) comenta que,

O cântico dos salmos contribuiu para moldar o caráter e a piedade reformada e sua influência dificilmente poderia ser superestimada. Os salmos eram as orações do povo na liturgia de Calvino. Por meio deles, os adoradores respondiam à Palavra de Deus e afirmavam sua confiança, gratidão e lealdade a Deus.[15]

O cântico de salmos tornou-se essencial para a piedade calvinista. Os protestantes franceses, ao serem levados para a prisão ou para a fogueira, cantavam salmos com tanta veemência que foi proibido por lei cantar salmos e aqueles que persistiam tinham sua língua cortada. O salmo 68 era a Marselhesa huguenote.[16]

De fato, na França, em diversas ocasiões os protestantes foram atacados enquanto prestavam culto a Deus, orando, lendo a Palavra e cantando salmos. Depois de narrar algumas dessas perseguições, Baird (1828-1887) constata: “A Liturgia do protestantismo francês foi banhada com o sangue de seus mártires”.[17]

 

Mártires franceses no Brasil

Do mesmo modo, no Brasil, quando os calvinistas franceses Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon não negaram à sua fé diante de Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571), foram presos.[18]

Crespin (c. 1520-1572) registra: “Entretanto, os condenados consolavam-se e regozijavam-se em suas cadeias, orando e cantando, com extraordinário fervor, salmos e louvores a Deus”.[19]

Na manhã de sexta-feira, 9 de fevereiro de 1558, quando Jean du-Bourdel, o autor da Confissão de Fé,[20] ia sendo conduzido ao rochedo para ser executado, acompanhado por Villegaignon e seu pajem, narra Crespin:

Ao passar junto da prisão em que estavam os seus companheiros, gritou-lhes em alta voz que tivessem coragem, pois iam ser logo libertados desta vida miserável. E, caminhando para a morte, entoava salmos e louvores a Deus, o que causava grande espanto a Villegaignon e ao carrasco.[21]

Godfrey parece captar bem o espírito desses calvinistas franceses:

Os Salmos eram (…) mais do que inspiração e conforto para os cristãos reformados. Os Salmos eram mais do que uma forma de expressarem suas alegrais e pesares a Deus nas próprias palavras de Deus. O Saltério explicava a vida que eles viviam tanto em relação aos iníquos que se lhes opunham quanto a Deus que os sustentava. Como povo de Deus, eles viviam nos Salmos.[22]

Retornando ao ponto central desse capítulo, enfatizamos que o princípio que regia a Calvino e aos inúmeros missionários, concernia à responsabilidade evangélica: “É nosso dever proclamar a bondade de Deus a toda nação”.[23]

A Academia tornou-se grandemente respeitada em toda a Europa.[24] O grau concedido aos seus alunos era amplamente aceito e considerado em universidades de países protestantes como, por exemplo, na Holanda.

Vemos aqui tipificado de forma eloquente que a missão não era o refúgio dos incompetentes nem a academia o abrigo dos indolentes ministeriais. Não havia, como de fato não há, essa dissociação em essência: missão e erudição, já que “não existe piedade sem devida instrução”.[25] Consequentemente, não há também a dicotomia ontológica entre piedade e ciência, considerando que a “piedade deve ser unida à ciência” (Voetius).[26]

O chamado de Deus não é por eliminação, antes, é soberana graça capacitante[27] que não nos torna perfeitos, sacralizando o nosso pensar e agir, mas, conferindo-nos o senso de privilégio e responsabilidade, faz-nos  buscar cumprir com santo temor o nosso chamado com total integridade e dependência do Senhor.

O historiador católico Venard (1929-2014), comenta que a Academia “será daí em diante um viveiro de pastores para toda a Europa reformada”.[28]

De fato, ela contribuiu em grandes proporções para fazer de Genebra “um dos faróis do Ocidente” admite o católico Daniel-Rops (1901-1965).[29]

O conceituado historiador católico contemporâneo, Delumeau (1923-2020), fazendo eco a um dito comum, afirma – a bem da verdade com tons românticos e caricatos –, que Calvino fez de Genebra “a Roma do Protestantismo”.[30] Bem, essa perspectiva pode ser adotada por analogia por um católico. No entanto, para nós Reformados, essa figura não existe: não temos meca, nem basílica, nem catedral, nem bispo, nem papa.[31] Apesar da alma brasileira ser episcopal e patrimonialista, não somos. Que Deus continue a nos livrar disso tudo![32]

A formação dada em Genebra era intelectual e espiritual. Os alunos participavam dos cultos das quartas-feiras bem como em todos os três cultos prestados a Deus no domingo.[33] Um escritor referiu-se a Genebra deste modo: “Deus fez de Genebra sua Belém, isto é, sua casa do pão”.[34]

Gaffarel em notícia bibliográfica à edição francesa da obra do missionário Jean de Léry (1534-1611), escreveu com clareza:

Da França, da Itália, da Inglaterra, da Espanha e até da Polônia acorreram inúmeros prosélitos. Genebra tornou-se a cidadela do protestantismo e foi nessa fonte ardente, de fé e eloquência que ardorosos missionários vieram buscar sua inspiração, a fim de espalhar em seguida, mundo afora, a doutrina e as ideias do mestre.[35]

Sem dúvida, entre os Reformadores, Calvino foi  quem  mais amplamente compreendeu a abrangência das implicações do Evangelho nas diversas facetas da vida humana.[36]

O Reformador entendia, como escreveu, que “o Evangelho não é uma doutrina de língua, senão de vida. Não pode assimilar-se somente por meio da razão e da memória, senão que chega a compreender-se de forma total quando ele possui toda a alma, e penetra no mais íntimo recesso do coração”.[37]

Por isso, ele exerceu poderosa influência sobre a Europa e Estados Unidos. John  Knox (1515-1572), ex-aluno de Genebra, “delineou um sistema nacional de educação  que  prometia conduzir a Escócia ao bem-estar espiritual e material”,[38] tendo a Bíblia como tema principal de estudo e a gratuidade patrocinada pela Igreja.[39]

Em 1639 a Assembleia Geral da Igreja Escocesa pediu ao Parlamento que estabelecesse escolas. Em 1641 a Assembleia Geral faz outra petição. Nada de positivo ocorreu. Em 1646 quando pede outra vez, o Parlamento escocês atende,  aprovando a criação de uma escola para cada região conforme indicação do presbitério, votando-se verba para salário dos professores. Aqui houve uma cooperação entre a Igreja e o Estado, estando a supervisão das escolas e professores entregue à Igreja. Este sistema, foi tão bem sucedido na Escócia que, excetuando o período de domínio inglês só viria sofrer alterações significativas no século XIX.

Schaff (1819-1893) chega dizer, sendo seguido por outros, que Calvino “de certo modo, pode ser considerado o pai da Nova Inglaterra e da república Americana”.[40]

 

A doutrina da eleição como obstáculo à evangelização?

De forma quase inevitável, aplicando esse princípio à doutrina da eleição, podemos relembrar os dizeres de Calvino: “Quando Deus seleciona dentre toda a raça humana um pequeno número ao qual abraça com seu paternal amor, esta é uma inestimável bênção que Ele derrama sobre eles”.[41]

Portanto, a doutrina da eleição quando estudada dentro de uma perspectiva bíblica,  com o coração desejoso de ouvir a voz de Deus, configura-se como um meio eficaz para o nosso fortalecimento na fé,[42] na certeza de que, apesar de nossas fraquezas e deficiências, Deus conforme sua sábia e misericórdia vontade nos elegeu antes dos tempos eternos e nos confirmará até o fim em santidade.

A nossa eleição repousa na promessa de Deus; e isto nos basta. Por isso, encontramos nesta doutrina “excelente fruto de consolação”.[43]

Quero concluir este capítulo com as estimulantes e confortadoras palavras de algumas Confissões sobre esta doutrina:

A todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração para com Deus, bem como de humildade, diligência e abundante consolação.[44]

Do sentimento interno e da certeza desta eleição tem os filhos de       Deus maior motivo para humilhar-se diante dele, adorar a profundidade da Sua misericórdia, purificar-se a si mesmos, e por sua parte amar-lhe ardentemente, que de modo tão eminente lhes amou primeiro.[45]

A piedosa meditação da Predestinação e da nossa eleição em Cristo, está cheia de um suavíssimo, doce e inexplicável conforto para os piedosos, e aos que sentem em si mesmos a operação do Espírito de Cristo.[46]

Cabe a nós, portanto, pregar o Evangelho com sinceridade, de forma inteligente, com amor e entusiasmo. Quanto aos resultados, estes pertencem a Deus; escapam da nossa esfera de ação.[47]

Já ia me esquecendo. Depois de tudo o que vimos,  por que será que Calvino foi e é tão acusado de não dar ênfase à missão e, quem o acusa, não é estranho associar esta “omissão” à sua compreensão da doutrina da predestinação?

É bastante razoável a explicação de Beeke a respeito da “concepção negativa do evangelismo de Calvino é consequência de”:

Estudo deficiente dos escritos de Calvino antes de chegarem às suas conclusões,

Falha na compreensão da visão de Calvino do evangelismo no seu próprio contexto histórico,

Incorporação de noções doutrinárias preconcebidas em seus estudos a respeito de Calvino e da sua teologia.[48]

Quanto a nós, exercitemos e colhamos, pois, os doces e suaves frutos desse ensino bíblico tão caro a nós Reformados. Que Deus nos ajude. Amém.

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

_______________________________________

[1] In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 107-109.

[2] Modernamente constitui-se em ponto turístico concorridíssimo em Lyon.

[3] Nome dos demais estudantes:  Pierre Escrivain, de Boulogne; Bernard Seguin, de La Réole; Charles Faure, de Blanzac e Pierre Navihères, de Limoges. Posteriormente foram achadas várias correspondências entre esses jovens, sendo então publicadas em um livro: Pierre Bergier, ed. Correspondance Inédite Des Cinq Étudiants Martyrs Martial Alba, de Montauban, Pierre Escrivain, (Éd. 1854). Hachette Livre Bnf. (Impresso sob demanda). Para uma visão parcial (10 páginas) da edição original em pdf, veja-se: https://www.furet.com/media/pdf/feuilletage/9/7/8/2/0/1/1/3/9782011314147.pdf   (Consulta feita em 31.01.2024).

[4]Cf. Charles Garside, Jr., The Origins of Calvin’s Theology of Music: 1536-1543, Philadelphia: The American Philosophical Society, 1979, p. 5.

[5] W. Stanford Reid, The Battle Hymns of the Lord: Calvinist Psalmody of the Sixteenth Century. In: C.S. Meyer, ed. Sixteenth Century Essays and Studies, St. Louis: Foundation for Reformation Research, 1971, v. 2, [p. 36-54], p. 46.

(Disponível: https://www.jstor.org/stable/3003691?seq=10#metadata_info_tab_contents). (Consulta feita em 06.01.24). Ver: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 95.121, 184, 188.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/). (Consulta feita em 06.01.2024).

[6]Veja-se: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 121, 184, 188.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/). (Consulta feita em 31.03.2021). Daniel-Rops (1901-1965), historiador católico, cujo belo estilo, por vezes, tenta compensar as suas inclinações e o uso das fontes, ironiza o fato de os huguenotes cantarem salmos enquanto se preparavam para as batalhas e, do mesmo modo, as longas rezas. (Veja-se: Daniel-Rops, Igreja da Renascença e da Reforma – V. 2,  São Paulo: Quadrante, 1999, p. 178-179).

[7]Bernard Cottret, Calvin: A Biography, Grand Rapids, Mi.: Eerdmans and Edinburgh: T & T Clark, 2000, p. 172. Cottret prossegue: “Os primeiros reformadores ignoravam a proliferação dos hinos; se contentavam em cantar em voz alta em melodias marciais cuidadosamente cadenciadas, o amor de Deus para com o seu povo,  a destruição dos maus e a beleza do mundo. O canto dos salmos foi para a Reforma da língua francesa o que o coral foi para a Reforma alemã. A música participou intimameente da cultura calvinista. (…) O salmo 114 tornou-se emblemático da Reforma na França” (Bernard Cottret, Calvin: a Biography, p. 172).

[8]“Sem que sua responsabilidade direta estivesse contudo envolvida” (Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 176).

[9] O jesuíta, Maimbourg (1610-1686) – que acabara de ser expulso de sua ordem pelo papa [Inocêncio XI -1611-1689] (1681) quando escreveu sua obra – retratando por meio de crônicas, o calvinismo como uma grande heresia,  fala de 3600 mortos e 900 casas destruídas (Louis Maimbourg, Histoire du Calvinisme,  3. ed. Paris: Chez Sebastien Mabre-Cramoist, 1682, v. 2, Livre II, p. 78ss.).  As estatísticas do número de mortos é bastante variada. Veja-se: R.J. Knecht, Francis I,  Cambridge: Cambridge University Press, 1984, p. 405-406.

[10]Quando Calvino recebeu a informação por parte de um irmão de confiança que, ao que deduzo, foi testemunha ocular deste massacre ou de seus efeitos, Calvino partiu com urgência de Genebra para Berna, solicitando com empenho a Berna e a Zurique a interferência em favor daqueles irmãos que estavam sendo massacrados por intolerância e fanatismo.

Antes porém, escreveu a Farel (04/05/1545), em meio a lágrimas, a respeito das notícias que recebera e da viagem que pretendia fazer:

“Várias aldeias foram consumidas pelo fogo, que a maioria dos velhos foi queimada até a morte, que alguns foram mortos à espada, outros foram carregados para cumprir sua condenação; e que tal era a crueldade selvagem desses perseguidores, que nem moças, nem mulheres grávidas, nem crianças foram poupadas. Tão grande é a atroz crueldade desse procedimento, que fico perplexo quando reflito sobre isso. Como, então, devo expressá-lo em palavras? (…) Escrevo, esgotado pela tristeza, e não sem lágrimas, que tanto irrompem, que de vez em quando interrompem minhas palavras” (To Farel (04.05.1545): In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 4 (Letters, Part 1), 1983,  p. 458-459).

[11]Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 177.

[12]John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 106.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/page/106); W. Stanford Reid, The Battle Hymns of the Lord: Calvinist Psalmody of the Sixteenth Century. In: C.S. Meyer, ed. Sixteenth Century Essays and Studies, St. Louis: Foundation for Reformation Research, 1971, v. 2, [p. 36-54], p. 46.  (Disponível: https://www.jstor.org/stable/3003691?seq=10#metadata_info_tab_contents); Carl Lindberg, As Reformas na Europa, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 339. O pré-reformador João Huss (c. 1369-1415), pregador da Capela de Belém e professor e Reitor da Universidade de Praga,  foi queimado vivo.  Antes de morrer, recitou diversos salmos, principalmente o 51 e 53 (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 54-55.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 01.04.2021).

[13] John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 107-108.  Apresentando uma relação mais ampla, Ker  (1819–1886), como escocês, escreve: “Há uma semelhança notável na maneira de morrer dos mártires franceses e escoceses, decorrente das relações frequentes entre as Igrejas nos primeiros dias da Reforma e de sua devoção comum ao livro dos Salmos” (John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 85).

[14]Vejam-se: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886;  https://fr.wikipedia.org/wiki/Place_Maubert#cite_note-9

[15]John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã,  São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 301. Ver alguns exemplos significativos em: Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 67ss.

[16]John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299. Do mesmo modo: Carl Lindberg, As Reformas na Europa,  São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 339. Ver: Emily R. Brink, The Genevan Psalter: In: Emily B. Brink; Bert Polman, eds. Psalter Hymnal Handbook, Grand Rapids, Michigan: CRC Publications, 1998, p. 34. Foi o próprio Calvino quem adaptou a melodia de um dos corais de Greiter ao Salmo 68. (Cf. Henriqueta R.F. Braga, Contribuição da Reforma ao Desenvolvimento Musical: In: Bill H. Ichter, org. A Música Sacra e Sua História, Rio de Janeiro: JUERP., 1976, p. 77). Matthäus Greiter (c.1495-1550), de grande talento mas, de ética ambígua, foi quem compôs a música, sendo publicado pela primeira vez no Saltério de Estrasburgo em 1539 e foi então incluido na primeira edição do Saltério de Genebra (1542). O Salmo 68 também tornou-se conhecido entre os huguenotes como “Cântico das batalhas”, sendo cantado por eles em muitos de seus conflitos “sangrentos e desesperados” (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 95). O hino de Lutero baseado no Salmo 46 foi chamado por H. Heine (1797-1856) de “Marselhesa da Reforma” (Cf. W.J.R.T., Hymnology: In: Rev. John McClintock; James Strong, eds. Cyclopedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature, [CD-ROM], (Rio, WI., Ages Software, 2000), v. 4, p. 130).

[17]Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 65.

[18] O alfaiate André Lafon terminou por ser persuadido a retratar-se. Foi poupado. Permaneceu então preso na fortaleza “como alfaiate do almirante e de toda sua gente” (Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, Rio de Janeiro: Typo-Lith, Pimenta de Mello & C., 1917, p. 81).

[19]Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 74. Ver também: Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, 3. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, (1960), p. 245.

[20] Elaborada entre 04/01/1558 e 09/02/1558. Ver: Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 63-64.

[21]Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 77. O padre Anchieta (1534-1597), dando destaque ao que encontrou ente os huguenotes, relata (01.06.1560): “Grande quantidade de livros heréticos, entre os quais, (se porventura isto é sinal de sua reta fé) se achou um missal, com imagens raspadas” (Joseph de Anchieta, Cartas: Correspondência Ativa e Passiva, 2. ed. São Paulo: Loyola  (Obras Completas, − 6º volume), 1984, p. 168-169). O que me leva a supor que sem dúvida, entre os “livros heréticos” deviam constar exemplares do Saltério de Genebra.

[22]W. Robert Godfrey, Aprendendo a amar os Salmos, Rio de Janeiro: Pro Nobis, 2021, p. 19.

[23]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 7/1, (Is 12.5), p. 403.

[24]“Foi dessa escola que saiu toda uma elite culta que difundiu a Reforma na Europa inteira”  (Eric Fuchs, Calvino: In: Monique Canto-Sperber, org. Dicionário de Ética e Filosofia Moral, São Leopoldo, RS.: Editora Unisinos, 2003, v. 1, p. 184b).

[25]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 19/1, (At 18.22), p. 198.

[26] Apud  Willemien Otten, Religion as exercitatio mentis: A case for theology as a Humanism discipline: In: Alasdair A. MacDonald, et. al. eds. Christian Humanism: Essays in Honour of Arjo Vanderjagt, Leiden: Brill Academic Pub., 2009, p. 60. Como curiosidade, cito que Voetius, como testemunho de sua erudição e piedade, foi o delegado mais jovem a participar do Sínodo de Dort. (Cf. Willem J. van Asselt, Scholasticism in the Time of High Orthodoxy (ca. 1620–1700). In: Willem J. van Asselt, ed., Introduction to Reformed Scholasticism, Grand Rapids, MI.: Reformation Heritage Books, 2001,  (Edição do Kindle). Posição  2867 de 5503.

[27] “Ora, Deus geralmente supre aqueles a quem imputa a dignidade de possuir esta honra a eles conferida com os dons indispensáveis para o exercício de seu ofício, a fim de que não sejam como ídolos sem vida”  (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 4.3), p, 96). “Sempre que os homens são chamados por Deus, os dons são necessariamente conectados com os ofícios. Pois Deus não veste homens com máscara ao designá-los apóstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais não têm eles como desincumbir-se adequadamente de seu ofício” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.11), p. 119). Vejam-se também: João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 6.12), p. 173; João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17). p. 225; João Calvino,  A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000,  p. 77; J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996,  (1Co 9.16), p. 276-277.

[28] Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo, org.  História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo: Paulus, 1995, p. 339. Do mesmo modo escreve Willemart: “Genebra torna-se o centro de formação dos pastores que serão enviados para todas as comunidades francesas e que permitirão a unidade da Igreja Evangélica Reformada”  (Philippe Willemart, A Idade Média e a Renascença na literatura francesa, São Paulo: Annablume, 2000, p. 42).

[29]Daniel-Rops,  A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A Reforma protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 414.

[30] Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v. 1, p. 128-129; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 415 e Elisabeth L. Eisenstein, A Revolução da Cultura Impressa: Os primórdios da Europa Moderna, São Paulo: Editora Ática, 1998, p. 185. Expressão já usada por Schaff. (P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 444). Lindberg usa figura análoga denominando Genebra de “uma espécie de Vaticano protestante” (Carter Lindberg, As Reformas na Europa, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 326). É curioso que mesmo Calvino tendo uma alma francesa, ele jamais deixaria a igreja de Genebra; quando foi convidado a pastorear a Primeira Igreja Protestante de Paris, não aceitou (Cf. P. Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 807).

[31]“No Cristianismo evangélico não existe papa que pode falar ex catedra, e assim impor pronunciamentos infalíveis aos fiéis” (John Richard De Witt, O que é a Fé Reformada?: In: John R. De Witt, et. al., O que é a Fé Reformada?, São Paulo: Editora Os Puritanos, 2001, p. 9).

[32] Barth combatendo a figura de Genebra como a Roma do Protestantismo, escreveu que era um equívoco revestir “a Instituição cristã, as ordenanças eclesiásticas e a própria pessoa de Calvino de uma autoridade profética e apostólica. (…) Primeiramente, o termo Roma protestante é uma flor de retórica sentimental. A ‘Roma protestante’ nunca existiu – senão em caricaturas, bem-intencionadas ou malévolas” (Karl Barth, em introdução à obra, Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, p. 11).

[33]Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 29.

[34] Apud  Charles W. Baird,  A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 30.

[35] Paul Gaffarel, Notícias Biográficas. In: Jean de Léry, Viagem à terra do Brasil,  2. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, (1951), p. 11.

[36] Vejam-se: André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 28; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1985, p. 188-189.

[37]John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, p. 17. Do mesmo modo, ver: João Calvino, As Pastorais, (Fm 6), p. 368.

[38]Planejamento da Educação: Um Levantamento Mundial de Problemas  e Prospectivas, Conferências Promovidas pela Unesco, Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1975, p. 4.

[39] Veja-se: Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1985, p. 198.

[40] P. Schaff, The Creeds of Christendom, v.  1, p. 445.

[41] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 48.1), p. 352.

[42] Veja-se: J. Calvino, As Institutas, III.24.9.

[43] J. Calvino, As Institutas, III.24.4.

[44]Confissão de Westminster, III.6.

[45]Cânones de Dort, I.13.

[46]Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, Capítulo XVII.

[47] Ver: J. Calvino, As Institutas, II.5.5,7; III.24.2,15.

[48]Joel R. Beeke, Calvin’s Evangelism, MJT 15 (2004) 67-86, p. 68.  (https://www.midamerica.edu/uploads/files/pdf/journal/15-beekeevangelism.pdf). (Consultado em 01.02.2024).

 1,566 total views,  3 views today

Comments

G-BJPJGFD6S2