A Fortuna e a Providência: Maquiavel e Calvino, dois olhares sobre a “Realidade” – Duas Cosmovisões

A Fortuna e a Providência:  Maquiavel e Calvino,  dois olhares sobre a “Realidade” – Duas Cosmovisões[1]

O homem fabrica essas concepções. E é inevitável que deva fazê-lo, pois do contrário não seria capaz de qualquer orientação e decisão práticas. É difícil ver como proibir isso; agir assim é inerente à própria vida do homem. Toda pessoa traz alguma concepção ao menos de sua própria vida e das pessoas que lhe são próximas; um retrato da sua própria vida-trabalho ou da de outrem, tal como esta até então se desenvolveu e seguirá, ou deveria ou não seguir, conforme sua percepção, compreensão e julgamento. Sua noção particular dessas diferentes determinações dos seres criados, de bem e mal, de certo e errado, de felicidade e angústia, naturalmente desempenhará um papel importante nesse processo. – Karl Barth (1886-1968).[2]

 

Introdução

O sentimento religioso, mesmo sendo recheado de elementos de racionalidade e compreendido dentro dos cânones da razão, tem também elementos inexplicáveis. Sei que este argumento pode ser começado pelo fim; no entanto, neste caso, a ordem dos argumentos não altera a tese: o sentimento religioso pode ser compreendido dentro de uma perspectiva plural na qual se aglutinam elementos de racionalidade e, digamos, de elementos estranhos à razão humana.

O nosso conhecimento, inclusive o científico, como sabemos, é provisório[3] e limitado.[4] A ciência é uma construção coletiva,[5] não dando conta de compreender e, menos ainda, explicar toda a realidade.[6]  O método científico, a despeito de sua grande relevância e pretensão,[7] é limitado.[8] Portanto, a humildade necessária[9] por parte de todos os amantes da ciência e, que por isso, por este amor compromissado, entram neste jogo.[10]

Por outro lado, é fato que a religião está presente em todas as culturas e, mesmo que ingenuamente tentemos ignorar, a realidade é que a religião compõe com cores fortes, variando apenas de tonalidade, o colorido de todas as culturas, determinando, assim, a visão da realidade e consequentemente a ética e valores destas.[11] A religião é um apanágio do ser humano.[12]

A despeito do pecado, continuamos sendo a imagem de Deus, carregando conosco o senso do divino, sendo, portanto, incuravelmente religioso.[13].

Milosz (1911-2004), escritor Russo, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura (1980), escreveu de forma provocante:

Religião, ópio do povo! Para aqueles que sofrem de dor, humilhação, doença e servidão, prometeu uma recompensa na vida após a morte. E agora estamos passando por uma transformação. Um verdadeiro ópio para as pessoas é a crença em nada após a morte – o grande consolo em pensar que não somos julgados por nossa traição, ganância, covardia e homicídio.[14]

O etnólogo Malinowski (1884-1942), inicia seu livro Magia, Ciência e Religião, com esta afirmação: “Não existem povos, por mais primitivos que sejam, sem religião nem magia”.[15]

A análise introdutória do pensamento desses dois autores com compreensões tão diferentes se deve ao fato de que em 2023 tivemos as comemorações dos 510 anos da redação da obra mais famosa de Maquiavel (1469-1527), O Príncipe.[16] Por sua vez, em 2024, relembraremos os 460 da morte do Reformador João Calvino (1509-1564). O sentimento religioso está presente na obra de ambos ainda que de modo diferente e com propósitos distintos. Vamos ao assunto.

 

1. Maquiavel: nem anjo, nem demônio. Um pouco dos dois[17]

         a) Pensador controvertido

No Príncipe, Maquiavel omite, dentro dos limites do possível, tudo que não seria apropriado mencionar na presença de um príncipe. Ele dedicou o Príncipe a um príncipe, porque seu desejo era encontrar um emprego honrado. − Leo Strauss (1899-1973).[18]

Niccolò Machiavelli (1469-1527), natural de Florença, é considerado “o fundador do pensamento político moderno”.[19] Todavia, a sua figura e ideias se constituem numa imagem difusa, onde os conceitos históricos são dos mais variados, contribuindo de forma eloquente para uma constatação cada vez mais evidente, de que a análise de Maquiavel e de sua obra é algo extremamente complexo.

Russel (1872-1970) o acha “chocante”, contudo, admite que “muitos outros homens também o seriam, se fossem igualmente livres de hipocrisia”. Por isso, admite que “grande parte da difamação convencional ligada ao seu nome deve-se à indignação dos hipócritas, que odeiam o franco reconhecimento das más ações”.[20]

Entre os conceitos divergentes formulados ao longo da história a respeito de Maquiavel, podemos citar, a título de amostra, o emitido pelo Cardeal-Arcebispo de Cantebury, Reginald Pole (1500-1558) , que declarou que O Príncipe (1513) foi redigido “pela mão do Demônio”.[21]  É bom lembrar que no Concílio de Trento (1545-1563), O Príncipe foi condenado e colocado no Índex.[22]

Em outra vertente, temos o testemunho de Espinosa (1632-1677), em sua obra publicada postumamente (1677), Tratado Político, onde diz:

Talvez Maquiavel tenha querido, também, mostrar quanto a população se deve defender de entregar o seu bem-estar a um único homem que, se não é fútil ao ponto de se julgar capaz de agradar a todos, deverá constantemente recear qualquer conspiração e, por isso, vê-se obrigado a preocupar-se consigo próprio e, assim, a enganar a população em vez de a salvaguardar. E estou tanto mais disposto a julgar assim acerca deste habilíssimo autor quanto mais se concorda em considerá-lo um partidário constante da liberdade e quanto, sobre a maneira necessária a conservar, ele deu opiniões muito salutares.[23]

Contudo, o testemunho favorável a Maquiavel  mais famoso, é o de Rousseau (1712-1778), no seu Contrato Social (1762), quando  interpreta Maquiavel como  uma sátira que “fingindo dar lições aos reis, deu-as, grandes, aos povos. O Príncipe de Maquiavel é o livro dos republicanos”.[24]

Nesta linha, talvez esteja correto Merleau-Ponty (1908-1961) ao declarar: “Maquiavel é o oposto a um maquiavélico, pois descreve as manhas do poder, pois, como se disse, ‘divulga um segredo’”.[25]

Da mesma forma, um contemporâneo nosso, Moreira afirma no mesmo diapasão que “Maquiavel pode e deve ser  considerado como precursor da tradição democrática moderna”.[26]

Particularmente, com a ousadia talvez da ignorância, não compartilho das ideias de Espinosa, Rousseau e Moreira; por outro lado, não vou tão longe como o Cardeal Pole. De qualquer forma, tenho de admitir que O Príncipe é um “tratado de pedagogia”.[27]

Strauss (1899-1973) observa que Maquiavel ao defender de forma pública ideias antigas e amplamente praticadas, teve o seu nome associado a estes ensinamentos:

Maquiavel é o único pensador político cujo nome entrou no uso comum para designar um tipo de política que existe e que seguirá existindo qualquer que seja a sua influência, uma política guiada exclusivamente por considerações de conveniência, que emprega todos os meios, justos ou injustos, o aço ou veneno, para alcançar seus fins – sendo seu fim o engrandecimento da própria pátria –, porém também colocando a pátria ao serviço do engrandecimento do político ou estadista, ou do próprio partido.[28]

Talvez a visão intermediária a respeito de Maquiavel deva prevalecer aqui: Nem  meramente um narrador do que via sendo praticado, nem um demônio estabelecendo padrões de domínio que devam ser rigorosamente seguidos a despeito das necessidades do povo. Mas sim, um homem que descreveu o que viu, alertou-nos quanto a isso mas, que também tinha seus interesses pessoais em suas descrições que, em geral parecem ser normativas.[29]

Maquiavel, no uso do que acredita ser livre arbítrio,  negocia, em tons racionais e místicos, com a Sorte (Fortuna) tentando lidar com a maldade congênita do ser humano[30] e tomar com habilidade – “virtù” – parte do controle de seu destino entendendo que este fim é nobre, portanto, os meios que usar são lícitos. Ele, portanto, rejeita a atitude passiva frente à vida. Ele parte da contemplação à ação.[31]

Dooyeweerd (1894-1977) arremata:

Nicolau Maquiavel era um adversário feroz do cristianismo. A mensagem cristã de que se deve amar o inimigo contradizia a virtú humana, a iniciativa humana e o heroísmo. A virtú expressava o ideal da pessoa heroica do Renascimento, que poderia fazer a Fortuna, a sorte cega, servir às suas próprias finalidades.[32]

Como bem sabemos, Maquiavel desejando alcançar a graça do príncipe Lorenzo II (1492-1519),[33] escreveu O Príncipe em 1513, dedicando-lhe a sua obra. Ao que parece, o seu livro só foi entregue a Lorenzo em 1515, em forma manuscrita. O príncipe recebeu o livro friamente e, possivelmente, jamais o leu.[34]

Maquiavel é o teórico do resultado. O Estado não pode estar preso aos valores morais prevalecentes.[35] No caso de O Príncipe, ele propõe a perpetuação do governante no poder.

Para alcançar seus objetivos, todos os meios são válidos. Assim, ao príncipe ele sugere a venda de um perfil que represente as virtudes consideradas relevantes pelo povo, tais como: piedade, fidelidade, humanidade, integridade e religiosidade. No comportamento e palavras do príncipe, devem estar sempre embutidas a aparência dessas qualidades consideradas relevantes pelo povo.

Como que querendo se desculpar desses princípios – conforme observou Napoleão[36] -, Maquiavel afirma  que “se os homens todos fossem bons, este preceito seria mau”.[37]

No capitulo XVII de sua obra, Maquiavel já havia tratado desse assunto, dizendo que os homens são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro.[38]

 

         b) História, religião e poder

Dentro da hipocrisia oficializada por Maquiavel, encontramos a priorização da religiosidade, como meio do príncipe permanecer no poder. Nessa visão extremamente pessimista a respeito do homem – que, por ser essencialmente o mesmo, age sempre dirigido pelas mesmas motivações, paixões e interesses[39] -, Maquiavel diz que “os homens, em geral, julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, pois todos podem ver, mas poucos são os que sabem sentir. Todos veem o que tu pareces, mas poucos o que és realmente….”.[40]

Assim sendo, o que realmente importa são os resultados obtidos. Os meios serão sempre considerados bons se alcançarem os objetivos propostos.

Alguém poderia argumentar: os fins propostos estão associados ao “bem comum”. De fato. Contudo, quem estabelece o “bem comum” não é o príncipe? Logo, o “bem comum” é dele o do que ele julgar comum aos súditos.[41] É justamente aí que reside o poder; em utilizar uma estratégia adequada para que o príncipe permaneça no poder. Os fins justificam os meios![42] Dito de um modo mais, digamos, palatável: se os fins são considerados justos, os meios são louváveis.[43] Ah, ia me esquecendo: quem determina o que é justo é o príncipe.

Um bom exemplo emitido:

Quando é necessário deliberar sobre uma decisão da qual depende a salvação do Estado, não se deve deixar de agir por considerações de justiça ou injustiça, humanidade ou crueldade, glória ou ignorância. Deve-se seguir o caminho que leva à salvação do Estado e à manutenção da sua liberdade, rejeitando-se tudo mais.[44]

Outro: “Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: apesar disso, deve cuidar de empregar convenientemente essa piedade”.[45]  Saber dosar isso é fundamental…

Continuemos. Maquiavel sustenta que o fato de Rômulo ter matado seu irmão Remo, é justificado pelo seu objetivo e sucesso em alcançá-lo:

Nenhum  espírito esclarecido reprovará quem se tenha valido de uma ação extraordinária para instituir um reino ou uma república. Alguém pode ser acusado pelas ações que cometeu, e justificado pelos resultados destes. E quando o resultado for bom, com no exemplo de Rômulo, a justificação não faltará.[46]

Como exemplo de alguém que ilustre de forma concreta sua tese, cita Fernando de Aragão, o católico (1452-1516), que em 02/02/1492 invadira Granada, o último baluarte mouro na Península Ibérica, marcando assim, a vitória  definitiva do catolicismo sobre os muçulmanos na Península.[47] Na opinião de Maquiavel, o rei Fernando apenas usava da religião, sendo de fato um homem irreligioso.[48]

Assim, Maquiavel propõe uma ética “nariz de cera”, que se inclina sempre para a estratégia que se mostrar mais efetiva na consumação de seu objetivo.          Na elaboração de seus princípios, Maquiavel considera a História como mestra, emitindo conceitos que se coadunam com os exemplos extraídos da mesma, daí as suas normas serem sempre ilustradas por fatos históricos, quer pretéritos, quer presentes.

Parece-nos relevante destacar que a sua visão cíclica da história[49] gera um fatalismo cíclico. Deste modo, a sociedade é composta por indivíduos que ocupam um lugar predeterminado, aos quais não competem modificá-los, apenas conservá-los.

Coerente com este conceito, Maquiavel, respaldado por uma prática já consagrada na história, teoriza a respeito do modus vivendi e modus faciendi dos homens e, nesse ato, ajuda a perpetuar uma prática convencionada.

Maquiavel entende que 50% de nossa vida e destino estão entregues à Sorte ou Fortuna, “divindade cega”,[50] ou melhor, divindade que nos cega para não escaparmos de seus desígnios.[51]

Notemos que aqui Maquiavel substitui a palavra Providência por Fortuna. No entanto, mais do que a palavra, ele modifica o conceito.

A Fortuna em Maquiavel é a forma secularizada da Providência; é uma espécie de poder do acaso que age visivelmente por meio das vicissitudes às quais todos estão sujeitos.[52] A outra metade é comandada pelo nosso livre arbítrio,[53] que é o motor e a finalidade da “virtù”.[54]

Desse modo, os homens podem conquistar parte da sorte pela “virtù”,[55]  mas nunca opor-se a ela, aos seus desígnios nem controlá-la. No entanto a Sorte é bastante passional. Teoriza:

Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é mulher, e para dominá-la, é preciso bater-lhe e contrariá-la. E é geralmente reconhecido que ela se deixa dominar mais por estes do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos circunspectos, mais ferozes e com maior audácia a dominam.[56]

Para escapar de um fatalismo rígido, Maquiavel sugere a conquista de parte do território governado pela fortuna, pela “virtù”, que é a capacidade de liderança e de grandes feitos.[57] O caminho de que dispomos é o da “oportunidade”. Compete ao príncipe – a exemplo de Moisés, Ciro, Teseu, entre outros – usar do seu livre arbítrio,[58]  – uma decisão prática de agir[59] –, para não entregar  seu futuro simplesmente à sorte.

Digo que se vê hoje o sucesso de um príncipe e amanhã a sua ruína, sem ter havido mudança das suas qualidades. Creio que a razão disso, conforme o que se disse anteriormente, é que, quando um príncipe se apoia totalmente na fortuna, arruína-se segundo as variações daquela. Também julgo feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as particularidades dos tempos, e infeliz o que faz discordar dos tempos a sua maneira de proceder.[60]

É preciso saber variar o nosso procedimento conforme as circunstâncias. O método que funcionou ontem, pode não funcionar hoje.

As circunstâncias devem ser avaliadas. Portanto, conclui:  “Também julgo feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as particularidades dos tempos, e infeliz o que faz discordar dos tempos a sua maneira de proceder”.[61] Assim sendo, a “virtù” é indispensável ao príncipe em seus embates e desafios.[62]

Curiosamente, no Príncipe, Maquiavel não está preocupado em tratar de qual seja a melhor forma de governo. Ele objetiva apenas fornecer, amparado nos exemplos históricos, uma estratégia eficaz de fazer reinar a ordem social sob o domínio do príncipe. Desse modo, ele mostra as coisas como lhes parece, não necessariamente como desejasse que fossem. Sua visão é essencialmente pragmática.

Todavia, como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus.

Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade.[63]

Se olharmos com extrema bondade e ingenuidade sua ética, poderá parecer-nos que Maquiavel apenas expõe um “imperativo hipotético”  sem nenhum compromisso com a moralidade ou não de seus fins.[64] Acredito, contudo, que o “imperativo hipotético” só se torna destituído desta responsabilidade, na hipótese da ignorância dos objetivos da pessoa a quem ele é dirigido.

Assim, se alguém me pergunta sobre a melhor maneira de matar um homem, posso dizer-lhe sobre o emprego de uma arma; todavia, se esta mesma pessoa me diz que pretende matar um homem e me faz a pergunta referida acima, não posso indicar-lhe o meio sem me tornar de alguma forma responsável por parte do seu crime, caso venha a se concretizar. O curioso, é que ninguém pediu os conselhos de Maquiavel, ele é quem voluntariamente os deu.

Analisando outra vertente, podemos observar que o tipo de meio que eu emprego, deve se harmonizar eticamente com o meu objetivo; os meios revelam os meus fins. Desse modo, a proposta de hipocrisia, de não manutenção da palavra, entre outras, feita por Maquiavel, deve ser olhada como o caminho sugerido por um imoral, rumo a uma moralidade falsa e perniciosa que, a rigor, é uma imoralidade. O “realismo” de Maquiavel parece-nos, se a sua descrição da realidade for correta, uma colaboração bem elaborada para que ela permaneça com muito boa saúde.

Sem dúvida, temos aqui a elaboração teórica de alguém que sacrifica a moralidade em prol de, digamos, um bom funcionamento conveniente. A questão sempre é: bom para quem? Conveniente a que ou a quem?

Se, por outro lado, Maquiavel apenas emitiu  seus conceitos para agradar o príncipe e, decididamente, não cria no que preceituou, encontramos mais uma vez a fragilidade do seu caráter: seus interesses pessoais (ou mesmo coletivos), fazem-no expressar e perpetuar conceitos que ele abomina.

Nesse caso, sua ambição foi inconsequente. Podemos aplicar  seu conceito à sua prática. Em outro lugar, Maquiavel escreveu: “A ambição do homem é tão violenta que, para satisfazer o desejo do momento, não reflete nas desvantagens resultantes”.[65]

Considero conclusivas as palavras de Cassirer (1874-1945):

Maquiavel considerava a luta política como um jogo de dados. Tinha estudado profundamente as regras do jogo. Mas não tinha a menor intenção de alterar ou criticar essas regras. A sua experiência política ensinara-lhe que nunca o jogo político fora jogado sem fraude, mentira, traição e felonia. Ele nem recomendava nem reprovava essas coisas. A sua preocupação era descobrir o melhor lance – o lance que ganha a partida. (…) Maquiavel, na sua teoria, esquece que o jogo político se joga com verdadeiros homens, e não com marcas, e que o que está em jogo é a felicidade ou desgraça desses homens.[66]

 2. João Calvino: Providência e responsabilidade

         a) Sua formação

Calvino foi, sem dúvida, o principal arquiteto da tradição Reformada do Protestantismo.[67] Vejamos como isso se deu. João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509 em Noyon,  Picardia, sendo o segundo  filho de uma família de cinco irmãos.[68]  Seu pai, Gérard Cauvin era de origem humilde; sua mãe, Jeanne Leafranc, uma senhora piedosa, proveniente de família abastada, morreu quando Calvino tinha uns 5 ou 6 anos. Como Gérard era secretário apostólico de Charles de Hangest – bispo de Noyon (1501-1525) – e procurador fiscal do município, sua família mantinha íntimas relações com as famílias nobres de sua região, sendo ele próprio um ambicioso visionário que procurou encaminhar a educação de seus filhos da melhor maneira possível usando dos meios e recursos de que dispunha.

Posteriormente, Calvino, acompanhado de alguns amigos, filhos de nobres de sua terra natal, foi para Paris, onde recebeu treinamento para o sacerdócio, estudando alguns meses no Collège de la Marche (Humanidades e Latim) (agosto de 1523),[69] tendo como mestre o grande humanista Maturinus Corderius (c. 1479-1564).

Posteriormente foi para uma escola menos requintada em seus costumes e mais dura em sua disciplina e de orientação escolástica: Collège de Montaigu[70] (Gramática, Filosofia e Teologia) (1524), – por onde também passaram Erasmo de Roterdã (1466-1536) e Rabelais (c. 1483-1553) –,  estudando sob a direção de um mestre espanhol grandemente competente,[71]  Antonio Coronel, com quem Calvino fez grandes progressos, destacando-se entre os seus colegas no estudo da gramática.[72] Neste período, Calvino foi também, ao que parece,[73]  grandemente influenciado por outro de seus professores, que havia retornado a Montaigu (1525-1531), o escocês John Major (ou Jean Mair) (1469-1540),[74] Major que era nominalista ao seu modo, tentou fazer uma síntese entre o nominalismo e o realismo.[75]

Major “tinha ligações com a Irmandade da Vida em Comum”.[76] Foi ele quem instruiu Calvino na filosofia e lógica[77] medieval bem como na teologia bíblica e patrística.[78] Aqui concluiu sua licenciatura em Artes, preparando-se para o Curso de Teologia.[79]

Nesse período dá-se algo curioso. Comenta Schaff (1819-1893):

Em fevereiro, 1528, Inácio de Loyola, o fundador da ordem dos Jesuítas, entrou na mesma  faculdade e estudou sob o mesmo professor. Os líderes das duas  correntes opostas no movimento religioso do décimo sexto século viveram  muito próximo, debaixo do mesmo telhado e se sentando à mesma mesa.  Calvino já durante este período mostrou as características proeminentes do seu  caráter: ele era consciencioso, estudioso, silencioso, reservado, animado por um estrito senso de dever, e sumamente religioso.[80]

No entanto, todos esses jovens, Erasmo, Calvino e Loyola (1491-1556) – foram formados lendo entre outras obras piedosas,  a atribuída ao místico Thomas à Kempis (c. 1380-1471), Imitação de Cristo, a qual mesmo sem citar, parece tê-lo influenciado em sua formação,[81] destacando-se, ainda que não exclusivamente,[82] As Institutas (III.7-10)  e a Verdadeira Vida Cristã.[83]

Nesse mesmo ano (1528) – concluído o seu curso de Artes –, dá-se algo inusitado. Devido a uma disputa de seu pai com os clérigos de Noyon – assunto ainda não esclarecido satisfatoriamente[84] –, ele resolveu enviar seu filho para a conceituada e concorrida Universidade de Orléans, de cunho mais humanista, onde se dedicaria ao estudo de Direito civil[85] sob a influência do conceituado jurista, Pierre L’Étoile, cognominado de “rei da jurisprudência”[86] e “príncipe dos juristas”,[87] que posteriormente se tornaria presidente do Tribunal do Parlamento em Paris.[88] Calvino, ao que parece ficou impressionado com a erudição de L’Étoile (Petrus Stella [1480-1537]).[89] Aqui o jovem Calvino teve a oportunidade de substituir em sala alguns de seus professores, inclusive o próprio L’Étoile, que o convidara primeiro.[90]

Como Calvino resolveu deixar a universidade antes de completar os estudos, a Academia – em reconhecimento aos seus serviços prestados – resolveu por voto unânime de seus professores conferir-lhe o grau de Bacharel em Direito (“licencié ès lois”) sem cobrar-lhe as taxas habituais; no entanto, não há consenso se Calvino aceitou ou não o título.[91]

Com o objetivo de aperfeiçoar-se e, certamente atraído[92] pelo famoso humanista e mestre de Direito, o italiano Andreas Alciati (1492-1550), “um jurista de primeira linha, teórico da soberania do Príncipe”[93] foi para a Universidade de Bourges (1529-1531), fundada em 1463 por Luís XI.

Alciati era famoso também pelo seus discursos simples, sem grandes rebuscamentos retóricos. Não sei o quanto ele influenciou nesse aspecto o então jovem Calvino que terá como algumas de suas marcas a simplicidade e objetividade. [94]

Na Universidade de Bourges – que fizera grande investimento para atrair professores renomados –[95], estudaria também com Melchior Wolmar (1497-1560), a quem conhecera em Orléans.

Com a morte de seu pai (1531) tornou a Paris para continuar seus estudos literários, aperfeiçoar seus conhecimentos de grego com o professor Pierre Danès (1497-1577) e aprender hebraico (1531-1533) com François Vatable (1495-1547) indo residir no Colégio Fortet.[96]

O próprio Calvino descreveria de forma sumária a sua infância e parte de sua mocidade:

Quando era ainda bem pequeno, meu pai me destinou aos estudos de teologia. Mais tarde, porém, ao ponderar que a profissão jurídica comumente promovia aqueles que saíam em busca de riquezas, tal prospecto o induziu a subitamente mudar seu propósito. E assim aconteceu de eu ser afastado do estudo de filosofia e encaminhado aos estudos da jurisprudência. A essa atividade me diligenciei a aplicar-me com toda fidelidade, em obediência a meu pai; mas Deus, pela secreta providência, finalmente deu uma direção diferente ao meu curso.[97]

Quanto à sua capelania,  recebeu outro encargo; o curato de Saint-Martin de Martheville   (05/09/1527). Em 30 de abril de 1529 Calvino  resignou a capelania de La Gesine em favor do irmão mais jovem, Antoine[98] e, em 5 de julho de 1529, trocou o cargo de San Martin para o da aldeia Pont-l’Evèque (local de nascimento de seu pai).[99]

Nicolas Cop e seu discurso

Quando um de seus amigos, o humanista Nicolás Cop (c- 1501-1540) foi eleito reitor da Universidade de Paris, Calvino talvez o tenha ajudado a preparar o seu discurso,[100] que foi lido na igreja dos Maturinos,[101] como de costume no dia 1º de novembro de 1533. Neste discurso  propunha-se uma reforma na Igreja.

A resposta foi imediata; Cop  e Calvino tiveram de fugir de Paris; Cop voltou à sua terra natal, Basiléia, e Calvino, ao que parece, se abrigou na casa de seu amigo  Louis Du Tillet em Angoulême, que o tratou com muita dignidade.[102]

Em 1534, Calvino completaria 25 anos, idade legal para ser ordenado. Este é o momento de assumir de fato a sua fé e ofício. Assim, em 4 de maio de 1534,  voltou a Noyon e renunciou aos benefícios eclesiásticos.[103] As perseguições então intensificaram-se.[104] Novamente ele inicia suas peregrinações: Paris, Angoulême, Poitiers;  passaria algum tempo na Itália, Estrasburgo e Basiléia (1535).  Como fica evidente, nesse ínterim, Calvino havia  sido convertido ao protestantismo; a questão é: como e quando?

 

         b) Sua adesão ao Protestantismo

Não nos é possível precisar as circunstâncias e data da “súbita conversão” de Calvino, contudo as evidências apontam para um período entre (c. 1532-1534), portanto, em Orléans ou Paris.

Sem adentrarmos em especulações, contentemo-nos com suas palavras:  No que se refere à sua conversão, em 1539 diz:

Contrariado com a novidade,  eu  ouvia com muita má vontade e, no início, confesso, resisti com energia e irritação;  porque (tal  é a firmeza ou descaramento com os quais é natural aos homens resistir  no caminho que outrora tomaram) foi com a maior dificuldade que fui induzido a confessar que, por toda minha vida, eu estivera na ignorância e no erro.[105]

Na introdução do seu comentário de Salmos (1557), descreve:

Inicialmente, visto eu me achar tão obstinadamente devotado às superstições do papado, para que pudesse desvencilhar-me com facilidade de tão profundo abismo de lama, Deus por um ato súbito[106] de conversão, subjugou e trouxe minha mente a uma disposição suscetível, a qual era mais empedernida em tais matérias do que se poderia esperar de mim naquele primeiro período de minha vida.[107]

Também na já citada carta ao Cardeal Sadoleto (01/09/1539), Calvino  descreve suas angústias espirituais no romanismo, resultantes do que a  Igreja pregava.[108]   No entanto, em nenhum momento, Calvino menciona como isso se deu.

 

         c) O Conforto de confiar no Deus da providência

“Nos fins da Idade Média pesava na alma do povo uma tenebrosa melancolia”, constata o holandês Huizinga (1872-1945).[109] Os séculos anteriores à Reforma são descritos como período de grande ansiedade.[110]

Lutero (1483-1546) e as suas famosas angústias espirituais, espelhava “a epítome dos medos e das esperanças de sua época”, interpreta George.[111]

Calvino, ainda que não fosse dominado por esse sentimento, refletia uma constatação natural: a fragilidade humana. Sobre os perigos próprios da vida associados à fragilidade humana, relaciona:

Incontáveis são os males que cercam a vida humana, males que outras tantas mortes ameaçam. Para que não saiamos fora de nós mesmos: como seja o corpo receptáculo de mil enfermidades e dentro de si, na verdade, contenha inclusas e fomente as causas das doenças, o homem não pode a si próprio mover sem que leve consigo muitas formas de sua própria destruição e, de certo modo, a vida arraste entrelaçada com a morte.

Que outra cousa, pois hajas de dizer, quando nem se esfria, nem sua, sem perigo? Agora, para onde quer que te voltes, as cousas todas que a teu derredor estão não somente não se mostram dignas de confiança, mas até se afiguram abertamente ameaçadoras e parecem intentar morte pronta. Embarca em um navio: um passo distas da morte. Monta um cavalo: no tropeçar de uma pata a tua vida periclita. Anda pelas ruas de uma cidade: quantas são as telhas nos telhados, a tantos perigos estás exposto. Se um instrumento cortante está em tua mão ou de um amigo, manifesto é o detrimento. A quantos animais ferozes vês, armados estão-te à destruição. Ou que te procures encerrar em bem cercado jardim, onde nada senão amenidade se mostre, aí não raro se esconderá uma serpente. Tua casa, a incêndio constantemente sujeita, ameaça-te pobreza durante o dia, durante a noite até mesmo sufocação. A tua terra de plantio, como esteja exposta ao granizo, à geada, à seca e a outros flagelos, esterilidade te anuncia e, dela a resultar, a fome. Deixo de referir envenenamentos, emboscadas, assaltos, a violência manifesta, dos quais parte nos assedia em casa, parte nos acompanha ao largo.

Em meio a estas dificuldades, não se deve o homem, porventura, sentir assaz miserável, como quem na vida apenas semivivo, sustenha debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada perpetuamente a impender-lhe sobre o pescoço?[112]

Não há parte de nossa vida que não se apresse velozmente para a morte.[113]

E o que mais somos nós senão um espelho da morte?[114]

Pascal (1623-1662), mais tarde, constataria que “Só o homem é miserável”[115] e, ao mesmo tempo, grande, porque “ele se conhece miserável”.[116]

No entanto, Calvino não termina seu argumento numa descrição “existencialista” da vida, mas na certeza própria de um coração dominado pela Palavra de Deus. Assim, ele conclui falando da “incalculável felicidade da mente piedosa”:[117]

Quando, porém, essa luz da Divina Providência uma vez dealbou ao homem piedoso, já não só está aliviado e libertado da extrema ansiedade e do temor de que era antes oprimido, mas ainda de toda preocupação. Pois assim como, com razão, se arrepia de pavor da sorte, também assim ousa entregar-se a Deus com plena segurança.[118]

Calvino admite que para qualquer lado que olharmos encontraremos sempre desespero, até que tornemos para Deus, em Quem encontramos estabilidade no meio de um mundo que se corrompe.[119] Escreve então:

A regra que devemos observar, quando estamos em angústia e sofrimento, é esta: que busquemos conforto e alívio só na providência de Deus; porque em meio à nossas agitações, apertos e preocupações devemos encher-nos da certeza de que sua função peculiar consiste em prover alívio ao miserável e aflito.[120]

 

         d) Os caminhos misteriosos da Providência.

A maior de todas as misérias é o desconhecimento da providência de Deus; e a suprema bem-aventurança é conhecê-la – João Calvino.[121]

Não há homem de mente tão embotada e estúpida que não consiga ver, bastando dar-se ao trabalho de abrir seus olhos para o fato de que é pela espantosa providência de Deus que os cavalos e bois prestam seus serviços aos homens – que as ovelhas produzem lã para vesti-los –, e que todas as sortes de animais os suprem de alimento para sua nutrição e sustento, mesmo de sua própria carne – João Calvino.[122]

A compreensão de Calvino a respeito da direção de Deus sobre todas as coisas, ao contrário do que poderia parecer, não o leva à ociosidade, ou a um tipo de perspectiva fatalista afirmando que nada podemos fazer a não ser nos contentar com o que está previamente fixado por uma causa sobrenatural. Pelo contrário, sua compreensão de providência de Deus inspira-o ao trabalho, consciente de que somos instrumentos de Deus para a execução do seu sábio e eterno propósito.

Essa doutrina tem, dessa maneira, uma “urgência pragmática” para todo o povo de Deus. O tempo é um recurso precioso que Deus nos concede para o progresso em todas as esferas de nossa vida.

Esta doutrina tem, portanto, uma “urgência pragmática” para todo o povo de Deus. O tempo é um recurso precioso que Deus nos concede para o progresso em todas as esferas de nossa vida.[123]

O encontro com Farel

Ilustremos a visão de Calvino em sua própria existência: Em 1539,  Calvino, o jovem de 30 anos, podia  tornar a fazer  o que julgava determinado à sua vida: o estudo, a reflexão e a pregação. Com este objetivo, dirige-se a Estrasburgo. Ele deveria ter chegado a Estrasburgo em 1536, contudo, por encontrar-se impedida a estrada que daria acesso direto àquela cidade, teve de pernoitar em Genebra, “não mais que uma noite”. No entanto, o tímido e discreto Calvino que desejava passar anônimo, foi descoberto… Então teve seu encontro dramático com o pastor Guilherme Farel (1489-1565) que o persuadiu a permanecer em Genebra e, juntos, levar adiante a Reforma que oficialmente fora adotada  “democrática e unanimemente pelo Conselho Geral” naquela cidade, em 21 de maio de 1536.

Calvino, mais tarde, em 1557, relembrando o fato, diria que Farel o convenceu, “não propriamente movido por conselho e exortação, e, sim, movido por uma fulminante imprecação, a qual me fez sentir como se Deus pessoalmente, lá do céu, houvera estendido sua poderosa mão sobre mim e me aprisionado”.

Continua:

E, ao descobrir [Farel] que meu coração estava completamente devotado aos meus próprios estudos pessoais, para os quais desejava conservar-me livre de qualquer outras ocupações, e percebendo ele que não lucraria nada com seus rogos, então lançou sobre mim uma imprecação, dizendo que Deus haveria de amaldiçoar meu isolamento e a tranquilidade dos estudos que eu tanto buscava, caso me esquivasse e recusasse dar minha assistência, quando a necessidade era em extremo premente”.

[Farel conseguiu:]

Sob o impacto de tal imprecação, eu me senti tão abalado de terror, que desisti da viagem que havia começado.[124]

Depois de tentarem implantar de fato a reforma em Genebra, em 1538, com a mudança política, Calvino e Farel foram expulsos da cidade.

Deus dirige todos os eventos: crê. Agora, finalmente está em Estrasburgo  disposto a recomeçar sua vida pastoral e de estudo, tendo então, como marco desta nova fase, a redação do  seu comentário do livro que considerava o principal das Escrituras: A Epístola de Paulo aos Romanos (1539).

Não sabia Calvino que em Estrasburgo encontraria um outro “Farel”, chamado Martin Bucer (1491-1551) que,

Empregando um gênero similar de censura e protesto ao que Farel recorrera antes, arrastou-me de volta a uma nova situação. Alarmado com o exemplo de Jonas, o qual ele pusera diante de mim, ainda prossegui na obra do ensino. E embora continuasse como sempre fui, evitando por todos os meios a celebridade, todavia fui levado, sem o saber, como pela força, a comparecer às assembleias imperiais, onde, voluntária ou involuntariamente, fui forçado a aparecer ante os olhos de muitos.[125]

A situação política muda em Genebra. Em 22 de outubro de 1540 – entre outras cartas enviadas –, o Conselho dos Duzentos resolve convidar Calvino a voltar a Genebra.[126]

Escreve uma carta-resposta (19/05/1540) ao seu amigo Viret (1511-1571):

Eu li aquela passagem de sua carta, e certamente sem nenhum sorriso, onde você mostra preocupações com a minha saúde e recomenda-me voltar a Genebra. Por que você não poderia ter dito à cruz? Pois, teria sido preferível para mim perecer de uma só vez nas agonias do calvário, do que tornar a ser supliciado novamente naquele lugar de tortura.[127]

Calvino hesita; em 1º de maio de 1541, o Conselho Geral, por considerar Calvino e Farel “pessoas de bem e de Deus”, revoga o edito de banimento de 1538. Farel, que convencera Calvino em 1536 a permanecer em Genebra, agora, a pedido do Conselho daquela cidade – visto que Calvino não atendera ao seu convite –, convence Calvino.

Retorno à Genebra

Em 1541 retorna à Genebra.[128] Em agosto de 1541, Calvino já se decidira; mesmo desejando permanecer em Estrasburgo, voltaria a Genebra: “Mas quando eu me lembro que não pertenço a mim próprio, eu ofereço meu coração, apresentado como um sacrifício ao Senhor”.[129] Posteriormente, pregando em Genebra (26/02/1554),[130] diria: “Em primeiro lugar temos de aprender a sujeitar nosso coração a ser obediente a Deus”.[131]

Os fatos ocorrem com certa rapidez: Na manhã terça-feira de 13/9/1541 os magistrados de Genebra, precedidos por um arauto, foram receber Calvino, percorrendo o mesmo caminho que ele e Farel fizeram três anos antes, passando pela porta Cornavin em direção Versoix.[132] Neste mesmo dia, Calvino entra em Genebra; no dia 16, escreve a Farel dando-lhe notícia da sua entrevista com os Magistrados e dos passos para a elaboração da forma para disciplina eclesiástica.[133]

A partir de então, Calvino dá prosseguimento à implantação de uma intensa reforma naquela cidade.

Mais tarde (1557), ele contaria que regressou a Genebra com lágrimas, tristeza, ansiedade e abatimento, contrariando a sua “aspiração e inclinação”; contudo, ele tinha dentro de si um sentimento maior do que simplesmente fazer o que desejava; confessa:

O bem-estar  desta Igreja, é verdade, era algo tão íntimo de meu coração, que por sua causa não hesitaria a oferecer minha própria vida; minha timidez, não obstante, sugeriu-me muitas razões para escusar-me uma vez mais de, voluntariamente, tomar sobre meus ombros um fardo tão pesado. Entretanto, finalmente uma solene e conscienciosa consideração para com meu dever prevaleceu e me fez consentir em voltar ao rebanho do qual fora separado.[134]

Em outra ocasião escreveria:

Não é de se estranhar se os fiéis, mesmo em oração, nutram em seus corações divergências e emoções conflitantes. O Espírito Santo, porém, que os habita, amenizando a violência de sua dor, pacifica todas as suas queixas e os conduz paciente e cordialmente à obediência.[135]

Mas, como ele mesmo diria, comentando o Salmo 13, “é pela fé que tomamos posse de Sua providência invisível”.[136]

Expondo o Salmo 18, diz: “Não há nada mais miserável do que uma pessoa, em adversidade, que entra em desespero por agir segundo o mero impulso de sua própria mente e não em obediência à vocação divina”.[137] Em tudo isso, ele via a mão de Deus agindo por meio dos eventos e da modelagem de sua vontade.

A sua tarefa não foi fácil nem tranquila: No comentário de Tito (1549) – dedicado aos seus amigos Farel e Viret –, escreveu, como que descrevendo a sua própria vivência em Genebra:

A edificação de uma igreja não é uma tarefa tão fácil que se torne possível fazer com que tudo seja imediata e perfeitamente completado.[138]

Hoje sabemos pela própria experiência que o que se requer não é o labor de um ou dois anos para levantar as igrejas caídas a uma condição mais ou menos funcional. Aqueles que têm alcançado diligente progresso por muitos anos devem ainda preocupar-se em corrigir muitas coisas.[139]

No dia 25 de dezembro de 1555, Calvino escreve ao pastor de Zurich, Johann Wolf (c. 1521-1572), amigo de Bullinger, em resposta à sua carta de 3 de dezembro. Nela retrata algumas de suas angústias:

Creia-me, tive menos problemas com Serveto  e tenho agora com Westphal e seus companheiros, do que com aqueles que estão próximos de mim, cuja quantidade não pode ser estimada e cujas paixões são irreconciliáveis. Se pudesse escolher, seria melhor ser queimado pelos papistas do que ser eternamente praguejado pelos vizinhos. Eles não me dão um momento de descanso, embora possam ver claramente que estou entrando em colapso sob a carga do trabalho, perturbado por tristes acontecimentos intermináveis e por demandas importunas, Meu único conforto é que a morte logo me tirará desse serviço sobremodo difícil.[140]

Descrevendo a confiança de Davi, a sua fé em meio a temores, diz:

A verdadeira prova de fé consiste nisto: que quando sentimos as solicitações do medo natural, podemos resisti-las e impedi-las de alcançarem uma indevida ascendência. Medo e esperança podem parecer sensações opostas e incompatíveis, contudo é provado pela observação que esta nunca domina completamente, a não ser quando exista aí alguma medida daquele. Num estado de tranquilidade mental não há qualquer espaço para o exercício da esperança.[141]

Calvino permaneceu em Genebra até o fim de sua vida  (27/5/1564) implementando intensa reforma que se tornou modelo e inspiração especialmente para o mundo ocidental.

Cerca de 300 anos depois, um erudito católico francês, Ernest Renan (1823-1892), como um dos primeiros historiadores da França, revela a sua incompreensão diante da figura inquietante daquele personagem distante no tempo e nas ideias mas, que continuava vivo em seu país e em quase todo mundo Ocidental. Assim, nos seus Estudos da História das Religiões, revela sua perplexidade, dizendo ter sido ele, “o maior cristão do seu século”.[142]

 

Considerações finais

Maquiavel e Calvino, dois personagens contemporâneos, com duas cosmovisões tão distintas e, em muitos aspectos excludentes, marcaram a história de forma indelével. A influência de ambos permanece até os nossos dias. As suas percepções, inclusive religiosas, moldaram suas compreensões da vida, da ética e da História.  Logicamente tudo isso delineou os ensinamentos e comportamento de cada um. Maquiavel, no uso do que acredita ser livre arbítrio,  negocia, em tons racionais e místicos, com a Sorte (Fortuna) tentando lidar com a maldade congênita do ser humano[143] e tomar com habilidade – “virtù” – parte do controle de seu destino entendendo que este fim é nobre, portanto, os meios que usar são lícitos. Ele, portanto, rejeita a atitude passiva frente à vida. Ele parte da contemplação à ação.[144]

Calvino, diferentemente, crê na direção da História por parte de um Deus soberano, santo, sábio, justo, misericordioso e amoroso. Ele se vê – como a todos os seres humanos -, como agente da História que tem parte na execução do propósito de Deus dentro de sua esfera de ação; nas pequenas e grandes coisas. Ou seja: somos meios ordinários por meio dos quais Deus dirige a História.

Cosmovisão pode ser definida como o conjunto de princípios  teóricos que se constituem nos óculos por meio dos quais percebemos e interpretamos a realidade. Deste modo, o fato de cremos num Deus pessoal que pode ser conhecido e que rege a história em sabedoria, justiça e amor, tendo um propósito definido, nos permite olhar a realidade de forma distinta de quem, por exemplo, não crer nestes fatos

Devemos, portanto, assumir responsavelmente a nossa fé, procurando sempre agir conforme os ensinamentos bíblicos. Devemos usar de todos os recursos legítimos que Deus nos fornece. Sem dúvida Deus pode e de fato age sem meios se assim o desejar; contudo, esta não é a sua forma ordinária. Somos responsáveis que uso que fazemos dos recursos que Deus mesmo nos disponibiliza. Deus não nos dispensa do uso do bom-senso naquilo que fazemos.[145]

Deste modo, devemos procurar harmonizar os nossos ideais aos meios e aos fins de Deus que, em última instância, se concretizam na glória de Deus, que é o alvo final de nossa existência (1Co 10.31).[146]

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1]Este artigo foi publicado anteriormente de forma resumida e com um título diferente (2014). Veja-se: https://cpaj.mackenzie.br/fileadmin/user_upload/3-A-fortuna-e-a-provid%C3%AAncia-Maquiavel-e-Calvino-dois-olhares-sobre-a-hist%C3%B3ria-e-a-vida-Hermisten-Maia-Pereira-da-Costa.pdf (Consulado em 15.12.2023).

[2] Karl Barth, Church Dogmatics, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2010, III/3, 11.48, § 2, p. 20.

[3] “O velho ideal científico da epistéme do conhecimento absolutamente certo, demonstrável – provou ser um ídolo. A exigência da objetividade científica torna inevitável que todo enunciado científico permaneça provisório para sempre. Pode-se de fato corroborá-lo, mas toda corroboração é relativa aos outros enunciados que, novamente, são provisórios. Somente podemos estar ‘absolutamente certos’ de nossas experiências subjetivas de convicção, de nossa fé subjetiva.

“Com o ídolo da certeza (incluindo-se os graus de certeza imperfeita ou probabilidade) cai um dos baluartes do obscurantismo que barra o caminho do avanço científico, reprimindo a audácia de nossas questões e pondo em perigo o rigor e a integridade de nossos testes. A concepção errada da ciência trai-se em sua pretensão de ser correta; pois, o que faz o homem de ciência não é sua posse do conhecimento, da verdade  irrefutável, mas sua indagação persistente e temerariamente crítica da verdade.

“(…) A ciência nunca persegue o fim ilusório de que suas respostas sejam definitivas ou mesmo prováveis. Seu avanço dirige-se, ao contrário, para o fim infinito e ainda assim atingível de sempre descobrir problemas novos, mais profundos e  mais  gerais,  e  de sujeitar suas respostas sempre provisórias a testes sempre renovados e cada vez mais rigorosos” (Karl R. Popper, A Lógica da Investigação Científica, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 44), 1975, § 85. p. 383, 384. (Veja-se também: Jean Piaget, A Epistemologia Genética, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 51), 1975, p. 129-130).

“Hoje em dia toda a gente reconhece que a plena certeza é algo de inatingível nas ciências a que se chama ‘indutivas'” (Karl R. Popper, O Realismo e o Objectivo da Ciência, (Pós-Escrito à Lógica da Descoberta Científica, v. I), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987, * 27, p. 234-235).

[4]“[A ciência] é provisória e limitada” (Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 7).

[5] “A ciência é obra coletiva, porquanto supõe vasta cooperação de todos os sábios, não somente de dada época, mas de todas as épocas que se sucedem na história” (Émile Durkheim, Educação e Sociologia, 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, São Paulo, [s.d.], p. 35). Do mesmo modo escreveu Kuyper e mais recentemente Ziman. Vejam-se: A. Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 42-45; John Ziman, O Conhecimento Confiável: uma exploração dos fundamentos para a crença na ciência, Campinas, SP.: Papirus, 1996, p. 13.

[6] “O conhecimento científico é produto de um empreendimento humano coletivo ao qual os cientistas fazem contribuições individuais purificadas e ampliadas pela crítica mútua e pela cooperação intelectual. Segundo essa teoria, a meta da ciência é um consenso de opinião racional sobre o campo mais amplo possível” (John Ziman, O Conhecimento Confiável: uma exploração dos fundamentos para a crença na ciência, Campinas, SP.: Papirus, 1996, p. 13).

[7] “Este método baseia-se na suposição de que nada pode ser realmente conhecido a não ser que o seja cientificamente, o que está longe de ser uma proposição evidente” (Étienne Gilson, Deus e a Filosofia, Lisboa: Edições 70, (2003), p. 86).

[8]“Ainda que o conhecimento científico seja importante e poderoso, é essencialmente limitado” (Hendrik van Riessen, Enfoque Cristiano de la Ciencia, 2. ed. Países Bajos: FELIRE, 1990,  p. 57).

[9]“A primeira preocupação de todo praticante de ciência, e, particularmente, de todo teólogo, é ser humilde e modesto. Um cientista não deve pensar que é mais sábio do que realmente é. Toda disciplina científica está presa ao seu objeto. Ela não pode  ̶ por causa de uma teoria preconcebida  ̶ falsificar ou negar os fenômenos que observa” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 246). “Sem humildade, não pode haver verdadeiro avanço cientifico” (Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 116).

[10]Para uma abordagem mais ampla sobre a ciência, seus desejos e limitações, veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Ciência e a sua “autonomia”: Ciência ou fé?: Rompendo em fé com a fé. In: Ciências da Religião: História e Sociedade, São Paulo: Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, (8/1, /2010): 61-97. (editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/view/1458/2379 ). (Consulta feita em 14.12.2013) e, Hermisten M.P. Costa, Uma Fé que investiga e uma ciência que crê, Goiânia, GO.: Cruz, 2020.

[11] “Por toda a parte, até hoje, tem sido o sentimento religioso a inspiração, a substância, ou o cimento das instituições livres, onde quer que elas duram, enraízam, e florescem” (Ruy Barbosa, Cartas de Inglaterra, 2. ed. São Paulo: Livraria Academica Saraiva & C. – Editores, 1929, p. 433).

[12] Thomas Hobbes em 1651, concluiu que a religião é exclusividade do ser humano: “Verificando que só no homem encontramos sinais, ou frutos da religião, não há motivo para duvidar que a semente da religião se encontra também apenas no homem, e consiste em alguma qualidade peculiar, ou pelo menos em algum grau eminente dessa qualidade, que não se encontra em outras criaturas vivas” (Thomas Hobbes, Leviatã, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 14), 1974, p. 69). No século XX Nash falou sobre o caráter inescapável da religião na vida humana: “Religião é uma realidade inescapável da vida. Todos os humanos têm algo que os preocupa de maneira última e, seja este qual for, o seu objeto final é a pessoa de Deus” (Ronald H. Nash, Questões Últimas da Vida: uma introdução à Filosofia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 19)

[13]“Assim como não se pode encontrar homem algum, por mais bárbaro e mesmo selvagem que possa ser, que não seja tocado por alguma ideia de religião, é certo que todos somos criados a fim de conhecer a majestade de nosso Criador, e tendo-a conhecido, estimá-la acima de todas as coisas e honrá-la com todo temor, amor e reverência” (João Calvino, Instrução na Fé Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, Cap. 1, p. 11). “Os próprios ímpios são para exemplo de que vige sempre na alma de todos os homens alguma noção de Deus” (João Calvino, As Institutas, I.3.2). Vejam-se também: João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 11.6), p. 305; João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 8.5), p. 167.

[14]Czeslaw Milosz, Diskreter Charme des Nihilismus.  In:  New York Times Revies of Books,  19 de novembro de 1998 (https://www.nybooks.com/articles/1998/11/19/discreet-charm-of-nihilism/) (Consulta feita em 15.12.2023).

[15] Bronislaw Malinowski, Magia, ciência e religião, Lisboa: Edições Setenta, (s.d.), p. 19.

[16]O Príncipe foi escrito em 1513 e publicado postumamente em 1531.

[17] Quanto às opiniões diferentes a respeito de Maquiavel e sua obra, vejam-se: Jean-Jacques Chevallier, As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias, 3. ed. Rio de Janeiro; Brasília, DF.: Agir; Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 44ss.; I. Berlin, O Problema de Maquiavel: In: Curso De introdução à Ciência Política, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 117-143; Ernst Cassirer, O mito do estado, São Paulo: Códex, 2003, p. 145-159.

[18]Leo Strauss,  Reflexões sobre Maquiavel, São Paulo: É Realizações, 2015, p. 39.

[19] Conal Condren, Marsílio e Maquiavel: In: Ross Fitzgerald, org. Pensadores Políticos Comparados, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1983, [p. 93-109], p. 93 e 100. Abbagnano, o chama de “primeiro escritor político da Idade Média” (Nicola Abbagnano, História da Filosofia, 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1984, v. 5, § 345, p. 56).

[20]Bertrand Russel, História da Filosofia Ocidental, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967, v. 1, p. 20.

[21] Cf. Jean-Jacques Chevallier, As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias, 3. ed. Rio de Janeiro; Brasília, DF.: Agir; Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 45.

[22]Cf. Jean-Jacques Chevallier, As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias, 3. ed. Rio de Janeiro; Brasília, DF.: Agir; Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 45; I. Berlin, O Problema de Maquiavel: In: Curso De introdução à Ciência Política, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 129. Contudo, como sabemos, não há censura totalmente eficaz; ela sempre tem as suas brechas e ambiguidades. Ao mesmo tempo, a censura, na divulgação de seus livros proibidos, como já o observara Diderot (1763) sarcasticamente, terminava por ser uma espécie de promotora dos mesmos pelo estímulo à curiosidade (Vejam-se: Roger Chartier, Inscrever e Apagar: cultura escrita e literatura, séculos XI-XVIII, São Paulo: Editora UNESP., 2007, Robert Darnton, Edição e Sedução: O universo da literatura clandestina no século XVIII, São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 15; Peter Burke, Uma História Social do Conhecimento: de Gutenberg a Diderot, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p. 139).

[23]Baruch Espinosa, Tratado Político, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 17), 1973, I.5.7, p. 329.

[24]J.J. Rousseau, Do contrato social, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 24), 1973, p. 95. Veja-se também, Raymond Aron, Estudos políticos, 2. ed. Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1985, p. 99ss.;  Quentin Skinner, As fundações do pensamento político moderno,  São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 173-174.

[25]Maurice Merleau-Ponty, Elogio da Filosofia, 2. ed. Lisboa: Guimarães & C.ª Editores, (Coleção Ideia Nova), (1979), p. 76.

[26] Marcílio M. Moreira, O Pensamento Político de Maquiavel: In: Maquiavel, O Príncipe – Estudos, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1985, p. 113.

[27] Franco Cambi, História da pedagogia, São Paulo: Editora UNESP., 1999, p. 246.

[28]Leo Strauss, Nicolás Maquiavelo: In: Leo Strauss; Joseph Cropsey, compiladores. Historia de la Filosofia Política, México: Fondo de Cultura Económica, © 1993, 1996 (reimpresión), p. 287; Veja-se também: Leo Strauss,  Reflexões sobre Maquiavel, São Paulo: É Realizações, 2015, p. 20ss.). De modo ilustrativo do que foi dito, no Dicionário de Política editado por Bobbio (1909-2004) e outros, no verbete Maquiavelismo, lemos: “…. expressão usada especialmente na linguagem ordinária para indicar um modo de agir, na vida política ou em qualquer outro setor da vida social, falso e sem escrúpulos, implicando o uso da fraude e do engano mais que da violência….” (Sérgio Pistone, Maquiavelismo: In: Norberto Bobbio, et. al. eds. Dicionário de Política, 6. ed. Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1994, v. 2, p. 738). (Veja-se também: Leo Strauss,  Reflexões sobre Maquiavel, São Paulo: É Realizações, 2015).

[29] “O quadro de um Maquiavel cor-de-rosa não é um quadro historicamente verdadeiro. É uma convenção fabulosa tão oposta à verdade histórica como a concepção do ‘diabólico’ Maquiavel” (Ernst Cassirer, O Mito do estado, São Paulo: Códex, 2003, p. 175).

[30] “…. É necessário que quem estabelece a forma de um Estado, e promulga as suas leis, parta do princípio de que todos os homens são maus, estando dispostos a agir com perversidade sempre que haja ocasião. Se esta malvadez se oculta durante um certo tempo, isso se deve a alguma causa desconhecida, que a experiência ainda não desvelou; mas o tempo – conhecido justamente como o pai da verdade – vai manifestá-la. (…) Os homens só fazem o bem quando é necessário; quando cada um tem a liberdade de agir com abandono e licença, a confusão e a desordem não tardam a se manifestar por toda parte” (N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, I.3. p. 29).

[31]Michel-Pierre Edmond, Maquiavel. In: F. Châtelet; O. Duhamel; E. Pisier, (Coords.). Dicionário de Obras Políticas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 759-760.

[32]H. Dooyeweerd,  Raízes da Cultura Ocidental, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 171.

[33] Veja-se a carta dedicatória ao príncipe na obra (N. Maquiavel, O príncipe, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 9), 1973, p. 9-10). Na mesma edição encontra-se a carta escrita por Maquiavel ao Embaixador Florentino Francesco Vettori  (1474-5-1539), em 10/12/1513, p. 117-120.

[34] Cf. Jean-Jacques Chevallier, As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias, 3. ed. Rio de Janeiro; Brasília, DF.: Agir; Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 44.

[35] Cf. Antonio Paim, et. al. As grandes obras da política em seu contexto histórico, Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura, 1999, p. 57.

[36] Na passagem citada infra, Napoleão Bonaparte, enquanto General, anotou na margem de seu livro: “Retratação pública de moralista” (N. Maquiavel, O Príncipe; comentado por Napoleão Bonaparte. 11. ed. São Paulo: Hemus Editora, © 1977, p. 99).

[37] N. Maquiavel, O Príncipe, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 9), 1973, p. 80.

[38] N. Maquiavel, O Príncipe, p. 76.

[39] Cf. José Ferrater Mora, Dicionário de filosofia, São Paulo: Edições Loyola, 2001, v. 3, p. 1856.

[40] N. Maquiavel, O príncipe, p. 81.

[41] Veja-se: Ernst Cassirer, O Mito do estado, São Paulo: Códex, 2003, p. 176.

[42]N. Maquiavel, O príncipe, p. 81. De fato, Maquiavel apesar de propor em toda a sua obra este conceito, ele não o empregou textualmente em nenhum momento. Ao que parece, uma frase similar foi emitida pelo padre jesuíta  alemão Hermann Busenbaum (1602-1668), que escreveu: “Quando o fim é lícito, os meios também são lícitos” (Medulla Theologiae Moralis, IV.3.2. Apud Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 615).

[43] Cf. Jean-Fabien Spitz, Maquiavel: In: Monique Canto-Sperber, org. Dicionário de ética e filosofia Moral, São Leopoldo, RS.: Editora Unisinos, 2003, v. 2, p. 128b.

[44] N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, III.41, p. 445.

[45] N. Maquiavel, O Príncipe, p. 75.

[46]N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, I.9, p. 49.

[47]A Inquisição trazida para a Espanha por Fernando e Isabel em 1478, sendo estabelecida definitivamente em 17/9/1480, ficou conhecida ali, como “Santo Ofício”.  Aos poucos ela foi se fortalecendo na Espanha e, os judeus e mouros se tornaram seus alvos preferidos.  Em 1480 o rei mouro Mulei Assan se negou a continuar pagando impostos aos reinos de Aragão e Castela, unidos desde 1469 com o casamento de Fernando de Aragão (1452-1516) e Isabel de Castela (1451-1504). Fernando atacou Granada e depois de mais de dez anos de lutas, os mouros sitiados e famintos não encontraram outra alternativa, senão pedir a paz. Assim, em 25/11/1491, entregaram a cidade e as munições, assinando um tratado de rendição. No dia 2 de janeiro de 1492, o rei Fernando acompanhado de sua esposa Isabel, entrou triunfante em Granada. O papa Inocêncio VIII (1432-1492)  concedeu-lhe o título de Rei Católico.

Fernando e Isabel, influenciados pelo dominicano Tomás de Torquemada (1420-1498) (Cf. Alexandre Herculano, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Portugal: Publicações Europa América, [s.d.], v. 1, p. 53), promulgaram  em 31 de março de 1492 uma lei ordenando que todo judeu que não aceitasse o batismo teria que abandonar a Espanha dentro de quatro meses.  Este decreto fez com que muitos judeus se submetessem ao batismo. Entretanto, como era de se esperar, tinha-se sérias dúvidas da sua sinceridade. Muitos outros, então,  preferiram deixar a Espanha, para iniciar a sua vida em outro lugar. Sem esquecer-nos da flexibilidade estatística da época, calcula-se que entre 160.000 e 200.000 judeus abandonaram a Espanha nesse período (Vejam-se: António Mendes Correia et. al., eds., Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa: Editorial Enciclopédia, Limitada, (s.d.), v. 32, p. 145 e  Reginald T. Davies, et. al., Spain: In: Encyclopaedia Britannica, Chicago: William Benton, 1962, v. 21, p. 122b).

Johnson (1928-2023) diz que à época, havia na Espanha cerca de 200.000 judeus e “100.000 fizeram penosa caminhada através da fronteira para Portugal, de onde, por sua vez foram expulsos quatro anos mais tarde. Cerca de 50.000 atravessaram os estreitos para a África do Norte ou em navio para a Turquia” (Paul Johnson, História dos Judeus, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1989, p. 231).

Herculano (1810-1877) possivelmente com algum exagero, diz que só nesse ano (1492), oitocentos mil judeus viajaram para a África e Portugal, indo cerca de um terço para Portugal (Cf. Alexandre Herculano, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal,  v. 1, p. 53, 68). Na África, foram espoliados pelos mouros, repetindo o que se dera na Espanha, quando foram despojados de todo o ouro e prata que possuíam. Muitos, não resistindo à dupla espoliação, preferiram voltar “convertidos” para a Espanha, aceitando o batismo. A observação feita por Herculano parece-nos extremamente pertinente, quando conclui que essas conversões, que redundavam em batismo, “faziam milhares de hipócritas, mas bem poucos cristãos sinceros” (Alexandre Herculano, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal,  v. 1, p. 42).  Um outro fato patético é que “em fins de julho de 1492 a expulsão era um fato consumado” (Paul Johnson, História dos Judeus, p. 231). Assim se encerrava a história da comunidade judaica na Espanha, porém não a história dos judeus ditos “convertidos”.

Apesar do zelo religioso alegados por Fernando e Isabel, como motivo para perseguirem os judeus, sabe-se que grande parte da sua hostilidade bem como do povo espanhol contra os judeus, estava ligado à antipatia racial, o desejo de estabelecer uma unidade “emocional” em seu território e à inveja provocada pela prosperidade deles.

[48] N. Maquiavel, O príncipe, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 9), 1973, p. 8 e 99.

[49]Dentro desta perspectiva, o curso dos acontecimentos é comandado por uma necessidade absoluta que dirige a história sem um objetivo final, conduzindo-nos a fatalismo cíclico. Deste modo, o homem é apenas um espectador do universo que pode até prever os eventos, todavia, não mudá-los (Ver: Otto A. Piper, A interpretação cristã da história, São Paulo, 1956 (Coleção da Revista de História), p. 15).

[50]Jean-Jacques Chevallier, As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias, 3. ed. Rio de Janeiro; Brasília, DF.: Agir; Editora Universidade de Brasília, 1982, p. 84.

[51] N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, II. 29, p. 291-293.

[52]Cf. Cf. Jean-Fabien Spitz, Maquiavel: In: Monique Canto-Sperber, org. Dicionário de ética e filosofia Moral, São Leopoldo, RS.: Editora Unisinos, 2003, v. 2, p. 127b. Veja-se: Ernst Cassirer, O mito do estado, São Paulo: Códex, 2003, p. 188ss). “Quando Montaigne visitou a Itália, ele submeteu seus Ensaios, então recentemente publicados, a um censor papal, que sugeriu algumas alterações – referências à fortuna deviam ser mudadas para providência….” (Asa Briggs; Peter Burke, Uma História Social da Mídia – De Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004, p. 59).

[53] N. Maquiavel, O príncipe, p. 109 e 114.

[54] Cf. Michel-Pierre Edmond, Maquiavel. In: F. Châtelet; O. Duhamel; E. Pisier, (Coords.). Dicionário de Obras Políticas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 762.

[55] Moreira observa que “Maquiavel retoma, e transforma em símbolo, o conceito de virtú, deusa pagã, a ela apenas se referindo em sua forma italiana e no singular, em contraste com o plural latino virtudes, da tradição cristã” (Marcílio M. Moreira, De Maquiavel a San Tiago: ensaios sobre política, educação e economia. Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 27).

[56] N. Maquiavel, O Príncipe, p. 111.

[57] Cf. Marcílio M. Moreira, O Pensamento Político de Maquiavel: In: Maquiavel, O Príncipe – Estudos, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1985, p. 106-107 e Jean Touchard, História das ideias políticas, Lisboa: Publicações Europa-América, © 1959, v. 2, p. 23.

[58] “Deus não quer fazer tudo, para não nos tolher o livre arbítrio e parte da glória que nos cabe” (N. Maquiavel, O príncipe, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 9), 1973, p. 114).

[59] Cf. Michel-Pierre Edmond, Maquiavel. In: F. Châtelet; O. Duhamel; E. Pisier, (Coords.). Dicionário de Obras Políticas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 760.

[60] N. Maquiavel, O Príncipe, p. 110.

[61] N. Maquiavel, O Príncipe, p. 110.

[62]Cf. Quentin Skinner, As Fundações do pensamento político moderno,  São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 142. Veja-se também, p. 149-159.

[63] N. Maquiavel, O príncipe, p. 69.

[64] Kant (I. Kant, Fundamentação da metafísica dos costumes, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 25), 1974, p. 219) afirma: “O imperativo hipotético diz, pois, apenas que a ação é boa em vista de qualquer intenção possível ou real”.

[65] N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, II.20, p. 264.

[66] Ernst Cassirer, O Mito do estado, São Paulo: Códex, 2003, p. 174,175.

[67]Cf. Ford Lewis Battles, Preface: In: F.L. Battles; Stanley Tagg, transl. and eds. The Piety of John Calvin: an anthology Illustrative of the Spirituality of the Reformer, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1978, p. 7.

[68]Cf. Theodoro de Beza, A vida e a morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 8.

[69] McGrath discute a possibilidade de esta interpretação tradicional ser equivocada. Em sua opinião Calvino não estudou no Collège de la Marche (Ver: Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 37-43).

[70] As regras e disciplina do Collège de Montaigu eram bastante rígidas e a alimentação precária. É famosa a descrição de Erasmo a respeito desta Escola. Entre outros trabalhos, vejam-se: D. Erasmus, The Colloquies of Erasmus,  Chicago: The University of Chicago Press, 1965, p. 351-353; Roland H. Bainton, Erasmo da Cristandade, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1988), p. 39ss.; Alister McGrath, A Vida de João Calvino, p. 44-45; Bernard Cottret, Calvino. La Fuerza y La Fragilidad: Biografía, Madrid:  Editorial Complutense, 2002, p. 18-19. Para um estudo detalhado de Montaigu, a obra clássica é: Marcel Godet,  La Congrégation de Montaigu, Paris: Libraire Ancienne Honoré Champion, 1912, 220p.

[71] Foi aqui que Calvino se familiarizaria com a teologia de Aquino, Agostinho e Jerônimo, entre outros teólogos antigos (Cf. Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1985, p. 41. Do mesmo modo: Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 10).

[72]Cf. Theodore Beza, “Life of John Calvin,” John Calvin Collection,  [CD-ROM],  (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 4. Ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, Edinburgh: Lindsay & Co. Ltd., 1988, p. 80.

[73] A amplitude da influência de seus professores é discutível. McGrath dá-nos um resumo de algumas posições, Ver: Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 53ss.

[74] Vejam-se: Alister Mcgrath, As Origens intelectuais da Reforma, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 100ss.; Bernard Cottret, Calvino. La Fuerza y La Fragilidad: Biografía, Madrid:  Editorial Complutense, 2002, p. 15-19.

[75] Cf. Lucien Joseph Richard,  The Spirituality of John Calvin,  Atlanta, Georgia: John Knox Press, 1974, p. 144.

[76] Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 10.

[77] Torrance diz que Major considerava a lógica como “A arte das artes e a ciência das ciências”  (Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, p. 27).

[78] Cf. Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, p. 80ss. Para uma visão panorâmica do pensamento de Major, ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, p. 23ss.

[79] Ford L. Battles, Interpreting John Calvin, Grand Rapids, MI.: Baker Books, 1996, p. 49.

[80] Philip Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 302. Loyola contudo, ficaria pouco tempo no Colégio de Montaigu. Em 01/11/1529 foi estudar Filosofia no já tradicional Colégio de Santa Bárbara (fundado em 1460), dirigido pelo padre português Diogo de Gouveia, o Velho (nascido por volta de 1471), que se propusera, entre outras coisas, à formação de teólogos portugueses com bolsas fornecidas pela coroa portuguesa. (Vejam-se: Rómulo de Carvalho, História do Ensino em Portugal, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1986), p. 143-144, 170ss; 284).

[81] Ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, p. 74-75. Ver também:  Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 10, 158-160. Segundo Peter Toon, a obra de Kempis tem hoje  mais de 2000 edições impressas (Peter Toon, Tomas de Kempis: In: J.D. Douglas, ed. Diccionario de Historia de la Iglesia, Miami:  Editorial Caribe, 1989, p. 632).

[82] Ver outras correlações em: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, p. 75ss.

[83]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000,  passim.

[84]Beza apenas registra que o pai de Calvino fê-lo estudar Direito, “vendo que seria um meio melhor para chegar às riquezas e às honrarias” (Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 10).

[85]Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã,   São Paulo: Shedd Publicações, 2005. p. 103.

[86] Cf.  Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 45.

[87] Cf. Vicente T. Lessa, Calvino 1509-1564: Sua Vida e Obra,  p. 50.

[88] Cf. Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, p. 10.

[89] Cf. W. de Greef,  The Writings of John Calvin: An Introductory Guide,  Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1993, p. 21.

[90] Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 8, p. 304; Vicente T. Lessa, Calvino 1509-1564: Sua Vida e Obra,  p. 51; Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 46.

[91]Beza diz que Calvino se recusou a receber este privilégio (Ver: Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 11; Theodore Beza, Life of John Calvin: In: Tracts and Treatises on the Reformation of the Church, v. 1, lxi; Theodore Beza, “Life of John Calvin,”  John Calvin Collection,  [CD-ROM],  (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 5 . Vejam-se: Philip Schaff,  History of the Christian Church, v. 8,  p. 306; Vicente T. Lessa, Calvino 1509-1564: Sua Vida e Obra, p. 51; Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 45-46.

[92]Cf. Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 11.

[93]Emmanuel Le Roy Ladurie, O Mendigo e o Professor: a saga da família Platter no século XVI, Rio de Janeiro:  Rocco, 1999, v. 1, p. 325.

[94]Bem mais tarde, justificando o seu estilo, que não seria o mais apetecível àqueles que desejavam grande acervo de material, diz (1557):“…. nada é mais importante do que granjear o respeito que produza a edificação da Igreja” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999,  v. 1, p. 48). Em 26 de janeiro de 1559, Calvino escreve a Dedicatória do seu comentário do Livro de Oséias. Nas palavras dirigidas ao rei Gustavo da Suécia, diz: “…porque há muito tempo aprendi a não cortejar o aplauso do mundo. (…) Se Deus me dotou com alguma inteligência para a interpretação da Bíblia, eu estou completamente convencido de que tenho fiel e cuidadosamente procurado excluir todo e quaisquer refinamentos estéreis, porém procuro ser aceitável, agradável e adequável às pessoas, preservando a genuína simplicidade, adaptada firmemente à edificação dos filhos de Deus que, não estando contentes com a casca, desejem penetrar no núcleo” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, v. 13, p. XVIII-XIX). Vejam-se também: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 40.8), p. 228; João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996 (1Co 1.17), p. 50ss.

[95] Cf. Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 77.

[96]Emile Doumergue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps, Lausanne: Georges Bridel & Cie Editerurs, 1899, v. 1, p. 505; David L. Puckett, John Calvin’s Exegesis of the Old Testament. Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press (Columbia series Reformed Theological), 1995, p. 76-77 (nota 44); Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 47; Vicente Temudo Lessa, Calvino: 1509-1564: Sua Vida e Sua Obra, p. 55.

[97] João Calvino, O Livro dos Salmos,  São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1,  p. 37-38.

[98] Que por sua vez, mais tarde abriria mão da capela em 26/02/1531 (Emile Doumergue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps,  v. 1, p. 39).

[99] Emile Doumergue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps, Lausanne: Georges Bridel & Cie Editerurs, 1899, v. 1, p. 38-39.

[100] Este ponto não é consensual entre os especialistas. Ver: Alexandre Ganoczy,  The Young Calvin, Philadelphia: The Westminster Press, 1987, p. 80-83; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 370; Jacques Pannier em introdução As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, p. 10. No entanto, conforme afirma McGrath, há uma cópia deste sermão com a caligrafia de Calvino (Veja-se: Alister E. McGrath, A Revolução Protestante, Brasília, DF.: Editora Palavra, 2012, p. 93).

[101] Cf. Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 370.

[102]Veja sua carta datada provavelmente de 1534 que escreve a seu amigo Francis Daniel, usando um nome fictício para a cidade onde se encontrava, designando de “Doxopolis” (Cidade de Glória) (To Francis Daniel. In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 4 (Letters, Part 1), 1983, p. 41-42). Este foi um período muito agradável para Calvino quando ele pôde em seu exílio usufruir da biblioteca de seu anfitrião que era constituída de mais de 4 mil volumes. Para segurança dele e de seu amigo, Calvino nunca menciona o nome dele nestas correspondências. O mesmo fazendo seus amigos quando se referem a Tillet. (Veja-se: Alexandre Ganoczy,  The Young Calvin, Philadelphia: The Westminster Press, 1987, p. 83-85). Mais tarde, o generoso, porém, indeciso Tillet, retornaria ao catolicismo (Veja-se a correpondência de ambos: A de Calvino a ele endereçada, de 31.01.1538. In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 31-34 e, a carta de Tillet com os seus motivos, datada de 10.03.1538, In:  A.-L. Herminjard, Correspondance des Réformateurs des les pays de langue française, recueillie et publiée avec d’autres lettres relatives a la Réforme, Genève: G. Fischbacher, © 1886, Facsimile Publisher 2017, v. 4, p. 384-400).

[103]Vejam-se: Alexandre Ganoczy,  The Young Calvin, Philadelphia: The Westminster Press, 1987, p. 85; Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 91-92.

[104] Ver: Vicente Temudo Lessa, Calvino: 1509-1564: Sua Vida e Sua Obra, p. 63; Wilson de Castro Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 64-65.

[105]Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4. ed. Barcelona: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1990, p. 63.

[106] Este ato “súbito” não precisa ser entendido necessariamente algo “repentino”. Pode indicar também algo “não-premeditado” (Cf. Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1003, p. 174).

[107] João Calvino, O Livro dos salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, p. 38.

[108] Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4. ed. Barcelona: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1990, p. 61-64.

[109] Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média, São Paulo: Verbo; EDUSP., 1978, p. 31.

[110]Veja-se: Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média, passim. Tillich denomina a ansiedade predominante nos fins da Idade Média de “ansiedade moral” e “ansiedades da culpa e da condenação” (Paul Tillich, A Coragem de Ser, 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 44 e 45). Ver também: Paul Tillich, A Coragem de Ser, 44ss.; Paul Tillich, História do Pensamento Cristão, p. 210ss.; Rollo May, O Significado de Ansiedade, Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 175ss.; Timothy George, A Teologia dos Reformadores, p. 25ss.; Jean Delumeau, História do Medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada, 2. reimpressão, São Paulo: Companhia das Letras, 1993, passim.

[111] Timothy George, A Teologia dos Reformadores, p. 26. Quanto aos sermões que Lutero deve ter ouvido enquanto estudante, que favoreciam o sentimento de culpa, veja-se: Timothy George, Lendo as Escrituras com os reformadores, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 183-184.

[112] João Calvino, As Institutas, I.17.10. Em outro lugar:

“Se considerarmos a enorme quantidade de acidentes aos quais estamos sujeitos, veremos o quão necessários é exercitarmos nossa mente desta maneira.

“Enfermidades de todos os tipos tocam nossos débeis corpos, uma atrás da outra: ou a pestilência nos enclausura, ou os desastres da guerra nos atormentam.

“Em outra ocasião, as geadas e os granizos destroem nossas colheitas, e ainda somos ameaçados pela escassez e a pobreza.

“Em vista destes acontecimentos, as pessoas maldizem suas vidas, e até o dia em que nasceram; culpam o sol e às estrelas, e ainda censuram e blasfemam a Deus, como se Ele fora cruel e injusto” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 43).

[113] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl. 102.25), p. 585.

[114] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 3, (Sl 102.26), p. 586.

[115] Blaise Pascal, Pensamentos, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 16), 1973, VI.399. p. 136.

[116] Blaise Pascal, Pensamentos, VI.397. p. 136. “O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso” (Blaise Pascal, Pensamentos, VI.347. p. 127-128).

[117] João Calvino, As Institutas, I.17.10.

[118]João Calvino, As Institutas, I.17.11. “…. o homem crente e fiel é levado a contemplar, mesmo nessas coisas, a clemência de Deus e Sua bondade paternal. E assim, ainda que se sinta consternado pela morte de todos os que lhe são chegados e veja sua casa deserta, não deixará de bendizer a Deus. Antes se dedicará a meditar: Visto que a graça de Deus habita em sua casa, não a deixará triste e vazia; ainda que as suas vinhas e suas lavouras sejam destruídas pela geada, pela saraiva ou por qualquer outro tipo de tempestade, prevendo-se por isso o perigo de fome, ainda assim ele não perderá o ânimo e não ficará descontente com Deus. Em vez disso, persistirá em sua firme confiança, dizendo em seu coração: Apesar disso tudo, estamos sob a proteção de Deus, somos ‘ovelhas de sua mão’ e ‘rebanho do seu pastoreio’. Por mais grave que seja a improdutividade da terra, Ele sempre nos dará o sustento. Mesmo que o crente padeça enfermidade, não se deixará abater pela dor nem se deixará arrastar pela impaciência e queixar-se de Deus. Ao contrário, considerando a justiça e a bondade do Pai celestial nos castigos que nos ministra, o crente fiel se deixará dominar pela paciência” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, (IV.17), p. 195-196).

[119]João Calvino, O Livro dos salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, p. 586.

[120]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 10.1), p. 205.

[121]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã, Campinas, SP.; São Paulo: Luz para o Caminho; Cultura Cristã, 1985, I.17.11.

[122]João Calvino, O Livro dos salmos, v. 1, p. 173.

[123]João Calvino, Exposição de hebreus, São Paulo: Edições Paracletos, 1997, p. 140.

[124] João Calvino, O Livro dos salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, p. 40-41.

[125] João Calvino, O Livro dos salmos, v. 1, p. 41-42.

[126] Vd. parte da carta In: Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968,  p. 115-116. Ver  também, p. 120.

[127]John Calvin, Letter to Peter Viret, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 47.

[128]Cf. W. Stanford. Reid, A Propagação do Calvinismo no Século XVI: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 47; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 119ss.

[129]John Calvin, “Letter to Farel,” John Calvin Collection, nº 73. (Edição brasileira: Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 49)

[130] Cf. Elsie Anne Mckee, ed., John Calvin: Writings on Pastoral Piety, New York, NJ.: Paulist Press, 2001, p. 224.

[131] Juan Calvino, El Carácter de Job, Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 1), p. 32. “Quanto tem avançado aquele homem que há aprendido a não pertencer-se a si mesmo, nem a ser governado por sua própria razão, senão que submete a sua mente a Deus! (…) O serviço do Senhor não só implica uma autêntica obediência, senão também a vontade de pôr aparte seus desejos pecaminosos e submeter-se completamente à direção do Espírito Santo” (John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, p. 21).

[132]Cf. Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 395; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 125; Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 125.

[133]John Calvin, “Letter to Farel,” John Calvin Collection, nº 76.

[134] João Calvino, O Livro dos salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, p. 42.

[135] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 44.2), p. 282.

[136] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 13.1), p. 262.

[137] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 18), p. 354

[138]João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.5), p. 306.

[139]João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.5), p. 306.

[140]Calvino para o pastor em Zurich: Rudolf Schwarz, ed., Johannes Calvins Lebenswerk in seinen Briefen, Neukirchener Verlag: Germany, 1962  v. 2, p. 819.

[141]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 56.3), p. 495. Do mesmo modo, Ver: O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 46.1-2), p. 329. Wallace  (1911-2006) interpreta acertadamente que “os escritos teológicos de Calvino sobre a questão da providência podem frequentemente ser lidos como um testemunho pessoal da fé que o sustentou na obra da sua vida” (Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 213).

[142] Ernst Renan, Études D’Histoire Religieuse,  Paris: Michel Lévy Frères, Libraires-Éditeurs, 1857, p. 342.

[143] “…. é necessário que quem estabelece a forma de um Estado, e promulga as suas leis, parta do princípio de que todos os homens são maus, estando dispostos a agir com perversidade sempre que haja ocasião. Se esta malvadez se oculta durante um certo tempo, isso se deve a alguma causa desconhecida, que a experiência ainda não desvelou; mas o tempo – conhecido justamente como o pai da verdade – vai manifestá-la. (…) Os homens só fazem o bem quando é necessário; quando cada um tem a liberdade de agir com abandono e licença, a confusão e a desordem não tardam a se manifestar por toda parte” (N. Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, (Coleção Pensamento Político, v. 3), 1979, I.3. p. 29).

[144]Michel-Pierre Edmond, Maquiavel. In: F. Châtelet; O. Duhamel; E. Pisier, (Coords.). Dicionário de Obras Políticas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 759-760.

[145]Cf. João Calvino, As Institutas, I.17.4. Veja-se também, As Institutas, I.17.9; João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. III, (III.8), p. 77).

[146]Cf. John Calvin, Catechism of the Church of Geneva: In: John Calvin, Tracts and treatises on the doctrine and worship of the church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1958, v. 2, p. 37; João Calvino, Instrução na fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, p. 11.

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